A TVI exibiu em 17 de Julho de 2018, a reportagem «Senhor Traveca» que apresenta as figuras e depoimentos de três artistas de Drag Queen, Bruno Cunha (Camel Toe), do Porto, que usa barba nos shows travestis, Ricardo Magalhães (Luna), Drag Queen em Setúbal, e José Coelho (Rebbeca Bunny), de 21 anos, transformista em Lisboa. A reportagem é interessante, os três declaram ser gays, relatam os dramas das suas vidas. Merecem respeito pela coragem. Mas o defeito desta reportagem é o de, na linha dos sectários da LGBT, apresentar a falsa ideia de que todos os transformistas, isto é, todos os homens que se vestem ocasionalmente ou profissionalmente de mulheres são gays.
A LGBT censura a existência de um sector crossdresser heterossexual, isto é, de um número considerável de homens que gosta de vestir de mulher em solitário ou na companhia das esposas e namoradas e que rejeita liminarmente a homossexualidade e a bissexualidade físicas por achar repulsivo o corpo masculino. Os herejes, que são os crossdresser hetero, são excomungados pela igreja LGBT que quer integrar todo o travestismo dentro da homossexualidade e da transexualidade.
Também pelo campo sócio-sexual passa a luta de classes. A LGBT que funciona como uma espécie de representante dos oprimidos e excluídos sexuais, socialmente falando, marginaliza e censura os que assumindo aparências andróginas ou femininas estão irredutivelmente no campo da heterossexualidade. Os comentários explicando o que é ser crossdresser heterossexual são banidos das páginas do portal da LGBT na internet.
NOTA: COMPRA O NOSSO «DICIONÁRIO DE FILOSOFIA E ONTOLOGIA», 520 páginas, 20 euros (portes de correio para Portugal incluídos), CONTACTA-NOS.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz
Max Scheler (1874-1928), um dos melhores filósofo da ética, de entre os que conheço - de facto, muito superior em inteligência e produção teórica aos actuais James Rachels, Peter Singer, Richard Hare, Michael Smith e outros - hierarquizou os valores em quatro grandes modalidades, cada uma das quais desdobrando-se em valor de coisa, valor de função e valor de estado: os valores sensíveis hedónicos do agradável e desagradável, e os valores por referência do útil-inútil, os valores vitais (nobreza -vulgaridade, excelência-ruindade, e respectivos estados de autoconfiança-desânimo, juventude-velhice, etc), os valores espirituais (belo-feio, justo-injusto, verdadeiro-falso) e os valores do santo e do profano ( amor pessoal supra-individual ou ausência dele, e estados sentimentais religiosos ou arreligiosos de "felicidade" e "desespero").
Por exemplo, o valor conhecimento filosófico, centrado na pura descoberta da verdade, baseia-se em valor de coisas (exemplo: livros e artigos escritos de filosofia) , valor de função (apreensão pela inteligência intuitiva, explanação pela inteligência discursiva) e valor de estado sentimental (alegria espiritual por se ter clarificado o pensamento, tristeza espiritual por se ter escrito uma tese parcialmente equívoca tempos atrás. etc).
Sobre a modalidade dos valores espirituais, escreveu Scheler:
«Distínguese de los valores vitales, como nueva modalidad, el reino de los "valores espirituales". Incluyen ya en el modo de ser dados una separación e independencia frente a la esfera total del cuerpo y el contorno, y se manifiestan como unidad también en que en ellos se da la clara evidencia de que los valores vitales "deben" sacrificarse ante ellos. Los actos y funciones en que los aprehendemos son funciones del percibir sentimental espiritual y actos de preferir, amar y odiar espirituales, que se diferencian de las funciones y actos vitales sinónimos, tanto fenomenológicamente, como también por sus leyes peculiares (irreductibles a cualquier tipo de leyes "biológicas")»
« Estos valores son de las siguientes principales clases: 1º Los valores de lo "bello" y lo "feo", y el reino completo de los valores puramente estéticos. 2º Los valores de lo justo e "injusto", objetos que constituyen "valores" y son totalmente distintos de lo "recto" y "no recto", es decir, conforme o no a una ley; (...) Y 3º "Los valores del "puro conocimiento de la verdad", tal como pretende realizarlos la filosofía (en contraposición a la "ciencia" positiva, que va guiada en tal conocimiento por el fin de dominar los fenómenos). Según esto, los "valores de la ciencia" son valores por referencia respecto a los valores del conocimiento.»
(Max Scheler, Ética, Caparrós Editores, Págs. 176-177; o negrito é nosso)
O problema que este excelente texto de Scheler levanta é o seguinte: pode confinar-se todo o reino dos valores estéticos ao mundo espiritual? Belo e feio podem dissociar-se do agradável e do desagradável, que constituem o fundamento do primeiro reino inferior dos valores?
Se contemplo uma jovem mulher de 20 ou 25 anos, que me atrai sensualmente e a quem classifico de "bela" - chamemos-lhe Débora ou Elisabete, ou outro nome- o meu sentido do belo vem do mundo espiritual ou do mundo sensível? Ou virá ainda do mundo intermédio vital? Presumo que Scheler diria que a atracção proviria do mundo espiritual, o que me leva a qualificá-lo como um platónico refinado do século XX. Mas o valor do agradável que se manifesta no homem ao perceber empiricamente a jovem mulher, mesmo sem a ter ouvido proferir uma palavra, não conterá já o valor do belo como valor físico?
Regresso, pois, à tese que sustento de que há pelo menos duas fontes do Belo (kálon, em grego), dois reinos do belo e do feio, ambos tendo em comum a proporção: as formas do mundo espiritual: as formas do mundo físico, onde a libido e as hormonas serpenteiam.
Ademais, segundo Scheler, os valores são dados por funções: as funções de ver, ouvir, saborear, tactear, são funções do perceber afectivo sensivel; ora, como pode o belo ser exterior a estas funções, em especial à visão, e ser dado apenas na função do perceber sentimental espiritual?
É certo que há belezas sensuais femininas que inquietam, porque trazem as chamas de um inferno hormonal, e outras belezas femininas espirituais que tranquilizam, não inquietam hormonalmente. Procederão ambas do reino dos valores espirituais?
Nota- É de salientar que nenhum dos manuais de filosofia adoptados em Portugal no ensino secundário (10º e 11º ano de escolaridade) expõe a ética material de valores de Max Scheler - nem sequer o breve resumo de 4 modalidades de valor que expus acima. Há uma feroz censura sobre esta ética personalista cristã de tonalidades gnósticas exercida pelos adeptos da filosofia analítica, uma pleiade de doutorados e mestres mais ou menos medíocres que já se apoderou de posições chave no panorama editorial em Portugal, nos EUA, Grã Bretanha, etc. A censura patenteia-se igualmente, por exemplo, no Compendio de Ética de Peter Singer editado pela Alianza Editorial, de Madrid, que em 726 páginas faz apenas uma única referência à teoria de Max Scheler, misturada com as de Franz Brentano e Nicolai Hartman, sem a explicar verdadeiramente (pag 225), em artigo de J.B. Schneewind. Os parafilósofos ou sofistas analíticos temem os filósofos de síntese como Scheler, Hartman, Heidegger, Zubiri, etc. Bertrand Russell, um democrata no plano político, censurou a filosofia de Heidegger, na sua História da Filosofia Ocidental, omitindo-a por completo... Cuidado com estes cultores da lógica e da análise proposicional! Os seus inspectores de circunstâncias e as suas derivações lógicas sugerem campos de concentração rodeados de arame farpado donde é proibido sair...
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Livraria online de Filosofia e Astrologia Histórica