Um filósofo português muito inteligente, que muito estimo, diz-me:
«Muitas nsanidades estão em voga.Inicialmente tínhamos a sigla "LGBT", depois passou a "LGBTQ". E agora já há propostas para "LGBTQZ", incluindo o "zoófilo".»
«Agora, eu tenho a tendência para ligar estes desvarios a derrocadas filosóficas e intelectuais. Por exemplo, neste caso, parece-me plausível ligar estas tendências à perda progressiva do "princípio da adequação" em Filosofia, e à progressiva erosão do sentido comum natural. E até à ascensão avassaladora de noções como a "desconstrução" e o "desconstrucionismo". E o "desconstrucionismo" vem, inicialmente, de Heidegger.
A propósito, cada vez que leio Heidegger apercebo-me dos malabarismos linguísticos e da linguagem hipnótica de Heidegger. Posso dar quatro exemplos.»
1) «A professora "heideggeriana" Irene Borges-Duarte escreve a certo momento, num livro, que "Heidegger progride anfibologicamente". Ora, a anfibologia é uma falácia. E o filósofo deve evitar falácias, suponho. Não é?»
2) «É frequente em Heidegger termos e trechos do tipo "abre ao mesmo tempo que fecha", "revela-se ao mesmo tempo que se oculta", etc.. Ora, isto é violar o princípio da não-contradição. Ou não é? Note-se que, mesmo em poesia, quando se expressa uma antítese (como por exemplo aquela do Pessoa de "não sei e sei-o bem), a interpretação vai no sentido de que "não sei num determinado aspecto... " e "sei-o bem noutro aspecto...". Penso que esta escrita de abundantes contradições de Heidegger tem um efeito mental nocivo, de uma espécie de "esfarelamento da mente", semelhante à dissonância cognitiva. Assim, parece-me que quem lê muito prosa deste tipo, contraditória, fica com a mente dissolvida. Daí Jung dizer que a escrita de Heidegger é esquizofrénica (como você assinala em seu Dicionário de Filosofia e Ontologia).»
3) Outro exemplo que me ocorre agora é a nominalização de verbos, e isso leva-me a interrogar-me acerca dos efeitos das nominalizações na mente de quem lê. Quando se escreve, por exemplo, "o dizer-se", "o fazer-se" etc., ocorre-me observar que se trata se acções. Só que ao colocar-se o artigo antes, nominaliza-se o verbo, que fica, digamos, "fossilizado". Diria mesmo que isto causa "coágulos" mentais hipnóticos, pretendendo atribuir consistência ontológica onde só há processos. É caso para dizer que "dizer-se" não é um "o", que "fazer-se" não é um "o", e assim por diante.
4)«Outro exemplo é a prosa em fraccionamento. Os hipnólogos bem conhecem a técnica do "fraccionamento", que consiste em repetir insistentemente a mesma ideia, ainda que usando outras palavras, em intervalos curtos. É uma espécie de "martelamento" mental, uma espécie de mantra escrito ou lido. O filósofo Jean-François Revel diz-nos que os escritos de Hitler e Estaline são assim. Identifico em Heidegger o mesmo procedimento, ainda que, naturalmente, com outro vocabulário.»