O importante livro «O problema do conhecimento» do filósofo postivista lógico Alfred Jules Ayer (Londres, 29 de Outubro de 1910- Londres, 27 de Junho de 1989) padece de algumas confusões.
O que designo como realismo natural, que postula que há um mundo real de matéria fora da minha mente e o percepcionamos tal como é, Ayer designa como realismo ingénuo. O que classifico como realismo crítico, teoria que postula que há um mundo real de matéria fora da minha mente e que não o percepciono como realmente é (exemplo: as cores, sons, cheiros e sabores são invenções da minha mente, segundo Descartes) Ayer classifica como teoria causal. Esta última designação merece-me alguma reserva porque a causalidade também existe no realismo ingénuo ou natural.
Ayer começa com uma leve confusão:
«No sentido em que é compatível com o realismo ingénuo a teoria causal é compatível também com o fenomenismo, isto é, com a tese de que os objectos físicos são construções lógicas de dados sensoriais...»
(A.J. Ayer, O Problema do Conhecimento, Editora Ulisseia, pág. 98; o destaque a negrito é posto por mim)
Corrijamos o erro da tese acima: a teoria causal, isto é, o realismo crítico , que postula haver mundo de matéria exterior é incompatível com o fenomenismo, que duvida de ou nega a realidade do mundo material a que se reportam os dados sensoriais. São ontologicamente opostos, semi contrários.
Ayer, que classifica como fenomenista o idealismo de Berkeley, escreve:
«Ele (Berkeley, nota nossa) admitiu que as coisas vulgarmente conhecidas por objectos físicos podiam continuar a existir quando só Deus as percebe; e dizer isto é dizer que tais coisas não são em qualquer sentido corrente percebidas por alguém. Mas seja qual for a posição de Berkeley, o fenomenista não nega que há objectos físicos. O que afirma é que se os há são constituídos por dados sensoriais.»
(A.J. Ayer, O Problema do Conhecimento, Editora Ulisseia, pág. 99; o destaque a negrito é posto por mim)
Há aqui uma incoerência: se um objecto é físico não pode ser constituído por dados sensoriais, tem objectividade material para além da nossa percepção sensorial. Se é formado de percepções sensoriais,, transforma-se em objecto não físico, fenoménico ou ideal.
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Nota- O autor deste blog está disponível para ir a escolas e universidades dar conferências filosóficas ou participar em debates.
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Alfred Julius Ayer (Londres, 29 de Outubro de 1910- Londres, 27 de Junho de 1989), um dos filósofos analíticos mais célebres do século XX, positivista lógico, estabeleceu distinções imperfeitas do ponto de vista lógico-dialéctico. Uma delas é a oposição realismo ingénuo- teoria causal da percepção.
Escreveu:
«O herdeiro natural do realismo ingénuo é a teoria causal da percepção. Para ela se volta a maior parte dos convictos de haver base para sustentar que os objectos físicos não são directamente percebidos. Até certo ponto já a consideramos ao tratar da forma causal do argumento da ilusão. O ponto de partida é provar a ciência que os objectos ordinariamente percebidos, o mundo das cores, ruídos, aromas, do senso comum é criação nossa. De isto se infere ou que não há objectos físicos ou, mais vulgarmente, que eles estão disfarçados. Nesta concepção, embora percebamos objectos físicos, não os percebemos em seu estado natural; nunca aparecem em público sem retoque. Não podemos eliminá-lo pois a nossa presença é responsável pela sua existência, mas podemos teoricamente descontá-lo. »(A.J. Ayer, O Problema do Conhecimento, Editorial Ulisseia, pág. 94; o destaque a negrito é posto por mim).
Note-se a ambiguidade da frase:«Não podemos eliminá-lo pois a nossa presença é responsável pela sua existência...». Como pode a nossa presença ser responsável pela existência do objecto? Isso só acontece no idealismo - em Berkeley, David Hume ou Kant, por exemplo - em que a mente produz o objecto "físico". Ora estamos a tratar do realismo crítico - que Ayer designa por «teoria causal da percepção» - em que o objecto físico existe mesmo, no real exterior a nós, ainda que não o percebamos integralmente como é, e como tal não somos responsáveis pela existência dele...
Sublinho que revela falta de clareza opor a realismo ingénuo a denominação teoria causal da percepção. O termo causal pertence ao género etiológico e o termo realismo ingénuo pertence ao género ontognosiológico. As denominações não são contrárias, não pertencem ao mesmo género. Causalidade perceptiva e realismo ingénuo são definições colaterais, não se excluem. O deficiente raciocínio dialéctico de Alfred Julius Ayer é seguido, acriticamente, por dezenas de milhar de professores de filosofia.
Aquilo que Ayer designa por "teoria causal da percepção" deve ser designado, em nome do rigor de pensamento, por realismo crítico, doutrina que, numa das suas versões, de Descartes e Locke, sustenta que as cores, sabores, cheiros, dureza não existem nos objectos físicos exteriores à nossa mente mas apenas existem nesta (qualidades secundárias) sendo os objectos exteriores compostos de forma, tamanho, número e movimento e uma matéria ténue e indeterminada (qualidades primárias).
Porque o realismo ingénuo é uma teoria tão causal quanto o realismo crítico: para o primeiro, o objecto físico externo, com a sua forma, cor, tamanho, grau de ductilidade, etc., é a causa da percepção interna do objecto a qual inclui forma cor, tamanho, grau de ductilidade, similares ao objecto exterior, tipo imagem de espelho.
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