Nigel Warburton, um divulgador de temas filosóficos em voga, apresenta a seguinte definição de idealismo gnosiológico:
«O idealismo é uma teoria que evita algumas das dificuldades que se levantam ao realismo representativo. Tal como esta última teoria, o idealismo faz dos dados sensoriais de entrada o ingrediente básico da nossa experiência no mundo. Assim, também o idealismo se baseia na noção de que toda a nossa experiência é constituída por representações mentais e não pelo mundo». (...)
«Uma consequência disto é que para os idealistas os objectos só existem enquanto são percepcionados. Quando um objecto não está a ser percepcionado no meu cinema privado não existe. O bispo Berkeley (1685-1753), o mais famoso idealista, declarou que «esse est percipi»: existir é ser percepcionado. Assim quando deixo uma sala, esta deixa de existir, quando fecho os meus olhos o mundo desaparece, quando pestanejo, seja o que for que está à minha frente deixa de estar - desde que , claro, mais ninguém esteja a percepcionar estas coisas na altura.» (Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, Gradiva, Lisboa, 2007, pags. 166-167; o negrito é nosso).
Warburton incorre neste texto numa definição errónea de idealismo. Interpreta equivocamente a frase «ser é ser percebido» de George Berkeley: há duas formas de ser percebido, uma é pelos orgãos dos sentidos, outra é pelo intelecto, mas Warburton restringe-se à primeira.
Nem Berkeley nem Kant, dois dos mais célebres filósofos do idealismo gnosiológico do século XVIII na Europa, sustentaram que os objectos só existem enquanto os percepcionamos sensorialmente. Tanto um como outro afirmaram a permanência dos objectos aparentemente materiais na nossa mente, mesmo quando não lhes prestamos atenção.
A categoria de permanência, uma das faces da categoria inerência (acidente)- subsistência (substância) que é uma das doze formas a priori da sensibilidade , é uma das postuladas na gnosiologia de Kant.
A frase «ser é ser percebido» significa apenas isto: o ser das árvores, das casas, do mundo em geral é representação na nossa mente, isto é, não passa de um conjunto de percepções, de ideias em nós. Esse ser das coisas não desaparece enquanto ideia mesmo quando não está presente na capacidade perceptiva.
O que Warburton definiu como idealismo é o idealismo de David Hume e não todo o idealismo em geral.
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