Eis um teste de filosofia sem questões de escolha múltipla. Elas existem nas provas de exame nacional em Portugal e, em média, 30 por cento delas estão mal concebidas.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA C
23 de Novembro de 2020. Professor: Francisco Queiroz
I
“As categorias são conceitos que prescrevem leis a priori aos fenómenos e, portanto, à natureza como conjunto de todos os fenómenos…O entendimento reduz à unidade o diverso das intuições empíricas.» (Kant, Crítica da Razão Pura)
1) Explique estes pensamentos de Kant.
2) Explique, como, segundo a gnosiologia de Kant, se formam o fenómeno GIRASSOL, o conceito empírico de GIRASSOL e o juízo a priori «Doze mais seis é igual a dezoito».
3) Relacione, justificando:
A) As sete relações filosóficas em David Hume e as formas a priori da sensibilidade e do entendimento na teoria de Kant.
B) Chora em Platão, Hylé em Aristóteles, Caos sensorial em Kant, Tábua Rasa em Locke.
C) Realismo crítico em Descartes e Idealismo, Ceticismo e Subjetivismo no sofista Górgias..
D) Razão e entendimento na doutrina de Kant.
E) As impressões de sensação e de reflexão e ideias de «eu», «alma» e «substância» em David Hume.
CORREÇÃO DO TESTE COTADO MAXIMAMENTE EM 20 VALORES
1) As categorias impõem leis aos fenómenos da sensibilidade , isto é, aos objectos físicos. Exemplo: a evaporação da água de um lago e o sol a incidir sobre este só se tornam na lei «o calor do sol é causa da evaporação» devido à categoria de causa-efeito existente no entendimento. (VALE UM VALOR). O entendimento recebe, por exemplo, milhares de imagens de ROSA (é o diverso da intuição empírica) e abstraindo das diferenças entre elas constrói um conceito empírico de ROSA (a unidade).
2) O númeno ou objecto metafísico afecta de alguma maneira a sensibilidade fazendo nascer nesta um caos empírico de matéria indeterminada e as formas a priori de espaço (figuras, extensão) e tempo (duração, simultaneidade, sucessão) moldam essa matéria transformando-a no fenómeno GIRASSOL , que é o objecto visível ou coisa para nós. (VALE DOIS VALORES). As imagens do fenómeno são levadas pela imaginação às categorias de unidade, pluralidade, realidade e outras do entendimento ou intelecto ligado ao mundo empírico e aí são reduzidas à unidade, a um conceito único de GIRASSOL (VALE DOIS VALORES). O entendimento retira do tempo as intuições de seis, doze e dezoito, eleva-as a conceitos a priori e usando as formas dos juízos apriori afirmativos e apodíticos produz o juízo «doze mais seis é igual a dezoito».(VALE DOIS VALORES).
3) A David Hume escreveu: «Há sete espécies de diferentes de relação filosófica: semelhança, identidade, relações de tempo e lugar, proporção de quantidade ou número, graus de qualidade, contrariedade e causação. Podem dividir-se estas relações em duas classes:as que dependem inteiramente das ideias que comparamos entre si e as que podem variar sem qualquer mudança de ideias. (David Hume, Tratado da Natureza Humana, pag 103, Fundação Calouste Gulbenkian). Estas relações são estruturas a priori tal como as formas a priori da sensibilidade em Kant que são espaço e tempo (em Hume: relações de tempo e lugar). A causação, em Hume, é a categoria de causa-efeito em Kant (DOIS VALORES).
3) .B. O que há de comum entre estas quatro entidades é o não terem forma mas serem matéria que vai ser moldada por formas: a Chora é um espaço obscuro, uma matéria no caos, que irá ser moldada pelo demiurgo com formas semelhantes aos arquétipos do mundo inteligível; a Hylé é a matéria prima universal em Aristóteles, algo que não existe mas passa a existir-se ao unir-se às formas eternas; o Caos Sensorial, em Kant, nasce na sensibilidade por influência do númeno e é moldado pelas figuras do espaço a priori e pela duração e sucessão do tempo; a Tábua Rasa é a consciência vazia ao nascer, sem formas, apta a receber estas. (VALE DOIS VALORES).
3,C) O realismo crítico de Descartes sustenta que existe um mundo exterior aos seres humanos quase desmaterializado por completo. Nele só existem formas e tamanhos dos objectos, número e movimento - são as qualidades primárias, objectivas. As cores, sons, sabores, cheiros, ductilidade, calor e frio, etc, são qualidades subjectivas ou secundárias, ilusões interiores à mente humana. Isto coincide parcialmente com o idealismo de Górgias que disse «Nada existe». O cepticismo que Descartes usou existe na seguinte máxima de Górgias« Se algo existe é incognoscível». E o subjectivismo, doutrina que diz que a verdade varia de pessoa a pessoa, está na máxima de Górgias «Se é cognoscível, não pode ser comunicado a outrém». (VALE TRÊS VALORES).
3) D. A razão em Kant é a faculdade das ideias que se dirigem supostamente aos númenos, objectos metafísicos incognoscíveis (Deus, alma, liberdade, mundo como um todo) . É livre, incondicionada, porque está desligada do mundo dos fenómenos, da natureza física e por isso gera antinomias: «Deus existe, Deus não existe», «Há liberdade, não há liberdade», etc. O entendimento é a faculdade das regras, tem a tábua das categorias e a tábua dos juízos puros como formas a priori, pensa os fenómenos (objectos materiais) existentes na sensibilidade externa, isto é, no espaço. É o gerador da matemática e das ciências em geral, é condicionado pela sensibilidade, faculdade que sente mas não pensa (VALE DOIS VALORES).
3) E) Para David Hume as fontes principais do conhecimento são as impressões de sensação (exemplo: ver uma planície, ouvir música, cheirar uma rosa) e as impressões de reflexão (exemplo: conservar a memória da planície, da música, do cheiro da rosa). A ideia é uma cópia pálida destes dois tipos de impressões. Hume é idealista porque não garante a realidade de objectos físicos exteriores. Alguns dizem que é céptico. Atribui grande importância à imaginação que com o princípio da invariância faz crer que há substâncias permanentes fora de nós como a nossa casa, a nossa escola, a Europa, etc, e faz.nos crer que temos uma substância chamada «eu», de facto inexistente, e outra chamada «alma».
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