Wittgenstein, um dos fundadores da filosofia analítica contemporânea, escreveu:
«6.4.4. O que é místico é que o mundo exista, não como o mundo é.» (Wittgenstein, Tratado Lógico-Filosófico..., pag 140, Fundação Calouste Gulbenkian).
A mística é uma vivência ou um conhecimento irracional, em grande parte ou na totalidade impossível de ser descrita em palavras e raciocínios lógicos. Assim a ontologia é mística no seu fundamento mas a eidologia (como o mundo é, a essência das coisas como quid, causa formal) não é mística, mas conhecimento empírico-racional. E haverá, certamente, quem defenda que a eidologia, a rede das essências, brota da ontologia, o ser, do mesmo modo que o tronco e os ramos da árvore brotam da raíz.
Escreveu ainda:
«6.4.5 A contemplação do mundo sub specie aeterni é a sua contemplação como um todo limitado.
Místico é sentir o mundo como um todo limitado.» ((Wittgenstein, Tratado Lógico-Filosófico..., pag 140, Fundação Calouste Gulbenkian).
Por que razão é místico sentir o mundo como um todo limitado? Presumivelmente, porque idealizar o cosmos como esférico e fechado, à maneira dos antigos gregos ou de Albert Einstein, é místico, ou seja, não se apoia numa verificação empírica nem numa demonstração lógica. É um "palpite" de uma parte dos filósofos e cientistas. Entre Wittgenstein e o positivismo lógico há assim uma diferença: o primeiro afirma a existência de uma região ontológica inexprimível, mística, ao passo que o segundo proibe a especulação acerca dessa região, põe em dúvida a sua existência, declarando-a "sem sentido".
«6.5.2 Existe no entanto o inexprimível. É o que se revela, é o místico.» (ibid, pag. 141).
Assim, o místico revela-se, mas não se exprime. O fundo oculto das coisas existe mas é inexprimível por palavras ou proposições: é o místico. Só pode apreender-se por intuições sentimentais.
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