A expressão absolutismo de valores pode receber dois veios distintos no mármore da reflexão: absolutismo essencial de valores e absolutismo existencial de valores.
No sentido existencial, o valor absoluto existe por si mesmo, no espírito humano ou fora deste, mas pode mudar na sua configuração ou essência: o que é absoluta é a sua posição, a sua existência contínua e universal. Assim, o valor «mãe» e o valor «filho» são absolutos na medida em que se fazem sentir em todas as épocas e pessoas, mas variam - são relativos - no seu conteúdo eidético. Apesar de o valor «filho», ser sagrado para a maioria das pessoas - pais e mães - e o valor «mãe» idem, há comunidades e pessoas que não dão importância nenhuma ou quase nenhuma aos seus filhos e às suas mães, abandonando-os ou até oprimindo-os sistematicamente. Pode então dizer-se que se "mãe" e "filho" são valores absolutos, na ordem do tempo, da existência, são valores relativos, na ordem da essência, porque cada um deles comporta uma versão de apreço e outra de desprezo.
No sentido essencial, valor absoluto pode significar valor eterno, imutável, sem que, no entanto, seja adoptado em todas as regiões do mundo e em todas as épocas. Isto traduz absolutismo de essências e relativismo de existência. Por exemplo, o comunismo, como doutrina da abolição da propriedade privada dos meios de produção e troca, é um valor absoluto como essência mas relativo como existência, porque só em certas épocas históricas se impõe nalgum lugar do planeta.
Por conseguinte, o facto de os valores variarem ao longo das épocas - o valor "escravatura" deu lugar ao valor "servidão feudal" e este deu lugar ao valor "liberdade individual impulsionadora do capitalismo" - não significa que não sejam absolutos essencialmente. São, sim, relativos, existencial e historicamente, a pessoas, classes sociais, sociedades.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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