A definição de conhecimento como «crença verdadeira justificada» é tautológica: se a crença é verdadeira é conhecimento, ademais, se apreende a realidade tal como esta é, não precisa de justificação. Dizer que conhecimento é uma crença justificada já não é tautologia porque justificação implica juízos e raciocínios que podem não apreender a verdade (coerentismo, por exemplo).
A teoria do Big Bang é verdadeira? Não sabemos. Não há imagens de como há 18 000 milhões de anos se deu a explosão imensa, criadora do universo, da matéria concentrada em uma cabeça de alfinete microscópica, se é que isso ocorreu.. Está esta teoria justificada? Sim, do ponto de vista dos seus defensores. Constitui um conhecimento? Sim, mas um conhecimento incerto, improvável, especulativo, um conhecimento indirecto sem base empírica sólida e para alguns um pseudo conhecimento.
Há que distinguir dois tipos de conhecimento: o conhecimento de ideias e proposições - o que Bertrand Russel chamou de conhecimento proposicional - e o conhecimento directo de factos empíricos - classificado por Russel como conhecimento de contacto. Ora a fórmula «conhecimento é crença verdadeira justificada» é uma amálgama confusa de conhecimento de ideias (justificação) e de conhecimento directo, empírico (contacto). A fómula correcta, sem embargo de conter uma tautologia, seria: «Conhecimento é crença verdadeira ou crença justificada».
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Por justificacionismo, noção popularizada pela filosofia analítica, entende-se a atitude filosófica de fundamentação, isto é, estabelecimento de um sistema de explicações de uma teoria, tese ou visão do mundo, baseado em leis de causa-efeito, em analogias ou outro modelo de raciocínio. Não se pode colocar o justificacionismo ao mesmo nível do fundacionalismo e do coerentismo. Estes dois últimos são, por assim dizer, tipos de arquitectura filosófica – «casa fixa ao solo» o fundacionalismo; «casa rolante», o coerentismo- ao passo que o justificacionismo é empregue por ambos como método ideológico.
A justificação é uma explicação ou comprovação de uma ideia, raciocínio ou teoria a partir de outra instância, é uma razão ou prova, teórica ou empírica.
«Mas a justificação é o processo que consiste em apelar para uma instância independente.» (L. Wittengstei, Tratado Lógico-Filosófico e Investigações Lógico-Filosóficas, pag 345)
«638. “Não posso estar em erro” é uma frase normal que serve para indicar o valor da certeza de uma declaração . E, somente no seu uso quotidiano, ela é justificada.»
(Ludwig Wittgenstein, Da Certeza, Edições 70, Lisboa, 1998, pag 179)
Ao justificacionismo opõe-se o não justificacionismo
.Dancy assevera haver três vias de justificação:
«Então o que faz, neste caso, uma crença ser justificada?
«Há várias respostas. Uma é a resposta fiabilista: a crença justifica-se porque é o resultado de um processo fiável. Outra é a resposta coerentista: a crença justifica-se porque o meu mundo é mais coerente com ela do que seria sem ela. Uma terceira é a alegação fundacionalista clássica, que entende que a crença não é de facto não-mediata, mas inferida de uma crença sobre como as coisas me aparecem neste preciso momento.» (Jonathan Dancy, texto extraído de Oxford Companion to Philosophy, organizado por Ted Honderich (OUP, 1995, pp. 809-812; o destaque a negrito é posto por nós).
Esta é uma confusão de Dancy, um dos «grandes» da filosofia analítica: apresentar três respostas, onde só há duas. Não se percebe o que é o fiabilismo, separado do coerentismo ou do fundacionalismo. Estes dois são fiabilistas...Fiabilismo é, pois, uma atitude geral de espírito e coerentismo e fundacionalismo são modos de arquitectar a construção de uma teoria, ambos impregnados dessa atitude de confiança.
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