David Wallace-Wells, jornalista premiado por denunciar o aquecimento global e as suas nefastas consequências, formado nas universidades de Chicago e Brown, outrora editor da revista Paris Review e actualmente editor e colunista da revista New York e do jornal britânico The Guardian.,"national fellow" do think tank New America, aponta contradições aos ambientalistas liberais e à esquerda. Escreve:
«E por isso, nos próximos anos, o desinvestimento deverá ser apenas o primeiro sinal de uma competição moral entre universidades, municípios e nações. As cidades competirão para serem as primeiras a proibir carros, a pintar de branco todos os telhados, a produzir toda a agricultura produzida pelos residentes em quintas verticais que dispensam o transporte pós-colheita, seja de automóvel, comboio ou avião. Mas também continuarão as campanhas locais, conduzidas por liberais, de rejeição de algumas políticas, como sucedeu em 2018, quando os eleitores no muito democrático estado de Washington chumbaram nas urnas uma taxa sobre carbono, e como em França, quando os piores protestos desde a quase revolução de 1968, foram contra um proposto aumento dos impostos sobre os combustíveis. No clima, talvez mais do que noutro tema qualquer, esta atitude liberal de saber esclarecido e bem instalado é um gesto defensivo: quase independentemente das opções políticas e das escolhas de consumo, a verdade é que, quanto mais rico se é, maior é a pegada de carbono que se deixa.» (...)
«Se os maiores emissores do mundo, os dez por cento do topo, reduzissem as suas emissões apenas para a média da União Europeia, as emissões totais globais cairiam 35 por cento. Não chegaremos aí através das escolhas alimentares de indivíduos, mas com mudanças de política. (...) Por outras palavras, comer produtos biológicos é bom, mas se a meta é salvar o clima, o seu voto é muito mais importante. A política é um multiplicador moral. E uma percepção dos males do mundo sem o complemento do compromisso político apenas nos dará "bem estar".
(David Wallace-Wells, A Terra Inabitável, Como vai ser a Vida pós-Aquecimento Global, editora Lua de Papel, pp 240-241; o destaque a negrito é posto por nós).
Que concluir deste texto? Que a luta dos coletes amarelos contra a política de Macron que inclui subida de impostos sobre combustíveis é uma luta contra-revolucionária porque prejudicial ao meio ambiente: mais gasolina e gasóleo baratos é mais poluição do ar e aquecimento global.
EUA de Trump, Rússia de Putin e China de Xi Jinping são neste momento os maiores inimigos do ambiente, e da humanidade, dado que recusam limitar o crescimento industrial e a poluição atmosférica, aquática e terrestre derivada dessa industrialização.
A luta encabeçada pela menina sueca Greta Thunberg nas ruas e nos fóruns é muito mais importante do que a plantação de mais olivais intensivos no Alentejo e em outras regiões do mundo e possui um sentido revolucionário, autorregulador, ao contrário da plantação de novos olivais suportados pela agro-química que representam o caos e o lado negro do capitalismo.
A contradição principal no mundo de hoje não é a que opõe o proletariado à burguesia mas a que opõe os defensores do crescimento zero, ambientalistas, aos promotores das agro indústrias, das viagens de automóvel e avião, da industrialização, com o uso generalizado do plástico e com o abate de florestas inteiras como a Amazónia.
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