Sábado, 10 de Setembro de 2011
Incoerências de Strawson sobre categorial: «homem e mulher são categoriais mas manteiga e coisa não o são»...

 

De acordo com o que se lê no Dicionário Oxford de Filosofia de Simon Blackburn, conclui-se que o filósofo analítico inglês  Peter Frederik Strawson (23 de Novembro de 1919- 13 de Fevereiro de 2006), catedrático da Universidade de Oxford, se equivocou ao delinear o conceito de categorial. O categorial é,  uma substância segunda (adoptando a terminologia de Aristóteles), isto é, a essência de uma espécie de objectos ou entes. Senão vejamos:

 

«Categorial - Termo usado por Locke (Essay, m.3) e ressuscitado por Strawson (Individuals, pag 168) para referir um substantivo ou "predicável" como "homem", "mulher" ou "tigre" que fornece um princípio para individuar e contar exemplos de coisas de um tipo. "Manteiga" e "coisa" não são categoriais porque não há qualquer princípio que permita contar manteiga (ao contrário do que acontece com porções de manteiga) nem coisas (nunca podemos distinguir quando temos uma coisa ou duas. "Vermelho" não é um categorial mas sim um adjectivo." (Simon Blackburn, Dicionário de filosofia, pag 61, Gradiva; o negrito, excepto o da primeira frase, é colocado por mim).

 

 

Se a responsabilidade destes exemplos confusos é de Strawson - nunca se pode excluir a hipótese de ser do próprio Blackburn, um grande fabricante académico das nuvens da confusão "analítica" que, aliás, participa nesta definição nebulosa no Dicionário Oxford-  concluiremos que o catedrático inglês nascido em 1919 pensava equivocamente.

 

Nunca podemos distinguir quando temos uma coisa ou duas? É ridícula esta asserção. Quando temos dois guarda-chuvas (duas coisas) na mão ou quando só temos um guarda-chuva (uma coisa), é impossível distinguir numericamente as duas situações? Coisa é tão categoriável como "mulher" ou "tigre". Dizemos: "Há três coisas que quero dizer-te hoje àcerca das duas mulheres que conhecemos ontem e do tigre que vimos no jardim zoológico". Nesta proposição, tanto o substantivo coisa como os substantivos mulher e tigre permitem individuar, isto é, designar esta coisa, aquela mulher ou aquele tigre.

 

Se a essência-substantivo homem é um categoriável - com efeito diz-se: "João e Francisco são dois homens" - por que razão a essência-substantivo manteiga não é um categoriável, já que se pode individuar e contar («Olha, comprei três pacotes de manteiga, de 250 gramas cada» ?)

 

 

 

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Quinta-feira, 28 de Setembro de 2006
Toda a dedução está isenta do carácter de verosimilhança? (Crítica de Manuais Escolares-VII)

 

A generalidade dos autores de manuais escolares vinculados à filosofia analítica considera que os argumentos indutivos admitem graus de verosimilhança e que os argumentos dedutivos não possuem verosimilhança.

 

Ouçamos J.Neves Vicente (o negrito é nosso):

 

«Vimos já que os argumentos dedutivos ou são válidos ou são inválidos. Não há meio termo. Os argumentos indutivos, esses sim, é que admitem graus: podem ser mais ou menos fortes, mais ou menos verosímeis, mais ou menos prováveis.» (J.Neves Vicente, «Razão e Diálogo», manual de Filosofia do 11º ano, Porto Editora, Porto, pag 26).

 

É um erro. Há argumentos dedutivos que não são categoricamente verdadeiros ou falsos, isto é, que possuem versomilhança como, por exemplo, o seguinte:

 

«Talvez existam deuses geradores de mundos. Talvez o nosso mundo tenha sido gerado por um ou vários deuses». 

 

Este é um argumento dedutivo, composto por juízos indefinidos, problemáticos, que possui grau de verosimilhança, é mais ou menos forte, mais ou menos fraco. A dedução pode ter lugar com juízos problemáticos, começados por «talvez», «é possível», «é provável», etc.

A generalidade dos pensadores da analítica não sabe distinguir, com precisão, a dedução da indução. Nunca pensaram, a fundo, na questão. E depois mergulham em paralogismos como o da citação de J.Neves Vicente, aliás repetida em muitos outros manuais.

 

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