Eis um teste de filosofia fora do estereótipo dos testes que os autores dos manuais escolares da Porto Editora, Leya, Santillana, Areal Editores, etc, divulgam. E sem questões de escolha múltipla que, frequentemente, são incorrectamente concebidas por quem não domína o método dialético e desliza para a horizontalidade da filosofia analítica vulgar. Só os professores que conseguem afastar-se do modelo de testes que os manuais de filosofia, estereotipados, difundem, têm possibilidade de ser verdadeiramente bons. Há uma radicalidade de pensamento que só o individualismo radical atinge.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA B
24 de Fevereiro de 2016. Professor: Francisco Queiroz.
I
"Feyerabend criticou o método das conjecturas e refutações de Popper, em particular pela posição deste face à astrologia e à medicina hopi, e declarou que os homens da idade da pedra, inventores dos mitos, «livres do jugo da especialização, estavam conscientes da grande quantidade de relações entre os homens e entre estes e a natureza». Afirmou ainda Feyerabend, anarquista epistemológico, que, hoje, com o racionalismo fragmentário actual, mera ideologia, « temos uma religião sem ontologia, uma arte sem conteúdos, e uma ciência sem sentido»
1)Explique, concretamente este texto
2)Explique como, na ontognoseologia de Kant, se formam o fenómeno CEGONHA e o conceito empírico de CEGONHA.
2) Relacione, justificando:
A) Positivismo lógico do círculo de Viena e indução amplificante, por um lado, corroboração e testabilidade em Karl Popper, por outro lado.
B) B) Método hipotético-dedutivo, ciências empírico-formais e ciências hermenêuticas
C) Fenomenologia, realismo crítico e cepticismo
D) Sete relações filosóficas e idealismo em David Hume .
CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES
1) Feyerabend criticou Popper por este reduzir as ciências a conjuntos de conjecturas que são aceites provisoriamente e depois refutadas, isto é, rejeitadas com argumentos e testes experimentais. E criticou Popper por considerar pseudo-ciências a astrologia e a medicina hopi (os hopis são uma tribo índia dos EUA que veneram a natureza, usam plantas para a cura em ligação com a oração ao deus criador). Feyerabend insistiu em que a visão especializada, fragmentária, das actuais ciências dos séculos XIX a XXI perdeu a percepção holística, global dos fenómenos. O homo sapiens primitivo conhecia a vida de forma global (intuição holística), não estava fragmentado em saberes particulares como o homem de hoje. Os homens do mito estavam livres do jugo da especialização que hoje impera: um engenheiro civil, especializado, só sabe temas de engenharia civil, nada sabe sobre a cura pelas plantas dos seus cálculos renais e de outras doenças e nada sabe sobre as fases da lua e os seus efeitos sobre as sementeiras e colheitas (VALE TRÊS VALORES). As ciências actuais são baseadas num racionalismo fragmentário - teoria que afirma ser a razão a principal fonte de conhecimento, mas não a razão holística que tudo abarca como por exemplo movimentos dos astros e deuses, racionalismo esse que fragmenta o conhecimento, separa o estudo do fígado do estudo do coração, separa o facto histórico-social terrestre do facto astronómico celeste, etc. Essas ciências nasceram com o emergir da burguesia industrial e financeira actual e por isso estão impregnadas de ideologia - sistema de ideias e valores de uma classe social- burguesa. A ciência e a tecnologia do automóvel como veículo de transporte individual ou familiar insere-se na ideologia individualista da burguesia: «Enriquece, compra um carro próprio, viaja livremente». Feyerabend era anarquista epistemológico, isto é, sustentava a igualdade de base entre todas as doutrinas, que é necessário acabar com o domínio exclusivo da medicina química oficial, da biologia oficial (evolucionismo de Darwin) da electrónica, etc, porque são ideológicas, defendem certas classes e grupos sociais, visam aumentar lucros da grande indústria Que significa dizer que hoje temos uma religião sem ontologia? Significa que temos um conjunto de ritos cujo simbolismo profundo já perdemos, em cuja filosofia já não penetramos. Por exemplo, ignoramos que o facto de a pia de baptismo de antigas ser . Constroem-se hoje igrejas com uma arquitectura moderna ignorando o número de oiro (1,618), número mágico de proporção entre o comprimento e a largura e a altura de um compartimento. Que significa dizer que hoje impera uma arte sem conteúdos? Significa, por exemplo, que uma tela branca salpicada de pontos vermelhos é um quadro sem conteúdo, um significante sem significado. Que significa dizer que há uma ciência sem sentido? Significa, por exemplo, que há uma medicina que não percebe o sentido da febre - acção de autodefesa do organismo, expulsando as toxinas através do suor ou de urinas escuras - e manda reprimir os sintomas, tomando anti piréticos.( VALE TRÊS VALORES).
2) O númeno ou objecto metafísico afecta de alguma maneira a sensibilidade fazendo nascer nesta um caos empírico de matéria indeterminada e as formas a priori de espaço (figuras, extensão) e tempo (duração, simultaneidade, sucessão) moldam essa matéria transformando-a no fenómeno cegonha, que é o objecto visível ou coisa para nós. As imagens do fenómeno são levadas pela imaginação às categorias de unidade, pluralidade, realidade e outras do entendimento ou intelecto ligado ao mundo empírico e aí são reduzidas à unidade, a um conceito único de cegonha (VALE TRÊS VALORES).
3-A) O positivismo lógico do círculo de Viena considera sem sentido a metafísica e afirmações desta como «Deus criou o Paraíso e o Inferno e pune os maus» porque não podem ser comprovadas empiricamente. Para este positivismo, só os factos empíricos ( exemplo: maçã, tornado, etc) e as suas relações lógico-matemáticas são verdade e a indução amplificante - generalização segundo uma lei necessária de alguns casos empíricos semelhantes entre si - é perfeitamente legítima. Karl Popper opõ-se ao positivismo lógico pois, na linha de David Hume, duvida da indução amplificante, achando que há sempre excepções a uma dada lei da natureza e considera ser impossível verificar essa lei pois teríamos de estudar centenas de milhar ou milhões de exemplos concretos. Popper diz que só é possível a corroboração ou confirmação de alguns exemplos através da testabilidade, isto é, realização de testes experimentais (VALE TRÊS VALORES).
3-B) O método hipotético-dedutivo baseia-se na indução amplificante, inferência que Popper não aceita como válida, e tem quatro fases: observação, hipótese, dedução matemática da hipótese e verificação experimental com confirmação ou não da hipótese. As ciências empírico-formais são as ciências da natureza biofísica - química, física, astronomia, biologia, geologia - e baseiam-se em leis necessárias ou tendencialmente necessárias e por isso assentam na indução amplificante. As ciências hermenêuticas, ou seja, as que se baseiam em interpretações mais ou menos subjectivas e leis estatísticas - psicologia, sociologia, história, economia, - não recorrem ou recorrem pouco à indução amplificante (VALE TRÊS VALORES).
3.C) O realismo crítico é a teoria segundo a qual a matéria é real e exterior às nossas mentes mas estas não espelham como ela é. O realismo crítico de Descartes é a teoria qiue sustenta que há um mundo real de matéria exterior às mentes humanas composto de uma matéria indeterminada, sem peso nem dureza/moleza, apenas formado de figuras geométricas, movimento, números (qualidades primárias, objetivas), sendo subjectivas, isto é exclusivamente mentais, as cores, os cheiros, os sabores, as sensações do tacto, o calor e frio (qualidades secundárias, subjectivas). A fenomenologia é a ontologia que sustenta não saber se o mundo material subsiste ou não fora das mentes humanas. O cepticismo é a corrente que duvida do que vai além dos dados empíricos imediatos ou até mesmo deste. A fenomenologia possui um fundo cético e o realismo crítico, na medida em que duvida de alguns dados dos sentidos, também (VALE TRÊS VALORES).
2-D) O idealismo, isto é, a doutrina que diz que o mundo material exterior à mente humana não existe, é ilusório, é base da teoria de Hume. Por exemplo, o"eu" em David Hume não é uma realidade, mas uma ideia ilusória, uma vez que somos apenas uma corrente de percepções empíricas a que a memória e a imaginação atribuem um núcleo invariável chamado «eu». Do mesmo modo, a substância (exemplos: as substâncias cadeira ou nuvem) é uma ideia fabricada pela nossa imaginação servindo-se das sete relações filosóficas que são disposições sensório-intelectuais a priori da mente humana: semelhança, identidade, relações de tempo e lugar, proporção de quantidade ou número, graus de qualidade, contrariedade e causação. A ideia de permanência, de continuidade entre as percepções empíricas forja as ideias de eu e de substância. As relações de tempo e lugar não estão em objectos materiais fora de nós mas são um modo de ver e pensar inerente à nossa mente - e isto é idealismo (VALE DOIS VALORES)
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Eis um teste de filosofia de final de 1º período lectivo, em Beja, Portugal, onde a filosofia atingiu, no plano mundial, o mais alto grau, ao conceber por leis histórico-astronómicas a presdestinação de todas as coisas - um teste sem perguntas de escolha múltipla que, habitualmente, espelham a pobreza do pensamento de uma grande parte dos docentes e dos autores dos manuais escolares.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia com 3º Ciclo, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA A
12 de Dezembro de 2014. Professor: Francisco Queiroz
I
“Algum idealismo é realismo crítico”.
“A falácia do falso dilema é realismo crítico”.
“ O idealismo não é falácia do falso dilema”.
1-A) Indique, concretamente, três regras do silogismo formalmente válido que foram infringidas na construção deste silogismo.
.
1-B) Com base nas definições respectivas, mostre como ambas as premissas deste silogismo estão erradas no seu conteúdo, isto é, estão materialmente erradas.
2) Exponha os quatro passos gnoseológicos que celebrizaram Descartes a partir da dúvida hiperbólica, defina e aplique a lei da contradição principal a este conjunto.
3 ) Relacione, justificando:
A) Res cogitans em Descartes e ideia de “eu” em David Hume.
B) Ciências empírico-formais, ciências hermenêuticas, retórica e ideologia.
4) Interprete o seguinte texto e mostre dois sentidos possíveis para o termo “ser”:
« Existem miríades de sinais demonstrativos de que o Ser é, incriado, imperceptível, perfeito, imóvel e eterno, não sendo lícito afirmar que o Ser foi ou que será…. Ser e pensar é um e o mesmo.» (PARMÉNIDES).
CORRECÇÂO DO TESTE COTADO PARA UM MÁXIMO DE VINTE VALORES
1-A) Eis três regras do silogismo formalmente válido que foram violadas: o termo médio (neste caso: realismo crítico) tem de ser tomado pelo menos uma vez, universalmente; nenhum termo pode ter na conclusão maior extensão do que nas premissas, ora o termo idealismo é universal na conclusão e particular na primeira premissa (algum idealismo); de duas premissas afirmativas não se pode extrair uma conclusão negativa. (VALE DOIS VALORES).
1-B) O idealismo ontológico é a doutrina segundo a qual o mundo de matéria é um conjunto de ideias ou sensações a flutuar na mente de um ou vários sujeitos e por isso não se inclui no realismo, doutrina que diz que o mundo de matéria é real em si mesmo e exterior às mentes humanas. O realismo crítico defende que o mundo de matéria exterior é real em si mesmo mas não o percepcionamos sem deformação (exemplo: vemos uma rosa vermelha, mas o vermelho só está na nossa mente não na rosa). (VALE DOIS VALORES). O idealismo, corrente ontognoseológica, não é a falácia do falso dilema porque esta é uma disjunção lógica entre dois termos um dos quais está contido no outro, ora o ontológico não deve confundir-se com o lógico-formal ( exemplo da falácia do falso dilema: "Ou és ser humano ou és homem alentejano") (VALE DOIS VALORES).
2) Os quatro passos do raciocínio de Descartes são pautados pelo racionalismo, doutrina que afirma que a verdade procede do raciocínio, das ideias da razão e não dos sentidos:
1º Dúvida hiperbólica ou Cepticismo Absoluto( «Uma vez que quando sonho tudo me parece real, como se estivesse acordado, e afinal os sentidos me enganam, duvido da existência do mundo, das verdades da ciência, de Deus e até de mim mesmo »).
2º Idealismo solipsista («No meio deste oceano de dúvidas, atinjo uma certeza fundamental: «Penso, logo existo» como mente, ainda que o meu corpo e todo o resto do mundo sejam falsos»).
3º Idealismo não solipsista («Se penso tem de haver alguém mais perfeito que eu que me deu a perfeição do pensar, logo Deus existe).
4º Realismo crítico («Se Deus existe, não consentirá que eu me engane em tudo o que vejo, sinto e ouço, logo o mundo de matéria, feito só de qualidades primárias, objetivas, isto é, de figuras, tamanhos, números, movimentos, existe fora de mim»). Realismo crítico é a teoria gnosiológica segundo a qual há um mundo de matéria exterior ao espírito humano e este não capta esse mundo como é. Descartes, realista crítico, sustentava que as qualidades secundárias, subjectivas, isto é, as cores, os cheiros, os sons, sabores, o quente e o frio só existem no interior da mente, do organismo do sujeito, pois resultam de movimentos vibratórios exteriores e que o mundo exterior é apenas composto de formas, movimentos e tamanhos e uma matéria indeterminada.
A lei da contradição principal estabelece que um sistema de múltiplas contradições se pode reduzir a uma só grande contradição, constituída por dois grandes blocos ou pólos e deixando, às vezes, uma zona neutra na fonteira entre ambos os pólos. Neste caso, a contradição principal pode ser concebida de várias maneiras: num pólo, a dúvida absoluta (1º passo) e no outro polo o conjunto idealismo solipsista/ idealismo não solipsista/ realismo crítico que possuem certo grau de certeza em comum; em um polo os dois idealismos (2º e 3º passos) e no outro polo o realismo crítico (4º passo) ficando o cepticismo absoluto na zona intermédia ou neutra; em um polo o realismo crítico, no polo oposto o conjunto cepticismo absoluto/idealismos (VALE CINCO VALORES).
3-A) A res cogitans, em Descartes, é o pensamento humano, é uma realidade (a filosofia, as ciências, o senso comum) ao passo que o "eu" em David Hume não é uma realidade, mas uma ideia ilusória uma vez que somos apenas uma corrente de percepções empíricas a que a memória e a imaginação atribuem um núcleo invariável chamado «eu». (VALE TRÊS VALORES).
3-B) Ciências empírico-formais são aquelas que se baseiam em factos da experiência desvendando as leis necessárias, infalíveis, que os ligam e atravessam. Exemplo: a física com a lei da gravidade, a química com a relação ácido-base, a biologia, a geologia, etc. Habitualmente, supõe-se que estas ciências são neutras, estão isentas de ideologia, isto é, interpretações do mundo intersubjectivas, próprias de certas classes sociais e grupos étnicos (exemplo: cristianismo, budismo, liberalismo, comunismo, europeísmo, pan-arabismo, filosofias da igualdade de direitos universais ou do domínio da aristocracia sobre a plebe são ideologias). Ciências hermenêuticas são aquelas que se baseiam em factos empíricos interpretando-os segundo princípios e intuições subjectivas, cheios de simbolismos, sem leis infalíveis (exemplo: a psicanálise e o complexo de Édipo, a filosofia, a história e o papel dos grandes homens, a sociologia, a antropologia, etc). Sendo retórica a arte de argumentar ou demonstrar certas ideias ou teses, a retórica está presente em ambos aqueles tipos de ciência, em especial nas hermenêuticas que são marcadamente ideológicas - por exemplo, a teoria marxista da histórica que postula que as sociedades caminham todas em direcção ao comunismo, ou sociedade igualitária sem Estados, é muito mais ideológica do que a teoria da evolução das espécies de Darwin na biologia ou do que o cálculo integral em matemática, este último isento de ideologia (VALE QUATRO VALORES).
4) Há um número infinitamente grande (miríades) de sinais que demonstram que o Ser - essência esférica do universo - não foi criado por ninguém, não foi nem será porque é eternamente o mesmo, sem alterações. É perfeito e invisível, inaudível, por isso só pode ser apreendido pelo pensanento racional - daí que ser e pensar sejam um e o mesmo. O ser pode ser ideia ou pode ser algo material, o texto não é esclarecedor. Dois sentidos do Ser são: existência infinita no tempo; essência ou forma geral do universo. (VALE DOIS VALORES).
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