Apesar de ser ateu, Artur Schopenhauer( Danzig, 22 de Fevereiro de 1788 — Frankfurt, 21 de Setembro de 1860) coincidia com a visão do cristianismo antigo de que «este mundo é um lugar de exílio, de ilusões, não nascemos para ser felizes e o ascetismo, baseado na castidade, na mortificação dos sentidos, incluindo os jejuns periódicos, é a atitude moral correcta». Escreveu:
«E se, no juízo dos coetâneos, a paradoxal e inaudita coincidência da minha filosofia com o quietismo e o ascetismo aparece como uma óbvia pedra de escândalo, eu vejo nisso, pelo contrário, uma prova da sua correção e verdade únicas, assim como também uma razão para explicar que as universidades protestantes a ignorem e a condenem astutamente ao ostracismo.»
«Pois não só as religiões do Oriente, mas também o verdadeiro cristianismo tem inteiramente esse carácter ascético fundamental que a minha filosofia explica como negação da vontade de viver; mesno quando o protestantismo, sobretudo na sua configuração actual, procura encobri-lo. Os inimigos declarados do cristianismo que apareceram recentemente credibilizaram-no nas doutrinas da renúncia, da abnegação, da castidade perfeita, e da mortificação em geral da vontade, que eles designam com o nome de tendência anticósmica, mostrando solidamente que tais doutrinas são consubstanciais ao primitivo e autêntico cristianismo. Nisto têm razão de modo incontestável. Mas que façam valer isto como uma recriminação manifesta e palmária contra o cristianismo, quando é aí que reside a sua verdade profunda, o seu valor mais alto, e o seu carácter mais sublime, testemunha um eclipse do espírito que só resulta explicável porque aquelas mentes, como desgraçadamente milhares de outras estão embrulhadas e deitadas a perder pelo miserável hegelianismo, essa escola de trivialidade, esse ninho de irreflexão e de ignorância, essa pseudo sabedoria corruptora de mentes que finalmente se começa a reconhecer agora como tal e cuja veneração ficará em breve unicamente em mãos da Academia dinamarquesa, a cujos olhos esse burdo charlatão é um filósofo sublime a quem defende com armas e bagagens: "Pois todos seguirão a crença e a opinião da ignorante e néscia multidão, da qual o mais pesado será investido como juíz" (Rabelais)».
(Schopenhauer, El mundo como voluntad y representación, 2, Alianza Editorial, Madrid, 2016, pp. 815-829 ; o destaque a negrito é posto por mim).
O CRISTIANISMO DO NOVO TESTAMENTO É ASCÉTICO E PESSIMISTA, O JUDAÍSMO, O PROTESTANTISMO E O ISLAMISMO SÃO OPTIMISTAS E ADEPTOS DA PRÁTICA DO SEXO
Schopenhauer postulou que o protestantismo é de carácter optimista, encara com demasiada leveza o sentido da vida humana, ao passo que o cristianismo do Novo Testamento é pessimista, ascético. Escreveu:
«Seja como for no resto, esse "tudo está bem" do Antigo Testamento é realmente alheio ao autêntico cristianismo: pois no Novo Testamento se fala continuamente do mundo como algo a que não se pertence, que não se ama e cujo dono é o diabo. Isto concorda com o espírito ascético de negação do próprio eu e de sobrepor-se ao mundo que, junto ao ilimitado amor ao próximo, incluido ao inimigo, é o traço comum que o cristianismo tem com o bramanismo e o budismo e credibiliza o seu parentesco. Em nenhuma questão há que diferenciar tanto o núcleo da casca como no cristianismo. E justamente porque estimo sobremaneira esse núcleo, por vezes mostro-me escassamente cerimonioso com a casca, se bem que esta é mais grossa do que é habitual pensar-se.»
«O protestantismo, ao eliminar o ascetismo e o seu ponto central, a índole meritória do celibato, renunciou já ao núcleo mais íntimo do cristianismo e nessa medida há que considerá-lo como um abandono do mesmo. Isto torna-se evidente nos nossos dias no seu paulatino trânsito para um racionalismo banal, para esse moderno pelagianismo que, no final, desemboca na doutrina de um pai amoroso, que fez o mundo para que tudo marche tão primorosamente como satisfatoriamente (um empreendimento que logo teve de se lhe malograr) e que, se uma pessoa se amolda em certas questões à sua vontade, procurará logo um mundo ainda muito mais encantador (onde só há que lamentar uma entrada tão fatal).»
(Schopenhauer, El mundo como voluntad y representación, 2, Alianza Editorial, Madrid, 2016, pp. 828-829 ; o destaque a negrito é posto por mim).
Pelágio da Bretanha, que polemizou com Santo Agostinho, negava o pecado original, a corrupção do ser humano, a necessidade da graça divina pois cada homem é autónomo e com capacidade para salvar-se a si mesmo. Negou também o servo arbítrio, isto é, o arbítrio escravizado a paixões.
LUTERO ATACOU A ESSÊNCIA DO CRISTIANISMO E NÃO SÓ A CORRUPÇÃO DO CLERO
Schopenhauer teorizou:
«Os escandalosos abusos da Igreja suscitaram no espírito probo de Lutero uma arreigada indignação. Sem embargo, em consequência de tal indignação, chegou a pretender abolir quanto era possível do próprio cristianismo e com vista a tal fim, primeiro limitou-se às palavras da Bíblia, mas logo chegou demasiado longe no seu bem intencionado zelo, ao atacar o seu próprio coração no primcípio ascético. Pois atrás da extinção do princípio ascético veio logo necessariamente ocupar o seu lugar o princípio optimista. Mas o optimismo é, tanto nas religiões como na filosofia, um erro fundamental que corta o caminho a toda a verdade. Conforme a tudo isto, parece-me que o catolicismo é um cristianismo do qual se abusou ignominiosamente, mas o protestantismo é um cristianismo degenerado, enquanto que o cristianismo parece ter o destino reservado a tudo o que é nobre e sublime tão rápido como deve subsistir entre os homens».
(Schopenhauer, El mundo como voluntad y representación, 2, Alianza Editorial, Madrid, 2016, pp. 829-830 ; o destaque a negrito é posto por mim).
Transferindo esta análise para o nosso tempo podemos perguntar: que sentido tem o ecumenismo praticado pela igreja católica romana, a aproximação aos irmãos protestantes, se o protestantismo é um cristianismo degenerado, uma heresia?
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