Na sua obra «Fenomenologia do espírito», Hegel estabelece dois polos, a realidade ou ser e a consciência, e uma transição ou mediação entre ambos que é o operar (obrar), a negatividade do ser imediato :
«Tal é o conceito que forma de si a consciência, que está certa de si mesma como absoluta interpenetração da individualidade e do ser; vejamos se este conceito se confirma pela experiência e a sua relidade [ Realität] coincide com ele. A obra é a realidade que a consciência dá; é aquilo em que o indivíduo é para a consciência o que é em si, de tal modo que a consciência para a qual o indivíduo devém na obra não é a consciência particular, mas a consciência universal, a consciência, na obra, transcende em geral o elemento da universalidade, o espaço indeterminado do ser. A consciência a que se remonta a partir da sua obra é de facto, a consciência universal - porque devém em negatividade absoluta ou o obrar em oposição - relativamente à sua obra que é o determinado; a consciência vai, pois, além de si mesma, enquanto obra e é por si mesma o espaço indeterminado que não se encontra cheio pela sua obra» (Hegel,Fenomenología del espíritu, pag 237, Fondo de Cultura Económica, México; o destaque a negrito é posto por mim).
O termo consiência não se resume ao indivíduo senciente e pensante. A consciência deste é a particular. Ora Hegel refere-se à consciência universal que está na origem tanto do objecto material (o ser) como da consciência individual. A sua ontologia é espiritualista - o espírito divino é eterno e gerador da matéria, seu ser-outro - e realista ou ideal-realista. Hegel afasta-se do idealismo material de Kant: em Kant o fenómeno (árvore, casa, animal) nunca chega a ser um fora de si em relação ao espírito humano, está sempre dentro deste (idealismo material), embora na sua zona quase periférica (o espaço ou sentido externo), ao passo que em Hegel a matéria é um fora de si em relação à Ideia (realismo).
Não parece clara a afirmação de que «a consciência, na obra, transcende em geral o elemento da universalidade, o espaço indeterminado do ser» a menos que se interprete universalidade como generalidade abstracta e se pretenda significar que a consciência ao materializar a partir de si uma obra - exemplo: construir uma casa com tijolos e cimento- está a ultrapassar a generalidade abstracta, o mero projecto por concretizar.
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