De acordo com a lógica proposicional, um «modo válido» do silogismo disjuntivo é:
p VV q
~ p
Logo, q
(Nota, lê-se: ou p ou q; não p; portanto q).
Exemplo:
Ou é português ou é espanhol.
Não é português.
Logo, é espanhol.
A lógica proposicional estabelece uma distinção arbitrária, errónea, entre disjunção inclusiva ( A ou B) e disjunção exclusiva (ou A ou B).
Segundo um manual em voga a distinção é:
«Disjunção inclusiva (Linguagem natural "ou". Símbolo lógico:"v")
«Disjunção exclusiva (Linguagem natural "ou". Símbolo lógico:"vv")
(Domingos Faria, Luís Veríssimo e Rolando Almeida «Sebenta do Aluno: Como pensar tudo isto? Filosofia 11º ano» da Editora Sebenta, pág. 17).
Segundo esta definição, chega-se ao seguinte ridículo exemplo:
Sou humano ou sou racional (disjunção inclusiva).
Ou sou humano ou sou racional (disjunção exclusiva).
É a mesma disjunção, não há distinção no conteúdo, só na forma. Ou..ou vale o mesmo que ou.
Deste erro de "astigmatismo" (visão dupla) filosófico deriva outro: a construção de tabelas de verdade diferentes.
Assim temos como tabela de verdade da disjunção «inclusiva»:
P Q PvQ
V V V
V F V
F V V
F F V
E temos como tabela de verdade da disjunção «exclusiva»:
P Q PvvQ
V V F
V F V
F V V
F F F
Assim, a disjunção «Sou humano ou sou racional», composta de duas proposições verdadeiras, seria verdadeira segundo a tabela de verdade inclusiva mas a disjunção «Ou sou humano ou sou racional», composta de duas proposições verdadeiras, seria falsa segundo a tabela de verdade exclusiva... Isto é impróprio de pensadores autênticos.
Mas é esta a lógica que a reforma em curso do programa do 10º ano de filosofia em Portugal impõe como única e obrigatória. Estamos, como no tempo do fascismo, obrigados a decorar fórmulas erradas e a estender essa estupidez a centenas de milhar de alunos. Vergonha para as cátedras universitárias! Suprimiram a lógica aristotélica no pressuposto de que a lógica proposicional a supera. Não é verdade. Há um subconsciente neofascista nesta supressão que é preciso pôr a nú: eles querem alunos amorfos, que não pensem autonomamente, papagaios que repetem mecanicamente fórmulas.
QUANDO NA DISJUNÇÃO UM TERMO ESTÁ INCLUÍDO NO OUTRO
Toda a disjunção é exclusiva. A verdadeira disjunção inclusiva - conceito que a lógica proposicional não concebe correctamente - será aquela em que um dos termos inclui ou engloba o outro. Exemplo:
Ou é português ou é portuense.
Não é português.
Logo, é portuense.
Como portuense - habitante do Porto, cidade do norte de Portugal - está, em regra, incluído em português, é ilógico dizer, em regra, que, não sendo português, é portuense. Está, portanto, errada a estrutura formal do silogismo disjuntivo acima exposta porque serve, indistintamente, a disjunção "exclusiva" e a disjunção inclusiva. Está errada a lógica proposicional que reduz as proposições a uma simples letra ( exemplo: "ou é português" representa-se pela letra p) sem ter em conta o conteúdo interno de cada proposição e o carácter do operador verofuncional.
A fórmula pvq, não p, logo q, só é válida se o nome predicativo do sujeito do antecedente (primeiro termo) não englobar - isto é, for extrínseco a.. - o nome predicativo do subsequente (segundo termo) da primeira premissa.
NÃO HÁ FALÁCIA NA AFIRMAÇÃO DO SEGUNDO MEMBRO DA DISJUNÇÃO
Segundo a lógica proposicional, é «inválido» o seguinte esquema de silogismo disjuntivo que, na segunda premissa, afirma o consequente da primeira:
a V b
b
Logo, ~ a
De facto, isto não é, em regra, uma falácia. Vejamos um exemplo:
Ou é português ou é espanhol.
É espanhol.
Logo, não é português.
Este raciocínio não é uma falácia porque o conteúdos do antecedente (primeiro termo) e do subsequente (segundo termo) são extrinsecos entre si. Seria uma falácia no caso seguinte:
Ou é a Lua ou é um satélite.
É um satélite.
Logo, não é Lua.
Este raciocínio é falácia porque há uma relação de inclusão do antecedente no subsequente da primeira premissa: a Lua é um dos satélites existentes no cosmos.
Vemos, pois, que a mesma estrutura formal proposicional de um silogismo disjuntivo (disjunção inclusiva)- neste caso: a v b, a , logo não a - é válida nuns casos e inválida noutros, não constituindo regra geral. Desmorona-se, portanto, o edifício da lógica proposicional, com as suas falsas tabelas de verdade, erguidas no nevoeiro do abstracto.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Livraria online de Filosofia e Astrologia Histórica