O movimento (kínesis), segundo Platão, tem duas formas: alteração (mudança interna de cada coisa, alloíosis) e a translação (mudança externa, de posição, phorá). Platão pretende situar-se num ponto intermédio na disputa entre os partidários do fluxo (os heraclitianos) e os partidários da imobilidade universal (os parmenídeos).
No Teeteto figura a seguinte passagem:
«SÓCRATES
Temos, então, de as examinar uma vez que mostras um desejo tão vivo. Na minha opinião, a investigação relativa ao movimento deve começar pela seguinte questão: que pretenderão eles exactamente afirmar quando dizem que tudo se move? O que pergunto é isto: pensam eles que há uma só espécie de movimento ou, como me parece a mim, haverá duas espécies? Mas não devo ser só eu a defender esta opinião; partilha, também, do mesmo risco a fim de que, sejam quais forem as consequências, as suportemos em conjunto.
TEODORO
Sim.
SÓCRATES
Mas quando a coisa permanece no seu lugar e envelhece, ou de branca se torna preta, ou de dura se torna mole, ou sofre qualquer outra alteração, não será justo dizer que se trata de uma segunda espécie de movimento?
TEODORO
Assim me parece.
SÓCRATES
É de facto, indiscutível. Distingo, portanto, duas espécies de movimento: a alteração (alloíosis) e a translação (phorá). »
(Platão, Teeteto, Inquérito, pags 106-107).
Que relação há entre estes dois movimentos e o tempo? Parece-me que a translação é o lado exterior, a manifestação mais imediatamente visível do tempo, ao passo que a alteração é, supostamente, o carácter interno, essencial, do tempo.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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