Friederich Nietzsche (Röcken, Reino da Prússia, 15 de outubro de 1844 – Weimar, Império Alemão, 25 de agosto de 1900) inaugurou o pós-modernismo no século XIX europeu com a sua teoria do perspectivismo, ou seja do subjectivismo multipolar. Esta corrente não nega a existência de múltiplas e variadas visões do mundo, uma para cada pessoa mas cada uma delas é pessoal, subjectiva, incapaz de se transcender e de conhecer a Verdade (fenomenalismo). Assim os valores absolutos da religião - a crença na verdade do Paraíso, no Purgatório e no Inferno para os católicos; a certeza da verdade da reencarnação para o budismo, o hinduísmo, o sikismo; a convição de verdade de que o mártir do Islão desfrutará no Paraíso de 72 mulheres virgens para os islâmicos - desaparecem, postos em dúvida tal como os valores absolutos da política e da sociologia do comportamento sexual - a democracia liberal republicana é superior às ditaduras, monárquicas ou não; o casamento heterossexual é a norma saudável, a união gay e lésbica é o desvio. Nietzsche escreveu:
«374- O nosso novo «infinito»- Até onde vai o carácter perspectivo da existência? Possui ela mesmo outro carácter? Uma existência sem explicação, sem «razão», não se torna precisamente uma «irrisão»? E, por outro lado, não é qualquer existência essencialmente «explicativa»? É isso que não podem decidir, como seria necessário, as análises mais zelosas do intelecto, as mais pacientes e minuciosas introspecções: porque o espírito do homem, no decurso destas análises, não se pode impedir de se ver conforme a sua própria perspectiva e só pode ver de acordo com ela. Só podemos ver com os nossos olhos; é uma curiosidade sem esperança de êxito procurar saber que outras espécies de intelectos e de perspectivas podem existir; se, por exemplo, há seres que sentem passar o tempo ao invés, ou ora em marcha para diante, ou ora em marcha para trás (o que modificará a direcção da vida e invertirá igualmente a concepção da causa e do efeito). Espero, contudo, que estejamos hoje longe da ridícula pretensão de decretar que o nosso cantinho é o único de onde se tem o direito de se possuir uma perspectiva. Muito pelo contrário, o mundo, para nós, voltou a tornar-se infinito, nosentido em que não lhe podemos recusar a possibilidade de se prestar a uma infinidade de interpretações.» (ibid, pag 287; a letra a negrito é posta por mim).
«Todos os nossos actos são bem, no fundo, supremamente pessoais, únicos, individuais, incomparáveis, certamente; mas desde que a consciência os traduz na sua língua, deixam de parecer assim...Eis o verdadeiro fenomenalismo, eis o verdadeiro perspectivismo, tal como eu o compreendo: a natureza animal faz com que o mundo de que nos podemos tornar conscientes não passe de um mundo de superfícies e signos, um mundo generalizado, vulgarizado» (Nietzsche, A gaia ciência, Guimarães Editores, Lisboa 1977, pag 251; a letra negrita é da minha lavra).
Gary Lachman ( 24 de Dezembro de 1955, Bayonne, New Jersey, EUA), escritor e investigador sobre misticismo e ocultismo, antigo guitarrista de banda rock, classifica Donald Trump de mago do caos, isto é, pessoa que acredita que pode transformar a realidade de um momento para o outro e produzir viragens imprevisíveis explicadas pela lei da atração ou pensamento positivo (pensar em grande de forma positiva, otimista, atrai o que se deseja). E insere Trump no heraclitismo, o que não parece inteiramente exato porque a filosofia de Heráclito segundo a qual as coisas são e não são, fluem em perpétuo devir, não contém a teoria do caos, de fazer surgir do nosso poder de concentração total a realidade que desejamos. Lachman liga Trump ao pós-modernismo .Escreveu:
«A confiança de Trump nos seus instintos e a capacidade de se "mover de forma rápida e decisiva quando chega a altura certa" aliadas à percepção fundamental da natureza fluida das coisas, ao seu carácter volátil, remontam ao filósofo grego Heráclito e refletem-se nos últimos avanços científicos, como por exemplo, na teoria do caos. Também proporcionam os alicerces da magia do caos.» (...)
«O pós-modernismo é uma perspectiva filosófica que surgiu no final do século XIX com influências da filosofia de Friederich Nietzsche e de Martin Heidegger, que anteriormente haviam quebrado com a noção de verdade estável e "objectiva", a que usamos no nosso dia a dia e é usada na ciência. De forma sucinta, a essência do pós-modernismo - apesar de negar que tem uma "essência" - pode resumir-se à frase "tudo flui". Para o pós-modernismo as certezas científicas e racionais que construíram o mundo moderno, assim como os valores tradicionais como a verdade, já não são relevantes. Pelo menos passaram a ser encarados com menos certeza.»
(Gary Lachman, Estrela negra a pairar, ocultismo e poder na era de Trump, Gradiva, páginas 15 e 16)
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