Os filósofos da moda como Simon Blackburn e John Searle são parcialmente impensantes. Sustentam um conceito de libertismo que é o seguinte: libertismo é um livre-arbítrio pleno no ser humano, que não leva em conta o determinismo das leis biofísicas, ao contrário do livre-arbítrio existente no determinismo moderado, que é condicionado pelas leis físico-sociais (saúde e doença, situação económica de emprego ou desemprego, condições de habitação, situação familiar, regime político existente no país, crença ou descrença religiosa, etc.).
Um exemplo de libertismo seria o de um homem que, sem temer e sem levar em conta as consequências, se atirasse de repente do alto de uma falésia para a morte ou, por impulso, se despisse integralmente numa praça cheia de gente gritando «Sou livre». Mas estas atitudes, ao contrário do que supõem os professores de filosofia, não assentam no livre-arbítrio que é uma deliberação racional e só existe no determinismo moderado ou no indeterminismo moderado, mas assentam sim na escolha aleatória, instintiva, irracional.
O livre-arbítrio implica o exame racional, cuidadoso das circunstâncias do determinisno físico e social e não a liberdade de uma atitude louca, imprevista, como a do suicida que se enforca. Por isso está errado Simon Blackburn quando escreveu:
II) «Determinismo moderado ou compatibilismo. As reações deste último tipo afirmam que tudo o que podemos desejar de uma noção de liberdade é completamente compatível com o determinismo (---)
III) Libertismo. Esta posição advoga que o compatibilismo é apenas uma fuga e que há uma noção mais substantiva e real de liberdade que pode ainda ser preservada em relação ao determinismo (ou ao indeterminismo. Em Kant, enquanto o eu empírico ou fenoménico é determinado e não é livre, o eu numénico ou racional tem capacidade para agir racional e livremente.»
(SIMON BLACKBURN, Dicionário de Filosofia, Gradiva, 2ª edição, 2007).
A teoria de Kant é um determinismo moderado pelo livre-arbítrio do eu racional, não é um libertismo no sentido postulado por Blackburn. O eu numénico é livre, não porque esteja hermeticamente isolado, mas porque enfrenta o eu não livre, o eu empírico dos instintos e paixões. A liberdade racional de escolha só existe onde o determinismo a enfrenta.
E tu, professor/a de filosofia, vês agora os erros propagados pelos manuais escolares de 10º e 11º ano de escolaridade e pela seita dos chamados filósofos e semifilósofos analíticos que tomaram de assalto as universidades com doutoramentos light, as editoras como a Gradiva, a Areal Editores, a Porto Editora, o ministério da Educação e impõem a lógica dos idiotas designada «lógica proposicional» ? Dás-te conta de como és manipulada/o? E de como manipulas os teus alunos?
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Eis um teste de filosofia fora do estereótipo dos testes que os autores dos manuais escolares da Porto Editora, Leya, Santillana, Areal Editores, etc, divulgam. E sem questões de escolha múltipla que, frequentemente, são incorrectamente concebidas por quem não domína o método dialético e desliza para a horizontalidade da filosofia analítica vulgar. Os conteúdos deste teste de filosofia referentes a alquimia, cabala e princípio das correspondências macrocosmos-microcosmos integram-se na rubrica «Os grandes temas da filosofia» e são relativos a uma visita de estudo ao centro histórico de Sevilha em que se fez hermenêutica de monumentos antigos e seus pormenores artísticos.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A
11 de Fevereiro de 2016. Professor: Francisco Queiroz.
I
"A filosofia da alquimia, que aceita as noções de pleroma, kenoma e hebdómada, sustenta a divisa «solve e coagula» e a existência de três princípios/ substâncias do universo material. Na Grande Obra Alquímica, que traduz a lei dialética do uno, há quatro fases correspondendo uma ave a cada uma. O princípio das correspondências macrocosmo-microcosmos foi usado na construção da catedral medieval."
1)Explique, concretamente este texto.
2) Relacione, justificando:
A) Seis esferas da árvore cabalística dos Sefirós, as respectivas qualidades, cores e planetas associados a cada uma, e a planta do templo cristão medieval.
B) Lei da luta de contrários, por um lado, e taoísmo, Adão Kadmon, e binómio realismo/idealismo, binómio ética deontológica/ ética teleológica por outro lado.
C) Vontade autónoma/ vontade heterónoma, eu fenoménico e eu numénico em Kant, por um lado, e três partes da alma na teoria de Platão, por outro lado.
D) Máxima e imperativo categórico em Kant e o princípio moral do utilitarismo em Stuart Mill
CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES
1) A filosofia da alquimia, doutrina esotérica, hermética que sustenta o processo da Grande Obra ou criação laboratorial da pedra filosofal que concederia a imortalidade ao homem, dotando-o de um corpo astral desmaterializado como o mítico Adão Kadmon (metade homem e metade mulher), defende que há três princípios/ substâncias originárias do universo, o enxofre ou homem vermelho (princípio masculino), sólido, o mercúrio filosófico ou mulher branca (princípio feminino), volátil, e o sal, neutro. A divisa «solve e coagula» significa dissolver o enxofre, sólido, e coagular o mercúrio líquido ou gasoso que se esparge pelas esferas celestes de forma a obter o equilíbrio e a pedra filosofal, ou lapis vermelho. O pleroma é o mundo divino, da luz, o mundo dos éons ou dos arquétipos perfeitos, o kenoma é o vazio, das trevas e da matéria exterior ao pleroma, a hebdómada é o mundo das sete esferas planetárias que tem a Terra no centro, criado por Deus ou pelo demiurgo (deus inferior) no seio do kenoma para alojar Adão que, ao sair do Éden atraído por Lúcifer, se materializou e perdeu Sofia, a sua metade espiritual (VALE QUATRO VALORES). As quatro fases da Grande Obra Alquímica que visa produzir o elixir da longa vida ou pedra filosofal em laboratório são: nigredo, ou fase negra, da putrefação da matéria transformada no laboratório a que corresponde o corvo; albedo, ou fase branca de separação das impurezas, a ave é o cisne; citredo, ou fase multicolor, de alguma dominancia do amarelo limão, a ave é o pavão; rubedo, ou fase vermelha na qual se dá a produção da pedra filosofal cuja ave é a fénix. A lei do uno sustenta que tudo se relaciona e isso exemplifica-se no facto de estas quatro fases da Grande Obra estarem ligadas entre si num processo de continuidade. (VALE TRÊS VALORES). O princípio das correspondências microcosmo-microcosmo da filosofia hermética sustenta que o que está em baixo é como o que está em cima, há uma analogia entre o microcosmo ou pequeno universo e o macrocosmo ou grande universo. Assim, o templo cristão da idade média obedeceu a essa lei: o macrocosmos seria um corpo gigantesco de Cristo de braços abertos que atravessaria o universo inteiro e o templo a construir seria um macrocosmos que imitaria, em forma de cruz, esse corpo macrocósmicos. A abside do templo, orientada a Este, ponto cardeal onde nasce o Sol (Cristo é o Sol espiritual) equivale à cabeça, o transepto aos braços abertos, o altar ao coração, as naves ao tronco e pernas de Cristo. (VALE DOIS VALORES).
2-A) A árvore das Sefirós (Esferas) é o diagrama do universo, segundo a Cabala (ensinamento secreto) judaica, uma «heresia» do judaísmo como religião de massas. Essa árvore de 10 esferas, que são 10 qualidades manifestas de Deus, é composta de um hexágono em cima, um triângulo debaixo deste e um ponto isolado no fundo. Podemos aplicar este diagrama à planta em cruz da catedral cristã fazendo coincidir Kéther, a primeira Sefiró, com a abside do templo, Binan e Guevurah com a extremidade esquerda do transepto, Hockman e Chesed com a extremidade direita do transpeto, Tiferet com o altar no pilar central.
KÉTHER (Coroa)
Planeta: Úrano
Esfera nº 1
Cor : Indefinida
BINAH: CHOCKMAH
Esfera nº 3 Esfera nº 2
Inteligência Sabedoria
Feminina Masculina
Saturno Neptuno
Cor Negra Cor iridescente
GUEVURAH CHESED
Esfera nº 5 Esfera nº 4
Justiça Misericórdia
Marte Júpiter
Cor: Vermelho Cor Azul
THIPHERET
Esfera nº 6.
Beleza.
Sol.
Cor: amarelo ouro.
(VALE TRÊS VALORES)
2. B) A lei da luta de contrários sustenta que a essência e o motor de desenvolvimento de cada fenómeno ou ente é uma luta de contrários. No taoísmo, antiga filosofia chinesa, o Tao ou mãe do universo divide-se numa luta entre o Yang e o Yin, o fluxo da onda (Yang) e o refluxo desta (Yin), a luz do dia (Yang) e a escuridão da noite (Yin), a diástole (Yang) e a sístole (Yin), o crescimento (Yang) e o decréscimo (Yin), o masculino (Yang) e o feminino (Yin), o vermelho e o laranja (Yang) o azul e o violeta (Yin), o verão e o calor (Yang), o inverno e o frio (Yin). O Adão Kadmon, antepassado mítico do homem, é uma luta de contrários: a sua metade direita é masculina, a sua metade esquerda é feminina. O realismo e o idealismo são contrários: o primeiro afirma que há um mundo de matéria, real em si mesmo, fora das nossas mentes e anterior a elas, ao passo que o idealismo diz que o mundo material é uma ilusão fora do corpo, é apenas percepções e ideias da nossa mente. As éticas deontológicas são, supostamente, não hedónicas, põem o dever à frente do prazer. ao passo que as éticas ditas teleológicas (télos significa finalidade) colocam o prazer, finalidade da acção, à frente do dever.(VALE QUATRO VALORES)
2-C) A vontade autónoma reside no eu numénico, ou eu racional, na doutrina de Kant, e permite a cada pessoa universalizar a sua máxima ou princípio subjetivo, agir de acordo com o imperativo categórico que cada um gera no seu eu racional: trata cada ser humano como um fim em si mesmo, alguém digno de respeito, e nunca como um meio para chegares a fins egoístas. Isto liga-se ao Nous ou parte superior, racional, da alma humana, em Platão, que contempla os arquétipos e dirige os filósofos.reis que vivem colectivamente, sem ouro nem prata, numa casa do Estado e fazem as leis. Também se liga ao Tumus ou parte intermédia da alma que representa o valor militar dos guerreiros, auxiliares dos filósofos-reis. A vontade heterónoma situa-se no eu fenoménico ou eu empírico e é governada por interesses materiais, instintos e paixões contrárias ao eu racional e exprime à parte inferior da alma humana, a epythimia ou concupiscência, sede dos prazeres egoístas de enriquecer materialmente com ouro e prata, comer requintadamente, desfrutar vida luxuosa, etc. (VALE TRÊS VALORES).
2-D- O imperativo categórico ou verdadeira lei moral postula: «Age como se quisesses que a tua ação fosse uma lei universal da natureza». Resulta da universalização da máxima, da aplicação equitativa do princípio subjectivo moral de cada um ou máxima. Exemplo: se a minha máxima é «Combato a vacinação obrigatória porque as vacinas infectam o organismo» o meu imperativo categórico será «Vou difundir a ideia de que a vacinação é nociva e não me vacinarei nem as minhas filhas, quaiquer que sejam as sanções contra mim.» O princípio moral de Stuart Mill é, em cada situação, promover a felicidade da maioria das pessoas, mesmo sacrificando a minoria. Em regra, isto opõe-se ao imperativo categórico de Kant que é absolutamente equitativo e trata por igual todos os indivíduos. (VALE UM VALOR)
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© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Eis dois testes de filosofia para o 10º ano de escolaridade em Portugal, de final de primeiro período letivo, feitos com criatividade e riqueza de conteúdos, longe do simplismo monótono dos testes dos professores medianos que imitam os manuais de filosofia vigentes em Portugal. Todos estes últimos são muito limitados pela inércia do pensamento e pela «filosofia analítica» em voga (Oxford Dictionary of Philosophy, Routledge Dictionary of Philosophy, etc) cujas definições erróneas - do tipo «o libertismo é um incompatibilismo», «o relativismo não pode ser objetivista» ou «o subjetivismo contradiz-se» - e cujo vício lógico-formalista impedem a amplitude do pensamento livre, profundo e criador.
Escola Secundária com 3º ciclo Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A
Dezembro de 2011 Professor: Francisco Queiroz
I
“O realismo gnosiológico liga-se, sobretudo, à ideia de transcendência e o idealismo gnosiológico à ideia de imanência. Os juízos de valor assentam quase sempre na intersubjetividade e levam muitas vezes ao relativismo ou mesmo ao ceticismo.»
1) Explique, concretamente, cada uma destas frases.
II
“Entendi ser injusta uma cena em que duas raparigas agrediam uma terceira, enchi-me de coragem e intervim libertando a vítima, depois fui apreciar os quadros do Museu Regional de Beja, fiz um teste de matemática na escola, almocei frango assado e agradeci à Divindade sob um sol agradável.”
2), Identifique, nos termos a negrito deste texto, as quatro esferas de valores segundo Max Scheler e ainda valores de coisa e valores de função.
3) Relacione, justificando:
A) Imperativo categórico e imperativo hipotético em Kant e duas partes da alma humana segundo Platão.
B) Princípio lógico do terceiro excluído e lei dialética da contradição principal.
C) Hierarquia dos valores, ideologia e teleologia.
4) Disserte sobre o seguinte tema:
“A teoria das quatro causas e a teoria do ato e da potência de Aristóteles aplicada a:
A) A acção voluntária de marcar uma grande penalidade contra a equipa adversária num jogo de futebol.
5) Disserte sobre os seguinte tema:
a)- É compatível a existência dos arquétipos e da reminiscência da teoria de Platão com o livre-arbítrio? Justifique.
b)- Onde há maior grau de liberdade humana: no determinismo com livre-arbítrio ou no indeterminismo com livre-arbítrio ou no fatalismo? Justifique.
CORREÇÃO DO TESTE (COTAÇÃO MÁXIMA: 20 VALORES)
1) (NOTA: A FRASE VALE 2 VALORES). O realismo gnosiológico é a corrente que sustenta que há um mundo material exterior ás mentes humanas e, portanto, é transcendente a estas, ao passo que o idealismo gnosiológico é a corrente que sustenta que o mundo material está contido dentro da minha imensa mente cósmica e é irreal, desaparece se eu me extinguir, logo é imanente a mim. (A FRASE SEGUINTE VALE 3 VALORES).Os juízos de valor, isto é, as proposições que opinam com base no belo e no feio, no justo e injusto, no bem e no mal assentam quase sempre na intersubjetividade ou modo de pensar comum a várias subjetividades e conduzem muitas vezes ao relativismo, doutrina que afirma que os valores e a verdade variam de pessoa a pessoa, de povo a povo, de classe a classe social, de época a época, e ao ceticismo, doutrina que duvida das teorias científicas, religiosas, políticas, etc, e mesmo da existência dos entes ausentes ou invisíveis.
2) (NOTA: VALE DOIS VALORES). «Entendi ser injusta» é valor de função espiritual , isto é, um modo de perceber os valores éticos (justo e injusto) que, segundo Scheller, integra a esfera dos valores espirituais. «Enchi-me de coragem e intervim » é valor de função vital sendo o meu corpo um valor de coisa - a esfera dos valores vitais é a que se centra no anímico, no estado da alma, englobando o nobre e o vulgar, o excelente e o ruim, o sentir-se corajoso ou cobarde, jovem ou velho, vencedor ou vencido, etc. «Fui apreciar» é valor de função espiritual-estética, «os quadros do Museu Regional de Beja» é valor de coisa e pertence à esfera dos valores espirituais, que engloba a estética. «Fiz um teste de Matemática» é valor de função espiritual-científica, já que a ciência se centra nos valores de verdadeiro e falso, num sentido utilitário. «Almocei» é valor de função sensível e «frango assado» é valor de coisa, situada na esfera dos valores sensíveis. «Agradeci à divindade» é valor de função da esfera do santo e do profano, «sob um sol agradável» é valor de coisa da esfera dos valores sensíveis.
3) A) (VALE 2 VALORES) O imperativo categórico ou verdadeira lei moral segundo Kant - age como se quisesses que a tua ação fosse uma lei universal, isto é. aplicável imparcialmente a todos e sem te beneficiar a ti em exclusivo - equivale ao Nous, ou inteligência filosófica em Platão, que é a parte racional e superior da alma humana. O imperativo hipotético ou falsa lei moral segundo Kant - age beneficiando-te antes de mais a ti mesmo ou a ti e alguns amigos, secundarizando ou prejudicando outras pessoas - e equivale à epithimya ou concupiscência, isto é, à parte inferior da alma, aos instintos de comer, beber, possuir riquezas, devaneios sexuais egoístas, etc.
3) B) (VALE 2 VALORES) O princípio do terceiro excluído afirma que cada coisa ou qualidade é ou não é, pertence ao grupo A ou ao grupo não A, cria dois campos, e é similar à lei da contradição principal porque esta reduz a dois polos fundamentais as múltiplas contradições de um sistema. Exemplo: a contradição principal na II Guerra Mundial foi a que opôs os Aliados (Grã-Bretanha, EUA, Canadá, França livre, Brasil, etc) ao Eixo (Alemanha, Itália, Japão) havendo alguns países neutrais como Portugal, Espanha, Suíça, polos fora da contradição principal (esta deveria chamar-se, em rigor, contrariedade principal, de acordo com a terminologia aristotélica)..
4) A) (VALE 2 VALORES) Hierarquia de valores é a escala de valores, desde os mais elevados aos mais baixos ou contravalores. Em cada ideologia, isto é, sistema de ideias e valores de um dado grupo social ou povo há uma hierarquia de valores e uma teleologia ou estudo das finalidades dos processos naturais ou das finalidades dos valores. Exemplo: na ideologia burguesa, a hierarquia de valores coloca como valor supremo o direito a enriquecer através da acumulação de capitais como empresário ou investidor na bolsa em regime liberal, e põe como contravalores o comunismo, o anarquismo coletivista, a expropriação dos capitalistas e o fim da economia livre de mercado e tem por teleologia os valores do crescimento económico e de uma vida de prazer e conforto material material em liberdade.
4) a)(VALE 2 VALORES) A ação voluntária de marcar uma grande penalidade tem como causa formal - neste caso uma sucessão de formas- a corrida do jogador para a bola e o pontapé nesta rumo à baliza. Como causa material, a chuteira do jogador e a bola de couro. Como causa eficiente, o jogador que remata. Como causa final, marcar golo. Em ato, é o remate, em potência é a bola entrar ou não entrar na baliza.
5) a) (VALE 2 VALORES) O livre-arbítrio ou liberdade racional de deliberar como agir é compatível com os arquétipos de Bem, Belo, Justo, Número e outras formas espirituais puras existentes, segundo Platão, num mundo inteligível acima do céu visível. Podemos ou não inspirar-nos nos arquétipos. ao desenvolver ações terrenas - e isso é livre-arbítrio. As reminiscências são lembranças vagas dos arquétipos e são compatíveis com o livre-arbítrio.
5) b) (VALE 2 VALORES) O maior grau de liberdade, aparentemente, existe no determinismo com livre-arbítrio (os manuais chamam-lhe: determinismo moderado), doutrina segundo a qual a natureza se rege por leis necessárias, fixas e inflexíveis (as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos) e temos liberdade para escolher este ou aquele determinismo, cujos efeitos conhecemos. Em seguida, com menor grau de liberdade, porque não conhecemos os seus contornos, vem o indeterminismo com livre-arbítrio (alguns manuais chamam-lhe libertismo...) isto é a doutrina segundo a qual a natureza não tem leis fixas e absolutamente previsíveis (exemplo: ao partir um ovo de galinha, não é certo encontrar clara e gema dentro, posso encontrar um trevo ou uma pérola) e sou livre de escolher. No fatalismo, doutrina segundo a qual os acontecimentos estão predestinados desde a mais remota antiguidade, não há livre-arbítrio.
NOTA: Há respostas alternativas a estas em algumas perguntas. O professor corretor deve ser flexível na captação de outras vias de racionalidade sugeridas por alguns alunos. Os conteúdos filosóficos deste teste estão todos contidos potencialmente no programa de filosofia, basta discerni-los, trazê-los à superfície. Na rubrica «O que é a filosofia» é possível a um professor dotado de visão holística e de rigor concetual ensinar a teoria de Platão (arquétipos, Mundos do Mesmo, do Semelhante e do Outro, reminiscência, participação, etc) princípios da lógica e leis da dialética, as teorias do ato e da potência de Aristóteles,etc.
Vejamos um segundo teste.
Escola Secundária com 3º ciclo Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA D
Dezembro de 2011 Professor: Francisco Queiroz
I
“ A hierarquia de valores implica sempre o preferir e o postergar de valores. A lei dialética do uno parece relacionar-se mais com o tó on de Aristóteles mas a lei do devir parece ligar-se mais ao tó tí. Os juízos de valor levam muitas vezes ao relativismo ou mesmo ao ceticismo.»
1) Explique, concretamente, cada uma destas frases.
II
“ Estive a contemplar e apreciar um quadro de Picasso, depois bebi um sumo de laranja, senti-me animado com um telefonema em que me prometiam emprego por eu ter altas classificações em informática e agradeci à Divindade no meio de um campo sob um sol agradável.”
2), Identifique, nos termos a negrito deste texto, as quatro esferas de valores segundo Max Scheler e ainda valores de coisa e valores de função.
3) Relacione, justificando:
A) Dualismo antropológico e moral em Kant e duas partes da alma humana segundo Platão.
B) Realismo e idealismo gnosiológico.
C) Arquétipo em Platão, metafísica e conceito noético ou metaempírico.
4) Disserte sobre o seguinte tema:
A teoria das quatro causas e a teoria do ato e da potência de Aristóteles aplicada a:
A) A escola Diogo de Gouveia.
B) A acção voluntária de recolher alimentos a favor dos mais carenciados.
5)Disserte sobre os seguinte tema:
A)- Poderia haver valores éticos, estéticos e científicos se não houvesse livre-arbítrio? Justifique.
B)- Onde há maior grau de liberdade humana: no determinismo com livre-arbítrio ou no indeterminismo com livre-arbítrio ou no fatalismo? Justifique.
CORREÇÃO DO TESTE (COTAÇÃO MÁXIMA: 20 VALORES)
1) A) (A FRASE SEGUINTE VALE 1 VALOR) A hierarquia dos valores, isto é, o escalonamento ou escala destes de cima a baixo, implica o preferir, isto é, adotar alguns, e o postergar, isto é, o rejeitar ou colocar em último lugar de outros (exemplo: se prefiro a honestidade estou a postergar a desonestidade). (AS FRASES SEGUINTES VALEM 2 VALORES, NO TODO) A lei dialética do uno sustenta que no universo todas as coisas estão ligadas entre si fazendo um imenso Um ou Uno e o tó on, isto é, o ente, o que existe, referido por Aristóteles, é uma qualidade universal de todas as coisas, algo que as une, uma existência comum. A lei do devir sustenta que tudo está em devir ou incessante mudança e isso parece ligar-se ao tó tí, isto é, ao quê é, à forma ou essência particular, ao aspeto definidor (exemplo: o tó tí da semente, isto é, a sua forma distintiva, transforma-se no to tí da árvore, etc).(A FRASE SEGUINTE VALE DOIS VALORES). Os juízos de valor, isto é, as proposições fundadas nas noções de belo/feio, justo/injusto, bom/mau, levam muitas vezes ao relativismo, doutrina que constata que os valores variam de pessoa a pessoa, de classe a classe social, de povo a povo, de época a época, etc, e ao ceticismo, doutrina que duvida das teorias científicas, religiosas, políticas, etc, e de tudo o que esteja ausente à observação direta.
2) ( VALE 3 VALORES) "Estive a contemplar e apreciar" é valor de função estética ou valor de perceber o belo (esfera dos valores espirituais), "um quadro de Picasso" é valor de coisa, segundo a teoria de Max Scheler. «Bebi um sumo de laranja" é valor de função sensível (esfera dos valores sensíveis). «Senti-me animado com um telefonema» é valor de estado vital (estado de alma refere-se à esfera dos valores vitais) sendo o telefonema um valor de função vital, porque me anima, e de função espiritual, porque me comunica intelectualmente o valor de verdadeiro contido na informação de eu "ter altas classificações em informática" (estas representam um valor espiritual-científico de coisa). "Agradeci à divindade" é um valor de função da esfera do santo e do profano , "sob um sol agradável"é um valor de função e de coisa da esfera dos valores sensíveis.
3) A) (VALE DOIS VALORES) Dualismo antropológico e moral em Kant significa a divisão do ser humano (antropos) , feita por este filósofo, em dois polos, no plano moral: o eu numénico ou racional, gerador do imperativo categórico ou verdadeira lei moral, baseado na equidade universal e na ausência de egoísmo, e o eu fenoménico ou corporal, gerador do imperativo hipotético ou falsa lei moral, baseado no interesse egoísta do sujeito e na falta de equidade. O primeiro, numénico, equivale ao Nous, ou parte superior e racional da alma que contempla os arquétipos, segundo Platão, o segundo, fenoménico, equivale à Epithimya ou concupiscência, parte inferior da alma.
3) B) (VALE DOIS VALORES) O realismo gnosiológico sustenta que o mundo material é real em si mesmo e transcendente às mentes humanas. Ao invés, o idealismo gnosiológico sustenta que o mundo material está contido dentro da única ou das múltiplas mentes humanas, não sendo real em si mesmo.
3) C) (VALE DOIS VALORES) Arquétipo, em Platão, é uma forma espiritual eterna, imutável, imóvel e perfeita, situada acima do ceu visível, que serve de modelo aos entes do mundo terrestre: os arquétipos de Bem, Belo, Justo, Igual, Número Dois, etc. Conceito noético ou metaempírico é a ideia, formalmente subjetiva, que a mente humana forma de arquétipo, a representação deste no Nous ou inteligência superior. Tanto o arquétipo como o conceito noético que dele temos são metafísicos, visto que metafísica é a região dos objetos invisíveis e impalpáveis que transcendem a esfera dos sentidos e a natureza física percetível.
4) A) (VALE 2 VALORES) A teoria das quatro causas, de Aristóteles, aplicada à Escola Secundária Diogo de Gouveia, em Beja, resulta assim: a causa formal é a forma do edifício escolar, incluindo as salas, laboratórios, etc; a causa material é a matéria usada na construção, isto é, tijolo, ferro, cimento, mármore, telha, plástico, alumínio, etc; a causa eficiente é quem fabricou a escola, isto é, o onjunto dos pedreiros, carpinteiros, eletricistas, canalizadores, arquitetos, engenheiros, empreiteiros; a causa final é o desenvolvimento dos conhecimentos cientíicos e humanísticos e das habilidades técnicas dos alunos, a sua certificação e a constituição de um polo de saber irradiante, em que os professores são peça fundamental. A teoria do ato e da potência aplicada é a seguinte: a escola é uma escola secundária em ato ou realidade presente e é uma universidade ou qualquer outra coisa em potência, isto é, no futuro previsível.
4) B) (VALE UM VALOR) A ação de recolha de alimentos a favor dos carenciados tem como causa formal os gestos sucessivos de agarrar alimentos e transportá-los (gestos são formas moventes). Como causa material, tem os alimentos e os corpos dos que os carregam. Como causa eficiente, os doadores dos alimentos e os voluntários que os levam. Como causa final, alimentar as pessoas carenciadas.
5) A) (VALE DOIS VALORES) O livre-arbítrio ou liberdade racional de deliberar como agir é compatível com os valores éticos de bem e de mal, justo e injusto, com os valores estéticos de belo e feio, sublime e horrível, e com os valores científicos de verdadeiro, falso e verosímil. Livre-arbítrio é uma faculdade racional e valores são qualidades ou essências exteriores a essa faculdade racional.
5)B) (VALE 2 VALORES) O maior grau de liberdade, aparentemente, existe no determinismo com livre-arbítrio (os manuais chamam-lhe: determinismo moderado), doutrina segundo a qual a natureza se rege por leis necessárias, fixas e inflexíveis (as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos) e temos liberdade para escolher este ou aquele determinismo, cujos efeitos conhecemos. Em seguida, com menor grau de liberdade, porque não conhecemos os seus contornos, vem o indeterminismo com livre-arbítrio (alguns manuais chamam-lhe libertismo...) isto é a doutrina segundo a qual a natureza não tem leis fixas e absolutamente previsíveis (exemplo: ao partir um ovo de galinha, não é certo encontrar clara e gema dentro, posso encontrar um trevo ou uma pérola) e sou livre de escolher. No fatalismo, doutrina segundo a qual os acontecimentos estão predestinados desde a mais remota antiguidade, não há livre-arbítrio.
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