A noção de acaso, ligada à de vazio inerente à doutrina atomista, é capital na filosofia do grego Epicuro, que teorizou o átomo como essência imutável, arkhé, e como existência material dotada de propriedades modificáveis, stoikheíon,segundo Karl Marx. O epicurismo baseia-se pois na contradição entre essência e existência, entre forma e matéria. O átomo concebido como essência corresponde, de certo modo, à vontade livre, coisa em si no sistema de Kant (eu numénico, que opera com autonomia sobre a existência, feita de átomos materiais). O próprio Deus, segundo Epicuro, é feito de átomos mais pequenos e mais finos.
«Sabe-se que para os epicuristas o acaso é a categoria soberana. » (Karl Marx, As filosofias da natureza em Demócrito e Epicuro, Editorial Presença, 1972, pag. 79).
«A contradição entre a existência e a essência, entre a matéria e a forma, que está contida no conceito de átomo é considerada como existindo no próprio átomo singular, pelo simples facto de lhe serem atribuídas qualidades. Através da qualidade, o átomo é alienado do seu conceito e simultaneamente é terminada a sua construção. O mundo sensível nascerá directamente da repulsão e dos conglomerados conexos de átomos qualificados. » (ibid 194)
Marx considera Epicuro o «filósofo das luzes» da antiga Grécia. Porque combatia a predestinação, a astrologia e exaltava o acaso que oferece múltiplas vias por onde escorre a liberdade humana.
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