Manuel Ayllón Campillo, arquitecto e escritor, nascido em Madrid em 1952, um dos arquitectos de maior prestígio em Espanha na actualidade, antigo professor na Escola Superior de Arquitectura de Madrid e conselheiro do Corredor Verde Ferroviário, teorizou que a democracia liberal está sequestrada por elites. Este autor de obras como «La piedra del diablo», «El caso Lorca: fantasia de un misterio», «Conspiración contra el rey» escreveu:
«A invenção do Purgatório entre os anos 1150 e 1250 na cristandade ocidental tem por objecto pensar o que está no meio, o intermediário entre a morte individual e o Juízo Final, entre o tempo celeste e o tempo escatológico, entre o espaço do Paraíso e o do Inferno. " Estrutura lógica, matemática, o conceito de intermediário está vinculado às mutações profundas das realidades sociais e mentais da Idade Média. Não deixar sós, frente a frente, os poderosos e os pobres, os laicos e os clérigos, mas buscar uma categoria mediana, classes médias ou terceira ordem numa sociedade transmutada" (J. Le Goff, La naissance du Purgatoire). Fora da antiga lógica orgânica, os partidos devem constituir corpos intermédios entre o lugar da actividade civil e o da representação da opinião. Estão aí para tornar operativa a lógica da separação, mas também para superá-la e passar da divisão natural e artificial das mónadas à unidade artificial e política da colectividade.»
(Manuel Ayllón, La democracia secuestrada, Ediciones Akal, SA, Madrid 1997, pág. 91; o destaque a negrito é posto por nós)
Os partidos políticos na tríade da dialética hegeliana - tese ou afirmação, antítese ou negação e síntese ou negação da negação - desempenham o papel de síntese, que é o meio termo, a conciliação e superação dos contrários. Assim entre as empresas capitalistas e os cidadãos em geral existe o Estado e os partidos políticos que o moldam e que amortecem o choque entre os empresários e os assalariados, em regra a favor dos primeiros.
O FINANCIAMENTO DO ESTADO AOS PARTIDOS POLÍTICOS, SINAL E FONTE DE CORRUPÇÃO
O simples facto de os partidos receberem subvenções anuais e financiamento do Estado nas campanhas eleitorais corrompe a democracia. Em Portugal, cada voto para as eleições legislativas de 6 de Outubro de 2019 rende por ano 2,90 euros ao partido, ou seja 11,6 euros em quatro anos. Recebem esta subvenção os partidos que recolherem pelo menos 50 mil votos, mesmo que não obtenham representação parlamentar. A subvenção que os partidos recebem para a campanha é um bolo de quase sete milhões de euros. Esta subvenção não pode ser superior às despesas dos partidos, ou seja, recebem consoante o que gastam, tendo este tecto. Manuel Ayllón escreveu:
«A corrupção mais perigosa para a democracia é a que tem permitido a todos os partidos políticos acumular recursos tão consideráveis e tão independentes da contribuição voluntária dos seus membros que lhes permitem escolher os candidatos às eleições e assegurar o êxito de certo número de eles, rindo-se deste modo do princípio da escolha livre dos dirigentes pelos dirigidos. (...) Mas a partidocracia destrói a democracia privando-a da sua representatividade levando-a ora ao caos, ora à dominação de facto de grupos económicos dirigentes, à espera da intervenção de um ditador».
(Manuel Ayllón, La democracia secuestrada, Ediciones Akal, SA, Madrid 1997, pág. 133; o destaque a negrito é posto por nós).
Os partidos vivem de um discurso retórico que ilude os seus eleitores graças à influência da televisão, jornais e estações de rádio subservientes aos grandes grupos económicos (grupo Barraqueiro, Mota Engil, Teixeira Duarte, grupo Melo, grupo Espírito Santo, Sonae, etc). São estes grupos que financiam o presidente da república, o primeiro ministro, os deputados nacionais, os autarcas, os jornalistas, os autores dos programas e manuais escolares de filosofia, as editoras e têm tudo atado e bem atado.
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