Mircea Elíade (Bucareste, 9 de março de 1907 — Chicago, 22 de abril de 1986) professor, historiador das religiões, mitólogo, filósofo e romancista romeno, naturalizado norte-americano em 1970, classificou a arte pela arte como destituída de mística, do sagrado. Eliade referiu-se às bacias de água perfumada que simbolizava o mar e cuja tampa simbolizava a Montanha, a ilha dos Bem-Aventurados, na antiga China, objectos imbuídos de sacralidade que foram dessacralizados pela intelectualidade chinesa a partir do século XVII. Escreveu:
«A santidade do mundo fechado pode descobrir-se ainda nas bacias com água perfumada e tampa que simbolizam o Mar e as Ilhas dos Bem-Aventurados. Este complexo servia ainda para a meditação, tal qual, no começo, serviam os jardins em miniatura, antes que a moda dos letrados se apoderasse deles, no século XVII, para os transformar em "objectos de arte".»
«Notemos, todavia, que neste exemplo, jamais assistimos a uma total dessacralização do mundo, porque, no Extremo Oriente, o que se chama " emoção estética" conserva ainda, mesmo entre os letrados, uma dimensão religiosa. Mas o exemplo dos jardins em miniatura mostra-nos em que sentido e por que meios se opera a dessacralização do mundo. Basta que imaginemos o que uma emoção estética desta ordem pode tornar-se numa sociedade moderna - para compreendermos como é que a experiência da santidade cósmica pode rarefazer-se e transformar-se até se tornar uma emoção unicamente humana: por exemplo a da arte pela arte.» (Mircea Eliade, O sagrado e o profano, a essência das religiões», Livros do Brasil, página 163; o bold é colocado por nós).
A arte pela arte, fruto da pura imaginação isenta de qualquer mensagem sócio-política ou religiosa, é, pois, para Mircea, uma arte meramente humana, destruidora do sagrado, incapaz de ser veículo dos deuses e de forças mágicas transcendentes.
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