A revista Crítica (www.criticanarede.com), a propósito da Dissertação de Mestrado "Essencialismo Naturalizado, de Desidério Murcho sob a Supervisão de João Branquinho, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa,no ano 2000, de 97 páginas, insere a seguinte definição de essencialismo:
.«O essencialismo é a doutrina que defende que certos particulares, como Sócrates, têm certas
propriedades essencialmente, ao passo que têm outras propriedades apenas acidentalmente. Assim, uma doutrina essencialista poderá afirmar que Sócrates é essencialmente um ser humano, ao passo que só acidentalmente vivia em Atenas. Isto significa que Sócrates não poderia não ter sido um ser humano, ao passo que poderia não ter vivido em Atenas.» (o negrito é nosso).
Esta definição de essencialismo é, no fundo, uma tautologia. Na verdade, todos os seres ou fenómenos são dotados de uma essência ou estrutura fundamental e,assim sendo, todas as ciências e todas as filosofias seriam essencialismos a partir do momento em que postulam propriedades fundamentais inerentes a qualquer ser ou ente (a alma ou a forma física como essência do homem, o átomo como essência da matéria, a célula como essência da vida, etc). Definir desta maneira essencialismo equivale a definir racionalismo como «doutrina que sustenta que todo o homem é dotado de razão».
Ora, também os empiristas sustentam que o homem é dotado de razão...
Creio que a definição de essencialismo não pode cingir-se a uma tautologia onde cabem todas as correntes filosóficas. A história da Filosofia, tão menosprezada por alguns revisionistas do ensino filosófico hoje, coloca-nos uma distinção entre existencialismo e essencialismo.
Ora a definição de essencialismo expressa na «Crítica» e no Dicionário Oxford de Filosofia de Simon Blackburn, presumivelmente defendida por Desidério Murcho, levaria a classificar a doutrina de Sartre, expressa em «O ser e o nada», como um essencialismo: é que Sartre, que se considerava um existencialista oposto ao essencialismo, sustentava que a essência do homem é a liberdade, a existência pura. Sartre não seria, portanto, existencialista mas sim essencialista, o que levanta uma nuvem de imprecisão conceptual..
A definição por excelência de essencialismo não é a tautologia pobre expressa na «Crítica» de que há coisas com propriedades inerentes ou essenciais. Não. A definição mais rica de essencialismo remonta à coluna vertebral da história da filosofia - Platão, Aristóteles, Ockham, Tomás de Aquino, Hegel - e inscreve-se na problemática do ser enquanto essência na sua relação com a existência material e de movimento.
(Direitos de autor reservados para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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