Schopenhauer, que se considerava um kantiano, difere da teoria de Kant ao escrever:
«O espaço só surge quando o sujeito cognoscente olha para fora: é o modo e a maneira como o sujeito capta algo distinto de si. Daqui se deduz que mais além do fenómeno, no ser em si de todas as coisas, que há-de ser alheio ao espaço e ao tempo e também à pluralidade, tão pouco pode haver conhecimento algum».»
(Schopenhauer, El mundo como voluntad y representación, 2º volume, Alianza Editorial, Madrid, pag 361; o destaque a negrito é nosso).
Para Kant, o espaço é inato como forma a priori da sensibilidade, antes de haver casas, árvores, etc, havia espaço vazio mental, o espaço não surge somente quando o sujeito olha fora de si. Aliás, olhar fora de si é impossível na lógica da gnosiologia kantiana porque fora de si só há os númenos (Deus, liberdade , mundo como totalidade) invisíveis e incognoscíveis: o mundo inteiro, visível e palpável, com as montanhas, os rios, os céus, os animais, está dentro do sujeito , na sensibilidade deste exterior ao seu corpo físico, como série de fenómenos, pois a sensibilidade é mente ou espírito impensante onde se aloja a matéria que é pura ilusão (idealismo material). O sujeito, segundo Kant, é espaço, tempo (formas a priori da sensibilidade), entendimento e razão, não há sujeito anterior ao espaço.
Artur Schopenhauer( Danzig, 22 de Fevereiro de 1788 — Frankfurt, 21 de Setembro de 1860) que se considerava um discípulo de Kant, admitiu, tal como este, que o espaço e o tempo são formas a priori da consciência humana. Mas extrinsecou espaço e tempo e matéria, do sujeito, para Schopenhauer incognoscível, ao passo que Kant manteve o espaço, o tempo e a essência dos fenómenos dentro do espírito do sujeito, como partes sensíveis deste. Schopenhauer escreveu:
«Aquele que conhece tudo e não é conhecido por ninguém é o sujeito. Ele é o sustentáculo do mundo, a condição sempreeternamente pressuposta de tudo quanto se manifesta, de todo o objecto. Pois tudo quanto existe está aí só para o sujeito.» (...)
«Assim pois o mundo como representação, único aspecto que consideramos aqui, tem duas metades essenciais, necessárias e inseparáveis. Uma é o objecto, cuja forma é o espaço e o tempo, e através da dita forma a pluraridade. Mas a outra metade, o sujeito, não se acha no espaço e no tempo, pois essa metade está inteira e indivisível em cada ser que tem representações; daí que um só de tais sujeitos complete com o objecto o mundo enquanto representação tão cabalmente como qualquer outro dos milhões de sujeitos existentes e, ao desaparecer cada um de tais sujeitos, desaparece também então o mundo enquanto representação. Estas metades são inseparáveis inclusive para o pensamento, pois cada uma delas só tem significado e existência por e para a outra, coexistindo e desaparecendo com ela. Delimitam-se imediatamente e ali onde começa o objecto cessa o sujeito . A comunhão de tais limites mostra-se em que as formas essenciais e e por isso gerais de todo o objecto, que são espaço, tempo e causalidade, também podem ser encontradas e cabalmente reconhecidas a partir do sujeito, sem conhecimento do próprio objecto, quer dizer, que com a linguagem de Kant as ditas formas se acham a priori na nossa consciência. Ter descoberto isso é um mérito capital e enorme de Kant.»
(Schopenhauer, El mundo como voluntad y representación, Alianza Editorial, pag 116-117 ; o destaque a negrito é posto por nós).
Schopenhauer afasta-se de Kant ao considerar que sujeito e objecto são duas metades iguais, correlatas, que se fundem na representação (imagem, ideia, juízo, raciocínio). Mas Kant, que dava dois sentidos diferentes à palavra objecto - o objecto metafísico, real, ou númeno, como Deus, liberdade; o objecto físico, irreal, ou fenómeno como montanha, rio - não pensava que objecto físico (casa, cão, nuvem, corpo humano, etc.) e sujeito estivessem num plano de igualdade e de geração mútua como Schopenhauer fenomenólogo. Kant achava que o objecto fenómeno estava dentro da sensibilidade do sujeito era uma criação desta com as ferramentas do espaço (extensão, formas geométricas) e do tempo (duração, simultaneidade, sucessão).
Kant escreveu:
«Assim quando separo da representação de um corpo o que o entendimento pensa dele, como seja substância, força, divisibilidade, etc., e igualmente o que pertence à sensação como seja impenetrabilidade, dureza, cor, etc, algo me resta ainda dessa intuição empírica: a extensão e a figura. Estas pertencem à intuição pura, que se verifica a priori no espírito, mesmo independentemente de um objecto real dos sentidos ou da sensação, como simples forma da sensibilidade».
(Immanuel Kant, Crítica da Razão Pura, Fundação Calouste Gulbenkian, pág. 62)
Este trecho revela o construtivismo idealista de Kant: o objecto, como por exemplo uma pedra, só possui a forma a priori, uma forma fantasmagórica de linhas, e a dureza, impenetrabilidade, a cor são invenções da nossa subjectividade e está dentro do espaço que é a parte externa da sensibilidade do sujeito (se este morrer o cosmos inteiro que é a sua mente com as galáxias e o sistema solar desaparece).
Ao postular no texto acima que «Mas a outra metade, o sujeito, não se acha no espaço e no tempo, pois essa metade está inteira e indivisível em cada ser que tem representações», Schopenhauer afasta-se do idealismo de Kant, pois este apresenta o espaço e o tempo como componentes essenciais do sujeito, como as formas a priori da sensibilidade dentro das quais se gera o universo inteiro visível e palpável.
KANT E FICHTE POSTULAVAM O SUJEITO COMO CRIADOR, CAUSA, DO OBJECTO FÍSICO, SCHOPENHAUER NÃO
Schopenhauer esforçou-se por isolar a teoria de Fichte, neo kantiano que apenas divergia de Kant por suprimir o númeno ou objecto metafísico incognoscível, da teoria de Kant. Mas Fichte é mais fiel a Kant do que Schopenhauer. Este, que pretende ter sido o primeiro a colocar como base da filosofia a representação, em vez do dualismo sujeito-objecto, escreveu:
«Costuma cometer-se um grande erro ao acreditar que, como a intuição está mediada pela conhecimento da causalidade, a relação entre sujeito e objecto consiste na de causa e efeito, quando mais precisamente essa relação só tem lugar entre o objecto mediato e o mediatizado, portanto sempre entre dois objectos. Neste falso pressuposto se baseia precisamente a néscia polémica sobre a realidade do mundo exterior, na qual se enfrentam o dogmatismo e o cepticismo, apresentando-se o primeiro umas vezes como idealismo e outras como realismo. O realismo coloca o objecto como causa e o seu efeito no sujeito. O idealismo fichteano converte o objecto em efeito do sujeito».
(Schopenhauer, El mundo como voluntad y representación, Alianza Editorial, pag 128 ; o destaque a negrito é posto por nós).
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Apesar do seu brilhantismo no raciocínio, Kant desceu ao magma de alguma confusão de ideias no que respeita à definição de fenómeno e de intuição. O filósofo alemão definiu assim fenómeno:
«O objecto indeterminado de uma intuição empírica chama-se fenómeno». (Kant, Crítica da Razão Pura, Fundação Calouste Gulbenkian, pag. 61).
É óbvio que Kant distingue entre fenómeno - por exemplo, cadeira - e intuição do fenómeno - ver ou tocar a cadeira, neste exemplo. Mas o que constitui o fenómeno? As intuições empíricas e, essencialmente, as intuições puras: a figura e a extensão. E alguns conceitos a priori. O fenómeno, como por exemplo, bicicleta, cão ou nuvem nada é em si mesmo: é apenas uma figura sem cor, nem som, nem cheiro, nem matéria, inscrita num espaço que é irreal, intuição a priori. Kant é um idealista ontológico: os objectos materiais não existem fora do espírito humano, são complexos de sensações e intuições tridimensionais. Não há, por exemplo, cavalo-númeno e cavalo-fenómeno, como pensa a generalidade dos estudiosos de Kant. O cavalo é apenas representação de algo incognoscível. Kant escreveu:
«Assim, quando separo da representação de um corpo o que o entendimento pensa dele, como seja substância, força, divisibilidade, etc., e igualmente o que pertence à sensibilidade como seja a impenetrabilidade, dureza, cor, etc, algo me resta ainda dessa intuição empírica: a extensão e a figura. Estas pertencem à intuiçao pura, que se verifica a priori no espírito, mesmo independente de um objecto real dos sentidos ou da sensação, como simples forma da sensibilidade.»(Kant, Crítica da Razão Pura, Fundação Calouste Gulbenkian, pag. 61).
Ora este texto desmonta o objecto real dos sentidos ou fenómeno mostrando que não passa de um complexo de intuições formais (figura, espaço) e de conceitos A cor, a dureza, de uma bicicleta não pertencem à bicicleta: são sensações, intuições empíricas, modos ilusórios de percepcionar esse veículo que é fenómeno. O carácter unitário da biclicleta como aglomerado de peças metálicas é um conceito do entendimento, é a categoria de substância e acidente, não está na bicicleta. E o problema coloca-se: ao vermos uma bicicleta que está fora do nosso corpo físico mas dentro da nossa mente que o circunda e constitui o espaço, estamos a ter um conjunto de intuição empíricas e sensações (visão da cor, sensação da dureza do metal ou do selim, etc) de um fenómeno que se reduz a intuições empíricas geométricas (as linhas da bicicleta), a uma matéria indeterminada (algo que não tem cor, nem peso, nem cheiro, nem ductilidade) e a conceitos (substância única e divisível em partes).
Assim, a noção de intuição empirica funciona ambiguamente em Kant: é a matéria do fenómeno («Dou o nome de matéria ao que no fenómeno corresponde à sensação» diz Kant; mas uma matéria absolutamente abstracta, como a hylé de Aristóteles, pois a cor, o cheiro, o som, a sensação de dureza são meras sensações, aparência), o objectivamente «real para nós» e é a percepção da matéria desse fenómeno, percepção esta que já inclui cor, som, cheiro, grau de dureza, etc. Note-se ainda que, seguindo a teoria das qualidades primárias e secundárias de Descartes, Kant estabelece duas modalidades de intuição empírica enquanto percepção, distinguindo sensação (subjectiva, ilusória) de intuição (objectiva):
«O sabor agradável de um vinho não pertence às propriedades objectivas desse vinho, portanto de um objecto mesmo considerado como fenómeno, mas à natureza especial do sentido do sujeito que o saboreia. As cores não são propriedade dos corpos, à intuição dos quais se reportam, mas simplesmente modificações do sentido da vista que é afectada pela luz de uma certa maneira. O espaço pelo contrário, como condição de objectos exteriores, pertence necessariamente ao fenómeno ou à intuição do fenómeno». (Kant, Crítica da Razão Pura, Fundação Calouste Gulbenkian, pag. 69, nota de rodapé; o destaque a negrito é de minha autoria).
Neste caso, o sabor e a cor de um vinho seriam a intuição subjectiva e o vinho a intuição objectiva e o fenómeno. Mas o que é o vinho sem cor, nem sabor?
Em suma, a contradição de Kant reside no facto de expulsar do fenómeno para o campo das sensações (intuições do fenómeno) e para o campo dos conceitos aquilo que realmente o caracteriza: a cor, o sabor, a dureza, a matéria concreta de que é feito (no caso de árvore: madeira e folhagem), tornando o fenómeno uma figura fantasmagórica, um esqueleto sem carne, pura forma num dado tempo.
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Apesar de servir para leccionar o programa de Filosofia do 11º ano de escolaridade em Portugal, o manual da editora A Folha Cultural «Este Amor pelo Saber», de Amândio Fontoura, Mafalda Afonso e Maria de Fátima Gomes, com supervisão de Alexandre Franco de Sá, inclui alguns erros teóricos que vamos explicitar.
EM KANT, OS DADOS DA SENSIBILIDADE NÃO APARECEM À RAZÃO, E A SENSIBILIDADE NÃO É "POSSIBILITADA" POR UMA FORMA A PRIORI
A gnosiologia de Kant é um dos pontos fracos deste livro cujos autores, como aliás 99% dos autores de manuais de filosofia, não compreendem a fundo o pensamento do filósofo alemão de Konisberg. Que diremos, no entanto, se nem o próprio Bertrand Russell era capaz de perceber o idealismo transcendental de Kant a quem classificava de filósofo "confuso"?
«Para Kant, os conceitos puros do entendimento devem organizar a experiência, tornando possível que os dados da sensibilidade apareçam à razão.» (Amândio Fontoura, Mafalda Afonso, Maria de Fátima Gomes,«Este amor pelo saber», revisão científica de Alexandre Franco de Sá, A Folha Cultural, Lisboa, pag 176).
Há aqui um equívoco: os dados da sensibilidade nunca aparecem à razão (Versnunft) , faculdade metafísica voltada para os númenos incognoscíveis - no sistema ontognosiológico de Kant - mas aparecem apenas ao entendimento (Verstand), faculdade intelectual que pensa o mundo físico com os seus objectos (fenómenos, como por exemplo, cadeiras, nuvens, planícies, corpos animais, etc).
Lê-se ainda no referido manual:
«A sensibilidade é então possibilitada, segundo Kant, pelo facto de a matéria das sensações ser organizada por uma forma a priori que possibilita as próprias sensações. Por exemplo, quando vemos uma mesa e, depois, uma cadeira que esteja perto dela, estes dois objectos não podem ser vistos senão enquadrados numa estrutura que permite o seu aparecimento. Esta estrutura é o espaço comum que eles ocupam...»
(Amândio Fontoura, Mafalda Afonso, Maria de Fátima Gomes,«Este amor pelo saber», revisão científica de Alexandre Franco de Sá, A Folha Cultural, Lisboa, pag 175).
O equívoco da primeira frase é o seguinte: dizer que a sensibilidade é possibilitada por uma acção da forma a priori que consiste em organizar a matéria das sensações. Não. Há aqui brumas da confusão. A sensibilidade é as duas formas a priori (espaço e tempo puros), não é possibilitada por estas, não é um momento ou estrutura posterior a estas. A sensibilidade pura possibilita, sim, os objectos empíricos, materiais.
O IDEALISMO NÃO ENCERRA, NECESSARIAMENTE, TODA A REALIDADE NA CONSCIÊNCIA
Eis como o manual define idealismo:
«O idealismo: esta posição sustenta que não há coisas reais independentes da consciência. Segundo esta perspectiva, toda a realidade está encerrada na consciência do sujeito; as coisas são somente conteúdos da consciência; apenas os conteúdos da consciência são reais.»
(Amândio Fontoura, Mafalda Afonso, Maria de Fátima Gomes,«Este amor pelo saber», revisão científica de Alexandre Franco de Sá, A Folha Cultural, Lisboa, pag 182; parte do bold é nosso).
Esta é uma definição parcialmente errónea de idealismo. Senão, vejamos: em Kant, os númenos ou coisas em si são coisas reais independentes da consciência e não são, sequer, conteúdos da consciência. Por outro lado, os conteúdos da consciência designados por fenómenos não são autenticamente reais. A doutrina de Kant é um idealismo transcendental e não encaixa mesmo nada na definição de idealismo dada no manual...
HÁ SUBJECTIVISMO COMPATÍVEL COM OBJECTOS INDEPENDENTES DA CONSCIÊNCIA
A definição de subjectivismo delineada neste manual é:
«O subjectivismo: nesta concepção, o fundamento do conhecimento está no sujeito; os princípios do conhecimento humano residem no sujeito, do qual depende a verdade do conhecimento, uma vez que este conhece de acordo com o conjunto das leis que lhe são inerentes. Nesta concepção, é o sujeito que produz o objecto, não havendo objectos independentes da consciência, pois todos são produto do pensamento.»
(Amândio Fontoura, Mafalda Afonso, Maria de Fátima Gomes,«Este amor pelo saber», revisão científica de Alexandre Franco de Sá, A Folha Cultural, Lisboa, pag 182; parte do bold é nosso).
As águas sulfurosas da confusão conceptual são borbulhantes, neste texto. Confunde-se subjectivismo (percepção subjectiva da realidade interior ou exterior) com idealismo. A esmagadora maioria dos subjectivistas - Salvador Dali, Picasso, Mozart, e praticamente todos os artistas, escritores e intelectuais, além de muita gente simples do povo eram subjectivistas- acreditam na existência de objectos independentes do pensamento humano, simplesmente interpretam-nos de forma singular e intimista.
HÁ OBJECTIVISMO EM QUE O OBJECTO NÃO DETERMINA O SUJEITO
Eis como o manual define objectivismo:
«O objectivismo: segundo esta concepção, é o objecto que determina o sujeito ; o sujeito apenas recebe as características do objecto, fazendo uma mera reprodução destas em si ».
(Amândio Fontoura, Mafalda Afonso, Maria de Fátima Gomes,«Este amor pelo saber», revisão científica de Alexandre Franco de Sá, A Folha Cultural, Lisboa, pag 182; parte do bold é nosso).
É uma definição bastante imperfeita e sectorial de objectivismo. Na verdade, existe objectivismo sem existir sujeito ou sujeitos: é a teoria defendida por exemplo por Sartre em "O ser e o nada" ou por Alfredo Reis segundo a qual a consciência é ser material, não constitui um espelho ou uma caixa de ressonância psíquica àparte da matéria. E, segundo a concepção realista, há milhões de anos, antes de haver humanidade, havia objectivismo - realidades objectivas, em si mesmas, como a Terra e o sistema solar - sem haver sujeito.
AO DEFINIR REALISMO, NÃO BASTA DIZER QUE SUPÕE OBJECTOS REAIS FORA DA CONSCIÊNCIA
«O realismo é a posição epistemológica segundo a qual há objectos reais independentes da consciência...»
(Amândio Fontoura, Mafalda Afonso, Maria de Fátima Gomes,«Este amor pelo saber», revisão científica de Alexandre Franco de Sá, A Folha Cultural, Lisboa, pag 182; parte do bold é nosso).
É uma definição insuficiente, esfumada entre azuis de imprecisão: também o idealismo transcendental de Kant sustenta que há objectos reais - os númenos - fora da consciência....Falta algo mais, de essencial, para definir realismo gnosiológico: a alusão à materialidade dos objectos.
A INCAPACIDADE DE DEFINIR FENOMENOLOGIA
Sobre fenomenologia, diz o manual:
«Para a fenomenologia, conhecer é aquilo que tem lugar quando um sujeito apreende um objecto e cabe-lhe clarificar o que significa ser o objecto de conhecimento, ser sujeito cognoscente, e o que resulta desta relação que é o conhecimento (...) O sujeito desloca-se da sua esfera para a esfera do objecto, de modo a apreender as características do objecto - que está fora do sujeito e possui características diferentes...»
(Amândio Fontoura, Mafalda Afonso, Maria de Fátima Gomes,«Este amor pelo saber», revisão científica de Alexandre Franco de Sá, A Folha Cultural, Lisboa, pag 163).
Esta é uma interpretação realista, inspirada num texto de Nikolai Hartman, que perverte a essência da fenomenologia. Não explica o que esta é. Aliás, nenhum manual de filosofia para o ensino secundário em Portugal sabe explicar, com clareza, o que é fenomenologia (perdão: o manual que redigi sabe, mas não foi publicado...). As teses de Heidegger da verdade como desocultação do ser, opõem-se àquela definição do manual, que nada mais é que a teoria da verdade como correspondência.
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