Segunda-feira, 24 de Março de 2014
Teste de Filosofia do 11º C (segundo período lectivo, Março de 2014)

 

Eis um teste de filosofia, o segundo do segundo período lectivo, para o 11º C. O teste centra-se na epistemologia e demonstra, em certa medida, que é possível relacionar autonomamente a filosofia com as diversas ciências - com a astrofísica (teoria da relatividade), com a química (relógio químico de Prigogine), com a medicina (anarquismo epistemológico de Feyerabend) - superando os néscios que dizem que «a filosofia não pode intervir na área das ciências» como se estas fossem textos sagrados. Evitaram-se as escorregadias questões de escolha múltipla que, em muitos casos, não permitem ao aluno exibir e desenvolver o seu saber filosófico.

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia com 3º Ciclo, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA C
21 de Março de 2014. Professor: Francisco Queiroz

 

 

 
“O relógio químico (modelo de Bruxelas) exprime pelo menos duas leis da dialéctica. Em Kant, o entendimento é condicionado e faz a síntese do diverso da intuição empírica. Imre Lakatos equacionou as perspectivas internalista e externalista na validação das ciências e dividiu em três níveis cada Programa de Investigação Científica.“

 

1) Explique, concretamente, cada uma destas frases                                                       

 

II

 

2) Relacione, justificando:
2-A) Realismo crítico e teorias da relatividade geral e da relatividade especial de Einstein.
2-B) Yang/ Yin e quatro forças fundamentais da natureza.
2-C) Princípios da falsificabilidade e da testabilidade em Karl Popper e ciência normal/ciência extraordinária e incomensurabilidade dos paradigmas em Thomas Kuhn.
2-D) Anarquismo epistemológico em Paul Feyerabend e dúvida hiperbólica em Descartes

 

 

 

CORRECÇÃO DO TESTE DE FILOSOFIA (COTADO PARA 20 VALORES)

 

1) O relógio químico também chamado bruselator ou modelo de Bruxelas, testado por uma equipa dirigida por Ilya Prigogine, é um modelo de comportamento das moléculas de um gás: supondo que há dois tipos de moléculas, umas azuis e outras vermelhas, movendo-se ao acaso, num caos, isso não conduz a uma distribuição irregular das moléculas, mas a uma alternância bem ordenada, o sistema ora é todo azul ora é todo vermelho. Isto revela a lei dialética dos dois aspectos da contradição: numa contradição há dois aspectos, sendo em regra um o dominante e o outro o dominado, podendo a situação inverter-se. Revela ainda a lei do uno: todas as moléculas, por diferentes que sejam entre si, comunicam entre si e mudam de cor ao mesmo tempo, formando um Uno, um Todo (VALE TRÊS VALORES). Para Kant, o entendimento é condicionado pela sensibilidade porque recebe dela os conteúdos materiais (as imagens de árvore, rio, voo de pássaro, incêndio, etc). O entendimento sintetiza através das categorias de totalidade, unidade, pluralidade e outras os diversos dados empíricos da sensibilidade, unificando estes sob a forma de conceitos empíricos. Exemplo: depois de receber dezenas ou centenas de imagens de galos (fenómenos), o entendimento abstrai dos pormenores destes e redu-los à unidade, formando o conceito empírico de galo.(VALE TRÊS VALORES). Imre Lakatos, epistemólogo, defendeu que a ciência se estrutura em Programas de Investigação Científica (PIC). Cada um destes tem três níveis: o núcleo duro, conjunto das teses imutáveis; o cinto protector, conjunto das teses revisíveis, que podem ser rectificadas ou substituídas; a heurística, conjunto dos métodos de investigação livre, teórica e prática, que pode confirmar ou anular o PIC. O internalismo, posição sustentada por Lakatos, é a doutrina segundo uma teoria já é ciência mesmo que confinada a um só cientista, o seu autor, desde que apresente coerência interna e a experimentação a confirme, ao passo que o externalismo diz que uma teoria só é ciência se obtiver o assentimento externo do resto da comunidade científica, do governo e ministério da ciência, das revistas da especialidade, dos fóruns televisivos, do grande público (VALE TRÊS VALORES).

 

 

 

2) A) A teoria da relatividade geral de Einstein diz que espaço e tempo são uma só realidade, o espaço-tempo, que o universo é esférico, fechado, ainda que um raio de luz possa girar em círculo infinitamente dentro dele dado que a luz encurva na proximidade de grandes massas. Não há, portanto, rectas e planos infinitos como na geometria euclidiana mas o espaço é ondulado, «torcido», e essa visão é realismo crítico já que esta doutrina afirma que há um mundo real de matéria mas os olhos humanos e o senso comum não o captam tal como ele é.  A teoria da relatividade especial sustenta, entre outras coisas, que um corpo que atinja a velocidade da luz (300 000 quilómetros por segundo) viaja para o passado, o que é realismo crítico, contrário ao realismo natural que afirma que é impossível viajar ao passado. (VALE TRÊS VALORES).

 

2) B) Yang significa dilatação, movimento, crescimento, som, fogo, verão, na filosofia do taoísmo. Yin significa contracção, repouso, diminuição, água, inverno. Das quatro forças fundamentais, duas são Yang porque expandem, são centrífugas: o electromagnetismo ( luz, microondas, raio X) e a força nuclear fraca que desagrega o núcleo do átomo e produz radioactividade. As outras duas forças fundamentais sáo Yin porque contraem, contrariam a expansão do universo: a gravidade  e a força nuclear forte que mantém unidos os protões no núcleo do átomo (VALE DOIS VALORES).

 

2) C) O princípio da falsificabilidade de Popper estabelece que as ciências são conjuntos de conjecturas, isto é, as suas leis ou teses são potencialmente falsas, falsificáveis. Isso exige aplicar permanentemente o princípio da testabilidade: há que submeter a constantes testes experimentais as teses de uma ciência. Entre as várias teorias na mesma área científica ( exemplo: vacinar ou não vacinar na medicina preventiva; heliocentrismo versus geocentrismo na astrofísica) Popper defende que se deve escolher a mais verosímil, a que dá mais garantias, sublinhando que a ciência é uma aproximação incessante à verdade sem nunca abarcar o todo desta.

Thomas Kuhn discorda da hierarquização das ciências segundo o seu grau de verdade e diz que os paradigmas (modelos teóricos ou teórico-práticos que vertebram as ciências e os mitos) são incomensuráveis, não podem comparar-se entre si. Sustenta o descontinuísmo na história das ciências: há longos períodos de lenta evolução ou estagnação do paradigma de uma ciência, chamado ciência normal, durante décadas ou séculos, subitamente as anomalias acumulam-se e originam um paradigma contrário, dito ciência extraordinária, que acabará por destronar a ciência normal e substitui-la mediante uma revolução epistemológica (VALE TRÊS VALORES).

 

2) D)- Anarquismo epistemológico de Feyerabend é a filosofia que nega autoridade às ciências institucionais dominantes - a medicina química ou alopática com as transfusões de sangue, vacinas, exames radiológicos, biópsias e outras «estupidezes»; a física quântica; a psiquiatria com recurso a drogas, etc  - e pretende derrubá-las e abrir campo a uma larga democracia de base, tal como a autogestão dos anarquistas, elevando ao mesmo estatuto que as ciências universitárias a medicina natural, a medicina hopi, a  ervanária, a acupunctura, a astrologia, os rituais religiosos eficazes na cura, a dança da chuva, etc.

A dúvida hiperbólica de Descartes formula-se assim: «Se quando durmo me parecem verdadeiros os sonhos que tenho, quem me garante que acordado não continuo a sonhar? Assim, duvido de tudo o que vejo e ouço, da existência do mundo exterior, dos deuses, das ciências e da existência do meu próprio corpo e espírito. Nenhuma certeza tenho.»

Feyerabend duvida da verdade das ciências oficiais, que considera uma emanação dos interesses materiais e do desejo de prestígio dos industriais e comerciantes, dos médicos, dos jornalistas, dos filósofos e cientistas e nesse ponto tem algo em comum com a dúvida de Descartes (VALE TRÊS VALORES).

 

 

 

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Quinta-feira, 29 de Agosto de 2013
Equívocos de Aristóteles sobre géneros e contrários em «Categorias» e «Tópicos»

 

Sem embargo do seu brilhantismo como o maior pensador dialético da antiguidade ocidental, Aristóteles cometeu alguns erros. Escreveu:

 

«É evidente que os contrários surgem por natureza em torno de uma coisa idêntica, seja em espécie, seja em género: com efeito, a enfermidade e a saúde surgem no corpo do animal, a brancura e a negrura no corpo simplesmente, a justiça e a injustiça na alma. E é necessário que todos os contrários estejam ou no mesmo género, ou em géneros contrários, ou que sejam eles mesmos géneros: com efeito o branco e o negro - pois o seu género é a cor - enquanto a justiça e a injustiça estão em géneros contrários - pois o género de aquela é a virtude, o de esta é o vício - e o bem e o mal não estão em um género, mas eles mesmos vêm a ser géneros de algumas coisas.»

 

(Aristóteles, Categorias, capítulo XI, 15-30; o bold é colocado por mim).

 

Ao contrário do que disse Aristóteles, justiça e injustiça estão no mesmo género: o género "distribuição ou regulação do bem entre os indivíduos". E  bem e mal estão no mesmo género: o género ética.  E branco e preto pertencem a (sub)géneros diferentes: branco ao género cores claras e negro ao género cores escuras. Cada coisa ou qualidade pertence, em simultâneo a dezenas de géneros. Os contrários pertencem ao mesmo género e cada um deles em separado pertence a géneros diferentes.

 

OS GÉNEROS SÃO SEMPRE ANTERIORES ÀS ESPÉCIES?

 

Aristóteles escreveu:

 

«Assim, pois, serão também simultâneas por natureza todas aquelas coisas que procedem de um mesmo género na mesma divisão; mas os géneros são sempre anteriores às espécies: com efeito, não são reversíveis segundo a implicação; por exemplo, existindo o aquático, existe o animal, enquanto que existindo o animal, não existe necessariamente o aquático.» (Aristóteles, Categorias, Capítulo 13, 15 a, 5-10; o bold é posto por mim)

 

Aristóteles falha, aqui, na  pensamento dialético: do mesmo modo que não há alto sem baixo, nem dia sem noite, não há género sem espécies. O género não é, pois, anterior às espécies que o compõem, em geral, mas pode ser anterior a esta ou àquela espécie que nele tenham surgido posteriormente. Género e espécies são concomitantes, coetâneos, nascem em simultâneo, do mesmo modo que alto e baixo, grande e pequeno.

 

A DIFERENÇA NÃO É GÉNERO DE NADA?

 

Aristóteles escreveu ainda:

 

«A diferença não é género de nada. Que isto é verdade resulta evidente: pois nenhuma diferença indica quê é, mas mais precisamente qual, como por exemplo, o pedestre e o bípede. (...)

Também se  se incluiu a diferença no género, por exemplo (dizendo que) o impar é uma diferença do número, não uma espécie: tão pouco é plausível que a diferença participe do género. Com efeito, tudo o que participa do género ou é uma espécie, ou é um indivíduo; ao contrário, a diferença não é espécie nem indivíduo: assim, pois, é evidente que a diferença não participa do género. De modo que tão pouco o ímpar será, uma espécie, mas sim uma diferença, posto que não  participa do género.» (Aristóteles, Tópicos, Livro IV, Capítulo II, 122 b, 15-25; o destaque a bold é posto por mim)

 

Aristóteles equivoca-se: o ímpar é uma diferença no género número e, portanto, é o princípio constitutivo da espécie número ímpar, é a essência desta. O  género número é divisível em duas espécies, sob uma certa óptica: a espécie número par e a espécie número impar, consoante a metade de cada número de cada espécie seja número inteiro ou não o seja.

 

Aristóteles erra igualmente ao dizer que a diferença não pode ser género. Senão vejamos: como se forma a diferença específica, ou seja, a particularidade que distingue uma espécie das outras? Forma-se através da intersecção de dois ou mais géneros distintos. Exemplo: racionalidade e corporeidade humana (uma cabeça, dois braços, duas pernas, etc) é a diferença específica entre a espécie homem e as espécies galinha, macaco, elefante, cão, etc, que existem no seio do género animal. Mas racionalidade é género autónomo: há racionalidade positivista e racionalidade metafísica, há racionalidade nos seres humanos e em outras criaturas como extraterrestres, anjos, deuses. Foi da intersecção entre o género animal e o género racional, que nasceu animal racional, e da intersecção entre o género animal e o género Portanto, a diferença específica - neste é género, numa área distinta do género em que ela se insere.

 

QUATRO TIPOS DE OPOSIÇÃO QUE SÃO AFINAL TRÊS

 

«De quatro maneiras se diz que uma coisa se opõe a outra: ou bem como a respeito de algo, ou bem como os contrários, ou bem como privação e possessão, ou como afirmação e negação. Para dizê-lo com um exemplo, cada uma das coisas deste tipo se opõe: como o a respeito de algo, por exemplo, o dobro e a metade; como os contrários, por exemplo, o bom e o mau; como a privação e a possessão, por exemplo, a cegueira e a vista; como afirmação e negação, por exemplo, está sentado- não está sentado.» (Aristóteles, Categorias, Capítulo X, 11 b, 20-25; o destaque a negrito é de minha autoria).

 

Crítica: a  afirmação e a negação são espécies dentro do género contrariedade. Não podem ser extrinsecadas deste. São um aspecto proposicional da contrariedade e da contradição. Também a privação-possessão são o aspecto formal da contrariedade: cada contrário está privado do outro, por exemplo, o bom é a privação do mau e vice-versa. Bom e mau são apresentados por Aristóteles como contrários mas poderiam ser simultâneamente apresentados como possessivo (de bom)-privativo (de bom).

 

Há, a meu ver,  três tipos de opostos no mesmo plano: contrários (exemplo: bom e mau, fogo e madeira, fogo e água), semi-contrários - que Aristóteles designa de intermédios - e colaterais ( adjacentes, diferentes mas isentos de contrariedade como,por exemplo, os números 5 e 6, ou a casa e a horta que a rodeia). E todos eles pertencem ao género supremo contradição, que se encontra num plano acima.

 

  

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Terça-feira, 10 de Janeiro de 2012
Questionar Kant,: por que razão a categoria de causa-efeito não está no mesmo grupo que a de necessidade-contingência?

 

Kant definiu, de modo  imperfeito,doze categorias ou conceitos puros do entendimento que permitem moldar e pensar os fenómenos. Como categorias da  relação colocou:

 

Inerência e subsistência

(substantia et accidens)

 

Causalidade e dependência

(causa e efeito)

 

Comunidade

(acção recíproca entre

o agente e o paciente)
 

(Kant, Crítica da Razão Pura, página 111, Fundação Calouste Gulbenkian).

 

E como categorias da modalidade Kant definiu as seguintes:

 

Possibilidade-Impossibilidade

Existência - Não-existência

Necessidade-Contingência.

 

Por que razão sendo a necessidade a lei de causa-efeito uniforme e infalível não figura nas categorias da relação, junto da causa-efeito, mas sim nas da modalidade? A causa-efeito é género e a necessidade - as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos nas mesmas circunstâncias - é uma sua espécie. Outra espécie deste género causa-efeito é a contingencialismo ou indeterminismo - nas mesmas circunstâncias, as mesmas causas não produzem sempre os mesmos efeitos.

 

Era pois mais lógico que Kant tivesse enunciado umas categorias da regularidade ou da causalidade que seriam:

 

Causa-efeito.

Causa-efeito uniforme e infalível (necessidade),

Causa-efeito falível (contingência).

 

Kant não possuía um pensamento completamente dialético em matéria de categorias do entendimento que permitisse arrumar estas de forma perfeitamente racional..  

 

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Domingo, 8 de Janeiro de 2012
Questionar Kant: a realidade e a negação podem coexistir como categorias da qualidade?

 

Kant definiu doze categorias ou conceitos puros do entendimento que permitem moldar e pensar os fenómenos. Como categorias da qualidade colocou:

 

 

Realidade.

Negação.

Limitação.

 

(Kant, Crítica da Razão Pura, página 111, Fundação Calouste Gulbenkian).

 

Parece-me que realidade pertence ao género ontológico e negação ao género lógico. Kant evidencia uma certa confusão, uma certa falta de ordenação dialética, ao misturar espécies de géneros diferentes sob o teto do género «qualidade». Tanto negação como limitação são, numa certa ótica, atributos da realidade, que é o suporte: esta afirma algo e nega outra coisa - por exemplo, o barulho de motores ou de uma discoteca é uma realidade que afirma o ruído e nega o silêncio. Por outro lado a realidade do universo é limitada ou ilimitada, no tempo e no espaço. Limitação pertence ao género perológico ( de peras, limite, em grego) e interseta tanto realidade como irrealidade. Se Kant pretendia constituir as categorias da qualidade no plano da lógica deveria, talvez, fazê-lo assim:

 

Afirmação.

Negação.

Abstenção ou privação de juízo.

 

Se pretendia constituir as categorias do ser talvez pudesse fazê-lo assim:

 

Realidade

Irrealidade.

 

 

Realidade deveria, no esquema lógico montado por Kant, figurar nas categorias da modalidade que são as seguintes, segundo o filósofo:

 

Possibilidade-Impossibilidade

Existência - Não-existência

Necessidade-Contingência.

 

Em sentido lato, a existência é a realidade. O que existe é real, o que não existe é irreal. Em sentido estrito, a existência, entendida como vida e presença material, não coincide com a realidade visto que esta é concebida como sendo de caráter ideal ou teológico. Hegel dizia que há existentes que não são reais (exemplo: um homem vestido de guerreiro medieval a passear nas ruas da Berlim do século XIX não era real, estava fora do seu tempo). Kierkegaard dizia que Deus é real mas não existe - existência em sentido material: «Deus é, não existe, o homem existe, não é».

 

Kant não possui um pensamento verdadeiramente dialético em matéria de categorias do entendimento.

 

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Sábado, 7 de Janeiro de 2012
Questionar Kant: a totalidade é categoria de quantidade?

 

Kant definiu doze categorias ou conceitos puros do entendimento que permitem modelar e pensar os fenómenos. Como categorias da quantidade colocou:

 

 

Unidade.

Pluralidade.

Totalidade.

 

(Kant, Crítica da Razão Pura, página 110, Fundação Calouste Gulbenkian).  

 

Mas a totalidade é uma categoria da quantidade? Qual é a quantidade que há num todo? Unidade sugere um, pluralidade designa dois, três, quatro, cinco, vinte, mil, um milhão, etc. A totalidade opõe-se à parcialidade, o todo opõe-se à parte. Por que razão o todo não é uma qualidade mas sim uma quantidade? Parece-me que o todo é simultaneamente uma quantidade determinada (um) e uma qualidade (por exemplo: energia; alma; turma de alunos; sabedoria; vitalidade, etc). Note-se que emprego o termo qualidade num sentido distinto, mais vasto, do que o usado em Aristóteles - neste a qualidade é um predicado, um acidente da substância, como por exemplo a cor branca é uma qualidade da substância "este cavalo" - abrangendo as substâncias ou entes individuais (exemplo: esta cidade de Beja, esta região do Alentejo, são qualidades do ente ou «ser» Portugal, etc, etc). Mas, no todo, aquilo que o faz ser todo é a continuidade e contiguidade das suas partes entre si, ou seja, uma qualidade unitária que subjaz à pluralidade das partes, se as houver.

 

Em suma: se Kant colocou a totalidade como categoria da quantidade, deveria igualmente colocá-la como categoria da qualidade. E deveria emparelhar a totalidade com a parcialidade, visto que estão dialeticamente ligadas.

 

O todo é uma espécie dentro do género unidade, é uma modalidade de unidade. A parte é outra espécie do género unidade.

 

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