É habitual dizer-se que «a ciência é mais objectiva do que a filosofia». Esta frase não é exacta: a filosofia profunda é mais objectiva do que a ciência, ao menos num certo sentido.
A palavra "objectividade" tem quatro sentidos:
1) Racionalidade e rigor de definições e raciocínios. Neste campo, a grande filosofia bate claramente as ciências em geral, se exceptuarmos ciências altamente filosóficas como a teoria da relatividade de Einstein. A filosofia anti vacinação é muito mais objectiva do que a estreita ciência da vacinação que se agarra ao rochedo do seu dogma: «introduzir vírus atenuados ou mortos no organismo estimula beneficamente as defesas deste». A filosofia limita-se a abrir o outro lado da questão: «Certamente, os vírus das vacinas suscitam a produção de anticorpos. Mas também uma queimadura ou um golpe causador de ferimento o faz. O aparecimento de anricorpos não é, por si mesmo, um bom sinal para o organismo. Quem garante que os vírus atenuados não causam doenças degenerativas?»
2) Empiricidade, isto é, estar sustentada pelos factos empíricos.
3) Intersubjectividade quase universal, isto é, depósito de ideias e crenças comum a quase toda a humanidade.
4) Realidade exterior aos espíritos humanos, coisa em si cognoscível e indiscutível.
Se é verdade que as ciências são, de um modo geral, mais empíricas do que a filosofia - e nesse sentido «mais objectivas» - também é verdade que a filosofia trabalha sobre uma base empírica e não meramente sobre uma base a priori, como sustentam alguns.
A filosofia é multiobjectiva - ela permite ver ao mesmo tempo, em vários planos, os contornos e a natureza das coisas - ao passo que a ciência é, em regra, apenas objectiva. A multiobjectividade não deve confundir-se com subjectividade: é distinta desta, embora desencadeie esta ou brote desta. Exemplo da multiobjectividade filosófica e científica: «Os seres são unos e múltiplos; a luz possui uma dupla dimensão, corpuscular e ondulatória».
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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