A contemplação de Jesus crucificado que, para os cristãos, é uma fonte de energia espiritual que os sustenta em épocas difíceis é para o psicanalista Wilhelm Reich (24 de Março de 1897, Galícia, Austria-Hungria- 3 de Novembro de 1957, penitenciária de Ludwigburg, EUA) um desvio da energia sexual para uma atitude de homossexualidade passiva. Reich escreveu:
«Apela-se para o culto mariano para promover a castidade e, reconheça-se, com muito êxito. Temos de interrogar-nos de novo quanto ao mecanismo psicológico que assegura o êxito de tais objectivos. É uma vez mais um problema que afecta as massas de jovens sujeitas a essas influências traduzindo-se, fundamentalmente, na repressão dos instintos genitais. Se o culto de Jesus mobiliza as forças homossexuais passivas contra a sexualidade genital, o culto mariano mobiliza também forças sexuais, mas na esfera heterossexual. "Não faças mal a nenhuma rapariga; lembra-te que também a tua mãe foi rapariga". Deste modo, a mãe de Deus vai ocupar na vida do jovem cristão o lugar da sua própria mãe, e ele consagra-lhe todo o amor que anteriormente sentiu pela própria mãe: todo o forte amor dos seus primeiros desejos genitais. A proibição do incesto dividiu então a sua genitalidade em desejo do orgasmo e ternura assexual. O desejo do orgasmo tem de ser recalcado e a sua energia reforça a tendência para a ternura, transformando-a numa ligação, difícil de dissolver, com a experiência mística. Isto é acompanhado por uma defesa violenta não só contra o desejo do incesto mas também contra qualquer relação genital natural com uma mulher. Toda a força viva e o grande amor que o jovem saudável desenvolve na vivência orgástica com a mulher amada vai apoiar, no homem místico, e depois do recalcamento da sensualidade genital o culto mariano. (...)
«O importante não é a devoção a Maria ou a qualquer outro ídolo, mas sim a produção da estrutura mística em cada nova geração humana. mas a mística não é mais que o desejo inconsciente do orgasmo (identificação do plasma com o universo). (...) Pode-se sentir admiração pelo Antigo e pelo Novo Testamento, como criações gigantescas do espírito humano mas não se deve utilizar essa admiração para recalcar a própria vida amorosa.» (Wilhelm Reich, Psicologia de Massas do Fascismo, Publicações Dom Quixote, 1976, pp. 175-177; o destaque a bold é nosso).
SEXUALIDADE NATURAL E SENSIBILIDADE MÍSTICA SÃO A MESMA ENERGIA COM FINS DIFERENTES
A tese central de Reich é a de que a repressão da sexualidade genital natural da criança mediante o autoritarismo do pai e ideologia mística com consignas como «São pecado a masturbação, a relação sexual física, a pureza agrada a Deus» gera um permanente estado de instatisfação disfarçada no misticismo, na oração a Deus, que não passa de excitação sexual controlada,no culto da honra, da pureza, da obediência cega aos chefes, ao Estado. Reich escreveu:
«Não nos interessa discutir a existência ou inexistência de Deus: limitamo-nos a suprimir os recalcamentos sexuais e a romper os laços infantis em relação aos pais. A destruição do misticismo não faz parte das intenções do terapeuta. Este trata-o simplesmente como a qualquer outro factor psíquico que funcione como apoio do recalcamento sexual consumindo as energias naturais. O processo da economia sexual não consiste, pois, em opor à concepção mística do mundo uma concepção "materialista", "anti-religiosa"; isso é propositadamente evitado, pois de nada serviria; tratar-se-ia, acima de tudo, de desmascarar a atitude religiosa como força anti-sexual e de canalizar noutras direções as forças que a alimentam. O homem que era exageradamente moralista em ideologia, mas perverso, lascivo e neurótico na vida real, liberta-se dessa contradição, e ao mesmo tempo que do moralismo, do carácter associal da sexualidade e da imoralidade, no sentido da economia sexual. »
«A consciência sexual e a sensibilidade mística são incompatíveis. Sexualidade natural e sensibilidade mística são, de um ponto de vista energético, uma e a mesma coisa, enquanto a primeira for recalcada, transformando-se em excitação mística incontrolada.»
(Wilhelm Reich, Psicologia de Massas do Fascismo, Publicações Dom Quixote, 1976, pp. 189-190; o destaque a bold é nosso).
A DEMOCRACIA DO TRABALHO E A ENERGIA ORGÓNICA
Criticando o capitalismo e o socialismo estalinista - este último, capitalismo de estado vermelho - que vigorou na URSS de 1922 a 1953, Reich preconizou a democracia do trabalho, um regime AUTOGESTIONÁRIO que promove o conhecimento, a partilha de tecnologia e o bem-estar de todos, que rejeita os místicos e os políticos, vendedores de ilusões, e protege as crianças e os jovens dos moralistas e maus educadores que condenam a energia sexual genital:
«A revolução russa de 1917 foi no fundo uma revolução político-ideológica, mas não uma verdadeira revolução social. Baseou-se em ideias políticas provenientes dos campos da economia e da política, e não das ciências que estudam o homem» (ibid, pág 234)
«O amor, o trabalho e o conhecimento abarcam tudo aquilo que está contido no conceito de democracia do trabalho» (ibid, pág. 337). «O trabalho é uma actividade fundamentalmente biológica que assenta, de um modo geral, tal como a vida em pulsões de prazer» (ibid, pág. 278).«A democracia natural do trabalho não tem uma orientação política nem de "esquerda" nem de "direita"(.. ) Não tem na sua essência a intenção de ser contra ideologias, portanto não pretende ser contra ideologias políticas mas é, também pela sua essência, obrigada, se quer funcionar, a insurgir-se contra qualquer orientação política e certamente contra qualquer partido político que se lhe atravesse no caminho de maneira irracional. Mas, no fundo, a democracia do trabalho não é contra, como é geralmente a política, mas é a favor da resolução de tarefas concretas» (ibid, pág 302, o bold é posto por nós).
E Reich teoriza ter descoberto a energia orgónica que circula por todo o universo - os chineses diriam a energia benéfica Ki - e será a fonte de cura de todas as doenças:
«Comecei a trilhar até então via oculta que me levaria à descoberta do orgono quando entrei no domínio proibido das palpitações orgásticas do plasma (...) (ibid, pág 340).
«O desconhecimento das leis biológicas funcionais produziu o mecanicismo e substituiu a realidade viva pelo misticismo. Pelo contrário, o orgono cósmico - a energia especificamente biológica que existe no universo - não funciona de modo mecanicista e não é de natureza mística.» (ibid, pág 341, o bold é posto por nós).
O facto de alguns aparelhos construídos por Reich desenvolverem alto nível de radioactividade levou os tribunais a condená-lo a penas de prisão e o governo a deter o grande psicanalista em 12 de Março de 1957. Morreria 7 meses depois na prisão.
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