Philip Gardiner, o investigador britânico da gnose e da sociedade secreta dos Seres da Luz (Os Brilhantes), escreveu:
«A Mãe é terrena e é a mediadora divina entre a nossa consciência e o aspecto Pai. Isto explica por que razão o conceito do xamã feminino devia ser o daquele que entra no Outro Mundo para nosso bem. Uma vez e outra, é o feminino, desde os primeiros tempos, que entra no Outro Mundo ou, pelo menos, constitui o factor controlador.» (...)
«Agora compreendemos por que razão a Shekinah, o Espírito Santo ou a Matronita dos hebreus e dos cristãos, era feminina. Ela era o elemento passivo da dualidade - não de confronto e de força. Ela é o guia que cuida de nós. É o elemento da nossa mente que raciocina com sabedoria e, portanto, tornou-se a Sofia que hoje vemos no Islão. Ela é a Madalena de Cristo, a Ísis de Osíris, a Eva de Adão, a Marion de Robin dos Bosques, a Guenevere de Artur.» (...)
E ao referir-se ao Código da Vinci de Dan Brown Gardiner escreve:
«É claro que esta pressa em descobrir a linhagem de Maria Madalena é um disparate, uma vez que Cristo e os seus discípulos, incluindo Maria, nunca existiram como pessoas reais. São símbolos de um segredo maior; são os elementos metafóricos de uma verdade gnóstica que aguarda em cada um de nós. Maria Madalena é o aspecto feminino - a Matronita - que deve unir-se a Cristo para poder dar origem ao nível de iluminação seguinte. O processo de unificação está em curso, aportando um constante renascimento. Esta é a verdadeira gnose: que devemos compreender que somos pecadores e, como tal, devemos erradicar esse pecado do nosso corpo e da nossa mente. Isto é semelhante à ideia budista de reduzir o nosso próprio sofrimento livrando-nos daquelas coisas que nos fazem sofrer - nomeadamente os nossos desejos por coisas que não podemos ter, como anseios, avareza e poder. Os desejos que possuímos são precisamente as coisas que nos fazem sofrer. Provocamos sofrimentos uns aos outros através dos nossos próprios desejos.»
(Philip Gardiner, Gnose, Editorial Estampa, pp. 89-90; o destaque a negrito é posto por nós)
O facto de Maria Madalena e Cristo não terem existido fisicamente, historicamente, segundo Gardiner, não invalida a eficácia da imitação de Cristo ou de Santa Maria Madalena como modelos espirituais. A questão está em saber que tipo de cristianismo se quer desenvolver: algum cristianismo gnóstico sacraliza o acto sexual com múltiplos parceiros, o cristianismo do padre Pio de Pietrelcina condena a sexualidade livre, o erotismo em nome da ascese da castidade.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Livraria online de Filosofia e Astrologia Histórica