Algumas imprecisões integram o livro do professor Filosofia 11º ,de Luís Rodrigues, com Fernando Rua como consultor científico, da Plátano Editora.
A FILOSOFIA ´DISTINGUE-SE DA CIÊNCIA PELO MÉTODO? OU PELO DOMÍNIO EM QUE SE AVENTURA?
Lê-se no manual:
«1. O que distingue a filosofia de outros saberes?»
«A filosofia é uma forma de saber racional que se distingue de outros saberes, especialmente da ciência pelo método - à argumentação crítica sem recurso a testes empíricos ou provas formais.» (Luís Rodrigues, Filosofia 11º , Fernando Rua como consultor científico, Plátano Editora, pág 266).
Crítica minha: o que distingue, essencialmente, a filosofia da ciência não é a ausência de recurso a testes empíricos - a filosofia usa-os, como por exemplo, ao referir os 6 milhões de judeus exterminados na 2ª Guerra Mundial pelos nazis, no caso da filosofia antinazi; ao referir os exemplos de Júpiter em Peixes nas revoluções liberal de esquerda 24 de Agosto de 1820, radical de 14 de Maio de 1915 e antifascista de 25 de Abril de 1974 no caso da nossa filosofia da astrologia histórica. Ademais, a ciência argumenta criticamente muitas vezes sem provas empíricas como é o caso da teoria do Big Bang: há quem defenda que há galáxias com 70 000 milhões de anos o que contraria a tese de o Big Bang se ter dado há 15 000 milhões de anos.
O que distingue a filosofia, das ciências, é o movimento do pensamento filosófico na metafísica, no reino além dos factos positivos, visíveis e palpáveis. As ciências estão todas impregnadas de filosofia - desta ou daquela filosofia. Por exemplo, dizer que a vacina (vírus e toxinas) «ensina o corpo a defender-se contra futuros ataques de certa doença» é pura filosofia subjectiva que já foi incorporada no senso comum. Cada filosofia prolonga a investigação das ciências além da fronteira do visível e do palpável, e por isso decompõe-se, como a luz branca, em múltiplas «cores» ao atravessar o prisma limite do mundo visível. Há muitas filosofias sobre o mesmo tema testável. Platão faz residir as essências no mundo inteligível, Aristóteles fá-las residir no mundo da matéria, cujo fundo é também metafísico. O método racional, tanto quanto possível assente em dados empíricos, é comum à filosofia e às ciências, ainda que estas recorram a métodos particulares.
A FILOSOFIA NÃO É SUBJECTIVA?
Diz o manual:
«2. Podemos dizer que a filosofia é subjectiva?
Não. Há verdades objectivas em filosofia porque esta não é o reino da pura e simples opinião. O problema é alcançar a resposta objectivamente verdadeira a uma questão básica e fundamental.» (Luís Rodrigues, Filosofia 11º , Fernando Rua como consultor científico, Plátano Editora, pág 266).
Crítica minha; a filosofia é um misto de subjectividade e objectividade. Por isso,é parcialmente incorrecto dizer que não é subjectiva. O existencialismo, de Kierkegaard a Sartre, acentua a subjectividade do indivíduo como a fonte da filosofia livre e criadora. Dizer que o nosso eu racional tem capacidade para dominar, em certa medida, os instintos mais baixos é uma verdade objectiva mas dizer, como o filósofo estóico Marco Aurélio, que se pode permanecer impassível enquanto nos torturam ou cortam aos pedaços é uma tese subjectiva.
AS CONFUSAS PERGUNTAS DE ESCOLHA MÚLTIPLA
No caderno do professor, que faz parte do Filosofia 11º ano de Luís Rodrigues, figuram questões de escolha múltipla mal formuladas. Eis exemplos.
«Considere os enunciados seguintes. Selecione a alternativa correcta.
1.1 A. Deves cumprir o prometido.
B. Não há homens em Marte.
C. Precisarias de ajuda.
D. Não achas que me fizeste esperar muito?
(Luís Rodrigues,Caderno do professor, Filosofia 11º ano, Plátano Editora, pág 56)
Segundo o autor só a frase b é proposição.
Crítica minha: há duas proposições ou frases declarativas, a B e a C («Precisarias de ajuda»). A frase «precisarias de ajuda» pode ser tomada como uma frase assertiva: «Sem dúvida, precisarias de ajuda naquela conjuntura», o que é o mesmo que dizer, como uma proposição
1.2 A. A guerra na Síria é imoral e fraticida.
B. Qualquer vacina contra a malária tem de ser barata.
C. Em geral, os quadros de Miró têm menos valor do que os de Picasso.
D. O aquecimento global pode ameaçar a subida do nível do mar.»
(Luís Rodrigues,Caderno do professor, Filosofia 11º ano, Plátano Editora, pág 56).
Segundo Luís Rodrigues, só a hipótese A está certa.
Crítica minha: As quatro respostas estão certas, são todas frases declarativas. Não sabemos o que Luís Rodrigues entende por proposição mas reduziu, sem dúvida, o conceito desta de forma inaceitável. Dizer que «os quadros de Miró valem menos que os de Picasso» não é uma proposição? Ora vamos lá a pensar seriamente, Luís Rodrigues! A proposição é uma afirmação ou negação construída sobre a realidade efectiva ou sobre a possibilidade. Dizer «é possível que o aquecimento global faça subir o nível do mar» é uma proposição porque se ancora em duas contrárias entre si: «o aquecimento global faz ou fará subir o nível do mar» ; «o aquecimento global não faz ou não fará subir o nível do mar». Como pode uma proposição englobante - pois a possibilidade abarca o "sim" e o "não" - deixar de ser proposição? Como podem a tese e antítese comstituirem proposições e a síntese não?
Este tipo de perguntas de escolha múltipla formam um terço das questões da prova de exame nacional de filosofia do 11º ano. E, em regra, este possui algumas dessas questões mal formuladas.
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