No capítulo IV, O Problema Mente-Corpo, do seu livro «Que quer dizer tudo isto? Uma iniciação à filosofia» Thomas Nagel distingue três teorias: o fisicalismo ou materialismo, o dualismo e a teoria do aspecto dual.
«Existe outra teoria possível, que é diferente, quer do fisicalismo quer do dualismo. O dualismo é a perspectiva segundo a qual és composto por um corpo e por uma alma e a tua vida mental se desenrola na tua alma. O fisicalismo é a perspectiva segundo a qual a tua vida mental consiste em processos físicos no teu cérebro. Contudo, outra possibilidade é a de a tua vida mental se desenrolar no teu cérebro, mas todas essas experiências, sentimentos, pensamentos e desejos não serem processos físicos no teu cérebro, o que equivaleria a dizer que a massa cinzenta de milhares de milhões de células nervosas no teu crânio não é apenas um objecto físico. Tem muitas propriedades físicas - desenrolam-se nele grandes quantidades de actividade química e eléctrica - mas também tem processos mentais.»
«A perspectiva de que o cérebro é o lugar da consciência mas que os seus estados conscientes não são apenas estados cerebrais, é designada por teoria do aspecto dual. Chama-se assim porque significa que quando comes um chocolate se produz um estado ou um processo no teu cérebro com dois aspectos: um aspecto físico, que envolve diversas transformações químicas e eléctricas, e um aspecto mental- a experiência do sabor do chocolate. Quando este processo ocorre, um cientista que olhe para o teu cérebro será capaz de observar o aspecto físico, mas tu próprio passarás, interiormente, pelo processo mental: terás a sensação de saborear chocolate.» (Thomas Nagel, Que Quer dizer tudo isto?, Gradiva, pag 34-35; a letra negrita é de minha autoria.)
Não sabendo aplicar a navalha de Ockham, método sintético para eliminar as redundâncias, Nagel caiu na duplicação: definiu a teoria do aspecto dual como distinta do fisicalismo quando se trata da mesma coisa.
Os materialistas em geral - excepto os mecanicistas - não negam o pensamento como emanação especial da matéria física, diferente desta. Defendem que o pensamento é dual na sua natureza: radiação da matéria física enquanto veículo empírico, e oposição (alteridade) face à matéria, enquanto veículo abstracto.
Nagel é, pois, deficiente na sistematização conceptual.
Nota: No Centro de Formação Margens do Guadiana, com sede na Escola Secundária com 3º Ciclo Diogo de Gouveia, R. Luís de Camões, 708-508 BEJA (telefone: 284 328 063), estão abertas as inscrições para a acção de formação para professores de filosofia (Grupo 410) «A teoria geral dos valores e a Ética, na perspectiva do método dialéctico», equivalente a dois créditos, 50 horas de duração (50HP), CCPFC/ACC 52326/08 CF. O formador é o autor deste blog.
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