Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2016
Equívocos de Mario Bunge na classificação das teorias físicas

 

Mario Bunge estabelece quatro tipo de teorias físicas:

 

«1. A teoria realista: uma teoria física trata de sistemas físicos, isto é, diz respeito a entidades e eventos que indubitavelmente têm uma existência autónoma (realismo ingénuo) ou que supostamente (talvez erradamente, em alguns casos) têm uma existência autónoma (realismo crítico). » (...)

 

2, A tese subjectivista; uma teoria física trata de sensações (sensismo) ou também de ideias (idealismo subjectivo) de qualquer sujeito empenhado em actos cognitivos.» (...)

 

3. A tese estrita de Copenhague: uma teoria física ou, de qualquer modo, a teoria quântica trata de blocos sujeito-objecto inanalisáveis. Não pode ser estabelecida nenhuma distinção absoluta

 

4. A tese dualista: uma teoria física trata de objectos físicos e de actores humanos: diz respeito às transações dos humanos com o seu ambiente (pragmatismo) ou ao modo como os humanos manejam sistemas quando tentam conhecê-los (operacionismo). »

 

(Mario Bunge, Filosofia da Física, Edições 70, pág 67)

 

Há certo mérito nesta distinção. Mas há erros: realismo não se opõe a subjectivismo mas sim a idealismo/ irrealismo e a fenomenologia (esta última incarnada na chamada teoria de Copenhague); não há, em princípio, distinção ontológica entre realismo e dualismo, ao contrário do que Bunge estabelece, porque o realismo, a partir do momento em que existe humanidade cognoscente, é um dualismo (a nossa mente, do lado de cá, o mundo físico do lado de lá). 

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Sexta-feira, 19 de Novembro de 2010
Dualismo

Dualismo é toda e qualquer teoria que sustenta haver dois princípios originários na existência, no universo, no pensamento. É uma definição formal (entendendo por formal a figura abstracta, lógico-relacional) não uma definição substancial como por exemplo «idealismo», «realismo», «materialismo», etc. Assim, por exemplo, não tem suficiente clareza a proposição:« Platão é dualista, Hegel é espiritualista, Marx é materialista, Feuerbach é naturalista». Nela se misturam qualificações formalistas («dualista») com qualificações substancialistas, que têm certo conteúdo, certa substância («idealismo» supõe ideia; «realismo» e «materialismo» remetem para matéria).

 

Para ser absolutamente clara, a proposição deveria ser a seguinte «Platão é hilo-espiritualista, Hegel é espiritualista, Marx é materialista, Feuerbach é naturalista».

 

Dualismo opõe-se directamente a monismo e pluralismo.

 

  

 

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Sábado, 23 de Janeiro de 2010
Sobre la tesis de Ortega de que «mi Yo no está en (dentro de) esta habitación»

En su fenomenología de la razón vital, Ortega sostiene un dualismo bajo el monismo de la vida:

 

«Yo no soy más que un ingrediente de mi vida: el otro es la circunstancia o mundo. Mi vida, pues, contiene ambos dentro de sí, pero ella es una realidad distinta de ambos.» (Ortega y Gasset, Unas lecciones de metafísica, Revista de Occidente en Alianza Editoral, Pág 78; la letra negrita es añadida por mí).

 

 

 

En contra del realismo gnoseológico, Ortega insiste que nuestro "yo" no está espacialmente dentro de múltiples cosas que constituyen el mundo físico:

 

«En el análisis de la frase "estar yo en la habitación", no conseguimos aclarar el sentido del estar por la sencilla razón de que haciendonos problema del "yo", del en y del estar hemos dejado como cosa de suyo clara el significado de "habitación". (...) Era innevitable que si la habitación es un espacio material, el estar yo en ella tuviesse también un sentido de relación espacial y material con ella.»

 

«Ahora bien, no hay nada de esto. Yo sostengo que si nuestra vida ahora consiste en estar en la habitación, esta habitación no es en su realidad primaria y propia un espacio, ni es nada material.»(Ortega y Gasset, Unas lecciones de metafísica, Revista de Occidente en Alianza Editoral, Pág 72-73; la letra negrita es añadida por mí).

 

 

«La circunstancia (en el caso presente y preciso: esta habitación ) es la otra parte de mi vida. Era un error decir que yo ( parte de mi vida ) formo parte de la otra parte de mi vida que es la habitación. No; formo parte del todo que es mi vida, la cual es un todo precisamente porque yo soy (una) parte distinta de la otra parte que es la habitación.»  (Ortega, ibid, Pág 78).

 

  

 

Como esencia, física o psíquica, es obvio que yo no formo parte de la habitación. Pero si mi cuerpo se halla en la habitación y el techo se derrumba, atrapándome, es evidente que mi yo orgánico se queda dentro de la habitación derrumbada y que yo formo parte del espacio de la habitación en dicha circunstancia. El afán de Ortega, igual que Heidegger, de suprimir la noción del «dentro de» - y de interpretar la partícula “en” no como “dentro de” sino como “junto a, pero fuera de” - en consecuencia de la subjetivización del espacio, conduce a la paradoja de decir que “yo no estoy en la habitación”  cuando me encuentro dentro de ella, lo que es parcialmente falso, puesto que mi yo físico está literalmente dentro de la habitación. El yo corporal, dotado de materialidad y espacialidad, está, por algunos momentos, contenido en el espacio material interior a la habitación. La verdad parcelar de la tesis de Ortega es que mi yo psíquico no está realmente dentro de la habitación sino la aprehende desde fuera como esencia, conceptual y empírica, mientras mi yo físico puede estar dentro de ella.

 

 

 

Ortega sigue en la línea de Descartes y Husserl anteponiendo «mi yo» a las «cosas» exteriores. La imprecisión de Ortega es su rigido dualismo yo-circunstancia, es no atestiguar que, infinitas veces, mi circunstancia forma parte de mi yo físico o lo compenetra: si tengo fiebre, es mi circunstancia, que alcanza el interior de mi yo físico, aunque puedo suponer conservarme tranquilo espiritualmente; el ruido demasiado elevado en la habitación vecina - mi circunstancia de ahora - penetra en mis oídos, en mi Yo organico; los besos de la mujer amada - una circunstancia no de siempre - calentan mi piel, influen en mi circulación de la sangre, en mi Yo organico y en mi Yo psíquico.

 

 

 

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Sexta-feira, 23 de Janeiro de 2009
Confusões de Thomas Nagel: Fisicalismo, Dualismo e Teoria do Aspecto Dual

No capítulo IV, O Problema Mente-Corpo,  do seu livro «Que quer dizer tudo isto? Uma iniciação à filosofia» Thomas Nagel distingue três teorias: o fisicalismo ou materialismo, o dualismo e a teoria do aspecto dual.

 

«Existe outra teoria possível, que é diferente, quer do fisicalismo quer do dualismo. O dualismo é a perspectiva segundo a qual és composto por um corpo e por uma alma e a tua vida mental se desenrola na tua alma. O fisicalismo é a perspectiva segundo a qual a tua vida mental consiste em processos físicos no teu cérebro. Contudo, outra possibilidade é a de a tua vida mental se desenrolar no teu cérebro, mas todas essas experiências, sentimentos, pensamentos e desejos não serem processos físicos no teu cérebro, o que equivaleria a dizer que a massa cinzenta de milhares de milhões de células nervosas no teu crânio não é apenas um objecto físico. Tem muitas propriedades físicas - desenrolam-se nele grandes quantidades de actividade química e eléctrica - mas também tem processos mentais

 

«A perspectiva de que o cérebro é o lugar da consciência mas que os seus estados conscientes não são apenas estados cerebrais, é designada por teoria do aspecto dual. Chama-se assim porque significa que quando comes um chocolate se produz um estado ou um processo no teu cérebro com dois aspectos: um aspecto físico, que envolve diversas transformações químicas e eléctricas, e um aspecto mental- a experiência do sabor do chocolate. Quando este processo ocorre, um cientista que olhe para o teu cérebro será capaz de observar o aspecto físico, mas tu próprio passarás, interiormente, pelo processo mental: terás a sensação de saborear chocolate.» (Thomas Nagel, Que Quer dizer tudo isto?, Gradiva, pag 34-35; a letra negrita é de minha autoria.)

 

Não sabendo aplicar a navalha de Ockham, método sintético para eliminar as redundâncias, Nagel caiu na duplicação: definiu a teoria do aspecto dual como distinta do fisicalismo quando se trata da mesma coisa.

 

Os materialistas em geral - excepto os mecanicistas -  não negam o pensamento como emanação especial da matéria física, diferente desta. Defendem que o pensamento é dual na sua natureza: radiação da matéria física enquanto veículo empírico,  e oposição (alteridade) face à matéria, enquanto veículo abstracto.

Nagel é, pois, deficiente na sistematização conceptual.

 

Nota: No Centro de Formação Margens do Guadiana, com sede na Escola Secundária com 3º Ciclo Diogo de Gouveia, R. Luís de Camões, 708-508 BEJA (telefone: 284 328 063), estão abertas as inscrições para a acção de formação para professores de filosofia (Grupo 410) «A teoria geral dos valores e a Ética, na perspectiva do método dialéctico», equivalente a dois créditos, 50 horas de duração (50HP), CCPFC/ACC 52326/08 CF. O formador é o autor deste blog.

 

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Quinta-feira, 15 de Novembro de 2007
Representação e tempo, em Levinas

Para Levinas, a representação, isto é, o conhecimento empírico («A paisagem que vejo, a música de Bach que ouço») e empírico-racional (exemplo: «A conceptualização da pele da pessoa que vejo, da  circulação de fluido nos vasos sanguíneos e a caveira que imagino que tem dentro») dá-se no instante presente, fora do tempo, utilizando a memória de experiências passadas.

 

 « A representação é a espontaneidade pura, embora aquém de toda a actividade. De maneira que a exterioridade do objecto representado se apresenta à reflexão como o sentido que o sujeito representante empresta a um objecto, ele próprio redutível a uma obra de pensamento.» (Emmanuel Levinas, Totalidade e Infinito, Edições 70, Lisboa, 1988, pag. 110).

 

 «No próprio momento da representação, o eu não é marcado pelo passado, mas utiliza-o como um elemento representado e objectivo. Ilusão? Ignorância das suas próprias implicações? A representação é a força de uma tal ilusão e de tais esquecimentos. A representação é puro presente. A posição de um puro presente sem ligação, mesmo tangencial com o tempo, é a maravilha da representação. Vazio do tempo que se interpreta como eternidade. E, certamente, o eu que conduz os seus pensamentos devém (ou, mais exactamente, envelhece) no tempo em que se desenrolam os seus pensamentos sucessivos, através dos quais pensa no presente. Mas o devir no tempo não aparece no plano da representação: a representação não comporta nenhuma passividade. O Mesmo que se refere ao Outro rejeita o que é exterior ao seu próprio instante, à sua própria identidade, para reencontrar no instante, que a nada se deve – pura gratuidade – tudo o que tinha sido rejeitado, como «sentido emprestado», como noema.» (ibid, pag110).

 

 Assim, para Levinas, a representação actual - o que vejo, sinto, sem pensar, neste mesmo instante- encontra-se fora do tempo, na medida em que está «isenta» de sucessão de momentos, oferece-me a plena realidade. O tempo surge então como reflexão, pensamento. É muito discutível. Aparentemente, Levinas substituiu no dualismo de Bergson - o espaço exterior, quantidade pura / o tempo interior, qualidade pura - o espaço e os corpos materiais nele inscritos pela representação. Ou no triadismo de Platão, substitui o mundo superior das ideias pela representação, imóvel, pura, separada do mundo do Semelhante, onde o tempo e os movimentos dos astros subsistem.

 

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