José Gil, filósofo português de matriz francesa, talvez o mais proeminente académico de filosofia dentro da instituição universitária, no Portugal do século XXI, escreveu o seu mais paradigmático ensaio há uns 15 anos, sobre a fenomenologia da percepção ideosensível, a estética e a arte. Aí se pode ler:
«O esqueire - e o equívoco - fazem com que o gesto corporal signifique para além dos movimentos do corpo (em suma, que o corpo fale de outro modo que não simplesmente agindo, confundindo gestos e ações). É então que o espaço de uma massa semântica autónoma, significada pela linguagem, se pode constituir.»
«A tensão entre estes dois vetores - esgueire e equívoco, intervalo e confusão - desemboca num equilíbrio instável: a situação original de um intervalo que põe um "interior" amorfo é acompanhado por um equívoco que impõe aderências tão estreitas entre a expressão e o expresso que um dos temas não consegue desprender-se por completo um do outro: não há "hipocrisia" fora da expressão corporal ou facial da hipocrisia. Mas o sentido de "hipocrisia" não se esgota nesta expressão: permanece o intervalo entre o expresso e a expressão, como persiste entre o fundo informe e a forma que incarna o sentido.» (José Gil, A imagem-nua e as pequenas perceções, pag 297, segunda edição, Relógio de Água; a letra negrita é posta por mim).
Lendo este discurso, simultaneamente barroco e racional, podemos perguntar-nos: até que ponto um escritor de grande qualidade como José Gil - este não é, seguramente, inferior a José Saramago - não dilui o filosofar como exercício de especulação racional na metáfora poética?
José Gil constrói uma arquitetura ontológico-fenomenológica em que o esgueire ou lugar ontológico vazio e o equívoco ou caos «informe» são os motores do conhecimento, em particular da percepção sensível. Todos os filósofos buscam definir dois ou três princípios fundamentais na génese do mundo ou do conhecimento humano: em Tales de Mileto, a água e a inteligência modeladora chamada Deus, em Aristóteles, a forma, a matéria-prima e o composto, em Descartes, a res divina, a res cogitans e a res extensa, em Kant, o sujeito transcendental ou a priori e os númenos, em Heidegger o ser desdobrado essencialmente em ser-aí (cada homem) e ser diante dos olhos (o mundo visível e palpável, "exterior"), etc.
Aparentemente Gil é um antiplatónico: não se vislumbra, ao menos nesta parte da obra, a postulação de arquétipos ou modelos eternos e perfeitos àparte das coisas existentes do quotidiano, uma vez que diz-nos que não há hipocrisia fora do esgar hipócrita do rosto ou do gesto corporal hipócrita, isto é, não separa a essência do ente ou sendo. Começarei por pôr em dúvida que a linguagem se constitua após o esgueire e o equívoco abrirem um além na acção corporal. Não é o equívoco já a linguagem em potência? Não está a linguagem, desde o início, tanto como o metafenómeno ou feixe gerador de energias de que Gil fala adiante, a dirigir e direcionar o devir-outro do homem?
No excerto acima de José Gil, parece-me ambígua a utilização do termo «intervalo»: é usado ora como nada ontológico ou esgueire, ora como diferenciação entre o expresso e a expressão, diferenciação que não é, seguramente, um nada, a meu ver, mas um espaço presente e separador. Gil não escapa ao calcanhar de Aquiles dos filósofos em geral que é a anfibologia, o atribuir a um mesmo termo, sentidos diferentes, no mesmo texto, sem se darem conta disso.
Além disso, pergunta-se: se o intervalo põe um "interior" amorfo ou fundo informe, em que se distingue esse intervalo ou lugar não inscrito do fundo amorfo?
UM LUGAR QUE NÃO É FÍSICO NEM PSÍQUICO, QUE NÃO É SENTIDO NEM SEM-SENTIDO - OU COMO A IMAGEM POÉTICA AFASTA DO RIGOR FILOSÓFICO
E prossegue José Gil:
«Se há intervalo inicial entre o que se vê no corpo do outro e o que ele significa (para além do que significa aquilo que se vê) é porque qualquer coisa de absolutamente irredutível (à presença para a qual remete o signo ou a forma) escapa à significância do visível. Não se trata do que, do sentido, não é signo ou não é significável; mas, mais profundamente, daquilo que não sendo nem indizível nem inefável, cai fora da esfera tanto do signo como do sentido, não é nem coisa a dizer nem coisa a denotar. Isso, que não tem nome, é um lugar não inscrito, lugar do intervalo entre o visível das formas do corpo e o informe que procura tomar forma; a esse lugar, não há símbolo, nem índice, nem forma que o nomeie porque não é nem conteúdo psíquico, nem um lugar físico, nem um pensamento; não é um sentido nem um não-sentido. Mas só ele permite aos pensamentos que se formem e ao sentido tornar-se não-sentido; aos signos significarem e às formas surgirem e combinarem-se.» (José Gil, ibid, pag 297; o negrito é colocado por mim).
Nada há de radicalmente novo em filosofia nestas linhas. Parece estarmos a ler o «Livro do Caminho», de Lao Tse, quando este diz que do não ser, do sem forma, do vazio (Tao) nasce o ser, o que tem forma. O que surpreende é como Gil salta os campos alinhados, de contornos definidos da lógica, e mergulha nos vapores sulfurosos da inconsistência lógica: «o lugar sem nome não é indizível ... mas não é coisa a dizer»; «o lugar não é um sentido nem um não sentido» , aqui afrontando o princípio do terceiro excluído; «não se trata do que, do sentido, não é signo nem significável.. mas (do que) cai fora da esfera tanto do signo como do sentido...», expressão que se afigura algo incoerente uma vez que na esfera do sentido tudo é significável o que a primeira parte da citação nega.
Mas o belo discurso, que inclui o paradoxo, não transcende a filosofia como ciência de rigor? E não se situa no mar do imaginário que é, sobretudo, poesia e literatura surreal?
UM SOLO MOVEDIÇO INTERIOR, EXTERIOR OU INTERNO-EXTERNO?
Gil escreve ainda a propósito do Esgueire ou intervalo-primordial, a «zona zero» da "Manhattan" das duas torres gémeas da sua filosofia, a Torre do Equívoco e a Torre das Formas realizadas:
«É o lugar-zero a partir do qual o corpo-imagem de outros se cobre de infinitas vibrações, de movimentos intervalos: se a esquematização do sentido do corpo se continua a prestar à subjetivização, é porque o solo sobre o qual se ergue a imagem do corpo está em incessante movimento de diferenciação, de dissolução e de apagamento desse mesmo solo. A "superfície" de inscrição, a pele-nua, do corpo percebido são afetados de um não-lugar, de uma não-inscrição eventual. É o não-lugar do absolutamente possível. Porque o intervalo de Esgueire é absoluto e ao Equívoco corresponde o Possível. Os possíveis do devir-outro partem de um zero de atualidade que é muito simplesmente nulo (comparável decerto ao caos de Klee; ao abismo-caos de Guaugin, ao abismo-branco de Malevitch). »
«O branco da inscrição é o que não teve lugar. É um não acontecimento. Duplo paradoxo: o de poder haver produção de um não acontecimento e o de esse acontecimento poder produzir acontecimentos (a não-inscrição pode levar um homem a inscrever, encetando por exemplo um devir-artista). »(José Gil, A imagem-nua e as pequenas perceções, pag 298; a letra a negrito é posta por mim).
Note-se que o termo "não-inscrição" usado por Deleuze e outros filósofos franceses significa o que não existe ou o que existe mas permanece invisível e indetetado. Passemos por alto, o facto de Gil definir o Esgueire de forma oscilante, ora como um não-lugar, ora como intervalo espacial- neste último caso é um lugar porque o espaço se compõe de lugares.
Em Gil, o Esgueire é o lugar-zero e o não-lugar do absolutamente possível ao passo que o Equívoco corresponde ao Possível. Há uma diferença de grau, no mínimo. Dir-se-ia que o Esgueire é o ser em potência mas esta definição aplicar-se-ia igualmente ao Equívoco...E, afinal, o que é o solo movente, em transformação, sobre o qual se ergue a imagem-nua do corpo? É algo interior ao eu psico-corporal, exterior a este ou ambas as coisas? O texto não nos esclarece.
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Uma das evidências de que o mundo académico da filosofia não possui absoluto rigor mas desliza, em boa parte, no gelo do paralogismo é a divisão da filosofia em dois grandes continentes temáticos: filosofia analítica e filosofia continental. Esta oposição está mal construída pois não se baseia na lei da contrariedade.
Analítico opõe-se a sintético e não a continental. E este opõe-se a insular. Trata-se de uma confusão de géneros: analítico e sintético pertencem ao género modo de conhecer ou modo gnosiológico ao paso que continental e insular integram o género geográfico. Se aceitarmos que a filosofia analítica deve dar nome a um dos polos do universo filosófico atual, mudemos-lhe o nome para filosofia analítico-discursiva sendo o outro polo designado por filosofia sintético-metafísica, incluindo a fenomenologia e outras correntes.
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Sobre o subjetivismo escreve o Routledge Dictionary of Philosophy:
« SUBJETIVISMO Ponto de vista ou pontos de vista que afirma que o que aparece como sendo verdades objetivas ou regras em certas esferas, nomeadamente em ética, são realmente ordens disfarçadas ou expressões de atitude, etc, por exemplo, "Mentir é errado" devia ser encarado não como declarando um facto objetivo, mas como sendo realmente a ordem "Nunca mintas!" ou uma expressão de hostilidade do orador em relação a mentir, como "Mentir! Grrr!" (ver NATURALISMO). Uma versão alternativa do subjetivismo diz que as declarações em questão exprimem verdades objetivas, mas unicamente sobre mentes humanas, desejos, crenças, experiências, etc, sejam estas do orador ou do público em geral. "Mentir é falso" devia então significar "Eu, ou talvez as pessoas em geral, desaprovo mentir" (Michael Proudfoot e A.R. Lacey, The routledge Dictionary of Philosophy, 4ª edição, pag 390; a letra a negrito é colocada por mim).
Proudfoot e Lacey confundem a definição de subjetivismo com o mecanismo gerador do subjetivismo, isto é, confundem a «causa formal», em linguagem aristotélica, com a «causa eficiente.» O subjetivismo possui uma dupla definição, epistémica e sociológica: «doutrina segundo a qual a verdade é íntima a cada pessoa e exclusiva desta, ou seja, a verdade varia de pessoa a pessoa, não há uma verdade única geral». É o mais radical individualismo gnosiológico.
Dizer que o subjetivismo é apenas uma ordem ou conjunto de ordens disfarçadas, como acima o faz o Routledge Dictionary, é confundi-lo com o prescritivismo e com o emotivismo (note-se que há um emotivismo subjetivo e um emotivismo objetivo) e é pôr de parte o conteúdo intelectual representativo, de uma dada consciência. Dizer que subjetivismo é uma atitude de hostilidade do orador para com algo é confundir o produto final (a ideia, o enunciado subjetivista) com o agente que o produziu (a emoção do sujeito) - voltamos, de novo, à confusão entre causa eficiente e causa formal. O subjetivismo em sentido sociológico (uma só pessoa, uma só mente isolada) opõe-se ao objetivismo em sentido sociológico (muitas mentes partilhando a mesma verdade objetiva) mas não se opõe ao objetivismo em sentido epistémico (a verdade em si).
Exemplo: somos uma minoria de pensadores isolados (subjetivismo sociológico) os que afirmamos, seguindo as conclusões do francês J.Tissot e do norte-americano Herbert Shelton, que a vacinação é um envenenamento surdo do organismo humano por vírus e toxinas e que as vacinas são sempre nocivas mas apreendemos a verdade epistémica (objetivismo epistémico) ao passo que a esmagadora maioria da população (objetivismo sociológico) acredita, erradamente, que as vacinas «imunizam», impedem e erradicam doenças (subjetivismo epistémico, poderia dizer-se). A imposição da teoria da vacinação como "verdade oficial" não resulta de qualquer discussão racional pública, alargada, em termos justos. É um puro acto fascista que a elite semi pensante dos médicos e investigadores de laboratório e dos políticos leva a cabo com o acordo da parte inculta e maioritária da população de cada país.
A mais alta verdade em filosofia (objetivismo epistémico-filosófico) atinge-se através do mais puro isolamento do pensar (subjetivismo sociológico).
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A filosofia Aristóteles distingue-se da de Platão na medida em que procura demonstrar que as essências não existem separadamente em si mesmas, fora do mundo material e vital. Assim acontece com a essência infinito espacial :
«Ora bem, é impossível que o infinito seja separável das coisas sensíveis e que algo seja infinito em si mesmo. Porque se o próprio infinito não fosse uma magnitude nem uma pluralidade, mas sim uma substância e não um atributo, seria então indivisível; porque o divisível ou é uma magnitude ou uma pluralidade. Mas se é indivisível não é infinito, salvo que o fosse como a voz é invisível. Mas os que afirmam a realidade do infinito não dizem que seja desta maneira, nem que é isso o que buscamos, mas que o infinito é algo "que não pode ser percorrido". Mas se o infinito existe como atributo nunca poderá ser, enquanto infinito, um elemento constitutivo das coisas, como tampouco o invisível o é da linguagem, ainda que a voz seja invisível.»
«Ademais, como é possível que exista o próprio Infinito, se não existem o próprio Número e a própria Magnitude, dos quais o infinito é em si uma propriedade? A necessidade de que exista este infinito é ainda menor do que a do número ou da magnitude em si.» (Aristóteles, Física, Livro III, 204 a, 5-20; a letra negrita é posta por mim)
É muito interessante a visão aristotélica: o infinito no espaço e no mundo corporal é uma abstração, não existe em si mesmo, salvo na imaginação. As coisas são finitas. O infinito é uma ilusão da mente. É nele, a meu ver, que a física se converte em matemática, uma vez que o universo físico material é limitado, por muito que falem da divisibilidade infinita dos corpos, e a matemática devido à sua natureza monádica (os números não ocupam lugar) suscita a ideia de infinito. A matemática faz a ponte entre a física e a metafísica. Não espanta que Aristóteles a classifique como a primeira das ciências a seguir à filosofia primeira ou - termo não usado pelo filósofo grego - ontologia-eidologia. Aristóteles sabia , verdadeiramente, produzir ontologia: o ser real é o finito ou o conjunto dos finitos, mas não o infinito que é ser virtual, atributo. A crença de Einstein de que o universo é finito, como uma esfera fechada, radica, assim, na concepção aristotélica do mundo.
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Uma das provas de que existe uma estupidez universitária institucionalizada é a negação, por parte dos académicos, de que há determinismo astral a reger a vida humana e a vida na biosfera. Nietzsche, Marx. Heidegger, Foucault, e tantos outros eram absolutamente obtusos para intuir o «longo braço da radiação planetário-zodiacal» na ocorrência de naufrágios, incêndios de edifícios, cerimónias oficiais sumptuosas, revoluções e contra-revoluções nos dias X ou Y do mês Z de tal ou tal ano. Acredita-se, numa atitude de fé, nos quarks e leptões, partículas invisíveis, teoriza-se um universo a dez, onze ou trinta dimensões e não se vê o óbvio: as correlações entre os factos históricos e as posições dos planetas que deslizam na coroa de círculo celeste grosso modo designada por Zodíaco.
É certo que as páginas dos jornais, a internet, as revistas da especialidade, os programas de televisão estão dominados por pseudo-astrólogos, psico-astrólogos e semi-astrólogos, nenhum deles transportando a verdade concreta da astrologia, que é a astrologia histórico-social, política e económica. Isso desprestigia a astrologia, desencoraja a investigação nessa área. Mas não nos dêmos por vencidos! Com o risco que comporta fazer previsões e a animosidade da canalha "filosófica" - dominante no ensino universitário e secundário - que protesta indignada contra o roubo do livre-arbítrio profundo pela gravitação universal que a minha astrologia pressupõe, aqui vão algumas previsões para o ano de 2012, algumas das quais falharão porque me baseio apenas num ciclo planetário de cálculo e não em vários em simultâneo como deveria ocorrer.
PONTO 1º 2´/ 1º 10´ DE QUALQUER SIGNO: ATENTADO OU ATAQUE A EMBAIXADA EM PORTUGAL
Em 27 de Setembro de 1975, com Úrano em 1º 0´/1º 4´ de Escorpião, milhares de pessoas, convocadas pela extrema-esquerda, atacam e invadem a embaixada de Espanha em Lisboa, queimando móveis, estantes, etc, em protesto contra a execução de cinco militantes antifranquistas; em 27 de Julho de 1983, com Júpiter em 1º 5´/ 1º 4´ de Sagitário, um comando arménio assalta a embaixada da Turquia em Lisboa e no incêndio e tiroteio morrem um agente da PSP, a esposa do embaixador turco, e os 5 assaltantes.
Alguns dias do ano de 2012 em que situações análogas poderão ocorrer dada a passagem, nesses dias de um planeta entre 1º 2´e 1º 10´de qualquer signo são: de 14 a 16 de Janeiro de 2012 (Júpiter de 0º 59´a 1º 11´do signo de Touro); de 2 a 6 de Março de 2012 (Neptuno de 1º 2´a 1º 10´ de Peixes): em 17 e 18 de Agosto de 2012 (Nodo Norte da Lua em 1º 19´a 0º 55´de Sagitário); em 14 e 15 de Outubro de 2012 (Saturno em 0º 58´/ 1º 12´de Escorpião).
ÁREA 20º-21º DE CAPRICÓRNIO: SISMOS RELEVANTES
Em 12 de Janeiro de 2010, com Nodo norte da Lua em 21º de Capricórnio. ocorre um sismo no Haiti que causa 100 000 mortos; em 21 de Fevereiro de 2011, com Vénus em 18º-20º do signo de Capricórnio, ocorre na Ilha do Sul da Nova Zelândia um sismo de magnitude 6.3. com foco muito superficial e epicentro próximo da cidade de Christchurch, com uma população a rondar as 400 mil pessoas, resultando 65 mortos confirmados.
Eis algumas datas de 2012 em que o trânsito em 20º-21º de Capricórnio elevará o risco de sismo: 21 e 22 de Janeiro de 2012 (Mercúrio); de 13 a 15 de Dezembro de 2012 (Marte)
PONTO 29º 10´/ 29º 12´ DE QUALQUER SIGNO: SISMO RELEVANTE
No dia 21 de Fevereiro de 2011, com Marte em 29º 10´/ 29º 58´ de Aquário, um sismo em Cristchurch, Nova Zelândia, causa 65 mortos; no dia 11 de Março de 2011, com Neptuno em 29º 12´/ 14´ de Aquário, pelas 05:46 UTC (às 14:46 hora local) ocorre a 130 km E da principal ilha do Japão, Honshu, um sismo de magnitude 8.9 a 24 km de profundidade, registado em todas as estações da Rede Sísmica Nacional operada pelo IM, resultando mais de 15000 mortos.
Eis alguns dias de 2012 em que a passagem de um planeta em 29º 10´/ 29º 12´ de qualquer signo elevará o risco de forte sismo algures: 10 e 11 de Janeiro de 2012 (Neptuno em 29º 9´/ 29º 13´ de Aquário); de 18 a 20 de Janeiro de 2012 (Saturno em 29º 8´/ 29º 14´ de Balança).
NOTA: À venda
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Continuamente, a central filosófica transcendente, essa «internet» noética, que atravessa o cosmos e abrange cada um de nós como um seu prolongamento- refiro-me aos que pensamos profundamente, que somos uma minoria reduzida entre os cidadãos de um país e somos também uma minoria escassa entre os milhares de professores de filosofia nos ensinos público e privado - envia-nos ondas de reflexão que plasmamos na escrita. Eis algumas breves reflexões, relativamente comuns, se excetuarmos o que se refere à sincronicidade onomástica, que a inteligência cósmica me dispensou.
dvogado Ricardo Sá Fernandes acusa de incompetência o INSPETOR DA PJ João ROUXInol (evoca: ROXO) em sessão do caso desaparecimento de Rui Pedro no tribunal de Lousada; no dia 15, cumprem aniversário a professora bejense Manuela LETRAS e o poeta, homem de LETRAS e professor de matemática José António Martinho Marques, natural de ALBERnoa (evoca: ALBERGUE), Beja. Em 14 e 15 de Dezembro de 2011, INSPETOR DA PJ, ALBERGUE, ROXO e LETRAS em foco: no dia 14, um INSPETOR da PJ é baleado numa perna por um traficante de armas que foge de automóvel, junto às portagens de ALBERGARIA-A-Velha (evoca: ALBERGUE) na A1, é posto à venda mais um número, desta vez com capa de cor ROXA, da revista "Interage" dos professores da Escola Secundária Diogo de Gouveia, em Beja, o a
A factualidade abundante, que a história quotidianamente nos traz, permite-nos erguer torres de teorias filosóficas. Ninguém diga, com propriedade, que a filosofia nada tem a ver com o mundo empírico, uma vez que ela é, em grande parte, uma abstração deste após imergir sensorialmente nele.
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Eis um modelo de teste de filosofia para o 11º ano de escolaridade para o final do primeiro período letivo, que me agrada bastante.
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA A
I
« As impressões podem dividir-se em duas categorias: as de sensação e as de reflexão. A primeira categoria surge originariamente na alma, a partir de causas desconhecidas. A segunda é, em grande parte derivada das nossas ideias, na seguinte ordem: primeiro uma impressão atinge os nossos sentidos e faz-nos perceber calor ou frio, sede ou fome, prazer ou dor de qualquer espécie. Desta impressão, a mente tira uma cópia…» David Hume (Tratado do Entendimento Humano)
1) É a teoria de David Hume um realismo gnosiológico? Ou outra corrente? Justifique, explicando, em particular, a expressão «a partir de causas desconhecidas».
2) Explique o que são as ideias, segundo David Hume, como se formam – em particular as ideias de “eu” e “substância”.
3) Exponha e problematize as sete relações filosóficas ou de conhecimento segundo Hume e o papel que desempenham.
4) Exponha os quatro passos do racionalismo de Descartes, que celebrizaram este filósofo, iniciados na dúvida hiperbólica, apontando alguma eventual incoerência..
5)Relacione, justificando:
A) Conhecimento por contato e conhecimento proposicional, segundo Ryle e Russel, e racionalismo/ empirismo.
B) Indução, por um lado, e falácias depois de por causa de, da composição e da derrapagem, por outro lado.
C) Lei do salto qualitativo e binómio percepção empírica/conceito.
6)Considere o silogismo :
«Alguns cubenses não são andaluzes».
«Os cubanos não são cubenses ».
«Os andaluzes não são cubanos».
A)Identifique o modo e a figura do silogismo. Justifique.
B) Identifique e enuncie, em concreto, duas leis do silogismo regular formalmente válido que foram infringidas no silogismo acima.
CORREÇÃO DO TESTE (COTAÇÃO MÁXIMA. 20 VALORES)
1) A teoria de David Hume não é um realismo gnosiológico porque não postula existir um mundo de objetos materiais fora da nossa mente. Ou é um idealismo similar ao de Kant e pioneiro em relação a este, uma vez que afirma que os objetos materiais como árvores, montanhas, animais, etc, são meras representações em nós, de «causas desconhecidas» exteriores. Ou é um ceticismo fenomenológico na linha de Pírron e Carnéades que se limita a descrever as aparências fazendo a epochê (suspensão do juízo) .
2) As ideias, segundo Hume, são junto com as impressões, as duas espécies de perceções que o espírito humano forma. Toda a ideia deriva de uma impressão, seja esta uma impressão sensível - exemplo: a ideia de maçã é uma cópia pálida das impressões sensíveis que são o objeto maçã, objeto esse não exterior ao espírito - ou seja uma impressão de reflexão- exemplo: a ideia de Deus é composta na base de impressões de reflexão e ideias como as de governante supremo, ser bondoso, criador, ser justo. Há ideias complexas e ideias simples. David Hume é um empirista:
«Não podemos formar uma ideia exata do gosto de um ananás, antes de realmente o saborearmos» (David Hume, Tratado do Entendimento Humano, pag 33, Fundação Calouste Gulbenkian).
«As ideias produzem as imagens de si mesmas em novas ideias; mas, como se supõe que as primeiras ideias derivaram de impressões, continua ainda a ser verdade que todas as nossas ideias simples procedem, mediata ou imediatamente, das impressões que lhes correspondem.» (David Hume, ibid, pag 35).
As ideias de "substância" e de "eu" derivam da ideia filosófica ou categoria de identidade, que supõe a permanência, a continuidade, e da relação filosófica de causação (determinismo, princípio segundo o qual as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos), entre outras. Não existe a substância, como por exemplo, maçã: a cor amarela, a forma redonda, o pedúnculo, o sabor açucarado são impressões sensíveis que se conjugam e, combinadas pela imaginação, fornecem a noção unitária ou ideia de substância maçã.
3) David Hume escreveu:
«Há sete espécies diferentes de relação filosófica: semelhança, identidade, relações de tempo e lugar, proporção de quantidade ou número, graus de qualidade, contrariedade e causação. Podem dividir-se estas relações em duas classes: as que dependem inteiramente das ideias que comparamos entre si e as que podem variar sem qualquer mudança de ideias.» (David Hume, Tratado do Entendimento, Humano, pag 103).
Estas sete relações são categorias ou estruturas lógico-ontológicas que, diferentemente do realismo aristotélico, se situam na mente do sujeito, no espírito humano. Se não possuíssemos em nós, a priori, a relação de semelhança não conseguiríamos perceber que um pinheiro e um sobreiro são coisas semelhantes enquanto espécies do género árvore. Se não possuíssemos em nós a relação de tempo não distinguiríamos entre o ontem, o hoje e o amanhã. As três relações mais estáveis, segundo Hume são as de identidade, tempo e lugar e causação.
4) Os quatros passos gnosiológicos que celebrizaram Descartes a partir da dúvida hiperbólica são os seguintes:
1º CETICISMO ABSOLUTO - Se quando estou a dormir me parecem verdadeiros os meus sonhos, quem me garante que, acordado, não estarei a sonhar? Assim tudo se me afigura duvidoso, ilusório: o mundo que vejo, os outros, as teorias da matemática e das ciências, Deus, o meu corpo e eu mesmo.. Não tenho certeza de nada.
2º IDEALISMO MONISTA E SOLIPSISTA - Neste mar de dúvidas, surge-me a primeira certeza, uma ideia evidente: «Eu penso, logo existo» (COGITO ERGO SUM). Existo, como mente, não como corpo. Assim, sou único e sou tudo.
3º IDEALISMO PLURALISTA - Se existo e tenho a perfeição de pensar, há-de existir alguém mais perfeito que eu que me colocou essa perfeição: Deus, um espírito sumamente bom e perfeito, fonte da criação.
4º REALISMO CRÍTICO- Se Deus existe e é infinitamente bom e verdadeiro, não consentirá que eu me engane em tudo o que vejo, sinto e toco: assim, embora as cores, sons, cheiros, sabores, sensações de duro e mole, de calor e frio, não existam nos objetos fora de mim mas apenas no meu cérebro, há, fora de mim, um mundo de matéria indeterminada dotado de corpos extensos com as respetivas formas e tamanhos, números e movimentos.
A problematização destes argumentos oferece múltiplas vias. Eis uma delas: se Deus é o garante da verdade por que razão admite que nos enganemos sobre cores, cheiros, sons, dureza dos objetos mas não nos deixa enganar sobre as formas, os tamanhos e os movimentos? Eis outra: como sei que só possuo um certo grau de perfeição e não a perfeição toda, a ponto de remeter o que me falta para a existência de um Deus criador?
5) a) O conhecimento por contato, segundo Ryle e Russell, é o conhecimento direto das coisas, por via sensorial - exemplo: conheço a ponte sobre o rio Guadiana ao olhá-la, junto dela, e ao atravessá-la - e parece articular-se com empirismo, doutrina segundo a qual as nossas ideias são provenientes, direta ou indiretamente, das perceções sensoriais. O conhecimento proposicional - definição algo ambígua, porque há conhecimento proposicional por contato; exemplo: «Estou a ver a água do rio a correr, límpida...» - articular-se-ia com o o racionalismo, corrente segundo a qual as nossas ideias são provenientes na totalidade ou em grande parte da razão, do raciocínio, mas também se articularia com o empirismo como se vê no exemplo que acabo de dar.
B) As três falácias referidas representam formas de indução pouco sólida, isto é, partem de um ou vários dados empíricos e generalizam: a falácia depois de, por causa de, que associa com caráter determinista, de vículo necessário dois acontecimentos vizinhos por casualidade (exemplo: vi um gato preto e duas horas depois perdi o porta moedas, uma semana depois voltei a ver um gato preto e horas depois bateram-me no automóvel, ver um gato preto dá-me azar); a falácia de composição atribui ao todo uma qualidade da parte (exemplo: Luisão, jogador do Benfica, é muito alto, logo toda a equipa de futebol do Benfica é feita de jogadores muito altos); a falácia da derrapagem encadeia sucessivamente ideias que vão perdendo gradualmente o encadeamento lógico-material entre si, o que é visível na conclusão (exemplo: vou a Madrid e visito a Puerta del Sol; na Puerta del Sol, encontro uma dinamarquesa loira a quem falo; a dinamarquesa leva-me a uma discoteca e vai comigo para o hotel; no hotel entramos na sala do bar e há um apagão geral em Madrid; logo, se vou a Madrid há um apagão elétrico geral).
5) c) A lei do salto qualitativo estabelece que uma acumulação lenta e gradual de um aspeto num fenómeno ou ente gera, num dado instante, um salto de qualidade desse fenómeno ou ente. Vou acumulando percepções empíricas de pinheiros, faias, sobreiros, isto é, imagens visuais de árvores e em seguida dá-se o salto qualitativo - a imagem presente nos sentidos é substituída por uma imagem intelectual- forma-se em mim o conceito ou representação abstrata de árvore.
6) a) Modo do silogismo (classificação deste com as letras A,E,I,O segundo a qualidade e a quantidade em cada uma das 3 proposições que o compõem): OEE. E significa proposição universal negativa e O significa proposição particular negativa.
Figura do silogismo (classificação deste segundo a posição do termo médio nas premissas, como sujeito ou predicado): primeira figura.
6) B) De duas premissas negativas nada se pode concluir.
A conclusão segue sempre a parte mais fraca: havendo uma premissa particular («Alguns cubenses...») a conclusão deverá ser particular e não universal como sucede («Os andaluzes não são...»).
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© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Eis dois testes de filosofia para o 10º ano de escolaridade em Portugal, de final de primeiro período letivo, feitos com criatividade e riqueza de conteúdos, longe do simplismo monótono dos testes dos professores medianos que imitam os manuais de filosofia vigentes em Portugal. Todos estes últimos são muito limitados pela inércia do pensamento e pela «filosofia analítica» em voga (Oxford Dictionary of Philosophy, Routledge Dictionary of Philosophy, etc) cujas definições erróneas - do tipo «o libertismo é um incompatibilismo», «o relativismo não pode ser objetivista» ou «o subjetivismo contradiz-se» - e cujo vício lógico-formalista impedem a amplitude do pensamento livre, profundo e criador.
Escola Secundária com 3º ciclo Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A
Dezembro de 2011 Professor: Francisco Queiroz
I
“O realismo gnosiológico liga-se, sobretudo, à ideia de transcendência e o idealismo gnosiológico à ideia de imanência. Os juízos de valor assentam quase sempre na intersubjetividade e levam muitas vezes ao relativismo ou mesmo ao ceticismo.»
1) Explique, concretamente, cada uma destas frases.
II
“Entendi ser injusta uma cena em que duas raparigas agrediam uma terceira, enchi-me de coragem e intervim libertando a vítima, depois fui apreciar os quadros do Museu Regional de Beja, fiz um teste de matemática na escola, almocei frango assado e agradeci à Divindade sob um sol agradável.”
2), Identifique, nos termos a negrito deste texto, as quatro esferas de valores segundo Max Scheler e ainda valores de coisa e valores de função.
3) Relacione, justificando:
A) Imperativo categórico e imperativo hipotético em Kant e duas partes da alma humana segundo Platão.
B) Princípio lógico do terceiro excluído e lei dialética da contradição principal.
C) Hierarquia dos valores, ideologia e teleologia.
4) Disserte sobre o seguinte tema:
“A teoria das quatro causas e a teoria do ato e da potência de Aristóteles aplicada a:
A) A acção voluntária de marcar uma grande penalidade contra a equipa adversária num jogo de futebol.
5) Disserte sobre os seguinte tema:
a)- É compatível a existência dos arquétipos e da reminiscência da teoria de Platão com o livre-arbítrio? Justifique.
b)- Onde há maior grau de liberdade humana: no determinismo com livre-arbítrio ou no indeterminismo com livre-arbítrio ou no fatalismo? Justifique.
CORREÇÃO DO TESTE (COTAÇÃO MÁXIMA: 20 VALORES)
1) (NOTA: A FRASE VALE 2 VALORES). O realismo gnosiológico é a corrente que sustenta que há um mundo material exterior ás mentes humanas e, portanto, é transcendente a estas, ao passo que o idealismo gnosiológico é a corrente que sustenta que o mundo material está contido dentro da minha imensa mente cósmica e é irreal, desaparece se eu me extinguir, logo é imanente a mim. (A FRASE SEGUINTE VALE 3 VALORES).Os juízos de valor, isto é, as proposições que opinam com base no belo e no feio, no justo e injusto, no bem e no mal assentam quase sempre na intersubjetividade ou modo de pensar comum a várias subjetividades e conduzem muitas vezes ao relativismo, doutrina que afirma que os valores e a verdade variam de pessoa a pessoa, de povo a povo, de classe a classe social, de época a época, e ao ceticismo, doutrina que duvida das teorias científicas, religiosas, políticas, etc, e mesmo da existência dos entes ausentes ou invisíveis.
2) (NOTA: VALE DOIS VALORES). «Entendi ser injusta» é valor de função espiritual , isto é, um modo de perceber os valores éticos (justo e injusto) que, segundo Scheller, integra a esfera dos valores espirituais. «Enchi-me de coragem e intervim » é valor de função vital sendo o meu corpo um valor de coisa - a esfera dos valores vitais é a que se centra no anímico, no estado da alma, englobando o nobre e o vulgar, o excelente e o ruim, o sentir-se corajoso ou cobarde, jovem ou velho, vencedor ou vencido, etc. «Fui apreciar» é valor de função espiritual-estética, «os quadros do Museu Regional de Beja» é valor de coisa e pertence à esfera dos valores espirituais, que engloba a estética. «Fiz um teste de Matemática» é valor de função espiritual-científica, já que a ciência se centra nos valores de verdadeiro e falso, num sentido utilitário. «Almocei» é valor de função sensível e «frango assado» é valor de coisa, situada na esfera dos valores sensíveis. «Agradeci à divindade» é valor de função da esfera do santo e do profano, «sob um sol agradável» é valor de coisa da esfera dos valores sensíveis.
3) A) (VALE 2 VALORES) O imperativo categórico ou verdadeira lei moral segundo Kant - age como se quisesses que a tua ação fosse uma lei universal, isto é. aplicável imparcialmente a todos e sem te beneficiar a ti em exclusivo - equivale ao Nous, ou inteligência filosófica em Platão, que é a parte racional e superior da alma humana. O imperativo hipotético ou falsa lei moral segundo Kant - age beneficiando-te antes de mais a ti mesmo ou a ti e alguns amigos, secundarizando ou prejudicando outras pessoas - e equivale à epithimya ou concupiscência, isto é, à parte inferior da alma, aos instintos de comer, beber, possuir riquezas, devaneios sexuais egoístas, etc.
3) B) (VALE 2 VALORES) O princípio do terceiro excluído afirma que cada coisa ou qualidade é ou não é, pertence ao grupo A ou ao grupo não A, cria dois campos, e é similar à lei da contradição principal porque esta reduz a dois polos fundamentais as múltiplas contradições de um sistema. Exemplo: a contradição principal na II Guerra Mundial foi a que opôs os Aliados (Grã-Bretanha, EUA, Canadá, França livre, Brasil, etc) ao Eixo (Alemanha, Itália, Japão) havendo alguns países neutrais como Portugal, Espanha, Suíça, polos fora da contradição principal (esta deveria chamar-se, em rigor, contrariedade principal, de acordo com a terminologia aristotélica)..
4) A) (VALE 2 VALORES) Hierarquia de valores é a escala de valores, desde os mais elevados aos mais baixos ou contravalores. Em cada ideologia, isto é, sistema de ideias e valores de um dado grupo social ou povo há uma hierarquia de valores e uma teleologia ou estudo das finalidades dos processos naturais ou das finalidades dos valores. Exemplo: na ideologia burguesa, a hierarquia de valores coloca como valor supremo o direito a enriquecer através da acumulação de capitais como empresário ou investidor na bolsa em regime liberal, e põe como contravalores o comunismo, o anarquismo coletivista, a expropriação dos capitalistas e o fim da economia livre de mercado e tem por teleologia os valores do crescimento económico e de uma vida de prazer e conforto material material em liberdade.
4) a)(VALE 2 VALORES) A ação voluntária de marcar uma grande penalidade tem como causa formal - neste caso uma sucessão de formas- a corrida do jogador para a bola e o pontapé nesta rumo à baliza. Como causa material, a chuteira do jogador e a bola de couro. Como causa eficiente, o jogador que remata. Como causa final, marcar golo. Em ato, é o remate, em potência é a bola entrar ou não entrar na baliza.
5) a) (VALE 2 VALORES) O livre-arbítrio ou liberdade racional de deliberar como agir é compatível com os arquétipos de Bem, Belo, Justo, Número e outras formas espirituais puras existentes, segundo Platão, num mundo inteligível acima do céu visível. Podemos ou não inspirar-nos nos arquétipos. ao desenvolver ações terrenas - e isso é livre-arbítrio. As reminiscências são lembranças vagas dos arquétipos e são compatíveis com o livre-arbítrio.
5) b) (VALE 2 VALORES) O maior grau de liberdade, aparentemente, existe no determinismo com livre-arbítrio (os manuais chamam-lhe: determinismo moderado), doutrina segundo a qual a natureza se rege por leis necessárias, fixas e inflexíveis (as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos) e temos liberdade para escolher este ou aquele determinismo, cujos efeitos conhecemos. Em seguida, com menor grau de liberdade, porque não conhecemos os seus contornos, vem o indeterminismo com livre-arbítrio (alguns manuais chamam-lhe libertismo...) isto é a doutrina segundo a qual a natureza não tem leis fixas e absolutamente previsíveis (exemplo: ao partir um ovo de galinha, não é certo encontrar clara e gema dentro, posso encontrar um trevo ou uma pérola) e sou livre de escolher. No fatalismo, doutrina segundo a qual os acontecimentos estão predestinados desde a mais remota antiguidade, não há livre-arbítrio.
NOTA: Há respostas alternativas a estas em algumas perguntas. O professor corretor deve ser flexível na captação de outras vias de racionalidade sugeridas por alguns alunos. Os conteúdos filosóficos deste teste estão todos contidos potencialmente no programa de filosofia, basta discerni-los, trazê-los à superfície. Na rubrica «O que é a filosofia» é possível a um professor dotado de visão holística e de rigor concetual ensinar a teoria de Platão (arquétipos, Mundos do Mesmo, do Semelhante e do Outro, reminiscência, participação, etc) princípios da lógica e leis da dialética, as teorias do ato e da potência de Aristóteles,etc.
Vejamos um segundo teste.
Escola Secundária com 3º ciclo Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA D
Dezembro de 2011 Professor: Francisco Queiroz
I
“ A hierarquia de valores implica sempre o preferir e o postergar de valores. A lei dialética do uno parece relacionar-se mais com o tó on de Aristóteles mas a lei do devir parece ligar-se mais ao tó tí. Os juízos de valor levam muitas vezes ao relativismo ou mesmo ao ceticismo.»
1) Explique, concretamente, cada uma destas frases.
II
“ Estive a contemplar e apreciar um quadro de Picasso, depois bebi um sumo de laranja, senti-me animado com um telefonema em que me prometiam emprego por eu ter altas classificações em informática e agradeci à Divindade no meio de um campo sob um sol agradável.”
2), Identifique, nos termos a negrito deste texto, as quatro esferas de valores segundo Max Scheler e ainda valores de coisa e valores de função.
3) Relacione, justificando:
A) Dualismo antropológico e moral em Kant e duas partes da alma humana segundo Platão.
B) Realismo e idealismo gnosiológico.
C) Arquétipo em Platão, metafísica e conceito noético ou metaempírico.
4) Disserte sobre o seguinte tema:
A teoria das quatro causas e a teoria do ato e da potência de Aristóteles aplicada a:
A) A escola Diogo de Gouveia.
B) A acção voluntária de recolher alimentos a favor dos mais carenciados.
5)Disserte sobre os seguinte tema:
A)- Poderia haver valores éticos, estéticos e científicos se não houvesse livre-arbítrio? Justifique.
B)- Onde há maior grau de liberdade humana: no determinismo com livre-arbítrio ou no indeterminismo com livre-arbítrio ou no fatalismo? Justifique.
CORREÇÃO DO TESTE (COTAÇÃO MÁXIMA: 20 VALORES)
1) A) (A FRASE SEGUINTE VALE 1 VALOR) A hierarquia dos valores, isto é, o escalonamento ou escala destes de cima a baixo, implica o preferir, isto é, adotar alguns, e o postergar, isto é, o rejeitar ou colocar em último lugar de outros (exemplo: se prefiro a honestidade estou a postergar a desonestidade). (AS FRASES SEGUINTES VALEM 2 VALORES, NO TODO) A lei dialética do uno sustenta que no universo todas as coisas estão ligadas entre si fazendo um imenso Um ou Uno e o tó on, isto é, o ente, o que existe, referido por Aristóteles, é uma qualidade universal de todas as coisas, algo que as une, uma existência comum. A lei do devir sustenta que tudo está em devir ou incessante mudança e isso parece ligar-se ao tó tí, isto é, ao quê é, à forma ou essência particular, ao aspeto definidor (exemplo: o tó tí da semente, isto é, a sua forma distintiva, transforma-se no to tí da árvore, etc).(A FRASE SEGUINTE VALE DOIS VALORES). Os juízos de valor, isto é, as proposições fundadas nas noções de belo/feio, justo/injusto, bom/mau, levam muitas vezes ao relativismo, doutrina que constata que os valores variam de pessoa a pessoa, de classe a classe social, de povo a povo, de época a época, etc, e ao ceticismo, doutrina que duvida das teorias científicas, religiosas, políticas, etc, e de tudo o que esteja ausente à observação direta.
2) ( VALE 3 VALORES) "Estive a contemplar e apreciar" é valor de função estética ou valor de perceber o belo (esfera dos valores espirituais), "um quadro de Picasso" é valor de coisa, segundo a teoria de Max Scheler. «Bebi um sumo de laranja" é valor de função sensível (esfera dos valores sensíveis). «Senti-me animado com um telefonema» é valor de estado vital (estado de alma refere-se à esfera dos valores vitais) sendo o telefonema um valor de função vital, porque me anima, e de função espiritual, porque me comunica intelectualmente o valor de verdadeiro contido na informação de eu "ter altas classificações em informática" (estas representam um valor espiritual-científico de coisa). "Agradeci à divindade" é um valor de função da esfera do santo e do profano , "sob um sol agradável"é um valor de função e de coisa da esfera dos valores sensíveis.
3) A) (VALE DOIS VALORES) Dualismo antropológico e moral em Kant significa a divisão do ser humano (antropos) , feita por este filósofo, em dois polos, no plano moral: o eu numénico ou racional, gerador do imperativo categórico ou verdadeira lei moral, baseado na equidade universal e na ausência de egoísmo, e o eu fenoménico ou corporal, gerador do imperativo hipotético ou falsa lei moral, baseado no interesse egoísta do sujeito e na falta de equidade. O primeiro, numénico, equivale ao Nous, ou parte superior e racional da alma que contempla os arquétipos, segundo Platão, o segundo, fenoménico, equivale à Epithimya ou concupiscência, parte inferior da alma.
3) B) (VALE DOIS VALORES) O realismo gnosiológico sustenta que o mundo material é real em si mesmo e transcendente às mentes humanas. Ao invés, o idealismo gnosiológico sustenta que o mundo material está contido dentro da única ou das múltiplas mentes humanas, não sendo real em si mesmo.
3) C) (VALE DOIS VALORES) Arquétipo, em Platão, é uma forma espiritual eterna, imutável, imóvel e perfeita, situada acima do ceu visível, que serve de modelo aos entes do mundo terrestre: os arquétipos de Bem, Belo, Justo, Igual, Número Dois, etc. Conceito noético ou metaempírico é a ideia, formalmente subjetiva, que a mente humana forma de arquétipo, a representação deste no Nous ou inteligência superior. Tanto o arquétipo como o conceito noético que dele temos são metafísicos, visto que metafísica é a região dos objetos invisíveis e impalpáveis que transcendem a esfera dos sentidos e a natureza física percetível.
4) A) (VALE 2 VALORES) A teoria das quatro causas, de Aristóteles, aplicada à Escola Secundária Diogo de Gouveia, em Beja, resulta assim: a causa formal é a forma do edifício escolar, incluindo as salas, laboratórios, etc; a causa material é a matéria usada na construção, isto é, tijolo, ferro, cimento, mármore, telha, plástico, alumínio, etc; a causa eficiente é quem fabricou a escola, isto é, o onjunto dos pedreiros, carpinteiros, eletricistas, canalizadores, arquitetos, engenheiros, empreiteiros; a causa final é o desenvolvimento dos conhecimentos cientíicos e humanísticos e das habilidades técnicas dos alunos, a sua certificação e a constituição de um polo de saber irradiante, em que os professores são peça fundamental. A teoria do ato e da potência aplicada é a seguinte: a escola é uma escola secundária em ato ou realidade presente e é uma universidade ou qualquer outra coisa em potência, isto é, no futuro previsível.
4) B) (VALE UM VALOR) A ação de recolha de alimentos a favor dos carenciados tem como causa formal os gestos sucessivos de agarrar alimentos e transportá-los (gestos são formas moventes). Como causa material, tem os alimentos e os corpos dos que os carregam. Como causa eficiente, os doadores dos alimentos e os voluntários que os levam. Como causa final, alimentar as pessoas carenciadas.
5) A) (VALE DOIS VALORES) O livre-arbítrio ou liberdade racional de deliberar como agir é compatível com os valores éticos de bem e de mal, justo e injusto, com os valores estéticos de belo e feio, sublime e horrível, e com os valores científicos de verdadeiro, falso e verosímil. Livre-arbítrio é uma faculdade racional e valores são qualidades ou essências exteriores a essa faculdade racional.
5)B) (VALE 2 VALORES) O maior grau de liberdade, aparentemente, existe no determinismo com livre-arbítrio (os manuais chamam-lhe: determinismo moderado), doutrina segundo a qual a natureza se rege por leis necessárias, fixas e inflexíveis (as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos) e temos liberdade para escolher este ou aquele determinismo, cujos efeitos conhecemos. Em seguida, com menor grau de liberdade, porque não conhecemos os seus contornos, vem o indeterminismo com livre-arbítrio (alguns manuais chamam-lhe libertismo...) isto é a doutrina segundo a qual a natureza não tem leis fixas e absolutamente previsíveis (exemplo: ao partir um ovo de galinha, não é certo encontrar clara e gema dentro, posso encontrar um trevo ou uma pérola) e sou livre de escolher. No fatalismo, doutrina segundo a qual os acontecimentos estão predestinados desde a mais remota antiguidade, não há livre-arbítrio.
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A estética é mais objetiva do que se pensa habitualmente. A catedral de Sevilha é um edifício muito belo. Gente sem religião e de todas as religiões partilha esta mesma opinião. Marilyn Monroe aos 20 anos de idade era bela e sedutora, muito acima do comum das mulheres - é uma opinião maioritária que prevalece. Há, portanto, um belo objetivo, provavelmente comum a todos os objetos belos, um belo estrutural, como o núcleo interior de uma esfera e depois há camadas de belo vibracional, menos estáveis, que constituem as camadas superficial e quase superficial da esfera, belo de que algumas pessoas se apercebem e outras não. Direi que o belo em si, nas coisas, é objetivo. Só é subjetivo, em certa medida, o modo como captamos a sua estrutura oscilante periférica. O belo é pelo menos tão objetivo quanto o átomo, se partimos do princípio que este existe.
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Com a pretensão de se apresentar como o criador da mais elaborada e filosófica doutrina do tempo, Martin Heidegger falsificou a teoria do tempo de Aristóteles. Também Kant falsificou a posição idealista de George Berkeley para atacar e superar este na opinião pública: Kant usou a frase de Berkeley de que «o espaço é impossível», descontextualizando-a, para ridicularizar o próprio Berkeley e classificá-lo de idealista dogmático, e para se apresentar com uma teoria original, quando ele mesmo, Kant, perfilhou a mesma tese idealista de Berkeley de que «o espaço é impossível em si mesmo», isto é, fora da mente humana. Os filósofos e os aspirantes a filósofos não escapam à vaidade de serem prestigiados, de "ficarem na história" e, com certa frequência, adulteram as ideias dos seus opositores ou apropriam-se delas dando-lhes uma nova roupagem.
Sobre o tempo, Aristóteles é mais claro e mais profundo na Física do que Heidegger em O Ser e o Tempo, livro este que pretende ser uma réplica e uma superação da Física.
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Referindo-se aos que interpretam o tempo a partir do movimento dos ponteiros do relógio,Heidegger escreveu:
«O tempo é o numerado que se mostra no seguir, apresentando e numerando, o ponteiro peregrinante, de tal maneira que o apresentar se temporaliza na sua unidade extática com o reter e o estar na expetativa patentes no horizonte do anteriormente e do posteriormente. Mas isto não é outra coisa que a interpretação ontológico-existenciária a definição que Aristóteles dá do tempo: «Isto, a saber, é o tempo, o numerado no movimento com que se depara no horizonte do anteriormente e do posteriormente.» (Aristóteles, Física, Livro IV, 219b, 2).(...) A origem do tempo assim patente não constitui para Aristóteles nenhum problema.» (...)
«Toda a dilucidação posterior do conceito de tempo atém-se fundamentalmentre à definição aristotélica, quer dizer, faz do tempo um tema naquela forma em que se mostra no "cuidar de" , "olhando em redor". (...) Ao apresentar o móvel no seu movimento, diz-se: "agora aqui", "agora aqui" e assim sucessivamente. O numerado são os agoras. E estes mostram-se "em cada agora" como "em seguida já não"
«O tempo resulta compreendido como "um atrás do outro", como "fluxo" dos agoras, como "curso do tempo". (Martin Heidegger, El ser y el tiempo, pag 454, Fondo de Cultura Económica; o negrito é posto por mim).
Heidegger falsifica a posição de Aristóteles ao dizer que este descreve o tempo como uma linha contínua feita de agoras em contiguidade uns com os outros e que a sua concepção do tempo não constitui nenhum problema, é ingénua. É falso, como se pode ver pelas citações abaixo da Física de Aristóteles.
ARISTÓTELES NEGA QUE O TEMPO SEJA FORMADO DE "AGORAS", AO CONTRÁRIO DO QUE DELE DIZ HEIDEGGER
Heidegger acusa Aristóteles de nivelar os momentos do tempo, dizendo:
«Na interpretação vulgar do tempo como sequência de agoras falta assim a databilidade como também a a significatividade» :
«A constituição horizontal-extática da temporalidade, em que se fundam a databilidade e a significatividade do agora, resulta nivelada por obra desse encobrimento.» (Heidegger, El Ser y el Tiempo, pag 455).
Não vejo como esta crítica possa atingir a textura da teoria aristotélica do tempo. Sem embargo de alguma oscilação de posição, Aristóteles não inclui o "agora" (nyn) ou instante no tempo: antes concebe o "agora" como um limite, indivisível, entre o passado e o futuro que constituem o fio do tempo. Portanto, Aristóteles defende a descontinuidade entre o agora e o passado e o agora e o futuro. Não se vê com clareza onde está o tal nivelamento do tempo em Aristóteles que Heidegger denuncia. O senso comum possui uma concepção atomística do tempo (este seria uma soma de agoras) mas não é essa a concepção de Aristóteles que torna o tempo semisubjetivo ou fenomenológico:
«Ademais, se o que nos permite dizer que uma coisa se moveu na totalidade do tempo AC, ou em qualquer outro tempo, é o facto de tomar o extremo desse tempo, a saber, um "agora" (pois o "agora" é o que delimita o tempo e o que se encontra entre dois "agoras" é tempo).. (Aristóteles, Fisica, Livro VI, 237a , 1-5).
«Assim, pois, enquanto limite, o agora não é tempo, mas um acidente deste; mas, enquanto numera, é número.» (Física, Livro VI, 220a, 20)»
Se o "agora" é um acidente do tempo, significa que não é a essência deste. Há um movimento não local, não espacial, no tempo que o agora não incorpora, porque é estático. E prossegue Aristóteles:
«O "agora", considerado em si mesmo e primariamente, não em sentido derivado, quer dizer, como um lapso de tempo, é também necessariamente indivisível, e como tal é inerente a todo o tempo. Pois o "agora" é de algum modo o limite extremo do passado e nele não há nada de futuro, e é também o limite extremo do futuro e nele não há nada do passado; justamente por isso dizemos que é o limite de ambos. Quando se tiver demonstrado que é em si tal como o descrevemos, e que é um e o mesmo, ficará claro que o "agora" é indivisível.» (Aristóteles, Física, Livro VI, 233b, 30-35, 234 a, 1-59; o negrito é posto por mim).
O desmentido mais contundente da interpretação falaciosa de Heidegger sobre Aristóteles é dado por esta citação:
«Mas ainda que o tempo seja divisível, algumas das suas partes já foram, outras estão por vir, e nenhuma "é". O agora não é uma parte, pois uma parte é a medida do todo, e o todo tem que estar composto de partes, mas não parece que o tempo esteja composto de agoras. (...) Porque há que admitir que é tão impossível que os agoras sejam contíguos entre si, como um ponto o seja com outro ponto. Então se não se destruísse no seguinte agora, mas sim em outro, existiria simultaneamente com os infinitos agoras que há entre ambos, o que é impossível.» (Aristóteles, Física, Livro IV, 218 a, 5-10; 15-20; o negrito é posto por mim).
«O tempo não está composto de "agoras", nem uma linha de pontos, nem tampouco um movimento em ato de movimentos já cumpridos, pois quem afirme o anterior não faz senão supor que o movimento está composto de átomos de movimento, como se o tempo estivesse composto de "agoras" ou a magnitude de pontos.» (Aristóteles, Física, Livro VI, 241 a, 1-5; o negrito é posto por mim).
O tempo é contínuo, divisível até ao infinito e é número de movimento. É como uma linha, possui duração - o passado tem uma duração experienciada, enquanto há notícia dela, e o futuro possui uma duração ainda em potência - e o agora é como um ponto que divide a linha do tempo. Ora uma linha não é, em rigor, um conjunto de pontos porque um ponto não possui extensão: do mesmo modo o tempo, que é duração, não é um conjunto de agoras, cada um dos quais não tem duração. Assim para Aristóteles, o tempo é numeração movente entre os agoras - o agora é formalmente sempre o mesmo, o limite, mas substancialmente, no seu conteúdo, altera-se a cada fração de segundo - e não, como diz Heidegger, um fluxo formado de agoras.
Ao contrário do que diz Heidegger, apresentando Aristóteles como defensor do tempo como um "fluxo" de "agoras" ou instantes presentes, o tempo é como um segmento de reta entre dois agoras ou uma linha reta lançada para trás a partir do limite que é o agora .
«O tempo é, pois, contínuo pelo agora e divide-se no agora, mas também sob este aspeto segue a deslocação e a coisa deslocada» (Física, Livro IV, 220a, 5-10).
Esta frase, para ser compatível com a tese de que o tempo não se compõe de agoras, pode ser interpretada neste sentido: o tempo é composto de passado e futuro, descontínuos entre si, um já morto (o passado) o outro ainda por nascer (o futuro) separados pelo agora que faz nascer o tempo, incessantemente.
«O agora é a continuidade do tempo, como já dissemos, pois enlaça o tempo passado com o tempo futuro e é o limite do tempo ...(Física, )
Ocorre-me ser possível comparar o agora com as fotografias da fita de celulóide que a máquina de projeção cinematográfica faz correr e o tempo com o filme. As fotos ("agoras") delimitam o filme, que é movimento .
A Física de Aristóteles é rica em definições precisas:
«Entendo por "contínuo" o que é divisível em divisíveis sempre divisíveis; e se temos por assente que isto é a continuidade, então o tempo tem que ser necessariamente contínuo» (Física, Livro VI, 232b, 20-25).
UMA CONCEPÇÃO FENOMENOLÓGICA E UMA CONCEPÇÃO REALISTA EM ARISTÓTELES: TEMPO E ALMA SÃO INDISSOCIÁVEIS E TEMPO É A MEDIDA DO MOVIMENTO DA ESFERA
A meu ver, a concepção do tempo em Heidegger não constitui nenhum passo adiante em relação à concepção aristotélica do tempo, mal compreendida ou intencionalmente falsificada pelo filósofo alemão. Ora Heidegger escreveu:
«O tempo tornado público na medição do mesmo não se converte de maneira alguma em espaço por obra de datá-lo mediante relações métricas espaciais. » (Heidegger, El Ser y el Tiempo, Fondo de Cultura Económica, Madrid, pag 450).
Aristóteles não converteu o tempo em espaço. E Heidegger prossegue:
«"O tempo" não está "diante dos olhos" nem no "sujeito" nem no "objeto", nem "dentro" nem "fora", e "é" anterior a toda a subjetividade e objetividade representa a própria condição de possibilidade de este "anterior". Tem em geral "um ser"? E se não tem, é um fantasma ou é mais que todo o ente possível? (...) Antes de tudo, trata-se de compreender que a temporalidade, enquanto horizontal-extática, temporaliza o que chamamos um tempo mundano, que constitui a intratemporalidade do "à mão" e do "diante dos olhos". Mas então estes entes nunca podem chamar-se "temporais" em sentido rigoroso. São intemporais, como todos os entes que não têm a forma de ser do "ser-aí", dêem-se, gerem-se e corrompam-se "realmente" ou subsistam "idealmente" .» (Heidegger, ibid, pag 452),
O que Heidegger nos oferece é uma interpretação do tempo inspirada nas doutrinas de Kant - o tempo é criado pelo sujeito, não existe fora dele - e de Bergson - há um tempo psicológico interno, duração pura, diferente do tempo dos relógios. A temporalidade existenciária, mecanismo oculto, obscuro e profundo do "ser", na doutrina de Heidegger, não é senão a forma a priori do tempo, na doutrina de Kant, que «temporaliza» isto é introduz a "aparência empírica temporal" nos fenómenos: o café de há minutos atrás, a rosa ressequida de há cinco dias, etc.Heidegger admite que os objetos são intemporais, estão fora do tempo à maneira de arquétipos em Platão ou das essências eternas em Aristóteles situadas em nenhum lugar ou de númenos em Kant.
Aristóteles parece ser mais preciso que Heidegger sobre a natureza do tempo. Começa por atribuir-lhe um ser próprio que não é a mudança visto que esta é um sair fora de si e o tempo não sai de si mesmo senão no "agora".
«Todas as coisas se geram e destroem no tempo. Por isso, enquanto alguns diziam que o tempo «era o mais sábio», o pitagórico Parón chamou-lhe com mais propriedade «o mais néscio», porque no tempo esquecemos. É claro, então, que o tempo tomado em si mesmo é mais causa de destruição do que de geração, como já se disse antes, porque a mudança é em si mesmo um sair fora de si, e o tempo só indirectamente é causa de geração e de ser. Um indício suficiente disso está no facto de que nada se gera se não se move de alguma maneira e actua enquanto que algo pode ser destruído sem que se mova e é sobretudo de esta destruição de que se costuma dizer que é obra do tempo. Mas o tempo não é a causa disto, mas dá-se o caso de que a mudança se produz no tempo.» (Física, Livro IV, 22b, 15-25).
A tese «o tempo só indiretamente é causa de geração e ser» é profunda e desafia o senso comum. Heidegger passou em claro isto, apostado que estava em liquidar a doutrina de Aristóteles. A concepção realista do tempo, em Aristóteles, não é um realismo ingénuo mas um realismo crítico nos umbrais da fenomenologia:
«É também digno de estudo o modo segundo o qual o tempo está em relação com a alma e por que razão se pensa que o tempo existe em todas as coisas, na terra, no mar e no céu. Acaso porque o tempo é uma propriedade ou um modo de ser do movimento, já que é o seu número, e todas essas coisas são movíveis, pois todas estão em lugar, e o tempo e o movimento estão juntos tanto em potência como em ato?»
«Quanto à primeira dificuldade, existiria ou não o tempo se existisse a alma? Porque se não puder haver alguém que numere tão pouco poderia haver algo que fosse numerado, e por consequência não poderia existir nenhum número, pois o número é o numerado ou o numerável. Mas se nada que não seja a alma, ou a inteligência da alma, pode numerar por natureza, resulta impossível a existência do tempo sem a existência da alma, a menos que seja aquilo que quando existe o tempo existe, como seria o caso se existisse se existisse um movimento sem que exista a alma; haveria, então, um antes e um depois no movimento, e o tempo seria estes enquanto numeráveis.» (Aristóteles, Física, Livro IV, 223 a, 15-30; o negrito é colocado por mim).
Neste pensamento acima Aristóteles esboçou as duas hipóteses: a fenomenológica, isto é, o tempo só existe se existir a alma que o concebe; a realista, o tempo existe como número do movimento (circular), isto é, objetivamente, sem que exista a alma humana, a mente.
«Em sentido absoluto, o tempo é número de um movimento contínuo, não de uma qualquer classe de movimento.» (Física, 223 b, 1-5)
«.. então o movimento circular uniforme é a medida por excelência, porque o seu número é o mais conhecido. Nem a alteração nem o aumento nem a geração são uniformes, só a deslocação o é. Por isso pensa-se que o tempo é o movimento da esfera, porque por este são medidos os outros movimentos, e o tempo por este movimento.» (Física, 223 b, 15-25).
Aristóteles definiu o tempo como o número do movimento circular - e note-se que há números finitos e infinitos, pelo que a definição é muito rica - mas Heidegger nem isso conseguiu, remetendo a noção de tempo para o mecanismo obscuro do tempo originário situado no ser-aí (cada homem, na sua existência) - que equivale à alma, em Aristóteles, potência que numera - ou no ser em geral. A vaidade de Heidegger, plasmada, ademais, na construção de um discurso difícil de perceber, e com ambiguidades importantes, impediu-o de reconhecer a inteligência e a criatividade superiores de um filósofo que, vinte e três séculos antes, foi maior que ele: Aristóteles, talvez a maior inteligência de toda a história da filosofia.
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