Sendo o Vaticano dos cardeais um «ninho de víboras», infiltrado por vaidosos e corruptos prelados e por maçons, é espiritualmente eficaz a missa católica rezada nas paróquias, isto é, na base da igreja católica romana? Este é um dos problemas filosóficos que me desafia. Lê-se num livro anti-corrupção escrito em 1998 por um núcleo de resistentes dentro da cúpula vaticanista:
«Depois da morte de Paulo VI, a 6 de Agosto de 1978, os mass media davam o arcebispo de Génova, cardeal Guiseppe Siri - um verdadeiro gigante do sacro colégio pela sua dimensão pastoral, pela sua formação intelectual, pela sua coerência entre fé e vida, pela sua fidelidade à tradição da Igreja - como Papa já eleito, antes de entrar no conclave. Tivera encontros nos dias anteriores com cardeais, embaixadores, políticos e prelados de todas as origens e correntes. O arcebispo Siri, de discurso calmo, determinado e incisivo como uma espada, sabia que era mal visto no Vaticano por uma certa classe maçónica de salão. Não adivinhava o golpe baixo que ela lhe estava a preparar pelas costas, no sentido de o apear daquele plebiscito de prognósticos e de consensos. Naturalmente, os gigantes são observados à distância para assim se apreci8ar melhor a sua estatura ciclópica e para não se correr o risco de os considerar parecidos com os monstros. »
«Na manhã do conclave, o cardeal Siri mal teve tempo de tomar conhecimento pelos jornais de uma entrevista, que não dera, a respeito da eficácia da ação do futuro Papa e daquilo que deveria fazer, em que lhe atribuíam afirmações delicadas e perigosas, exactamente para lançar sombras sobre o cardeal candidato. O arcebispo de Génova nem sequer teve tempo para desmentir a entrevista: a porta do conclave fechou-se atrás de si. Os objectivos daquela camarilha ecoaram no conclave, reunido de imediato que, por prudência - assim se disse - pôs de parte a grande figura que todos previam» (I Millenari, O Vaticano contra Cristo, pág.159-160, Editorial Notícias; o destaque a negrito é posto por nós).
Muitas outras manobras baixas como o assassínio do papa João Paulo I, em 28 de Setembro de 1978, a pedofilia consentida em milhares de colégios católicos e sacristias, e um clima de permanente opressão dos bispos sobre sacerdotes e leigos que executam, sem poder contestar sindicalmente, as ordens vindas de cima ( não de Deus, mas da arrogância satânica de purpurados) caracterizam a cúpula da igreja católica romana, o Vaticano. Será o papa Francisco um maçon infiltrado? Aponta-se-lhe ter colaborado com a ditadura militar argentina em 1976, no desaparecimento de dois sacerdotes antifascistas e, por isso, não deveria ser maçon nessa época. Creio que as missas ditas na base por sacerdotes bem intencionados poderão ter um certo valor santificante. Mas reservo-me: sou gnóstico e não creio na santidade dos corruptos bispos, arcebispos e cardeais, salvo na de alguns poucos. A igreja católica é, como os regimes comunistas leninistas, organizada segundo um modelo totalitário em que o chefe supremo ( o papa; o camarada Estaline, o presidente Mao Ze Dong, etc) é endeusado: operários honestos na base a trabalhar por ideais, uma classe burocrática de dirigentes do partido marxista-leninista e do Estado, a gozar com quintas luxuosas e armazéns de produtos de luxo privados e outras formas de corrupção. O papa é talvez um representante de Satanás na Terra. Há outros.
E afinal a igreja de hoje é a mesma que fez milhões de vítimas com a Inquisição e as cruzadas, a igreja de Satã, que nada tem a ver com o despojamento de Cristo.
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Na Metafísica, Aristóteles estabelece três princípios na génese dos corpos sensíveis forma, privação e matéria mas correlaciona-os de forma equívoca.
«Assim pois, os elementos e princípios de estes são os mesmos (se bem que distintos para coisas distintas), mas não é possível dizê-lo a respeito de todas as coisas assim, sem mais, mas analogicamente, como quem diz que há três princípios: forma, privação e matéria. Não obstante, cada um destes é distinto para cada género: assim, branco, negro e superfície para a cor, luz, obscuridade e ar, dos quais se geram o dia e a noite.»
(Aristóteles, Metafísica, Livro XII, 1070 b, Editorial Gredos, pags 478).
É sabido este é um dos grandes conceitos do aristotelismo - que a matéria-prima (hylé) não existe em acto: é ser em potência, ou seja, fornece o conteúdo indeterminado a cada ser, conteúdo que a forma vai moldar e fazer passar à existência, ao acto. Por isso, Aristóteles admite, no texto seguinte, uma matéria geradora, à sua maneira, como substrato, do calor e do frio:
«Por conseguinte, nenhum elemento pode ser substância nem relação. Mas necessariamente teria que sê-lo. Logo não são os mesmos os elementos de todas as coisas.»
«Ou, como dizíamos, são-no em certo sentido e em certo sentido não, por exemplo, seguramente o calor é a modo de forma dos corpos sensíveis e o frio é, à sua maneira, a privação, enquanto que matéria será aquilo que, primeiramente, e por si, é em potência um e outro, e substâncias serão estas coisas, assim como as que procedem destas tendo estas como princípios, ou se algo dotado de unidade se gera a partir do calor e do frio, por exemplo, carne ou osso, já que necessariamente o gerado há-de ser distinto dos princípios.» (Aristóteles, Metafísica, Livro XII, 1070 b, Editorial Gredos, pags 477; o bold é nosso).
O calor define-se hoje como energia térmica em trânsito ou energia cinética elevada que circula em cada corpo e entre corpos diferentes e associa-se, grosso modo, a temperaturas do meio ambiente superiores a 15º -20º. Segundo a física actual, a temperatura de um sistema medida da energia cinética ligada ao movimento (vibração) aleatório das partículas que compõem esse sistema físico - é directamente proporcional à energia cinética média das partículas que o constituem.. E o frio é uma sensação subjectiva e intersubjectiva correspondente à baixa energia cinética dos corpos e, em termos de termómetro, a temperaturas do meio ambiente abaixo e pouco acima de 0 graus centígrados. Ao definir o frio como privação, Aristóteles erra: retira ao frio a sua essência ontológica o frio é algo por si, do mesmo modo que a imobilidade e o movimento lento de átomos e electrões são algo por si mesmos. Claro que o frio é privação de calor privação em sentido relativo mas não é privação absoluta, nada, como Aristóteles parece indiciar. Se o calor é uma forma, ligada à grande mobilidade dos electrões, o frio é igualmente uma forma contrária, ligada à baixa mobilidade das partículas invisíveis. Calor e frio são convertíveis entre si pela lei dialéctica da conversão da quantidade em qualidade.
A divisão dos princípios operada por Aristóteles é:
Forma Privação Matéria (ex:calor) (ex: frio) (ex: substrato do calor e frio)
De facto, a matéria um não ser convertível em ser deveria ocupar a posição intermédia entre a forma e a privação absoluta ou nada, sem embargo de matéria e forma serem contrários e o seu intermédio ou síntese ser o composto. (exemplo: a cadeira é um composto da forma e da matéria-prima ou hylé subjacente à madeira que já é matéria derivada ou enformada).
A matéria é contrária à forma mas é também contrária à privação absoluta ou nada. Por sua vez a forma, por si eterna - como diz Aristóteles «ninguém produz nem engendra a forma, mas produz-se esta coisa singular, e gera-se o composto de matéria e forma» (Metafísica, Livro VIII, 10043b) é contrária à matéria e duplamente contrária à privação absoluta, ao nada.
Aristóteles sustenta, erradamente, que uma coisa só pode ter um contrário, no máximo: «Mas, em tal caso, uma só coisa terá dois contrários, o que é impossível.» (Aristóteles, Metafísica, Livro XII, 1056 a, Editorial Gredos, pags 410; o bold é nosso).
Sabe-se, por exemplo, contrariando a tese de Aristóteles, que a burguesia liberal tinha e tem por contrários a aristocracia feudal, por um lado, e o proletariado, por outro lado. E o proletariado tem diversos contrários: a burguesia liberal, a aristocracia feudal, a burocracia «marxista-leninista», estalinista, que gere os estados socialistas.
Portanto, a verdadeira divisão racional dos três princípios das coisas sensíveis é:
Forma Matéria Privação
(exemplos: (movimento dos electrões)
calor, frio)
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