Os que acusam o ensino clássico da filosofia, baseado na interpretação de textos de Platão, Aristóteles, Descartes, Leibniz, Heidegger ou Sartre, entre outros, de ser apenas «história da filosofia» sofrem de uma distorsão intelectual.
Na verdade, opor a filosofia à história da filosofia, sem identificar um termo médio, é antidialéctico. É um reducionismo empobrecedor da realidade. A dialética considera em cada assunto um par de contrários e o seu intermédio, isto é, uma tríade susceptivel de redução à díade.
Assim, ensinar Platão ou Kant ou Heidegger, questionando as suas ideias, não é fazer história da filosofia mas filosofia na história ou historicizada.
Há portanto três posições: filosofia a-histórica, no instante presente; filosofia na história (leitura e debate livre das ideias e teorias dos filósofos antigos e contemporâneos); história da filosofia (datação das teorias filosóficas e narração da vida dos filósofos consagrados).
Exemplo de filosofia a-histórica: «Nesta aula, abordaremos a ética dos transplantes de orgãos humanos. A questão é: será eticamente correcto extrair o coração, os pulmões e o fígado a um corpo humano sem sinais vitais sem ter consultado previamente a pessoa que nele habitava para lhe pedir autorização?»
Exemplo de filosofia na história: «´Passo a ler parte do excerto 1029a do livro VII da «Metafísica» de Aristóteles: "Fica esquematicamente dito , de momento, o que é a substância (ousía): aquilo que não se diz de um sujeito, mas isso de que se dizem as demais coisas. Não obstante, convém não ficar somente nisto, pois isto é insuficiente. Isto é em si mesmo, obscuro, e ademais, a matéria vem a ser substância; com efeito, se ela não é substãncia, se nos escapa que outra coisa possa sê-lo, já que se se suprimem as demais coisas, não parece que fique nenhum outro substrato "(fim de citação). Ora a pergunta que vos quero pôr, caros alunos, é a seguinte: sendo a matéria, para Aristóteles, destituída de forma, e sendo a união da forma com a matéria a criadora da substância, parece-vos que a matéria prima indeterminada já possui algo de substância ou esta está toda na forma ou está por inteiro no composto forma-matéria?
Exemplo de história da filosofia: «Aristóteles, nascido em Estagira em 384 A.C., foi durante 19 anos discípulo de Platão, até à morte deste, e fundou cerca de 334 A.C o liceu onde ensinava ao passear em círculo com os seus alunos, designados por peripatéticos».
Quem não compreende esta coexistência, numa mesma aula, de filosofia a-histórica, filosofia na história e história da filosofia e se deixa arrastar na falácia de que estudar o «Timeu» de Platão ou a «Metafísica» de Aristóteles "não é filosofar mas apenas aprender história da filosofia", ainda pensa muito pouco e mal.
Nota: Este artigo insere-se na filosofia analítica, ainda que se oponha a uns tantos «divulgadores da filosofia analítica» em voga.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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