Andrés Ortiz-Osés, catedrático aragonês da universidade de Deusto,de 76 anos, talvez o melhor filósofo espanhol vivo, escreveu uma série de aforismos intitulados «Vida e Aforística». Citamos alguns.
«1. A razão implica explicando: a razão aforística explica implicando. »
«23. Há quem não creia em Deus porque Deus não crê nele.»
«63. Deus é omniperspectivístico: uma utopia.»
«69. Santo Inácio escreveu uma contemplação para alcançar amor: deveria ter escrito outra para alcançar humor.»
«98. Não quero ter razão: quero ter amor».
«99. Sem ego não funcionamos: e com ego disfuncionamos.»
«103. Tenho um colega cujo símbolo é o coice e o martelo.»
«124. Quem não se meteu no armário não tem que sair».
«132. Moderação em tudo: inclusive moderar-se na moderação».
«156. Há que crer em algo porque a realidade é incrível».
«160. Schopenhauer não podia viver sem os cães: e nós não poderíamos sobreviver filosoficamente sem Schopenhauer, o cachorro.»
«169. Em Espanha costuma dizer-se que não há nada pior que os vascos: excepto talvez os espanhóis (Para M. Egiraun).»
«171. O povo é muito inteligente: sobretudo se vota em nós».
«254. Interpretar é coimplicar».
«263. O segredo da vida: que há ou não há Deus».
«325. Estamos hoje em dia mais sós que nunca».
«341. Em lugar de defender-me, deixei que atacassem os meus temas: assim o ego perde o lastro e posso descansar em paz, deixando que o escrito se defenda a si mesmo.»
«528. O dinheiro em euros torna-nos (n)euróticos.»
«556. Alguém afirma que não temos alma: mas o mais provável é que não a tenha ele.»
(Diccionario interdisciplinar de Hermenéutica, dirigido por A.Ortiz-Osés y P.Lanceros, Universidad de Deusto, Bilbao, 2006, pp.546-558; o destaque a negrito é posto por nós).
E em Y sentidos y sinsentidos, outro item deste Dicionário, Andrés Ortiz-Osés escreveu ainda outros aforismos:
«32. O amor a alguém em particular costuma ser à custa dos outros em geral, e vice versa».
«74. Retiro-me da realidade do mundo, não por virtude mas por virtualidade.»
«87. É preferível estar mal com o bem do que bem com o mal».
«109. A lei do desejo de Almodóvar: vida sem mediar, eros sem sublimar, morte sem remediar. Política em lugar de cultura: típico em vez de arquetípico.»
«117. O pensamento mágico é um pensamento metafísico: pois pensa as realidades na sua coimplicidade, simpatia ou juntividade. »
«133. Quase me exigem assinar pelos insubmissos. Mas eu sou insubmisso até com os insubmissos.»
«168. Políticos: pregadores do mais aquém.»
«196. O homem supera o animal assumindo as suas destrezas em um nível superior; assim, o importante olfacto animal converte-se em conhecimento simbólico no homem».
«205. Olhou-me como se fosse seu inimigo de classe: ignora a classe de inimigo que posso chegar a ser.»
«210. Viajar: mais que por estar lá, por não estar aqui.»
«217. Interessa-me não tanto quando falta a razão, mas quando sobra: transracionalismo.
«226. A democracia implica certa feminização da sociedade e, portanto, flexibilização. Por isso, remete mitologicamente ao plano de fundo cretense de simbologia matriarcal-feminina (a pax minoica).»
«231.Paradoxalmente um país ou indivíduo complexo costuma ser sem complexos.»
«234. Uma cidade sem rio é uma cidade que não ri; e uma cidade sem mar é uma cidade que não ama.»
«246. Os arquétipos (junguianos) não comparecem na visão, mas no visionário; sonhos e alucinações, ideias mitológicas e dogmas religiosos, fantasias literárias e projeções metafísicas; assim pois em visões-limite ou radicais.»
«248. Segundo Unamuno, a brandura lusitana é uma máscara: atrás dela agacha-se uma paixão da vida no limite com a morte».
Diccionario interdisciplinar de Hermenéutica, dirigido por A.Ortiz-Osés y P.Lanceros, Universidad de Deusto, Bilbao, 2006, pp.588-598; o destaque a negrito é posto por nós).
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