Em um excelente ensaio sobre sexualidade, intitulado «O Sexo polígamo», publicado em 1974 em Munique, Esther Villar, escritora argentino-alemã, nascida em Buenos Aires em 16 de Setembro de 1935, uma feminista muito inteligente, desenvolveu a tese de que as mulheres são as principais responsáveis da sua própria infelicidade por manipularem os instintos dos homens: oferecem-lhes sexo, elogios, «amor» e «romance» para os controlarem emocional e socialmente, etc.
Assim, sustentou, no seu livro «O homem domado» que, ao contrário do que dizem as feministas, as mulheres, nas sociedades industrializadas, não são oprimidas mas, na verdade, beneficiam de um sistema bem estruturado de manipulação dos homens que domestica estes como "maridos fiéis" e "bons chefes de família", "bons empresários", "bons cristãos", etc. Esther Vilar recebeu ameaças de morte, como Salman Rushdie, e foi classificada de "sexista" e de "fascista" por feministas radicais. Segundo Esther, cada homem possui duas tendências que o levam a conquistar amorosamente a mulher: o instinto nutriente ou protector, que o leva a ter uma esposa que respeita e ama como se fosse pai; o instinto sexual puro, que o leva a buscar uma amante ou sucessivas amantes ou mesmo prostitutas de rua. Assim todos os homens são polígamos, potencialmente.
Escreve Esther Vilar:
«A poligamia simultânea é a verdadeira poligamia: o homem possui várias mulheres e deseja conservá-las todas só para si. A poligamia sucessiva está escalonada no tempo: o homem tem duas mulheres mas desembaraça-se de uma antes de se encarregar da outra. A poligamia esporádica é ocasional, como o seu nome indica; na poligamia simbólica, o homem satisfaz o seu instinto sexual sem companheira. Um homem rico decidir-se-á pela poligamia simultânea ou sucessiva e geralmente não concederá qualquer valor à poligamia esporádica ou à simbólica.»
«É no polígamo simultâneo - o homem que tem ao mesmo tempo esposa e amante - que mais claramente se manifesta o abismo que separa o objecto protegido do objecto sexual. O protector não abandona o objecto que protege, garante mesmo as suas necessidades melhor que antes, mas desde o início do seu período polígamo, toda a relação sexual com o objecto protegido torna-se uma farsa. É de supor que o homem que encontrou uma verdadeira parceira sexual preferirá não ter mais qualquer relação deste género com o objecto da sua proteção. Para lhe evitar toda a mágoa - o que faz parte do seu papel de protector - dedica-lhe apesar de tudo, algum tempo, mas tão directamente, tão simplesmente quanto possível. Dali em diante reserva para a outra todos os matizes do seu erotismo.Não obstante esta hipocrisia, não obstante a angústia de ser descoberto e do aumento dos seus encargos financeiros, o polígamo simultâneo - aquele que pode satisfazer ao mesmo tempo o seu instinto sexual e o seu instinto nutriente sobre dois objectos diferentes - parece mais descontraído do que na época em que era monógamo. Considera este sentimento de plenitude como a prova da existência, em todos os homens, de uma predisposição para a poligamia.»
«Mas dá-se então algo de curioso: em vez de confessar o seu novo amor, continua a empregar esta palavra para definir o sentimento que experimenta pela sua esposa, pelo objecto da sua proteção. E pelo contrário, pretende estar apenas dominado por uma espécie de «embriaguês», de uma "possessão provisória" por parte da sua "amante" como aliás se explica pela palavra francesa (maitresse). Fala das suas relações com ela - dos sentimentos para com a mulher que é afinal a sua verdadeira mulher - como algo de inferior, por vezes mesmo de detestável. Tem a impressão de ter "caído" na devassidão; esta mulher, pensa ele, apela "para os seus mais baixos instintos". Se a sua esposa um dia lhe dirige censuras, declara-lhe que não a compreende: porque com a outra não há mais do que um "assunto sexual" que nada tem a ver com o amor.»
(Esther Vilar, Sexo Polígamo, Editorial Futura, Carlos & Reis Lda, Lisboa, 1978, pp. 65-66; o destaque a negrito é posto por nós).
O COMPORTAMENTO INTERESSEIRO E ANTI-AMOR DAS MULHERES
A sociedade matriarcal que aí está oferece às mulheres um modelo dominante de esposa, e elas seguem-no preferencialmente. Optam por suscitar o altruísmo dos esposos, a segurança, não por estimular a paixão destes e recusam ser os objectos altamente eróticos destes, isto é, menorizam o amor erótico. Escreve Esther Vilar:
«A mulher tem a escolha: pode fazer do homem o seu pai adoptivo ou o seu amante, pode jogar na compaixão ou no desejo sexual do seu companheiro. Enquanto desempenhar o papel de filha que é preciso proteger, provará incontestavelmente que prefere ser objecto de compaixão. Enquanto quiser ser, sob todos os pontos de vista, a mais fraca, a mais nova e a mais tola, enquanto desejar que o homem lhe seja superior, dirigir-se-á abertamente ao altruísmo do seu companheiro, não ao seu amor.»
«Conscientemente, a mulher extravia os sentimentos do homem: tem o aspecto de um ser adulto e um comportamento infantil, exige paixão, porém conserva a cabeça fria, e quando fala de ternura, para ela esta palavra significa proteção. Priva os dois sexos de amor, ela própria a ele renuncia voluntariamente, devendo o homem contentar-se com aquilo que ela permite subsistir: "Aquele que ama verdadeiramente, diz ela, pensa em primeiro lugar na felicidade do seu par." Assim é a definição que a mulher dá de amor e o homem esforça-se por proceder de acordo com isto.»
(Esther Vilar, Sexo Polígamo, Editorial Futura, Carlos & Reis Lda, Lisboa, 1978, pp. 127-128; o destaque a negrito é posto por nós).
AS CONDIÇÕES PARA UM VERDADEIRO AMOR HOMEM-MULHER
Segundo Esther Vilar, a poligamia não é inevitável no que se refere aos homens e às mulheres. O amor eterno, monógamo, baseado na paixão erótica e na comunhão espiritual, no ciúme e na fidelidade, é possível, embora muito raro: é preciso ter muito boa sorte para encontrar a alma gémea e acasalar com ela. Escreve Esther:
«1. O AMOR É MONÓGAMO
«Certamente que posso deixar-me amar por dois parceiros, mas não posso amar mais que um.» (...)
2. O AMOR É CIUMENTO
«Se o meu amado definiu uma outra, que não eu, pelo seu amor eu perco a minha individualidade. Torno-me como a outra que ama aquele que eu amo (uma vez que o amor é monógamo ele não ama ninguém, mas disso não tenho eu consciência) eu torno-me uma espécie de duplo. Para que volte a ser única, tenho de matar o meu duplo ou procurar outro amante».
«O ciúme não é um sinal absoluto de amor, mas não pode haver amor sem ciúme. A tolerância não é uma prova de amor mas precisamente o seu contrário. » (...)
«3. O AMOR É FIEL.
«Se empreendo qualquer coisa de que o meu parceiro actual nada sabe, as definições que de mim dê já não são precisas. A infidelidade sexual só é possível se eu não conceder, para assim o dizer, qualquer valor às suas definições; se eu já não o amar.»
«Pode o amor durar?»
«O amor entre um homem e uma mulher pode durar toda a vida. Não existe qualquer razão constrangedora para que um casal que pelos dezassete anos sente um amor recíproco não o continue a sentir com setenta anos. Se tal sentimento é raro na prática isso é devido a causas que já mencionámos: por um lado, avalia-se o amor entre um homem e uma mulher pelo amor pelo próximo; por outro, a oferta de parceiros adequados é insuficiente.»
«O que é em amor um parceiro adequado? Recordemos as duas condições prévias para que possa haver amor entre um homem e uma mulher:
a) A maior oposição possível do ponto de vista físico.
b) A maior semelhança possível do ponto de vista intelectual.» (...)
«Escolhemos instintivamente o parceiro que manifestamente difere de nós do ponto de vista físico.»
«Mas quase sempre, a semelhança intelectual fraqueja. Contudo é indispensável pelas seguintes razões:
«1. Quando um parceiro sexual é muito mais estúpido que o outro, este quer instintivamente manobrá-lo. Quem quer que satisfaça o seu desejo sexual com um inferior tem a impressão de abusar dele. Este tipo de sexualidade origina sempre um comportamento sexual errado (incesto, poligamia) e um sentimento de culpa (castidade).»
«2. Quando a semelhança intelectual falha, os parceiros não podem definir-se reciprocamente. O intelectualmente mais fraco não pode precisar ao outro o que ele é, nem compreendê-lo.»
(Esther Vilar, Sexo Polígamo, Editorial Futura, Carlos & Reis Lda, Lisboa, 1978, pp. 90-92; o destaque a negrito é posto por nós).
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