A distinção entre existência, por um lado, e essência (forma específica) e forma individualizada, por outro lado, está bem patente na Metafísica de Aristóteles: «o que é» e «o uno», isto é, o ser (existência), é o mais universal e divide-se em múltiplos géneros, cada uma das quais é um quê-é (essência).
« O uno não é algo diverso do que é. Ademais a substância (ousía) de cada coisa é una não acidentalmente, do mesmo modo que é também algo que é. Por conseguinte, há tantas espécies do que é quantas há do uno, e estudar o quê destas quero dizer, por exemplo, do mesmo, do semelhante e outras coisas deste tipo corresponde a uma ciência que genericamente é a mesma. (Aristóteles, Metafísica, livro IV, 1003b)
Aristóteles criticou Parménides por este usar o termo «ser» em um único sentido:
«A Parménides, podem-se levantar as mesmas objecções As suas premissas são falsas porque supõe que ser só se diz em sentido absoluto, sendo que tem muitos sentidos. ( ) Porque o ser do branco é distinto daquilo que o recebe, ainda que branco não exista separadamente, fora do que é branco; pois o branco e aquilo a que pertence não se distinguem por estar separados mas pelo seu ser. Isto é o que Parménides não viu.» (Aristóteles, Física, Livro I, 186a).
Branco e objecto branco por exemplo, lençol distinguem-se pelo seu ser, diz Aristóteles. Mas segundo Parménides, o ser de branco e de lençol branco é o mesmo tanto branco como lençol branco se encontram, enquanto qualidades ou coisas determinadas, enquanto formas, fora do ser que lhes subjaz. Se Aristóteles diz que a distinção se faz pelo ser é porque hierarquiza este em vários níveis por exemplo: o branco é o nível acidental, o lençol é o nível substancial - ou considera que a essência branco e a essência lençol são seres distintos e neste caso recusa conferir realidade ao «ser em geral» de Parménides, limitando-se ao ser determinado, isto é, ao ser agarrado à essência, indissociável desta e, portanto, múltiplo, porque muitas são as essências.
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