São Tomás de Aquino estabeleceu que há três categorias de medida da duração das substâncias materiais ou espirituais: o tempo, o evo e a eternidade. O evo é a natureza imutável e a medida de duração das substâncias espirituais, dos anjos, dos demónios, na teologia cristã medieval.
Alguns defenderam que há múltiplos evos mas São Tomás entendeu que só há um. A luta de São Miguel Arcanjo empunhando uma espada de fogo contra Satanás não se desenrolou no tempo mas no evo. Este último é a substância imutável dos anjos e dos astros e, nessa medida, não comporta antes e depois - a natureza de um anjo não muda nunca, é intransmutável - mas na medida em que essa substância é dotada de mobilidade ou de livre-arbítrio e pode desaparecer por vontade de Deus, o Eternamente Presente, ao evo são aplicáveis o antes e o depois - o anjo pode mudar de lugar, escolher a sua trincheira de combate, a pessoa humana a quem dar proteção. São Tomás escreveu:
«O evo diferencia-se do tempo e da eternidade como um intermédio entre ambos. Há alguns que estabelecem a diferença dizendo: a eternidade não tem princípio nem fim; o evo tem princípio mas não fim; o tempo tem princípio e fim . Mas trata-se de uma diferença acidental como ficou dito (artigo 4). (...)
«Portanto, se o próprio evo não está submetido à novidade e à antiguidade, a razão deparar-se.á com o facto de ser intransmutável; por isso na sua medida não haverá antes nem depois.»
«Por conseguinte, há que dizer: como se quer que a eternidade é a medida do ser permanente, quanto mais algo se afasta do ser permanente, tanto mais se afasta da eternidade. Há certas coisas que se afastam tanto da permanência do ser, que o seu ser está submetido à mudança, ou é a própria mudança. Por isso são medidos com o tempo. Isto é próprio de todo o movimento e também é próprio de todos os seres corruptíveis». (...)
«Por outro lado, há seres que se afastam muito menos da permanência no ser, porque o seu ser não está submetido à mudança nem é a própria mudança(...) Isto é o próprio dos corpos celestes cujo ser substancial é intransmutável. (...)
«Algo parecido se passa com os anjos que têm ser instransmutável submetido à mutabilidade da escolha, algo própria da sua natureza. Por isso, podem mudar a respeito da sua escolha, pensamento, afecto e lugar. E podem ser medidos pelo evo, que é o intermédio entre a eternidade e o tempo». (...)
«O evo é totalidade simultânea, sem embargo não é eternidade, porque está submetido ao antes e ao depois».
(Santo Tomas de Aquino, Suma de Teologia, I, Parte I, Cuestion 10, Sobre la eternidade de Díos, Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 2006, pp 157-158; o destaque a negrito é posto por nós ).
Quando lemos a Suma Teológica de São Tomás ou a Física de Aristóteles percebemos que são de qualidade superior ao «Ser e o Tempo» de Heidegger, o grande charlatão da filosofia do século XX.
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