Heidegger acusa, sem razão, a ontologia tradicional de confundir o ser com o tempo:.
«O tempo funciona há muito tempo como critério ontológico, ou mais precisamente ôntico, de distinção ingénua das diversas regiões de entes. Deslindam-se os entes “temporais” (os processos da natureza e as gestas da história) dos entes “intemporais” (as relações espaciais e numéricas).(...) Encontra-se, ademais, um abismo entre o ente "temporal" e o eterno "supratemporal" e intenta-se franqueá-lo. "Temporal" aqui quer sempre dizer tanto como sendo "no tempo", uma determinação que, por sua vez, é, sem dúvida, obscura. Mas o facto é este: o tempo, no sentido de "ser no tempo", funciona como critério de distinção das regiões do ser» (Heidegger, El Ser y el tiempo, Fondo de Cultura Económica, pag 28).
Pergunta-se: é possível estudar o ser desligando-o do tempo? Não. O ser, na teoria de Tales de Mileto, é a água e a determinação desta como ser deve-se à sua forma omnipresente (espacialidade, materialidade) e à permanência eterna (na sucessão infinita de caos e cosmos, composta de tempos, de ciclos temporais, em que tudo é água).
O ser, na teoria de Platão, é o mundo inteligível, imóvel, supraceleste, o uno, múltiplo na variedade dos seus arquétipos: o Bem, o Belo, o Justo, o Triângulo, o Número Um, etc. Os arquétipos (ser) não se confundem com o tempo, porque estão na eternidade, fora do devir próprio do tempo.
O tempo não é o único critério ontológico mas é um indispensável critério ontológico.
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