No livro nono da Metafísica, Aristóteles, o grande mestre da Antiguidade grega, situou a verdade como directamente contrária da ignorância (não verdade) mas não da falsidade (não verdade).
«Melhor, a verdade e a falsidade consistem nisto: a verdade, em captar e enunciar a coisa (pois enunciar e afirmar não são o mesmo), enquanto que ignorá-la consiste em não captá-la ( já que não cabe o erro àcerca do quê, a não ser acidentalmente; e o mesmo àcerca das entidades carentes de composição: não é possível, certamente, o erro àcerca delas; todas elas são em acto, não em potência, já que, de não ser assim, se gerariam e destruiriam, mas o que é mesmo ( Tò on autó; a forma..) nem se gera nem se destrói, pois teria que gerar-se a partir de outra coisa. Assim pois a respeito das coisas que são uma essência, e que são actos, não é possível errar, mas sim captá-los ou não. Não obstante, perguntamo-nos àcerca delas pelo quê, se são tais ou não.) (Aristóteles, Metafísica, Editorial Gredos, Madrid, 1994, pags. 391-392; o negrito é obra nossa).
Aristóteles identifica a verdade com a captação das formas indestrutíveis, - isto é das essências ou seja o quê das substâncias: essências como homem, cavalo, janela, árvore.. - não com a verificação prática como sustentarão vinte e três séculos mais tarde o pragmatismo e o positivismo lógico.
E, concomitantemente, o erro fica inerente à matéria, causa da geração e da corrupção das coisas. Assim, a lógica bivalente do verdadeiro-falso parece secundarizada nesta passagem de Aristóteles.
É como se dissessemos que o contrário do crente em Deus - partindo do princípio que este existe - é o agnosticismo e não o ateísmo.
Assim temos: a verdade opõe-se à ignorância e é insusceptível de erro, pois existe em si mesma na modalidade de formas eternas e incorruptíveis não num mundo àparte como Platão supunha. Há portanto um domínio ontológico - o das formas ou essências, acima da entidade individualizada - em que não é possível ao pensamento humano errar: ou conhece ou ignora.
Compreende-se, pois que Aristóteles sustente que enunciar não é o mesmo que afirmar: o enunciar é o mostrar a verdade da essência, não admite a mínima possibilidade de erro, ao passo que o afirmar admite o contraditório, isto é, o negar.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Livraria online de Filosofia e Astrologia Histórica