Ali Ahmad Saïd Esber, poeta surrealista árabe, conhecido como Adonis, nasceu em 1 de Janeiro de 1930, na aldeia de Kassabine, perto de Lattaquié, na Síria. Teve de refugiar-se em França em 1985 após ser ameaçado de morte. Preconiza o intercâmbio de civilizações dizendo que o islamismo, como outras religiões, é um véu de cegueira lançado sobre a vida, a liberdade, a fruição dos prazeres. Afirmou que o «regresso à pureza do mundo árabe» rejeitando o contributo da democracia ocidental reduziria o mundo árabe a mesquitas e camelos. Disse: «Os meus desejos são permanecer estrangeiro rebelde. E libertar as palavras da escravatura das palavras.»
O surrealismo é uma corrente artística e filosófica, nascida oficialmente em 1924, em França, que visa eliminar a razão e a lógica e projectar na poesia, na literatura, na pintura, na arquitectura ou na escultura, no cinema, os desejos e as imagens criativas imersas na obscuridade do inconsciente humano. O sufismo (em árabe: تصوف;) é uma corrente mística e contemplativa do Islão. Os sufis visam uma relação íntima, direta e constante com Deus, aplicando ensinamentos do profeta Maomé com relevo para o zikr (a lembrança de Deus), orações e jejuns. Um dia, um sufi mergulhado em êxtase num lugar público disse «Eu sou Deus» e foi de imediato assassinado por adeptos do Corão que o qualificam como «blasfemo». Adonis compara o sufismo ao surrealismo pois ambos dão prioridade à imaginação, ao mistério e ao inconsciente ou ao génio imanente:
«Tanto para a o sufismo como para o surrealismo a razão e a lógica podem equivocar-se, já que se fixam na parcialidade das coisas e pretendem ter resposta para a sua universalidade. Ademais, a resposta é o sustentáculo da razão e da lógica porque ambas toman a existência como um problema que há que resolver. Sem embargo, o sufismo e o surrealismo contemplam a existência como mistério, e a questão para eles é a união com o dito mistério. A ausência de resposta é sinal, aqui, da intenção de fusão com a existência , enquanto que a presença de resposta é sinal, ali, da intenção de domínio sobre a existência, quer dizer, de separar-se dela. O primeiro é amor, o segundo dominação. »
«A resposta encerra, por conseguinte uma traição ao ser humano, além de ser um encadeamento, quer dizer, uma renúncia à liberdade. A resposta separa o ser humano de si mesmo, da sua essência: o ser humano é linguagem, busca do outro, da coisa, mas não para submetê-los ao conhecimento que se forja deles, mas para comunicar com eles em igualdade e amor. A resposta pressupõe que na existência não há nada que não possa ser conhecido, o que é uma afirmação falsa, completamente equivocada, já que na existência há coisas que não conhecemos, que não podemos conhecer racional ou logicamente, mas com as quais, não obstante, nos comunicamos e nos unimos.»
« A razão social-quotidiana não só reprime e dobra o ser humano, mas também o atraiçoa. Essa razão define, e portanto, a sua resposta define. Quando definimos uma coisa negamo-la, já que a encerramos no arco da definição e excluimos tudo o que não esteja nele. A definição é negação, como dizia Spinoza. Quando defines Deus nega-lo, porque o colocas ao nível das coisas definidas. Definir o ser humano ou a existência nega a essência de ambos. O ser humano, do mesmo modo que a existência, é uma realidade de liberdade, é possibilidade e necessidade, não uma realidade de certeza definitiva.»
( Adonis, Sufismo y Surrealismo, Ediciones del Oriente y del Mediterráneo, Madrid, 2008, pp. 68-69; o destaque a negrito é posto por nós ).
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O LIVRE-ARBÍTRIO NÃO PODE TER SIDO CRIADO POR DEUS. Se Deus dotasse o homem de livre-arbítrio estaria, de certo modo, a induzi-lo na via do pecado porque o livre-arbítrio é a escolha racional entre o bem e o mal a cada instante, entre um e vários caminhos ou modos de comportamento. Assim, o Deus do Amor não pode criar um ser imperfeito como o homem. Pode dar apenas a este a centelha luminosa do Amor na alma, o desejo de atingir a perfeição e ascender ao Paraíso.
O TEMOR DE DEUS OBRIGA-NOS A REZAR EM FAVOR DOS MORTOS E DOS VIVOS. São João dizia "todo espírito que não proclama Jesus esse não é de Deus, mas é o espírito do Anticristo de cuja vinda tendes ouvido, e já está agora no mundo."
São João escreveu que »No amor não há temor; pelo contrário, o perfeito amor lança fora o temor; de facto, o temor pressupõe castigo, e quem teme não é perfeito no amor». A verdade é que se não temêssemos o inferno ou as chamas do purgatório teríamos um comportamento muito mais relaxado, libertino, pecaminoso.
Os místicos como São Pio de Pietrelcina dizem: «Rezai, rezai continuamente, mesmo sem vontade.» A oração salva muitas almas de cair no inferno e cura doenças e estados de abandono, desemprego e carências alimentares neste mundo terreno. As falsas religiões como o judaísmo, o islamismo, o hinduísmo, o budismo não salvam, coisa que as mentes relativistas da nossa época têm dificuldade em aceitar.
DEUS SÓ PODE FAZER O BEM, LOGO NÃO CRIOU O INFERNO, REINO DE LÚCIFER. A ideia de que Deus é o criador de todas as coisas visíveis e invisíveis é teologicamente errónea porque muitas coisas visíveis e invisíveis são más por essência ou por acidente. Há portanto dois criadores: o Deus do Bem, incluindo a deusa Guan Min (a Minné dos cátaros) e Lúcifer o Deus do Mal e da matéria.
SINCRONISMO ONTOFONÉTICO-Em 7 e 8 de Maio de 2019, a ideia de MOURA está em foco: no dia 7, pelas 22 horas, uma ambulância da Cruz Vermelha de MOURA, Alentejo, cai numa ravina perto de Safara, morrendo dois dos seus ocupantes; no dia 8, Lucas MOURA marca os três golos com que o Tottenham derrotou o Ajax garantindo a passagem à final da Liga de Campeões em futebol.
SEVILHA E SOR ANGELA DE LA CRUZ. 11 de Maio de 2019. Viajamos a Sevilha desde Beringel, saindo às 7.15 horas, no autocarro do clube taurino desta vila alentejana. Pedro e eu acompanhamos 4 amigas de Ferreira do Alentejo. Almoçamos juntos, quase todos a mesma sopa cordobesa: salmorejo. Na praça do duque da Victoria, o famoso Espartero do século XIX. Quando eu disse «Vamos visitar a santa de corpo incorrupto»todos concordaram. O calor era muito. E tomamos o caminho da igreja da Encarnação, em cujo convento jaz o cadáver de Santa Angela de la Cruz (30 de Janeiro de 1846, Sevilha; 2 de Março de 1932, Sevilha), a freira fundadora das Irmãs da Companhia da Cruz, um instituto religioso católico romano dedicado a ajudar os pobres abandonados e os doentes sem ninguém para cuidar deles.
Rezamos na capela onde está exposto dentro de um altar envidraçado o corpo da santa, às 15 horas. Que paz! Fátima e Vera dizem: «Até parece que o corpo da santa respira». É fantástico rezar - a imaginação tem um papel fundamental, só ela abre ou cria um mundo místico. Mesmo que Deus não existisse, tu poderias inventá-lo. E orei com fé. Escreve-se num papel um pedido e mete-se numa caixa que depois as freiras abrirão, lerão o papel e, suponho, incluirão os pedidos nas suas orações.Vejo as freiras na igreja ao lado de braços abertos adorando misticamente o Santíssimo (a hóstia grande) exposto na custódia.
Sinto falta da missa latina de São Pio V, hierática, profunda, em que se comungava de joelhos, diferente das actuais eucaristias liberais e demo-maçónicas, quase isentas de mística. Mas eu não sou um católico verdadeiro, as raízes da filosofia cátara impregnam-me: o mundo da matéria foi criado por um Demiurgo, um deus degenerado, ou por Satã, a nossa alma superior, o Nous de Platão, foi criado pelo verdadeiro Deus do Amor ou por Minne, a Mãe Universal, o lado feminino de Deus, de que a Virgem Maria é mensageira. A solução é rezar, rezar sempre mesmo sem vontade.
Voltamos para Beja pelas 22 horas. Uns tinham ido assistir à tourada na Maestranza - 37 euros cada bilhete em bancadas expostas ao sol, vendo pessoas desmaiar. Eu sou de livros e redescobri aberta, com prazer, a livraria Beta, da calle Sierpes, agora com novo nome: livraria Verbo. Adoraria voltar a Beja com uma mala cheia de livros mas há limites orçamentais...Que fantástico é circular em Sevilha, cidade mágica.
SINCRONISMO ONTOFONÉTICO. Em 17 e 18 de Maio de 2019, as ideias de PEIXE, RECUPERAÇÃO e COURO estão em foco: no dia 17, quando estou na esplanada do café Luís da Rocha, noto, pelas 19 horas, a chegada da manifestação de rua da CDU bejense envolvendo o candidato João PEIXOTO (evoca: PEIXE) Ferreira, consigo RECUPERAR um ficheiro informático que há dias se corrompera; no dia 18, desloco-me à Feira Islâmica de Mértola, evento de grande beleza pela arquitectura de Mértola e pelo colorido das tendas com ar...tigos multicolores da civilização islâmica, folheio o CORÂO numa banca (evoca: COURO), compro um cinto de COURO, encontro casualmente PEIXE, vendedor de automóveis em Beja e conversamos, encontro Ivo Figueira, campeão nacional de PESCA desportiva e aluno da ESDG, António Joaquim (primo) diz-me que a câmara de Ferreira do Alentejo tenta RECUPERAR a pureza da água contaminadas pelos químicos dos olivais superintensivos e intensivos que o governo PS e a comissão europeia ao serviço da monsanto estimulamo Benfica RECUPERA o título de campeão da primeira Liga de Futebol.
CATARINA DIZ-ME: «O AMOR NÃO EXISTE, O PROFESSOR TEM RAZÃO». Expliquemo-nos: o único amor que existe é o amor a si mesmo, o amor-próprio. O amor aos outros enquanto indivíduos particulares não existe em si mesmo, é apenas a modalidade externa e sedutora do amor-próprio, é acidental. Só amo aquela mulher enquanto ela for linda e doce comigo, se ela me trair ou roubar, o amor cessa - ou seja, permanece o amor próprio. Só amo a Deus porque Ele me mantém vivo e optimista e me promete o Paraíso quando morrer - e isto é ainda amor próprio.
SER FELIZ NESTE MUNDO É, EM REGRA, SER INFELIZ NO OUTRO MUNDO DO ALÉM. Este é o ensinamento, aparentemente cruel, da mística cristã. Dizia o Padre Pio de Pietrelcina, místico italiano: «Eu amo-te e peço a Jesus que te faça conhecer o amor, porque pelo amor chegamos ao sofrimento. Nós nascemos para sofrer.»
Isto opõe-se radicalmente aos que dizem: «Faz o que te dá prazer, sem regras morais, sem remorsos, a vida é só esta e há que aproveitá-la bem.» Mas mesmo estes hedonistas, não cristãos, experimentam o sofrimento com os seus apetites desenfreados: lá vem uma doença grave, uma perda de emprego, uma separação sentimental dolorosa....
PARA NÓS, OS MACHOS TRADICIONAIS, INCLUSIVE OS QUE COMO EU SE MASCARAM NO CORSO DE CARNAVAL, A REVOLUÇÃO SEXUAL «LIBERTADORA DA MULHER» É UM DESASTRE. Onde arranjar uma mulher em condições, fiel por anos e anos, «para toda la vida», doce e a saber cozinhar bem, passar a roupa a ferro, arrumar a casa, crente em Deus e disposta a orar o rosário com o marido e os filhos?
As adolescentes e mulheres que imigram do Alentejo, das Beiras e Trás os Montes para Lisboa e Porto, cidades de costumes corrompidos, correm riscos de cair no pântano: uma parte delas cai na promiscuidade sexual, na prostituição, porque a necessidade de dinheiro, estudos universitários, roupas e automóveis caros fala mais alto. Um amigo diz-me: «Aqui no Alentejo, nas aldeias pequenas, ainda se encontram mulheres virgens e outras que não tiveram mais que um parceiro, mulheres decentes.»
Na igreja ultracatólica de El Palmar de Troya, Andaluzia, as regras da decência no vestir (decreto de 9 de Outubro de 1985 do papa cego Clemente) impunham que a mulher, tanto na igreja como na rua e em casa, nunca use calças nem pijama de duas peças, que são vestuário masculino, e que o vestido que use seja não transparente, não muito cingido ao corpo, sem decote, de mangas compridas, com a saia a cair pelo menos 4 dedos abaixo do joelho. Às mulheres que se vestem ousadamente e se iam confessar o Padre Pio dizia: «Porcalhona! Vai de imediato cobrir os braços e os ombros para não arderes no fogo do purgatório»!
PORQUE É QUE COSTA E O PS COM 33,3% DE VOTOS AFUNDARAM RIO E O PSD COM 21,9% DE VOTOS NAS ELEIÇÕES EUROPEIAS DE 26 DE MAIO DE 2019? Porque a COSTA enfrenta e concilia-se com o MAR que é muito mais vasto e poderoso que o RIO.
POR QUE RAZÃO MARISA MATIAS E O BE FICARAM À FRENTE DE JOÃO PEIXOTO FERREIRA E DA CDU NO NÚMERO DE VOTOS NAS ELEIÇÕES EUROPEIAS? Porque o MAR ( MARISA) é muito maior do que o PEIXE (PEIXOTO).
AS MULHERES FICAM MUITO MAIS FEMININAS USANDO SAIAS (A CAIR ABAIXO DOS JOELHOS) DO QUE USANDO CALÇAS OU MINI-SAIA. Quase ninguém reflecte sobre essa mudança que masculinizou a mulher e retirou encanto e intensidade à atração heterossexual. Acha-se «normal» que a mulher se travista com calças mas o inverso, o uso de saias pelo homem é apontado como anormal. De um site brasileiro retirei o seguinte comentário:
«Durante o período da Segunda Guerra Mundial, as mulheres norte-american...as, que haviam conquistado o direito ao voto no ano de 1920, substituíram os homens nas fábricas e conquistaram, também, o direito ao uso da calça em denim com modelagem adequada ao seu corpo, quando a Levi's lançou a Lady Levi’s 701, em 1935. Deste modo, as mulheres só foram receber a devida atenção da indústria do jeans muito tempo depois dos homens.
Até o começo dos anos 6O não era muito comum uma mulher usar calças, restrito apenas as mulheres ousadas. E hoje, ironicamente, todas as mulheres, com exceção das religiosas, usam calças.»
Psicanaliticamente, em minha opinião, o uso generalizado de calças pelas mulheres aumenta o número de homossexuais masculinos. A mulher de calças é psiquicamente mais masculina do que a mulher de saia ou vestido. E corre o risco de ser lançada no Inferno eterno pois desafiou o Deus dos universos em nome da «liberdade de ser o que se quiser».
No Antigo Testamento, no livro do Deuteronómio, 22-5, está escrito: «A mulher não deverá usar roupas masculinas, e o homem não se vestirá com roupas de mulher, pois Yahweh, o teu Deus, tem aversão por toda pessoa que assim procede.»
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Eis algumas singelas reflexões neste Abril de 2018 de frio ainda invernal.
NUNCA TE TORTURES POR TERES FALHADO ISTO OU AQUILO: UM AMOR, UM NEGÓCIO, UM EMPREGO, A EDUCAÇÃO DO TEU FILHO OU FILHA, OS LAÇOS DE FAMÍLIA, UMA VIAGEM AO ORIENTE, ETC. Só existe o agora, o momento presente. Desfruta-o. Liberta-te do stress: ama toda a humanidade, compreende os outros. Isto é estar em Deus, que está dentro de ti. Não procures Deus na igreja: Ele está no olhar amoroso e calmo com que olhas as outras pessoas, mesmo os teus «inimigos». As igrejas são anti espirituais: são partidos políticos clericais. Deus está fora de todas as igrejas: está na mansidão do teu coração, no não dizeres mal dos outros, no perdão que dás, na gratidão para com tudo o que o universo te dá.
O PERIGO DE VISITAR IGREJAS.O perigo de visitarmos as igrejas é ficarmos seduzidos pelas imagens, pela talha dourada, pela arquitectura e fragmentarmos a nossa ideia de Deus que «só estaria no espaço sagrado». É que as igrejas antigas são também cemitério de reis, papas, bispos e nobres - e isso leva à magia reptiliana, ao culto das ossadas.
NÃO FAÇAS DEPENDER A TUA FELICIDADE DA TUA COMPANHEIRA OU DO TEU COMPANHEIRO. A FELICIDADE RESIDE EM TI E SÓ EM TI. Ela ou ele pode abandonar-te a qualquer momento, cometer adultério, cair gravemente doente, deixar de dialogar contigo, deixar-te a conta bancária no zero sem a tua permissão, pressionar-te para te envolveres numa guerra de família ou de vizinhos, etc. Uma amiga na casa dos 30 anos diz-me: «As relações amorosas ou conjugais são todas iguais. Basta ter tido vários namorados para chegarmos a essa conclusão. O que distingue as pessoas não é a beleza exterior mas sim o carácter, as ideias, a riqueza da alma.»
QUANTO MAIS DIZES A UMA MULHER QUE A AMAS MENOS ELA TE AMA. Quanto mais fazes «amor» (sexo físico) com uma mulher mais ela pensa em fazer «amor» com outros homens, para comparar e superar-se, porque o desejo e a imaginação humana são infinitos.
AS PAIXÕES DESAPARECEM PORQUE AS PESSOAS ENVELHECEM, APARECEM RUGAS NO ROSTO QUE IMPOSSIBILITAM A CONTINUAÇÃO DA IDEALIZAÇÃO FÍSICA. A paixão está estreitamente ligada à beleza física. O amor também, mas de forma menos intensa. Daí o sucesso dos produtos de maquilhagem. O amor é sublime, a paixão não, é carnal, hormonal. A natureza, na sua incessante mutação, faz com que a a árvore lindíssima no verão esteja descarnada e coberta de gelo no inverno.
VOU INTERROMPER UM JEJUM DE 35 OU 36 HORAS. A ÚLTIMA REFEIÇÃO FOI O JANTAR DE TERÇA FEIRA, DIA 3 DE ABRIL DE 2018, À NOITE. O jejum é benéfico para a fisiologia humana: impede o aparecimento de tumores e o congestionamento do fígado, do pâncreas, os infartos do miocárdio, etc. O jejum agrada às nossas células sobrecarregadas de nutrientes indevidos - açúcares, gorduras, sais de ácido úrico- e convèm a quase toda a gente adulta, e por vezes até a crianças, exceptuando às pessoas em situação de pobreza que só comem uma vez por dia e estão subnutridas. O jejum também agrada às divindades dos mundos superiores porque permite o contacto mais fluido com elas.
SINCRONISMOS ONTOFONÉTICOS. Em 7 e 8 de Abril de 2018, as ideias de DOIS, de EGIPTO e de OMBRO estão em destaque: no dia 7, numa breve viagem ao Porto, visito a casa de Chá EGÍPCIA Khan El Khalili perto da Casa da Música onde assisto a danças do ventre; no dia 8, Manuela Trigueiros recomenda no facebook a Casa do EGIPTO, em Barcelos, como bom lugar para festas, o Futebol Clube do Porto vence por DOIS a zero o Desportivo das Aves, o Sporting Clube de Portugal vence por DOIS a zero o Paços de Ferreira, um militar português fica ferido no OMBRO por estilhaços de uma granada ofensiva lançada por grupos armados que também ferem soldados EGÍPCIOS, durante uma operação em Bangui, na República Centro Africana, um autocarro vindo de Punta UMBRIA (evoca: OMBRO), Espanha, com 48 passageiros estudantes de escolas secundárias de Covilhã e Belmonte, despista-se cerca das 17.55 horas no IP DOIS e tomba de lado, na freguesia de Arez e Amieira do Tejo, concelho de Nisa, um jovem estudante de 20 anos morre e vários ficam feridos no acidente.
SINCRONISMOS ONTOFOMÉTICOS. Em 13 e 14 de Abril de 2018, as ideias de REPÚBLICA, CINCO, ROSA, MOEDA, ALCÁCER DO SAL, VOAR e BATALHA estão em foco: no dia 13, um amigo meu acha estranho que no espaço de pouco tempo tenham ocorrido dois incêndios no mesmo edifício da Câmara Municipal de Beja situado na Rua da MOEDA, em aulas de filosofia falo nas CINCO estações do ano e nos CINCO elementos segundo a filosofia chinesa do taoísmo, em ALCÁCER DO SAL Luís Filipe Vieira pede que o Benfica seja PENTAcampeão (evoca: CINCO), realiza-se a sessão de apresentação das comemorações dos 800 anos do município de ALCÁCER DO SAL, morre Milos Forman, o realizador de cinema de «VOANDO sobre um ninho de cucos»; no dia 14, a AVIAÇÃO dos EUA, do Reino Unido e da França (evoca: VOAR) desencadeia um ATAQUE COM MÍSSEIS (evoca: BATALHA) a três instalações militares na Síria, Marcelo Rebelo de Sousa preside na BATALHA à homenagem ao soldado desconhecido, passam 87 anos sobre a instauração da segunda REPÚBLICA em Espanha, o poeta Jorge ROCHA (evoca: ROSA) recita poemas seus numa tertúlia em «Os Infantes» no centro de Beja, a professora Alexandra Santos ROSA, integrada num grupo, dança sevilhanas na Praça da REPÚBLICA de Beja, cruzo-me com Frederico MOEDAS, sócio-gerente da «Videoplanos» em Beja, um casal de franceses pede-me ao fim da tarde que lhes indique onde fica a Rua da MOEDA, em Beja.
MARCELO REBELO DE SOUSA E A BANDEIRA CATALÃ. 27 de Abril de 2018. Às 13.10 o presidente Rebelo de Sousa circula no pavilhão institucional da Ovibeja, feira agro- pecuária de Beja. Um professor interpela-o mostrando-lhe a bandeira da Esquerra Repúblicana da Catalunha com listras vermelhas e amarelas e uma estrela branca em fundo azul: «Sr. presidente, lute pela independência da Catalunha! São nossos irmãos». Marcelo faz um gesto olímpico de alheamento e afasta-se. Pudera! Com tanta amizade com Felipe VI rei de Espanha, tão católico como Marcelo - catolicismo aqui significa conservadorismo, submissão à instituição monárquica e ao Vaticano - como poderá Marcelo gostar da Catalunha livre, desligada da Espanha de Torquemada, Franco, Juan Carlos e Rajoy? O temperamento espanhol castelo-leonês é fanático, violador das liberdades essenciais, adorador de um deus abstracto, ao contrário do temperamento catalão que é artístico, trovadoresco, dissidente dos poderes absolutos.
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Sobre a concepção de Deus em Aristóteles, o livro deste «Sobre o mundo» é esclarecedor: Deus não é o demiurgo, o construtor do mundo material, mas o arquitecto imóvel que idealiza as formas ou essências eternas como árvore, imanentes ao mundo material e anteriores a este.
«Deus, com efeito, é em verdade o conservador e o gerador de todas as coisas que, de certo modo, se constituem no nosso cosmos; mas não tomando a fadiga de um ser vivo que trabalha com as próprias mãos e está sujeito ao cansaço mas fazendo uso de uma força indefectível mediante a qual domina também as coisas que parecem estar mais afastadas.»
«Ele teve o primeiro e mais alto posto e, por este motivo, é chamado o altíssimo, tendo ocupado o seu assento, para dizê-lo com o poeta, "no mais alto cume" de tudo quanto há no céu. Do seu poder beneficia em grau supremo o corpo que está mais perto dele, depois o corpo que está mais perto daquele, e assim seguidamente até aos lugares em que nos encontramos. Por isso a terra e as coisas que estão na terra, ao encontrarem-se a maior distância do socorro que vem de Deus, parecem ser débeis, incoerentes, e cheias de grande confusão; sem embargo, na medida em que o divino tem, por sua natureza, a capacidade de penetrar em todas as coisas, as coisas que sucedem entre nós sucedem de maneira semelhante às que estão por cima de nós as quais, conforme estão mais próximas ou mais afastadas de Deus, participam em maior ou menor medida do seu socorro.»
«É melhor admitir - e isto é sem dúvida conveniente e perfeitamente concordante com Deus - que o poder está assente no céu, inclusive para as coisas que estão mais afastadas, e, em uma palavra, para todas as coisas quantas há, seja a causa da sua conservação, antes do que admitir que, penetrando e girando em redor dos lugares nos que não é belo nem decoroso, ela mesma se ocupe das coisas que dizem respeito à terra.»
(Aristóteles, Sobre el mundo, Ediciones Sigueme SAU, 2014, pp. 78-79; o destaque a negrito é posto por nós).
Em Aristóteles, Deus, situado no alto dos céus, já fora do cosmos mas a sua força ordenadora manifesta-se no interior do cosmos:
«Deus pois é para nós uma lei perfeitamente equilibrada, que não admite correção alguma, nem mudança; melhor, ainda, é mais sólida que as leis inscritas em tábuas.
«Sob a sua guia, imóvel e harmoniosa, toda a ordem do céu e da terra está regulada, repartida por todas as naturezas, baseada nas sementes que lhes são próprias, em plantas e animais e segundo os géneros e as espécies de estas. » (ibid 97-99).
Estes textos permitem desmascarar a interpretação de Lenine e outros discípulos de Marx segundo a qual Aristóteles se inclinaria no sentido do materialismo e Platão professaria o «idealismo» (leia-se: o espiritualismo ou existência de deuses transcendentes ao plano físico). Como se depreende do texto, há um socorro de Deus aos humanos pelo que tanto Platão como Aristóteles professariam o teísmo. A diferença está em que Platão sustentava a teoria da reencarnação e Aristóteles não. Para este último, o intelecto paciente ou passivo, que individualiza cada pessoa, extinguir-se-ia com a morte desta, sobrevivendo apenas o intelecto agente, o Logos, que é uma força impessoal, característico da espécie e que esta empresta ao indivíduo enquanto este vive.
Aliás para Aristóteles há um Deus imóvel, autor da ordem cósmica e lei cósmica e há os deuses que habitam na região superior do cosmos:
«A região superior do cosmos, contida completamente nos seus limites, morada dos deuses, é chamada céu. Estando todo cheio de corpos divinos, que costumamos chamar astros, o céu, movendo-se com um movimento eterno, com um único movimento de rotação de órbita circular se move harmoniosamente sem fim por toda a eternidade.» (ibid pág 31).
Os astros são, pois, corpos divinos - e será o mesmo que dizer «são deuses»? Sabe-se que o cosmos é eterno e que Deus foi a sua causa formal, o gerador das formas, mas quem foi a causa eficiente, isto é, quem plasmou essas formas na matéria e no éter celeste? Um demiurgo ou deus-operário?
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Eis algumas das teses fundamentais do filósofo Osho (11 de Dezembro de 1931/ 19 de Janeiro de 1990), um místico libertário que une a mística com uma aguda racionalidade prática, coincidente em larga medida com as visões de Nietzshe e Freud sobre o ser humano. O seu existencialismo é hedonista porque visa desfrutar o prazer da vida aqui e agora, nomeadamente o prazer da sexualidade livre, rejeitando as religiões em geral, o clero e o seu conteúdo anti sexual e punitivo da humanidade.
É IMPOSSÍVEL APERFEIÇOARMO-NOS, ACEITEMO-NOS COMO SOMOS
Osho sustenta ser impossível modificar a nossa essência original. A educação e a censura social que recebemos apenas recalca pulsões primordiais em nós.
«Uma das verdades mais duras de reconhecer é que continuamos a ser os mesmos - seja o que for que façamos, continuamos a ser os mesmos. O "aperfeiçoamento" não existe. O ego fica todo desfeito porque vive através do aperfeiçoamento, da ideia do aperfeiçoamento, da ideia de chegar um dia a algum lado.(...)»
«No momento em que se aceita a si próprio, fica aberto, fica vulnerável, fica receptivo. No momento em que se aceita a si próprio, deixa de haver necessidade de qualquer futuro, porque deixa de haver necessidade de aperfeiçoar seja o que for. E então tudo é bom tal como é.»
(Osho, Intimidade, confiar em si próprio e no outro, Pergaminho, Cascais 2002, pag 105 ).
O AMOR É LIVRE, TRAZ A LIBERDADE, NÃO DEVE EXIGIR FIDELIDADE (LEALDADE) NEM CASAMENTO
Sendo o amor um sentimento irracional, total, que vem e desaparece sem que se conheçam as leis temporais que o regem, não pode ser cristalizado, aprisionado no casamento. Se o for, morre. O casamento na medida em que é uma argola, um instrumento de posse de outra pessoa rouba a liberdade e ser pessoa é ser livre.
«O amor é uma experiência perigosa, porque se é possuído por algo que é maior que você. E que é incontrolável, não o pode produzir por encomenda. Uma vez terminado, não há maneira de o trazer de volta, tudo o que pode fazer é fingir, é ser hipócrita. (...)
«O amor traz a liberdade. A lealdade traz a escravidão. Na aparência, são iguais; no seu âmago, são exactamente o oposto. A lealdade é representar: você foi educado para isso. O amor é rebelde: toda a sua beleza reside na sua rebeldia. Vem como uma brisa cheia de fragâncias, enche-lhe o coração e, de repente, onde havia um deserto, há agora um jardim cheio de flores. E você não sabe de onde vem e não sabe que não existe maneira de o fazer vir; vem sozinho e fica enquanto a existência o quiser.(...)
«O casamento conhece a lealdade, lealdade ao marido e, porque é formal, está nas suas mãos...mas não é nada comparável ao amor, nem sequer é uma gota de orvalho no mar que é o amor»
«Contudo, a sociedade sente-se muito contente com a lealdade porque pode confiar nela. O marido sabe que pode confiar em si, confiar que amanhã lhe será tão leal como hoje. O amor não é de fiar. E o fenómeno mais estranho é que o amor pressupõe confiança, mas não é de fiar. Naquele momento é total, mas o momento seguinte fica em aberto. Poderá crescer dentro de si, mas poderá igualmente evaporar-se de si. O marido quer uma mulher que seja sua escrava para toda a vida. Ele não pode ficar dependente do amor, tem de criar alguma coisa que se pareça com amor, mas fabricado pela mente do homem.»
(Osho, Intimidade, confiar em si próprio e no outro, Pergaminho, Cascais 2002, pp 100-101; o destaque a negrito é posto por nós).
«As pessoas não podem ser possuídas. Se tentar possuí-las, matá-las-á, elas tornar-se-ão coisas. Uma pessoa significa liberdade. O nosso relacionamento com os outros não é realmente um relacionamento "eu-tu", bem no fundo não passa de um relacionamento "eu-isso". O outro é apenas uma coisa a ser manipulada, a ser usada, a ser explorada. É por isso que o amor se torna cada vez mais impossível, porque o amor significa considerar o outro como uma pessoa, como um ser consciente, como uma forma de liberdade, como uma coisa tão valiosa como nós». (...)
«O marido existe para si próprio, a esposa existe para si própria. Uma pessoa existe para si própria: é isso que significa ser uma pessoa.»
(Osho, Intimidade, confiar em si próprio e no outro, Pergaminho, Cascais 2002, pp 136-137; o destaque a negrito é posto por nós).
SER VERDADEIRO, AO MENOS COM O SER AMADO, COM A FAMÍLIA E AMIGOS
A mentira não compensa, distorce o ser de cada um - salvo raras excepções. claro. Osho disse:
«O amor é participação, por isso, pelo menos com os seres amados, não seja falso. Não estou a dizer para ser verdadeiro na praça pública, porque isso criaria problemas desnecessários neste preciso momento. Mas comece com o amante, depois com a família , depois com as pessoas que estão mais afastadas de si. A pouco e pouco aprenderá que ser verdadeiro é tão belo que estará disposto a perder tudo por causa disso.»
(Osho, Intimidade, confiar em si próprio e no outro, Pergaminho, Cascais 2002, pag 66; o destaque a negrito é posto por nós).
DEUS É O MAIS FRÁGIL E INSTANTÂNEO DE TODOS OS ENTES
Osho fala de Deus um pouco à maneira da gnose cátara em que o Deus da Luz, criador das almas, é impotente para agir sobre a matéria, sobre o mundo de matéria criado por Satã :
«Só uma mente poética pode compreender a possibilidade de Deus, porque Deus é o mais fraco e mais sensível dos seres. É por isso que é o altíssimo; é a flor suprema. Floresce, mas floresce apenas numa fração de segundo. Essa fração de segundo é conhecida como "o presente". Se deixa passar esse momento - e esse momento é tão pequeno que tem de estar muito intensamente atento - só então será capaz de o ver, de outro modo passar-lhe-á ao lado. Está sempre em flor - floresce em cada momento; mas não o pode ver, a sua mente está atravancada com o passado e o futuro»
(Osho, Intimidade, confiar em si próprio e no outro, Pergaminho, Cascais 2002, pp 121-122; o destaque a negrito é posto por nós).
É fácil perceber que Deus, segundo Osho, não é o ente dos castigos e dos mandamentos do Velho e Novo Testamento, do Alcorão, do Bhagavad-Gita, etc. Nem expulsou Adão e Eva do Paraíso nem criou o Inferno porque senão seria maldoso. É o oposto do Deus de Kierkegaard que não se identifica com o estádio estético, com o viver o momento como um Don Juan conquistador de mulheres. O deus de Osho é Deus alegria, que desfaz os casamentos, as relações aborrecidas e põe a liberdade acima do amor.
DEIXEMO-NOS SER VULNERÁVEIS, A VIDA É UM FLUIR, NÃO HÁ NADA A ALCANÇAR, A VIDA É DEUS
Osho defende que se devem abandonar posturas rígidas que anunciam violência e sobranceria e ser vulneráveis. E viver a vida plenamente, na base da não violência, porque não há nenhum Deus além da natureza viva e da sua beleza (panteísmo).
«Lao Tse diz:
«Quando um homem nasce, é frágil e sensível; quando morre, fica insensível e rígido. Quando as coisas e as plantas estão vivas, são macias e maleáveis; quando estão mortas, são quebradiças e secas. Por conseguinte, a insensibilidade e a rigidez são as companheiras da morte; e a suavidade e a sensibilidade são as companheiras da vida.»
«Portanto, quando um exército é obstinado, perderá em batalha. Quando uma árvore é dura, será cortada. O grande e o forte pertencem à parte de baixo. O suave e o fraco pertencem à parte de cima.»
«A vida é um rio, um fluir, uma continuidade sem princípio nem fim. Não vai a lado nenhum, está sempre aqui. Não vai de um lado qualquer a outro lado qualquer, vem sempre daqui para aqui. Para a vida, o único tempo é agora e o único lugar é aqui. Não há uma luta para alcançar, não há nada para alcançar.» (...)
«Pode viver a vida de duas maneiras: pode fluir com ela - e então também você será majestoso, terá uma graça, a graça da não-violência, sem conflito e sem luta. Então terá uma beleza infantil, semelhante à da flor, macia, delicada, incorrupta. Se flui com a vida, você é religioso. É isso que a religião significa para Lao Tsé e para mim».
«Habitualmente, religião significa uma luta com a vida, por Deus. Habitualmente, significa que Deus é a meta e a vida tem de ser negada e combatida. A vida tem de ser sacrificada e Deus tem de ser alcançado. Essa religião habitual não é nenhuma religião. Essa religião habitual é apenas parte da mente inferior, violenta e agressiva.»
«Não existe Deus para além da vida; a vida é Deus. Se nega a vida, nega Deus, se sacrifica a vida, sacrifica Deus. Em todos os sacrifícios, só Deus é sacrificado. George Gurdjieff costumava dizer - parece um paradoxo, mas é verdade - que todas as religiões são contra Deus. Se a vida é Deus, então negar, renunciar, sacrificar é ir contra Deus.»
(Osho, Intimidade, confiar em si próprio e no outro, Pergaminho, Cascais 2002, pp 111-112; o destaque a negrito é posto por nós).
PARA A EXISTÊNCIA, TUDO É IGUAL, NÃO HÁ SUPERIOR NEM INFERIOR, A VAIDADE É INÚTIL
A moral de Osho é naturalista e a sua filosofia, à semelhança do estoicismo de Marco Aurélio, destaca o carácter efémero e rápido da existência: podemos morrer a qualquer instante, a nossa importância familiar, social ou profissional desaparece de um momento para o outro.
«A palavra animal não é, em si mesma, má. Significa simplesmente estar vivo; deriva de anima. Qualquer um que esteja vivo é um animal. Mas ensinou-se ao homem: "Não sois animais; os animais estão muito abaixo de vós. Vós sois seres humanos". Deram-lhe uma falsa superioridade. A verdade é que a existência não acredita nem no superior mem no inferior. Para a existência, tudo é igual - as árvores, as aves, os animais, os seres humanos. Na existência, tudo se aceita absolutamente como é, não há condenação.»
«Se aceitar a sua sexualidade sem quaisquer condições, se aceitar que o homem e todos os seres que há no mundo são frágeis, porque a vida é um fio muito fino que se pode quebrar a qualquer instante...Uma vez aceite isto, deixará cair imediatamente todo o falso ego - de ser Alexandre, o Grande, ou Mohamede Ali, o três vezes grande - basta compreender que todas as pessoas são belas na sua banalidade e que todas as pessoas têm as suas fraquezas, que fazem parte da natureza humana, porque não somos feitos de aço...»
(Osho, Intimidade, confiar em si próprio e no outro, Pergaminho, Cascais 2002, pag. 9; o destaque a negrito é posto por nós).
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Eis um teste de filosofia do ensino secundário em Portugal, a contra-corrente do modelo simplista da filosofia analítica hegemónico entre os docentes de filosofia. Os conteúdos deste teste de filosofia referentes a alquimia, cabala e princípio das correspondências macrocosmos-microcosmos integram-se na rubrica «Os grandes temas da filosofia» e são relativos a uma visita de estudo ao centro histórico de Sevilha em que se faz hermenêutica de monumentos antigos e seus pormenores artísticos.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA C
14 de Fevereiro de 2017. Professor: Francisco Queiroz
I
“A filosofia da alquimia, que aceita a ideia de Adão Kadmon ser o antepassado dos humanos e as noções de pleroma, kenoma e hebdómada, sustenta a divisa «solve e coagula» e a existência de três princípios/ substâncias do universo material. Na Grande Obra Alquímica, que traduz a lei dialética do devir, há quatro fases correspondendo uma ave a cada uma. O axis mundis dos primitivos implica percepção empírica, conceito empírico e intuição inteligível e liga entre si vários mundos.”
1) Relacione, justificando:
A)Seis ou mais esferas da árvore cabalística dos Sefirós, as respectivas qualidades, e planetas, por um lado, e emanacionismo.
B) Oito direções do espaço, respectivas áreas de vida e elementos ou partes da natureza na filosofia do Feng Shui, por um lado, e lei da contradição principal, por outro lado.
C) Vontade autónoma e vontade heterónoma e dois eus na moral de Kant, por um lado, hedonismo em Stuart Mill, por outro lado.
CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES
1) A filosofia da alquimia, doutrina esotérica, hermética que sustenta o processo da Grande Obra ou criação laboratorial da pedra filosofal que concederia a imortalidade ao homem, dotando-o de um corpo astral desmaterializado como o mítico Adão Kadmon (metade homem e metade mulher), defende que há três princípios/ substâncias originárias do universo, o enxofre ou homem vermelho (princípio masculino), sólido, o mercúrio filosófico ou mulher branca (princípio feminino), volátil, e o sal, neutro. A divisa «solve e coagula» significa dissolver o enxofre, sólido, e coagular o mercúrio líquido ou gasoso que se esparge pelas esferas celestes de forma a obter o equilíbrio e a pedra filosofal, ou lapis vermelho. O pleroma é o mundo divino, da luz, o mundo dos éons ou dos arquétipos perfeitos, o kenoma é o vazio, das trevas e da matéria exterior ao pleroma, a hebdómada é o mundo das sete esferas planetárias que tem a Terra no centro, criado por Deus ou pelo demiurgo (deus inferior) no seio do kenoma para alojar Adão que, ao sair do Éden atraído por Lúcifer, se materializou e perdeu Sofia, a sua metade espiritual (VALE QUATRO VALORES).As quatro fases da Grande Obra Alquímica que visa produzir o elixir da longa vida ou pedra filosofal em laboratório são: nigredo, ou fase negra, da putrefação da matéria transformada no laboratório a que corresponde o corvo; albedo, ou fase branca de separação das impurezas, a ave é o cisne; citredo, ou fase multicolor, de alguma dominancia do amarelo limão, a ave é o pavão; rubedo, ou fase vermelha na qual se dá a produção da pedra filosofal cuja ave é a fénix. A lei do uno sustenta que tudo se relaciona e isso exemplifica-se no facto de estas quatro fases da Grande Obra estarem ligadas entre si num processo de continuidade. (VALE TRÊS VALORES). O axis mundis ou eixo do mundo ou pilar cósmico liga, nas cosmologias dos povos primitivos, três mundos, o mundo subterrâneo dos mortos ao mundo terreno dos vivos e este ao céu dos deuses, na vertical do lugar, a partir do umbigo do mundo, que é, muitas vezes, o centro da aldeia ou da cidade. A percepção empírica, isto é, o acto da visão, da audição, do tacto, etc, mostra-nos um pau comprido na vertical ou um pilar de pedra ou uma árvore ou uma montanha, o conceito empírico é a ideia formada com a abstração das percepções empíricas - exemplo: fecho os olhos e penso na árvore como axis mundis - e a intuição inteligível é a ideia metafísica,instantânea - exemplo: «ver» como que num flash o axis mundi lá no alto dos céus a tocar o corpo de um deus» (VALE TRÊS VALORES).
2-A) A árvore das Sefirós (Esferas) é o diagrama do universo, segundo a Cabala (ensinamento secreto) judaica, uma «heresia» do judaísmo como religião de massas. Essa árvore de 10 esferas, que são 10 qualidades que emanam de Deus (emanacionismo), é composta de um triângulo em cima, onde a presença de Deus é directa, expressa nas sefirós Kéther- Chokmah- Binah, dois triângulos invertidos debaixo deste, onde já não há a presença directa de Deus mas sim dos arcanjos e dos anjos, e um ponto isolado no fundo.
KÉTHER (Coroa)
Planeta: Úrano
Esfera nº 1
Cor : Indefinida
BINAH: CHOCKMAH
Esfera nº 3 Esfera nº 2
Inteligência Sabedoria
Feminina Masculina
Saturno Neptuno
Cor Negra Cor iridescente
GUEVURAH CHESED
Esfera nº 5 Esfera nº 4
Justiça Misericórdia
Marte Júpiter
Cor: Vermelho Cor Azul
THIPHERET
Esfera nº 6.
Beleza.
Sol.
Cor: amarelo ouro.
(VALE TRÊS VALORES)
O emanacionismo é a teoria segundo a qual a criação emana, brota como água a jorrar de uma fonte, do princípio único (a bica da fonte) de tal modo que a radiação vai enfraquecendo à medida que se afasta da fonte: o universo é como uma escadaria em direção à matéria pura, muito afastada da fonte que é o espírito. A árvore da Cabala revela isso mesmo: Malkut, o Reino Material, é a última, directamente oposta a Kéther, Coroa, que tem a presença de Deus. (VALE TRÊS VALORES).
2) O Feng Shuei é uma filosofia chinesa geocósmica, holística, que sustenta a correspondência entre pontos cardeais (N,S,E,O) e os quatro pontos colaterais (NE,SE, SO, NO), as áreas de vida social e pessoal, alguns animais e cores.
NORTE. TERRA. Tartaruga negra. A profissão, os negócios. Audição. Inverno. Meia noite, velho Yi ( máximo Yin ou máxima escuridão e frio).
NORDESTE. MONTANHA. Área de estudos e vida escolar.
ESTE, TROVÃO. Dragão verde. Crescimento, família. Cor verde. Visão. Nascer do sol. Jovem Yang.
SUDESTE. VENTO, MADEIRA. Dinheiro, riqueza material.
SUL.FOGO. Fénix. Fama. Fala. Cor vermelha. Verão. meio dia, velho Yang (máximo Yang ou máxima luz e calor).
SUDOESTE.TERRA. Sudoeste (ou Centro, segundo algumas interpretações). Serpente. Cor: amarelo. Fim do verão. Casamento, amores. Sabor. Meio da tarde. Igual proporção de Yang e Yin.
OESTE. ÁGUA., Lago. Oeste. Tigre branco. A criatividade, os filhos. O olfato. Outono. Cor branca. Pôr do sol. Jovem yin (algum frio e humidade).
NOROESTE. CÉU. Os protectores, os amigos influentes.
O princípio das correspondências microcosmo-microcosmo da filosofia hermética sustenta que o que está em baixo é como o que está em cima, há uma analogia entre o microcosmo ou pequeno universo e o macrocosmo ou grande universo. Assim sucede com o FengShuei: por exemplo, o Norte (macrocosmos) corresponde à profissão da pessoa (microcosmos) e à Tartaruga Negra (microcosmos), etc. A lei da contradição principal estabelece que um sistema de múltiplas contradições (em rigor: contrariedades) é redutível a uma só grande contradição, chamada principal, agrupando num dos polos algunas contradiçoes, e no outro as restantes. Assim podemos determinar a seguinte contradição principal: de um lado, o Este e o Sul, ambos Yang, e os respectivos pontos colaterais Sudeste e Sudoeste; do outro lado, o Oeste e o Norte, ambos Yang e os pontos colaterais Nordeste e Noroeste. (VALE TRÊS VALORES)
C) A vontade autónoma reside no eu numénico, ou eu racional, na doutrina de Kant, e permite a cada pessoa universalizar a sua máxima ou princípio subjetivo, agir de acordo com o imperativo categórico que cada um gera no seu eu racional: trata cada ser humano como um fim em si mesmo, alguém digno de respeito, e nunca como um meio para chegares a fins egoístas. . A vontade heterónoma situa-se no eu fenoménico ou eu empírico e é governada por interesses materiais, instintos e paixões contrárias ao eu racional. O hedonismo é a teoria que identifica o prazer com o bem e a dor com o mal, Stuart Mill defende a felicidade para a maioria dos envolvidos numa dada situação e isso não coincide com o imperativo categórico de Kant que contempla todos por igual e não busca necessariamente o prazer. O princípio moral de Mill tem algo de imperativo hipotético (o prazer) e algo de imperativo categórico (o serviço aos outros). VALE TRÊS VALORES).
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Osho ou Bhagwan Shree Rajneesh (Kuchwada, Índia 11 de Dezembro de 1931- Puna, Índia, 19 de Janeiro de 1990) filósofo e místico indiano, defende que Deus nunca existiu, que a reencarnação é lei geral da existência, que a sexualidade é a energia libertadora mais poderosa e que o homem que se apercebe disso e medita racionalmente atinge o estado de um Buda ou iluminado:
«É absolutamente necessário que Deus esteja morto. Mas eu quero que compreenda o meu ponto de vista. Foi bom Friederich Nietzsche ter declarado que Deus estava morto. Eu declaro que ele nunca nasceu. É uma ficção criada, uma invenção, não uma descoberta (..)
«Eu quero destruir todos os sistemas de crenças, todas as teologias, todas as religiões. (…) A verdadeira medicina não é um sistema de crenças; a verdadeira medicina é a meditação (Osho, A conspiração de Deus, Editora Pergaminho, pp. 50-51).
E acrescenta:
«O padre sabe perfeitamente que Deus não existe. Ele é a única pessoa que o sabe perfeitamente. Mas é a sua profissão; ele vive de explorar as pessoas. Por isso, persiste em afirmar que Deus existe. Deus é o seu negócio. E quando é uma questão de negócio, é uma questão de subsistência. »
«E há milhões de padres, pertencentes a diferentes religiões. Há diferentes tipos de padres em cada país, mas todos eles exploram as pessoas a oferecer-lhes consolo. "Este casamento vai ser ótimo." E todos os casamentos são uma tragédia. Eu nunca vi um casamento que fosse uma comédia. »
«As pessoas só podem ser felizes se não forem casadas- Assim têm uma certa liberdade. É a partir desta liberdade que decidem permanecer juntas, não a partir de um contrato ou negócio qualquer, ou por serem forçadas pela sociedade. Não por causa de nenhuma lei - mas por causa de amor. - estão juntas apenas por amor e quando o amor falha...»
«E tudo falha, lembre-se. É ficção dos poetas que o amor é eterno. Não, o amor que você conhece não é eterno, e o amor que os poetas conhecem não é eterno; desvanece-se. Mantém-se se os amantes não se encontrarem.»
(Osho, A conspiração de Deus, Editora Pergaminho, pp. 276-277; o negrito é posto por nós).
O CASAMENTO ABERTO OU O FIM DA MONOGAMIA
Osho ataca todas as religiões na medida em que pregam a repressão sexual («Não cometas adultério», «Não penses em outras mulheres ou homens mas apenas no teu cônjugue», «Não vestirá o homem de mulher nem a mulher de homem») fechando as pessoas no casamento monogâmico que traz o sentimento de posse, o ciúme, a raiva no seio do casal.
«Se a sociedade fosse governada por gente inteligente - e não por gente que apenas deseja explorar - que procurasse satisfazera sua natureza até ao limite possível, o ciúme não existiria. A esposa compreenderia que, de vez em quando, o seu marido precisasse de outra mulher, "exatamente como eu também preciso de outro homem", E isso é perfeitamente natural. Somos todos seres humanos.»
«Onde está o mal de mudarmos de parceiro de ténis todos os dias? Há motivos para ciúmes? Claro que não.» (...)
«Quando não há ciúme não há raiva (...) Não acha que isso permitirá que a amizade cresça entre duas pessoas?» Um homem que conceda liberdade à sua esposa, uma esposa que conceda liberdade ao seu marido, isso implica a existência de uma grande amizade, de uma grande intimidade.»
«A mulher pode dizer ao marido como era o outro homem. O marido pode descrever à mulher como eram as coisas com a outra mulher. Não precisam de esconder. A amizade torna possível este tipo de proximidade e intimidade. Porém as sociedades do passado nunca quiseram que isso acontecesse. Queriam que as pessoas vivessem na rotina: unir uma mulher e um homem para sempre é iniciar uma peregrinação em direção ao tédio consumado. Estas pessoas entediadas, sofredoras não podem revoltar-se. Não podem atingir o clímax da inteligência: o tédio não pára de destruir qualquer espécie de possibilidade.» (OSHO, O livro do sexo, Pergaminho, pp. 208-209).
Osho critica não só o casamento por interesse material, difundido na Índia, como o sexo animal puro fácil que impera no Ocidente do «amor ivre»:
«O amor confia sempre ou então chega à conclusão de que a confiança não é possível e parte de uma maneira agradável; sem lutas nem conflitos. O sexo cria o ciúme; encontre, descubra o amor. Não faça do sexo a questão principal - porque não o é.»
«A Índia perdeu esssa possibilidade com os casamentos de conveniência; o Ocidente está a perdê-la devido ao "amor livre". »
«A Índia perdeu a capacidade de amar, porque os pais eram muito calculistas e menipuladores. Não permitiam que os seus filhos conhecessem o amor: isso é perigoso, ninguém sabe no que vai resultar. Foram muito espertos e, devido a essa esperteza, a Índia desperdiçou a sua possibilidade de amar.»«No Ocidente, as pessoas estão todas muito revoltadas, são demasiado jovens; não são espertas - são demasiado jovens e acriançadas. Tornaram o sexo uma coisa livre, disponível em todos os cantos e esquinas; não há necessidade de ir muito longe para descobrir o amor, basta gozá-lo e terminar num instante seguinte.»
«Através do sexo, o Ocidente está a perder-se; através do casamento, perdeu-se o Oriente. Mas, se estiver alerta, não precisa de ser oriental nem ocidental.» (OSHO, O livro do sexo, pp 236-237; o negrito é colocado por nós)
A NATUREZA BISSEXUAL DE TODOS OS SERES HUMANOS
Osho proclamou a bissexualidade psíquica como natureza de todos os seres humanos. Portanto, há que aceitar a diversidade dos comportamentos sexuais, com toda a liberdade, e rejeitar todas as religiões e os respectivos deuses na medida em que estas reprimem ou condicionam a sexualidade livre e espontânea e castram psiquicamente homens e mulheres.
«O Tantra diz que todos os homens e mulheres são bissexuais. Um homem não é simplesmente um homem. Á sua maneira, é também uma mulher. O mesmo se aplica à mulher. No seu íntimo, esconde-se um homem. Donde, todo o indivíduo, homem ou mulher, é bissexual. O oposto está escondido na camada mais profunda.»
«Na meditação profunda, dá-se um orgasmo sexual - não com alguém exterior a si, mas com o seu pólo interior oposto. É ali que se encontram: o seu lado feminino e o seu lado masculino. Esse encontro é espiritual e não físico. O yin e o yang interpenetram-se» (Osho, O livro do sexo, pág. 213).
A CONSCIÊNCIA INDIVIDUAL É IMORTAL, DEUS NÃO EXISTE
Mas o ateísmo de Osho pressupõe a imortalidade da consciência humana:
«A morte não destrói nada. Os cinco elementos do corpo são reabsorvidos de volta para a sua origem, e quanto à consciência há duas hipóteses: se não conheceu meditação, irá passar para outro ventre; se conheceu a meditação, se conheceu a sua eternidade, passará para o cosmos e desaparecerá na vastidão da existência. E esse desaparecimento é o momento alto da vida, em que se unifica com a sua origem, em que regressa e desaparece nela. »
«A religião autêntica não precisa de nenhum Deus, não precisa de nenhum padre. Não se esqueça: basta que explore o seu mundo interior.
«Essa exploração é o que eu chamo Zen. Em sânscrito chama-se dhyran; em chinês chama-se ch´an; em japonês chama-se zen. Mas é a mesma palavra. Dirigir-se ao seu interior, alcançar o ponto a partir do qual pode olhar, uma porta que se abre para o cosmos divino. Nesse ponto, você é um buda» (Osho, A conspiração de Deus, Pergaminho, pp. 279-280, o negrito é adicionado por nós).
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Hannah Arendt (14 de Outubro de 1906- 4 de Dezembro de 1975), judia alemã, discípula de Heidegger, usou, como este, a palavra «ser» com uma certa ambiguidade:
«A destruição do conceito antigo de ser só foi levada até ao meio. Kant destruiu a velha identidade do ser e do pensamento e com ele a ideia da harmonia préestabelecida entre o homem e o mundo. O que não destruiu, o que implicitamente preservou, foi o não menos antigo conceito, intimamente ligado à ideia de harmonia do ser preexistente cujas leis, em todos os casos, se impõem aos homens. » (Hannah Arendt, Compreensão política e outros ensaios, Antropos, Outubro de 2001, pág. 52; o destaque a negrito é posto por mim.)
Por que razão Kant só "destruiu metade do velho conceito de ser"? A que ser se refere Hannah Arendt: ao mundo material com suas leis? A Deus, espírito primordial? Não esclarece. Ambígua, tal como o seu mestre Martin Heidegger...É este o tipo de discurso habitual dos retóricos que triunfam entre as nuvens da imprecisão no céu institucional da filosofia.
A visão germanófila da filosofia, que Heidegger e Hannah Arendt possuíam, apaga o papel do bispo irlandês George Berkeley, predecessor de Kant, e verdadeiro autor, no século XVII, da revolução idealista que destruiu a exterioridade do ser, entendido como mundo de matéria, face ao pensamento, incluindo-o dentro deste último, reduzindo-o a ideia.
Kant é um imitador de Berkeley que desdenha este, falsificando o seu pensamento.
Prossegue H. Arendt:
« Sem dúvida, o homem de Kant tem a possibilidade de determinar os seus actos na base da sua boa vontade; ora esses actos encontram-se, eles próprios, submetidos à lei da causalidade, uma esfera essencialmente estranha ao homem. A partir do momento em que um acto do homem sai da esfera subjectiva, entra na esfera objectiva que é a causalidade, perdendo assim a sua qualidade de liberdade (...)»
«Quando Kant fez do homem o senhor e a medida do homem, rebaixou-o simultaneamente à condição de escravo do Ser. Cada um dos filósofos que se lhe seguiram a partir de Schelling, protestou contra esta degradação. A filosofia moderna ocupa-se ainda hoje com esta humilhação do homem acabado de se emancipar. É como se ainda o homem nunca se tivesse elevado tanto nem caído tão baixo...» (Hannah Arendt, Compreensão política e outros ensaios, Antropos, Outubro de 2001, pág. 93.o destaque a negrito é posto por mim. )
Há vários erros de Hannah Arendt nestes textos.
Um deles consiste em que a liberdade não se limita à esfera subjectiva, como diz Hannah, mas objectiva-se em acções políticas, económicas, etc., da esfera exterior: um sinal da liberdade, relativa, do povo grego, é a votação de 25 de Janeiro de 2015 que dá a vitória ao Syriza. Portanto, a liberdade entra na lei da causalidade social, exterior, e influi ou retorce esta enquanto lhe for possível.
Ao definir a lei da causalidade, como «uma esfera essencialmente estranha ao homem» Hannah Arendt equivoca-se: sendo o homem composto por dois «eu», o numénico e o fenoménico, encontra-se, este último, isto é, o eu corpóreo, físico, sujeito às leis de causalidade da fome, da sede, respiração, sono e vigília. Portanto, a causalidade necessária é inerente ao corpo humano que é parte integrante do homem. Não é estranha ao homem, como sustenta H.Arendt.
A afirmação «Quando Kant fez do homem o senhor e a medida do homem, rebaixou-o simultaneamente à condição de escravo do Ser.» é absolutamente ambígua, inconsistente. Que Ser é este? A natureza física? Deus? Ou nem um nem outro, como sustentava o seu mestre Heidegger, sem contudo definir o ser que caracterizava como «o mais próximo e o mais distante»? Arendt não é clara, joga na ambiguidade do termo.
Hannah Arendt não passa de uma vulgar filósofa de segunda categoria, ao alcance dos medianos que hoje dominam a quase totalidade das cátedras de filosofia.
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Orlando Braga (20 de Fevereiro de 1958, ao início da madrugada), um intelectual monárquico e católico do Porto, um polemista temível, autor de blogs com críticas inteligentes e desassombradas à ideologia da globalização dos Bilderberg e da Trilateral e ao fascismo bonapartista dos mundialistas, à «apostasia do papa Francisco», e a muitos aspectos da vida política e cultural portuguesa, publicou em 6 de Outubro de 2014 o post «Erros do taoísmo» no seu blog espectivas.worldpress.com. Aí escreveu:
«.Depois de estudar as religiões (ou as “filosofias místicas orientais”, como está na moda dizer-se em vez de “religiões”) do Oriente, cheguei à conclusão de que o catolicismo é a forma religiosa mais evoluída. Temos, por exemplo, o Taoísmo que está na moda nos meios culturais de certas “elites”. Os conceitos de Yang e Yin partem do princípio de que “os opostos se complementam”, por um lado, e por outro lado de que “os opostos se anulam no Tao”. » (Orlando Braga)
Crítica minha: os opostos anulam-se no Tao? Não é verdade. O Tao não se divide em opostos enquanto origem, unidade primordial, princípio metafísico: mas, enquanto movimento «sinusoidal» da natureza divide-se em dois contrários, está composto de oscilações permanentes, de Yang (dilatação, calor, subir, fluxo, espírito) e de Yin (contração, frio, descer, refluxo, matéria), verão (Yang)- inverno (Yin), dia (Yang)-noite (Yin), diástole (Yang)- sístole (Yin), fluxo da onda (Yang)-refluxo da onda (Yin). Os opostos não se anulam, antes geram-se mutuamente no Tao, o que coincide com as doutrinas de Heráclito e Hegel do perpétuo devir como luta de contrários.
O TAOÍSMO NEGA A TRANSCENDÊNCIA?
Escreve ainda Orlando:
«Jesus Cristo não negou a existência dos opostos; pelo contrário, chamou-nos à atenção para eles. Mas Ele apelou para a transcendência, para além da imanência: os opostos eram por Ele considerados meios (para algo transcendente) e não fins em si mesmos (como acontece no Taoísmo). » (Orlando Braga)
Crítica minha: é um pouco confuso dizer que o taoísmo considera os opostos como fins em si mesmos e que não apela para a transcendência. O taoísmo não nega a transcendência: convida a contemplá-la como zona de obscuridade que é. E neste campo coincide com os cabalistas judaicos que falam do Ein-Sof (o Nada incognoscível) que é a divindade além do Deus revelado (Iavé, Eloim, etc) e com os místicos alemães que falam de Deus e da deidade como mestre Eckhart. No taoísmo, definido como um quietismo místico individualista («dominar o sopro vital pelo espírito é ser forte», escreveu Lao Tse) a alma sobe em direcção ao Tao, a Mãe do universo.
Lao Tse (601-517 a.C), filósofo do taoísmo escreveu:
«O Tao que se procura alcançar não é o próprio Tao;
o nome que se lhe quer dar não é o seu nome adequado.»
«Sem nome, representa a origem do universo;
com um nome, torna-se a mãe de todos os seres.
Pelo não-ser, atinjamos o seu segredo;
pelo ser, abordemos o seu acesso.
Não-Ser e Ser saindo de um fundo único só se diferenciam pelos seus nomes.
Esse fundo único chama-se Obscuridade.
Obscurecer esta obscuridade, eis a porta de toda a maravilha.» (Lao Tse, Tao Te King, Editorial Estampa, pag 13)
Sem os ritos do confucionismo chinês, religião de Estado, o taoísmo preconiza uma ascese que não é pura imanência mas a contemplação metafísica da natureza e o abandono do estudo livresco e da carreira política, a meditação («Aquele que fala não sabe/ aquele que sabe não fala. Cerra a tua abertura/fecha a tua porta/ cega o teu gume/ desata todos os nós/ funde numa só luz todas as luzes - diz Lao Tse) de tal modo que o santo poderia atingir uma "ilha dos bem aventurados" - do mesmo tipo da ilha de Avalon, onde estaria o Santo Graal, na quarta dimensão, como, possivelmente, Orlando Braga acreditará. Isto não é transcendência?
A LUZ COMO ONDA NÃO SE OPÕE À LUZ COMO FEIXE DE PARTÍCULAS? OS CONTRÁRIOS NÃO SE COMPLEMENTAM?
Escreve ainda Orlando Braga:
«Por outro lado, segundo o Cristianismo original, “aquilo que se opõe não se complementa”: dizer que “duas coisas que se opõem se complementam”, é uma contradição em termos. Só se complementam duas coisas que têm afinidades entre si, embora diferentes entre si. “Complementaridade” significa “diferença”, mas não propriamente “oposição”.
Por exemplo, a complementaridade onda / partícula, na física quântica, não significa que a onda se “oponha” à partícula: significa, em vez disso, que são estados diferentes de existência que encontram, na complementaridade, uma forma de ser. E se a existência se resumisse aos opostos (como defende o Taoísmo e Heraclito), não faria sentido a existência dos neutrões do átomo, que não se opõem a nada. » (Orlando Braga, «Erros do taoísmo», espectivas.worldpress.com; o destaque a negrito é posto por mim).
Orlando Braga não intuiu a lei dialética da unidade de contrários: em cada ente ou fenómenos há uma luta de contrários os quais, apesar de se oporem entre si, formam uma unidade (complementaridade). Aliás, na estrutura da luz, onda opõe-se a partícula: a luz não pode ser onda e partícula sob o mesmo aspecto ao mesmo tempo (princípio da não contradição). O termo opostos em Aristóteles tem uma acepção bastante mais vasta do que a que Orlando Braga lhe dá: contrário, contraditório, relativo e privativo. Aristóteles escreveu:
«E se a contradição, e a privação, e a contrariedade e os termos relativos são modos de oposição e o primeiro de eles é a contradição e se na contradição não há termo intermédio, enquanto que pode havê-lo entre os contrários, é evidente que contradição e contrariedade não são o mesmo.» (Aristóteles, Metafísica, Livro X, 1055 b, 1-5)
O neutrão é um intermédio de protão e electrão e opõe-se a ambos como semi-contrário - noção que já desenvolvi em outros posts deste blog. Há, por conseguinte, intermédios no modo de pensar dialético, o terceiro termo, a síntese existe. Convém esclarecer que um dos princípios do taoísmo é «em todo o Yang, há um pouco de Yin; em todo o Yin há um pouco de Yang» o que, traduzido em exemplos, dá fórmulas inquietantes como : em todo o homem, há um pouco de mulher; em toda a mulher, há um pouco de homem; em toda a bondade, há um pouco de maldade; em toda a maldade, há um pouco de bondade; em toda a democracia, há um pouco de totalitarismo; em todo o totalitarismo, há um pouco de democracia; em toda a monarquia há um pouco de república, em toda a república há um pouco de monarquia.
O NÃO-SER É UMA FORMA DO SER?
Afirma ainda Orlando Braga:
«Finalmente, e ao contrário do que defende o Taoísmo, os opostos não se anulam, porque se isso fosse verdade, teríamos que considerar, por exemplo, o Ser e o Não-ser em pé de igualdade de valor, isto é, teríamos que pensar que seria possível, por exemplo, a existência uma oposição entre o Ser e o Não-ser que redundasse na anulação dos dois. Ora, o Não-ser é uma forma de Ser; e por isso não pode haver uma oposição entre dois conceitos sendo que um deles está contido no outro.
O misticismo, em qualquer religião ou doutrina, só tem valor e é credível se partir de um princípio de respeito pela racionalidade e pela lógica. Foi também esse um dos legados que Jesus Cristo nos deixou através, por exemplo, das suas parábolas. » (Orlando Braga; o destaque a negrito é posto por mim).
Crítica minha: o não ser não é uma forma de ser. Já Parménides disse: «O ser é, o não ser não é...». Ser e não ser excluem-se mutuamente. O não existente não é uma forma de existente, pura e simplesmente está fora do círculo existencial. Quando o taoísmo fala em que o Tao abarca o ser e o não-ser, refere-se a ser e não-ser determinados (ser verão, não-ser verão, etc) e não a ser em abstracto. Porque ser e não ser, em abstracto, sem determinações, excluem-se em absoluto. Quanto à racionalidade e à lógica do evangelho de Cristo, que Orlando Braga enaltece, parece estar ausente em passagens do evangelho como esta:
«Eu vim trazer fogo à Terra, e que quero eu, senão que ele se acenda? Eu, pois, tenho de ser batizado num batismo, e quão grande não é a minha angústia, até que ele se cumpra? Vós cuidais que eu vim trazer paz à Terra? Não, vos digo eu, mas separação; porque de hoje em diante haverá, numa mesma casa, cinco pessoas divididas, três contra duas e duas contra três. Estarão divididas: o pai contra o filho, e o filho contra seu pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra sua nora, e a nora contra sua sogra. (Lucas, XII: 49-53)
O taoísmo é místico em certa vertente, mas muito racional em outra. Se conhecesse o carácter político conservador do taoísmo de Lao Tse, que preconiza uma «ditadura sensata» sobre o povo, dando a este condições económicas dignas, talvez Orlando Braga não minimizasse esta filosofia em que, provavelmente, Salazar se inspirou. E sabe-se que Orlando alinha pela contra-revolução monárquica popular contra os excessos da esquerda e a deriva do centro para a esquerda. Eis o conselho de Lao Tse:
«Rejeita a sabedoria e o conhecimento,
Orlando Braga é prosélito do catolicismo e «de uma penada» liquida ou minimiza, sumariamente, o valor de outras religiões. Compreendo-o: também fui educado no preceito de que «ninguém se salva fora da igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo». Mas, racionalmente, há que estudar as outras religiões sem clubismo, tanto quanto possível. Do cristianismo, só podemos dizer que gerou a democracia contemporânea baseada no sufrágio universal e gerou-a sobretudo pela via do protestantismo, que contestou a inquisição e o papado romano.
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Sobre o que é a verdade, Aristóteles escreveu:
«A falsidade e a verdade não se dão, pois, nas coisas (como se o bom fosse verdadeiro, e o mau imediatamente falso) mas sim no pensamento e, tratando-se das coisas simples e do quê-é (tó tí), nem sequer no pensamento.» (...) «E posto que a combinação e a divisão têm lugar no pensamento e não nas coisas, e o que é neste sentido é distinto das coisas que são em sentido primordial (pois o pensamento junta ou separa seja o quê-é de uma coisa, seja a qualidade, seja a quantidade, seja alguma outra determinação sua) o que é no sentido de "é acidentalmente" e "é verdadeiro" há-de deixar-se de lado.»
(Aristóteles, Metafísica, Livro VI, Capítulo VI, 1027 b, 25-30; o destaque a negrito é posto por mim).
Que significa esta tese aristotélica? Que os objectos físicos, em si mesmos, não são verdadeiros nem falsos. Uma planície de sobreiros no Alentejo não é verdadeira nem falsa mas o juízo «Esta planície do Alentejo está recheada de sobreiros» é verdadeira. Isto é, obviamente, errado porque reduz a noção de verdade ao juízo, excluindo dela a intuição sensível (exemplo: planície enquanto a vejo) e a intuição inteligível (exemplo: átomo, mundo de espíritos invisíveis e imperceptíveis).
É absurdo dizer que o conceito «Deus» não é verdade nem mentira e que o juízo «Deus existe» é verdadeiro ou falso porque a própria intuição intelectual «Deus» é verdadeira já no plano da imaginação. Dizer que o conceito não é verdadeiro nem falso mas que o juízo, que integra esse e outros conceitos, é verdadeiro ou falso abre a porta à incongruência do pensamento. As coisas ou são verdadeiras ou falsas, não há terceira via: a falsidade é a não verdade, contrapõe-se à verdade como o não-ser ao ser. Não há uma zona neutra entre verdade e erro, como supunham Aristóteles e, no século XX, Bertrand Russel e os adeptos da filosofia analítica anglo-saxónica. A neutralidade expressa no cepticismo ("Não sei se é verdadeiro ou falso que X...") é um modo gnosiológico não um modo ontológico ("As coisas X e Y ou são reais ou irreais..").
Aristóteles afasta-se do realismo modal - ou pelo menos reduz o âmbito deste - ao considerar que a combinação e a divisão não existem nas coisas mas apenas no pensamento. Ora, no pôr do sol, há uma combinação de cores - azuis, rosas, laranjas, vermelhos - que se vai alterando a cada momento, uma combinação objectiva, real em si mesma, que está para lá do nosso pensamento.
Quando acima refere as "coisas simples" e as "coisas que são em sentido primordial" Aristóteles refere-se, certamente, às formas eternas que Platão designa por Ideias, os arquétipos. Elas existem, pois, fora do pensamento e da realidade física. Como platónico «envergonhado», Aristóteles admite que o quê-é (exemplo: a forma conceptual de cavalo, de triângulo, de número quatro, etc.) existe mas não nas coisas físicas nem no pensamento - o que equivale a dizer que existe em um mundo objectivo suprafísico ou infrafísico, metafísico, antes de haver coisas físicas. Isto é platonismo, com a diferença de que Aristóteles aboliu o lugar do mundo inteligível acima do céu visível e transferiu-o «para baixo», para lugar nenhum.
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