Em tempo de pandemia, eis um teste de filosofia sem as escorregadias questões de escolha múltipla, muitas vezes desordenadas.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA C
2 de Março de 2021, Professor: Francisco Queiroz
I
«O imperativo categórico de Kant é formal e autónomo. A moral de Stuart Mill é teleológica e hedonista. O fatalismo é diferente do determinismo biofísico sem livre-arbítrio (determinismo radical) e do determinismo biofísico com livre-arbítrio (determinismo moderado). A falácia ad ignorantiam é diferente da falácia depois de por causa de e da falácia ad hominem. A retórico tem ethos, pathos e logos. Os valores e os juízos podem dividir-se em objectivos, intersubectivos e subjetivos.
1)Explique estes pensamentos.
2)Segundo Max Scheler há 4 esferas de valores. Identifique quais se ligam aos seguintes actos ou estados e justifique:
A)«Para mim roubar é mau» (esfera dos valores……)
B «Estou a saborear morangos e adoro (esfera dos valores…)
C)«Estou a correr à frente de todos e sinto-me vitorioso» (esfera dos valores…)
D)«Rezo a Deus porque São Pio dizia que quem não reza não se salva.do inferno (esfera dos valores…)
Relacione justificando:
A)Multiculturalismo versus etnocentrismo democrático e etnocentrismo absolutista.
B)Estados totalitários e Estados de democracia pluralista ou parlamentar.
C) Dogmatismo científico, dogmatismo religioso,
D) Os três princípios da lógica formal e os três poderes no Estado de direito democrático.
CORREÇÃO DO TESTE COM COTAÇÃO MÁXIMA DE 20 VALORES
O imperativo categórico de Kant é formal porque se resume a enunciar de forma abstrata a verdadeira lei moral que diz “não trates as pessoas como meios dos teus interesses mas sim como fins em si mesmas, respeitando-as da mesma maneira que te respeitas a ti mesmo, aplicando a mesma lei para todos” e é autónomo porque varia de pessoa para pessoa. (VALE DOIS VALORES). A moral de Stuart Mill é teleológica porque é centrada na finalidade, nos frutos de uma ação, sendo esta a felicidade da maioria das pessoas, e é hedonista porque procura o prazer mesmo que não seja só o prazer próprio mas sim o prazer da maioria das pessoas (VALE DOIS VALORES). O fatalismo, que é a corrente ontológica que sustenta que não existe livre arbítrio nem o acaso e que tudo está predestinado pelos astros, por deuses incompreensíveis ou por um destino sem deuses, é diferente do determinismo biofísico sem livre-arbítrio (determinismo radical), que é a corrente ontológica que sustenta que na natureza física o determinismo impera mas existe alguma margem de acaso que impede o fatalismo e que sustenta que na natureza humana não existe livre-arbítrio pois são os nossos instintos ou os astros que nos comandam, e do determinismo biofísico com livre-arbítrio (determinismo moderado), que é a corrente ontológica que sustenta que há leis obrigatórias na natureza e no corpo humano mas que temos a liberdade de escolher racionalmente entre umas e outras ou entre o bem e o mal (VALE DOIS VALORES). A falácia ad ignorantiam, que é a falácia em que devido à ignorância de uma certa informação ou tese dá como certa a sua tese oposta ou antítese, é diferente da falácia depois de por causa de, que é a falácia que atribui uma relação causa-efeito a dois fenómenos vizinhos por acaso, e da falácia ad hominem, que é a falácia que em vez de argumentar racionalmente, faz um ataque à pessoa. (VALE DOIS VALORES)-
A retórica, que é a arte de argumentar, isto é, expor juízos e raciocínios em público de modo a convencer as pessoas que estão a ouvir, ou seja, um auditório, tem ethos, que é a exibição das virtudes do caráter do orador, pathos, que é o tom emocional que o orador utiliza no seu discurso de modo a impressionar o auditório, e logos, que é a racionalidade do discurso do orador. (VALE DOIS VALORES). Os valores, que são qualidades de várias naturezas (materiais, religiosas, éticas, estéticas, etc) que se organizam segundo uma hierarquia, e os juízos, que são afirmações ou negações que ligam dois ou mais conceitos através de um verbo, podem dividir-se em objetivos, que sustentam que os valores de belo, de feio, de belo, etc, são universais e comuns do mesmo modo a todas as pessoas, em intersubjetivos, que sustentam que os valores de belo, de feio, de bem, etc são comuns a determinados grupos de pessoas mas não à humanidade toda, e em subjetivos, que sustentam que os valores de belo, de feio, de bem, de mal, etc, variam de pessoa a pessoa e que estão dentro de cada subjetividade. (VALE DOIS VALORES).
2-A)«Para mim roubar é mau» Esfera dos valores espirituais, porque engloba os valores éticos (bem, mal, etc), os valores jurídicos (legal, ilegal, etc), os valores estéticos (belo, feio, etc), os valores filosóficos (verdade, erro, realidade, etc), os valores científicos (verdade, erro, experiência, etc) e os valores políticos (democracia, ditadura, povo, etc). (VALE 0,5 VALORES).
2.B) «Estou a saborear morangos e adoro» Esfera dos valores sensíveis, porque engloba os valores do agradável, do desagradável, do prazer, da dor, do útil e do inútil. (VALE 0,5 VALORES)
2-C)«Estou a correr à frente de todos e sinto me vitorioso» Esfera dos valores vitais e sentimentais, porque engloba os valores do nobre, do vulgar, do amor, do ódio, do sentimento da juventude, da vitória, do sentimento da velhice, da derrota ou decadência, da bravura, da covardia, da liberdade, do ciúme, do orgulho, da humildade, da saúde, da doença, etc. (VALE 0,5 VALORES)
2.D)«Rezo a Deus porque São Pio dizia que quem não reza não se salva.do inferno» Esfera dos valores do santo e do profano, porque engloba os valores da santidade, da oração a Deus, da indiferença dos profanos, dos ateus e do desespero de alguns destes.(VALE 0,5 VALORES).
A) Multiculturalismo é a ideologia que defende que num país devem estar em plano de igualdade e ser aceites as diferentes etnias, religiões, nacionalidades, sexualidades, culturas, etc, - por exemplo, um mexicano poder ser eleito presidente dos EUA - enquanto que o etnocentrismo democrático é aquele que dá um pouco mais de importância aos naturais do seu país do que aos imigrantes estrangeiros que neste vivem, porém, deixa-os exercer as suas religiões e culturas e dá-lhes assistencia médica e social tal como os naturais desse país, já o etnocentrismo absolutista é aquele que sustenta que a etnia, religião e cultura de um grupo de pessoas natural de um país é superior às minorias gays e lésbicas, ciganas, de imigrantes estrangeiros e estas minorias devem ser banidas ou silenciadas, rejeitando a entrada de estrangeiros e dos seus valores na estrutura antiga desse país, assim, este etnocentrismo utiliza métodos fascistas ou absolutistas.
B) Os Estados totalitários, que podem ser de esquerda (marxismo-leninismo) e de direita (fascismo, absolutismo monárquico, fundamentalismo islâmico ou outro) são aqueles que têm um regime político em que existe apenas um partido único e apenas um chefe, assim, é atribuido ao estado um poder absoluto que controla e manipula os cidadãos, fazendo com que não exista liberdade de imprensa, de greve, de eleição de um parlamento, entre outros, e com que sejam presos, mortos ou torturados os opositores deste regime, enquanto que os Estados de democracia pluralista ou parlamentar, que fundamentam a sociedade aberta, são aqueles em que existem as liberdades de imprensa, de greve, de manifestação de rua, de ensino, de formação de partidos políticos, de votar de modo a que os governos sejam compostos da maioria dos deputados, de ter a sua sexualidade livre, de montar empresas e permitir o capitalismo de concorrência de forma na combater os monopólios, de ter a sua cultura, entre muitas outras liberdades. (VALE UM VALOR)
C) O dogmatismo científico é aquele que afirma leis da natureza apoiado na experiência dos mundos empírico e racional, o dogmatismo religioso é a crença em deuses, demónios, almas vivas no Além, enquanto que o ceticismo é a corrente filosófica que duvida do que estamos a ver e a sentir, da ciência, da história, da religião, etc. (VALE UM VALOR)
D) Os três princípios da lógica formal são o princípio da identidade, que diz que uma coisa é idêntica a si mesma, o princípio da não contradição, que diz que uma coisa não pode ser, ao mesmo tempo, duas qualidades opostas entre si, e o princípio do terceiro excluído, que diz que uma coisa ou qualidade pertence ao grupo A ou não A não havendo terceira hipótese, já os três poderes no Estado de direito democrático são o poder legislativo, que é o parlamento que é eleito por votação, o poder executivo, que é o governo que é aprovado pela maioria do parlamento, e o poder judicial, ou seja, os tribunais que podem anular decisões do governo e do parlamento. Relacionar estas duas tríades é arbitrário. Por exemplo, o parlamento corresponde ao princípio da não contradição (um partido não pode votar ao mesmo tempo a favor e contra uma lei do governo), o poder judicial corresponde ao princípio da identidade (as leis mantêm-se idênticas a si mesmo), o poder executivo corresponde ao princípio do terceiro excluído (o governo opta ou não opta por construir uma linha do TGV entre Lisboa e Vilar Formoso). (VALE DOIS VALORES)
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Nota- O autor deste blog está disponível para ir a escolas e universidades dar conferências filosóficas ou participar em debates.
© (Copyright to Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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Eis um teste de filosofia . Evitamos as perguntas de escolha múltipla que, por vezes, enfermam de um deformado espírito de «minúcia» -
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA A
17 de Outubro de 2014. Professor: Francisco Queiroz
“Alguns bejenses são alentejanos.
Mariana Palma é alentejana.
Mariana Palma não é bejense.”
1-A) Indique, concretamente, três regras do silogismo formalmente válido que foram infringidas na construção deste silogismo.
1-B) Indique o modo e a figura deste silogismo.
2) Construa o quadrado lógico das oposições à seguinte proposição:
«Os habitantes de Moura gostam de festas populares».
3) Explique, concretamente, o seguinte texto:
«O raciocínio de analogia é mais imaginativo do que a indução amplificante necessitarista e do que a dedução. O realismo crítico de Descartes é diferente do idealismo não solipsista objectivo.»
4) Construa, tendo como primeira premissa a proposição «Se for a Serpa, almoço açorda de bacalhau»:
A) Um silogismo condicional modus ponens.
B) Um silogismo condicional modus tollens.
5) Disserte sobre o seguinte tema: «As falácias ad hominem, da petição de princípio, da generalização precipitada, do falso dilema integram a lógica informal, não a lógica formal».
CORRECÇÃO DO TESTE COTADO PARA UM TOTAL DE 20 VALORES
1-A) Foram violadas as seguintes regras do silogismo: de duas premissas afirmativas não pode extrair-se uma conclusão negativa; o termo médio (neste caso: alentejano) tem de estar distribu+ido ao menos em uma das premissas, o que não sucede pois está sempre considerado no sentido de «alguns alentejanos»; nenhum termo pode ter na conclusão maior extensão do que nas premissas, ora isso não sucede com o termo maior «bejenses» que na primeira premissa tem extensão particular («Alguns bejenses») e na conclusão apresenta extensão universal («Nenhum bejense "). Note-se que o termo "Mariana Palma" é universal porque apenas existe aquela Mariana Palma no universo que estamos a considerar (VALE TRÊS VALORES).
1-B) O modo do silogismo é IAE (VALE UM VALOR). A figura do silogismo é PP (2ª figura). (VALE UM VALOR)
2-A) A E
I O
Prposição tipo A (universal afirmativa): Os habitantes de Moura gostam de festas populares.
Proposição tipo E (universal negativa): Os habitantes de Moura não gostam de festas populares.
Proposição tipo I (particular afirmativa): Alguns habitantes de Moura gostam de festas populares.
Proposição tipo O (particular negativa): Alguns habitantes de Moura não gostam de festas populares.
A relação entre as proposições é a seguinte: A é contrária de E e viceversa; I é subcontrária de O e viceversa; I é subalterna de A; O é subalterna de E; A é contraditória de O e viceversa, I é contraditória de E e viversa. (VALE DOIS VALORES)
3) O raciocínio de analogia é a inferência que estabelece uma senelhança de forma, função ou posição entre entes muito diferentes entre si. Exemplo: o homem é análogo a uma árvore, os pés equivalem às raízes, os braços aos ramos. Isto implica realmente uma dose de imaginação superior A indução amplificante é a generalizaçao de alguns exemplos empíricos segundo uma lei necessária, infalível. Exemplo. Verificamos 250 árvores implantadas no solo e todas tinham raízes, logo induzo que os milhões de árvores implantados no solo da Terra terão, necessariamente, raízes. A dedução é a inferência que parte de uma premissa geral para chegar a uma conclusão geral ou particular. Exemplo: «Todas as árvores têm raízes, os pinheiros são árvores, logo os pinheiros têm raízes» (VALE TRÊS VALORES).
O realismo crítico de Descartes sustenta que há um mundo real fora das mentes humanas mas estas não o apreendem tal como é: o mundo exterior é composto de formas, tamanhos, movimentos, números e de uma matéria indeterminada (qualidades primárias, objectivas); as cores, sons, cheiros, sabores, sensações tácteis, calor e frio, prazer e dor só pertencem ao mundo interior do sujeito (qualidades secundárias), à sua psique, são causadas por movimentos de partículas exteriores que embatem nos olhos, nos ouvidos, etc, e fazem nascer cores, sons, etc. O idealismo não solipsita objectivo é a doutrina que diz que o mundo material se reduz a ideias e sensações dentro das múltiplas mentes humanas e é uma ilusão objectiva, todos o vêem da mesma maneira (exemplo: todos vêem a mesma torre do castelo de Beja que, no entanto desaparece ao extinguir-se a mente - idealismo! ). Há uma diferença de grau entre o realismo crítico de Descartes («Há formas fora das mentes humanas») e o idealismo não solipsita («Todas as formas e todas as coisas são mentais, estão dentro das mentes humanas»).- VALE TRÊS VALORES.
4-A) Silogismo tipo modus ponens:
«Se for a Serpa, almoço açorda de bacalhau»
«Vou a Serpa».
«Logo, almoço açorda de bacalhau». (VALE 1 VALOR)
4-B) Silogismo tipo modus tollens:
«Se for a Serpa, almoço açorda de bacalhau».
«Não almocei açorda de bacalhau»-
«Logo, não fui a Serpa» (VALE DOIS VALORE
5) A falácia ad hominem é aquela que desvia a argumentação racional para o campo do ataque pessoal ao adversário (exemplo: «Ele´ganhou o concurso para gestor de empresas, mas é gay, vamos impedi-lo de subir a gestor da empresa»). A falácia da petição de princípio é aquela em que a conclusão repete a premissa e viceversa (Exemplo: O cristianismo é a melhor religião porque é mais adequada, é a mais adequada porque é a melhor religião"). A falácia da generalização precipitada é a que extrai uma conclusão geral de uma amostra particular insuficiente (exemplo: "ouvi três cantores magníficos da Amareleja, logo todos os habitantes da Amareleja são bons cantores"). A falácia do falso dilema é a que coloca uma falsa alternativa entre duas vias ou dois entes, estando uma dentro da outra (exemplo: "Ou és homem ou és macho alentejano"). Estas falácias integram a lógica informal ou material que é a lógica formal submetida aos factos e leis da natureza, ou seja, a lógica dos acontecimentos físicos, concretos. Lógica formal é a ordem abstracta do pensamento, das regras, abstraindo dos objectos naturais. O silogismo «As abelhas são cães/ os cães são elefantes/ Logo as abelhas são elefantes» possui lógica formal - o modo de raciocínio está correcto - mas não tem lógica material, é falso no seu conteúdo. (VALE QUATRO VALORES)
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