Sábado, 18 de Dezembro de 2010
Éticas deontológicas: a ética da virtude da equidade em Kant e a ética das virtudes em Aristóteles

 Aristóteles classificou a virtude de modo muito semelhante ao que Kant viria a fazer  séculos depois: não como um sentimento espontâneo, nem um talento natural, mas como um hábito de acção. Escreveu:

 

«E posto que na alma há três géneros de coisas somente: afectos, faculdades e hábitos, a virtude há-de ser, necessariamente, algum destes três géneros de coisas. Chamo afectos a avareza, a ira, a sanha, o temor, o atrevimento, a inveja, o regozijo, o amor, o ódio, o desejo, os ciúmes, a compaixão, e geralmente tudo aquilo a que é anexa tristeza ou alegria. E faculdades, aquelas por cujas causas somos nomeados ser capazes destas coisas, como aquelas que nos tornam aptos para nos zangarmos, nos entristecermos ou nos doermos. (...) De maneira que nem as virtudes nem os vícios são afectos, porque, por razão dos afectos, não nos chamamos bons nem maus, como nos chamamos por causa das virtudes e vícios.» (Aristóteles, Ética a Nicómaco, Livro II, Capítulo V, pag 81 do volume I da edição espanhola de Folio)  

«É, pois, a virtude hábito voluntário, que no que nos diz respeito consiste em uma mediania estabelecida pela razão e como a estabeleceria um homem dotado de prudência; e é a mediania de dois extremos maus, um por excesso e outro por defeito.» (Aristóteles, Ética a Nicómaco, Livro II, Capítulo VI, pag 84 do volume I da edição espanhola de Folio; a letra a negrito é por mim colocada.)  

 

Aristóteles diz, pois, que a nossa bondade ou maldade não reside nos instintos - de que os afectos são expressão- nem nas predisposições genéticas orgânicas - as faculdades: a inteligência, a acuidade visual, auditiva, táctil, etc - mas nos hábitos bons (virtudes) ou maus (vícios) que desenvolvemos. Assim ser bom ou mau tem a marca da vontade, do livre arbítrio. Note-se que o termo "virtude" (areté em grego) é, em Aristóteles, um exercício da vontade. Em outros pensadores, a virtude poderá designar o talento inato - a beleza física, a capacidade atlética, a inteligência - mas em Aristóteles não. A diferença entre a "virtude" em Aristóteles e a boa vontade, em Kant, está em que a primeira é uma mediania especificada, - divide-se em espécies: sabedoria, prudência, liberalidade, temperança, etc - substancial, entre o «eu» e os outros «eus» ou entre o «eu» e o seu modelo ideal  e a segunda não, é uma mediania formal, simétrica, entre o «eu» e a totalidade dos «eu» dos outros.

 

Se a ética de Aristóteles se designa por «ética da virtudes» não há razão para não designar a ética de Kant por «ética da virtude da equidade». A equidade é a igualdade de tratamento e benefício para com todos os seres humanos, qualidade que Kant considera ser o pilar da lei moral autêntica de cada um. Ambas as éticas são deontológicas (deón significa dever, corrente, em grego), isto é, assentam no dever, fornecem descrições das situações morais e dos meios ao alcance de cada homem (descritivismo) e prescrevem normas de conduta (prescritivismo). Não pode haver dúvida de que a ética de Aristóteles é deontológica. Na "Ética a Nicómaco" Aristóteles prescreve o dever de obedecer às leis, em particular de ser temperado, não cometer adultério, não fugir, não ofender ninguém, não levantar armas contra outrém:

 

«Porque também manda a lei que se façam as obras próprias do homem valoroso, como não desamparar a ordem, não fugir, não lançar as armas. E também as que são do varão temperado, como não cometer adultério, não fazer afronta a ninguém: do mesmo modo a do varão manso, como não ferir ninguém, não injuriar, e da mesma maneira nos demais géneros de virtudes e vícios, mandando umas coisas e proibindo outras, o que a lei que está bem feita faz bem, e faz mal a que está forjada de forma repentina e sem conselho amadurecido.» (Aristóteles, Ética a Nicómaco, Livro V, Capítulo I, pags 154-155 do 1º tomo da da edição espanhola de Folio; a letra a negrito é por mim colocada.)  

 

Classificar a ética de Aristóteles de "deontológica" não é consensual. Esta encontra-se a meio caminho entre a ética estóica, racionalista ascética, deontológica por excelência (porque razão se considera Kant como o modelo da deontologia e não os estóicos?) e a ética hedonista, sensualista de Aristipo de Cirene.

 

Aristóteles definiu a boa vontade como um "amor sem desejo",  que abarca até os desconhecidos:´

 

«A boa vontade parece-se algo à amizade, mas não o é, porque a boa vontade pode-se ter para com os que não são conhecidos, e pode ser sem que se entenda, mas a amizade não. Mas isto já foi dito. Mas tampouco é aficção, porque a boa vontade não tem porfia nem desejo, mas na aficção ambas estas coisas se acham. Do mesmo modo a aficção vai acompanhada de conversação, mas a boa vontade emerge repentinamente, como acontece entre os que se combatem, aos quais outros se aficcionam e com eles desejam a vitória, mas nem por isso se põem a ajudá-los. Mas, como dissemos, a boa vontade ocorre repentinamente, e os que a têm, amam assim simplesmente, sem afecto. Mas parece que esta boa vontade é princípio da amizade, da mesma maneira que dos amores o é o deleite da vista, porque ninguém ama sem que primeiro se agrade com a vista, e ainda que um se agrade pela visão, nem por isso ama, a não ser quando chega a sentir a ausência, e deseja gozar a presença.  (...) E assim, falando como que por metáfora, poderia alguém dizer que a boa vontade é uma amizade remissiva ou tíbia, a qual, se persevera e vem a confirmar-se como conversação, converte-se em amizade, mas não das que se fundam em utilidade e deleite, porque nestes não há boa vontade. »(Aristóteles, Ética a Nicómaco, Livro IX, Capítulo V, pag 190-191 do volume 2 da edição espanhola de Folio; o negrito é colocado por mim) 

 

A boa vontade em Aristóteles é pois uma atitude benévola, não interesseira, para com qualquer pessoa . Em sintonia com esta noção, Kant escreveu:

«Como a própria lei moral há-de ser o móbil numa vontade moralmente boa, o interesse moral supõe o interesse de uma razão prática simples que seja puro e independente dos sentidos.» (Immanuel Kant, Crítica de la Razón práctica, pag 172, Alianza Editorial; o negrito é de minha autoria).

 

Poderá objectar-se que a boa vontade ou vontade autónoma, isto é, a vontade de fazer o bem ou de fazer justiça sem olhar a quem, na doutrina de Kant, conduz, em certas condições, a atitudes de punição física ou moral de um certo número de indivíduos, incluindo a prisão e a execução. É o caso por exemplo das execuções de colaboracionistas com o nazismo, ocorridas em França em 1944-1946, sob a égide do governo provisório de libertação nacional presidido por De Gaulle: havia que condenar a longas penas de prisão ou fuzilar os que trairam a pátria francesa, colaborando vergonhosamente com a ocupação militar hitleriana. Mas, mesmo nesse gesto punitivo, há benevolência para com os cidadãos em geral, sem discriminações. A punição dos traidores e criminosos publicamente reconhecidos produz bem-estar e tranquilidade nos restantes cidadãos.

  

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Quinta-feira, 16 de Dezembro de 2010
Agnosticismo é o mesmo que cepticismo?

 

 

Agnosticismo é o mesmo que cepticismo? Será quádrupla e não tripla a estrutura geral da realidade? Agnósis significa, em grego, desconhecimento, sem conhecimento. Parece-me que há dois tipos de desconhecimento: o agnosticismo, ou seja, a privação do conhecimento; o cepticismo, ou seja, a negação do conhecimento. Mais uma vez me inspiro em Aristóteles, essa luminária genial da filosofia, que determinou duas vertentes do não ser: a privativa e a negativa. E há dois tipos de conhecimento: o dogmatismo positivo ( por exemplo: «o ser e tal ou tais entes, como o planeta terra, o electromagnetismo, a humanidade existem») e o dogmatismo negativo ( exemplo: «o ser e diversos entes como a Terra,o electromagnetismo e a humanidade não existem)».

 

A privação do conhecimento significa que nem sequer se faz ideia de que existe uma referência, um objecto, uma teoria a conhecer, numa dada área. Vive-se na pura ignorância: não há certeza, nem há dúvida. É a privação. É possível que certas tribos indígenas vivendo secularmente no meio da floresta da Amazónia ignorassem por completo, até ao século XIX ou mesmo até ao século XXI, a existência de outros povos e da civilização industrial mundial. Estariam em estado de agnosticismo puro.

 

Mas se um dos membros da tribo dissesse: «Vi, ao longe, gente estranha, com cor de pele diferente»  surgiria a dúvida, o cepticismo, na mente de alguns dos seus ouvintes. O cepticismo encerra em si algum conhecimento: o conhecimento de uma ideia, hipótese, não confirmada pelos orgãos dos sentidos, a fonte mais segura da verdade. Erram, pois, aqueles que dizem que todo o conhecimento é factivo, isto é, de factos reais, irrecusáveis. O conhecimento de hipóteses, de sonhos não é factivo, indiscutível, mas é conhecimento de algo. Aquele que duvida da existência de entidades extraterrestres conhece a hipótese de estas existirem mas nega à hipótese o transformar-se em certeza (dogma). Usa, pois, o livre arbítrio. Mas o que nunca viu nem ouviu falar de extraterrestres nem lhe ocorreu essa ideia está aquém da dúvida: não chegou sequer ao patamar do cepticismo. Está em absoluto privado do dogma, nesse campo, ao passo que o céptico sente-se vizinho do dogma e conhece o dogma sem o adoptar. Assim, há três posições: agnose (privação do conhecimento), dúvida (negação existencial de um conhecimento) e dogma (afirmação de um conhecimento).

 

  

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Quarta-feira, 15 de Dezembro de 2010
A tarefa principal da filosofia é avaliar argumentos?

 

 

Em artigo na revista "Crítica (na rede)", Luís Helvécio Marques Segundo, da Universidade de Ouro Preto, no Brasil, sustenta que  «A filosofia não é mais importante que a física, ou a matemática, ou a história; tem exatamente o mesmo valor que qualquer outra atividade cognitiva.» Não partilho, exactamente, essa opinião.  

 

Ser filósofo é mais vitalmente importante do que ser cirurgião ou vendedor de fruta mas, no momento de uma operação cirúrgica, a arte da cirurgia sobrepõe-se à filosofia e, no momento do abastecimento alimentar de uma comunidade, é mais importante possuir e disponibilizar a fruta do que saber a diferença ontológica entre o Sein e o Dasein na teoria de Heidegger. A filosofia, boa ou má, comanda tudo. Se a humanidade hoje está dependente de um imenso aparelho de cuidados de saúde que não impede, antes estimula, o crescimento das doenças, mediante a inoculação de vacinas nocivas e a ingestão massiva de medicamentos químicos, desvitalizadores, é porque uma deficiente filosofia é veiculada nos mass media, na literatura e no sistema de ensino, iludindo e manipulando milhões de pessoas.

Colocar a grande filosofia ao mesmo nível que a ciência médica deficiente é fazer o jogo desta última e permitir à classe médica e à indústria farmacêutica alienar biliões de pessoas com falsas noções de cura e de higiene. Só os filósofos possuem inteligência bastante para desmontar o erro de raciocínio que subjaz à crença na vacinação. Médicos-filósofos há poucos, médicos tecnocratas, de raciocínio falacioso, há muitos. Escreve ainda Marques Segundo:

 

«Finalmente, a contribuição mais importante da filosofia para nossas vidas comuns é a avaliação de argumentos. Avaliar argumentos não é uma atividade exclusiva da filosofia, fazemos isso também em outras áreas. No entanto, pelo fato de a filosofia ser uma disciplina de natureza a priori, i.e. feita pelo raciocínio apenas, a avaliação de argumentos é uma de suas tarefas principais; e sendo esta uma tarefa principal, é de se esperar um grande avanço nas técnicas de avaliação de argumentos. (Qualquer bom manual de lógica fornecerá uma quantidade razoável dessas técnicas.) Ao avaliar argumentos filosóficos, os filósofos dão atenção às ambigüidades da linguagem natural, procuram imprecisões e idéias escondidas, e tentam tornar algumas idéias mais plausíveis, entre outras atividades. Em suma, a filosofia torna nossa capacidade de pensamento muito mais precisa e eficaz. É de se esperar, portanto, que em situações corriqueiras onde estejam envolvidos argumentos, e.g. num debate presidencial, alguém que pense como um filósofo tenha mais probabilidades de avaliar corretamente tais argumentos e dizer se são bons ou não. O estudo da filosofia, portanto, fornece algo precioso ao ser humano: a capacidade para avaliar cuidadosamente as justificações que alguém tem para determinadas ações ou crenças.» (Luís Helvécio Marques Segundo, A filosofia é superior?, in Crítica, 20 de Novembro de 2010; o negrito é colocado por nós).

 

Na verdade, a tarefa principal da filosofia não é avaliar argumentos mas sim produzir uma panorâmica geral especulativa sobre a vida em geral, o universo (sua génese e funcionamento), o homem (sua natureza e finalidades) e as suas criações: a sociedade humana, a linguagem, a tecnologia, as ciências, a arte e a cultura em geral, a política, a teologia e a mitologia. A avaliação de argumentos é uma actividade colateral e nunca é feita de forma inteiramente científica: carrega, sempre, algum lastro ideológico. A formulação de Marques Segundo indica o desvio da filosofia para o plano da retórica, essa conspurcação do pensar profundo pelo "saber dizer".  Certamente, Aristóteles, nos seus tratados de lógica, forneceu regras de avaliação de argumentos mas foi na "Física" e na "Metafísica" que produziu o essencial da sua filosofia que é especulação, interpretação e construção ontológica, cosmológica, antropológica e não... avaliação de argumentos.

 

Marques Segundo comete ainda um sério equívoco ao escrever, acima: «No entanto, pelo fato de a filosofia ser uma disciplina de natureza a priori, i.e. feita pelo raciocínio apenas, a avaliação de argumentos é uma de suas tarefas principais».

Em primeiro lugar, a filosofia não é uma disciplina unicamente a priori, mas de dupla vertente: a priori (antes e fora da experiência) e a posteriori (com e após a experiência sensível). Em cada momento nascem ou renascem problemas filosóficos, fruto do contacto da inteligência com as realidades empíricas (a posteriori): economia, política, comportamentos sexuais, informática e cibernética, astrofísica, cinema, teatro, medicina, química, moda, etc. Se a filosofia fosse somente a priori, seria imune à experiência (a posteriori), desdenharia esta: não rectificaria nada do que concebesse. É fácil de ver que a filosofia «hippie» (recusa do trabalho burocrático e do militarismo, vida livre em comunas, etc) se forjou na experiência (a posteriori) dos jovens marginais ao ritmo capitalista actual, a filosofia dos direitos dos animais nasceu a posteriori, observando o sofrimento de animais a serem espancados, feridos ou mortos por seres humanos...

Em segundo lugar a filosofia não é feita pelo raciocínio apenas, mas pela intuição inteligível (átomo, mónada, universo como uma esfera são intuições inteligíveis) e pelo conceito empírico (modelo real de socialismo venezuelano ou chinês em 2010, modelo real de capitalismo norte-americano ou canadiano em 2010 são conceitos empíricos).

 

E prossegue o académico de Ouro Preto:

«Mesmo não sendo a atividade intelectual mais importante — não há a mais importante! — a filosofia compõe, com certeza, uma parte interessante da investigação do quebra-cabeças da realidade.» 

Equivoca-se. Há um largo consenso entre os pensadores que os limites da filosofia extravasam os de cada ciência e do conjunto das ciências: só a filosofia nos oferece a visão panorâmica do todo. Por conseguinte, ela - refiro-me à grande filosofia, não ao pequeno segmento que é a filosofia analítica centrada na retórica, subserviente às ciências ideológicas - é, de facto, mais importante que qualquer ciência, do mesmo modo que sem a visão intelectual do todo não se concebe correctamente a estrutura de cada uma das partes.

 

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Segunda-feira, 13 de Dezembro de 2010
The non dialectical thought of Simon Blackburn

 

In his book “Truth, a Guide for the Perplexed” Simon Blackburn proposes a chart of theories in each area of knowledge– for example: mathematics, ethics, aesthetics, probability, chemistry,  biology – and presents the schema bellow designed. He writes:

 

«Any map of alternatives must be provisional, but there is good reason to attempt to draw one. In the chart overleaf the central topic is discrebed as our area of discourse and commitment. In other words, the phenomenon about which theories cluster is the fact of our sayings and thoughts.» (...) 

 «

Eliminativism (1)                                      Realism(2)  

                                                                                                                                                 

          AREA OF DISCOURSE AND COMMITMENT

                                                                                                                                                                                                                                            

 Constructivism  (3)                                   Quietism (4)

 

 

1) Eliminativism: (Get ride of it!)

2) Realism (Get it right, then talk of truth, ontology, reality, fact...)

3) Constructivism: (Keep on playing, but...) also fictionalism, instrumentalism, pragmatism, expressivism...

4) Quietism (No contest) Soggy pluralism    »   (Simon Blackburn, A Guide for the Perplexed, Penguin Books, page 113)

 

                                                                                                                                                                                                                      

In the chart above, stays a mistaken division of theories, consequence of the non dialectical thought of Simon Blackburn. He confuses different levels, mixing genus with species of other genus, separating genus which mutually intersect. For example, quietism is not contrary to realism - in his last philosophical phase, Wittgenstein was realist and quietist - and can not be placed as it is (bellow realism) on the chart above. Realism belongs to the genus ontology and quietism belongs to the genus praxiology (this term means the discipline centred in action/ no action). Quietism is opposite to epistemological Mobilism.

 

Constructivism belongs to a genus different from realism, not absolutely extrinsic to it: there is a constructivist realism and a non constructivist (or static) realism. So, in some way, a part of constructivism is included in realism like a species: the realism constructivist. How can Blackburn exteriorize constructivism from realism, if the first is simultaneously inside and outside realism? There is a realist constructivism, an idealist constructivism and a phenomenological constructivism. And eliminativism belongs to  genus ergoloy: it is not opossite to realism, because there is an elimiminativist realism... In fact, we can be a constructivist, eliminativist and quietist realist at the same time. These four terms are not excluding each other as Blackburn supposed. This one does not distinguish the contraries from the intermediates. He ignores dialectical reasoning.

 

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Domingo, 12 de Dezembro de 2010
Sobre o "quase realismo" de Simon Blackburn

 

Simon Blackburn, filósofo inglês de renome, quis entronizar-se na história da ética como autor de uma teoria sonante que baptizou de "quase realismo". A posição não é original: afinal o quase realismo de Deus, da alma e da liberdade já foi arquitectado por Kant na sua "Crítica da Razão Prática". Empurrado para a parede do cepticismo no que respeita aos númenos, entes incognoscíveis, em particular  Deus e a alma imortal, que não podem demonstrar-se experiencialmente - podem até não existir -  Kant salvou essas certezas da metafísica medieval cristã transformando-as em "postulados da razão prática", isto é semi certezas, holofotes que iluminam a acção humana e lhe dão sentido. Da causa final ("o supremo bem", "o dever") extraiu Kant a causa formal, a quididade ou a ecceidade de "Deus", da "imortalidade da alma", de "liberdade".

Blackburn escreveu sobre a sua teoria, pretensa "terceira via" entre o realismo e o irrealismo dos valores:

 

«quasi-realism Term coined by the English philosopher Simon Blackburn (1944-     ) to identify a position holding that an expressivist or projectivist account of ethics can explain and make legitimate sense of the realist-sounding discourse within which we promote and debate moral views. This is in opposition to writers who think that if projectivism is correct then our ordinary ways of thinking in terms of a moral truth, or of knowledge, or the independence of ethical facts from our subjective sentiments, must all be in error reflecting a mistaken realist metaphysics. The quai-realist seeks to earn our right to talk in these terms on the slender, projective basis. The possibility of quasi-realism complicates the methodology of realist/antirealist debates in many areas.» (Simon Blackburn, The Oxford Dictionary of Philosophy, Oxford University Press, 2005, pag 304).

 

 

Blackburn pretende que a sua teoria é um intermédio entre realismo e irrealismo dos valores (os valores não são reais em si mesmos, são apenas entidades fictícias que a mente humana concebe). Trata-se de uma espécie de agnosticismo. No entanto, há que não esquecer que o agnosticismo ou cepticismo não apaga, em matéria de metafísica religiosa, a dualidade de fundo: ou Deus e deuses existem (realismo teológico) ou não existem (irrealismo teológico). A "terceira via"  da social-democracia entre capitalismo e socialismo não existe: Tony Blair, Sócrates, Zapatero estiveram ou estão do lado do capitalismo financeiro e industrial contra o socialismo, que implica a desaparição da alta e da média burguesia e da correspondente economia privada. Logo, a teoria de Blackburn ou é realismo ou irrealismo (não realismo). O quase realismo tem de inserir-se num destes dois campos exclusivistas.

 

A meu ver, a teoria de Simon Blackburn não é, senão, um projectivismo objectivista, que entra na categoria do realismo. Por projectivismo deve entender-se a teoria ética segundo a qual os valores éticos e estéticos são meras projecções da sensibilidade de cada um e de uma colectividade humana. Projectivismo sugere irrealismo, à primeira vista. Em minha opinião, não é exactamente assim. Há um projectivismo realista - há valores reais na subjectividade de cada um, valores que são intersubjectivos, comuns a grande parte ou a toda a humanidade, como, por exemplo, o valor da "solidariedade" e o valor concreto do "acarinhar e proteger os bebés"; os valores são reais dentro e exteriorizam-se nas acções, leis e instituições sociais, projectam-se - e um projectivismo irrealista - os valores não existem, são projecções subjectivas do imaginário, como, por exemplo, o valor do "amor a alguém" é irreal, exprime apenas uma tendência hormonal, um desejo contingente, ama-se e deixa-se de amar tal pessoa concreta.  

 

Simon Blackburn é um erudito, mas não um filósofo de águas profundas e céus infinitos. O seu meritório "The Oxford Dictionary of Philosophy," periodicamente reeditado, é uma obra rica em definições e referências úteis, sem embargo de padecer relevantes deficiências. Uma destas é a sua definição unidimensional de objectivismo que ele só consegue formular no plano ético (não existe a entrada "objectivism" no seu dicionário, versão de 2005):

 

«ethical objectivism. The view that the claims of ethics are objectively true; they are not relative to a subject or a culture, nor purely in their nature, in opposition to error theories, scepticism and relativism. The central problem is finding the source of the required objectivity.» Simon Blackburn, The Oxford Dictionary of Philosophy, Oxford University Press, 2005, pag 121).

 

Blackburn não parece capaz de conceber que o seu «quase realismo» é um objectivismo de valores intra anima. Aliás não distingue objectivismo extra anima de objectivismo intra anima - e esta é uma das pedras de toque que distingue os filósofos profundos dos superficiais. Como se explica que Blackburn, profundo conhecedor das lógicas formal e proposicional, não consiga arquitectar um edifício coerente e multidimensional de teorias no campo da gnosiologia (objectivismo, subjectivismo, intersubjectivismo, etc)?  Explica-se pelo facto de as leis da lógica serem meras estruturas abstractas de ordenação destituídas do poder de determinar a verdade material de conceitos e juízos, destituídas de intuição noética, isto é, do pensar intuitivo e a-lógico (noein) e Blackburn não possuir este noein em  grau muito elevado. Neste caso, Blackburn não distingue entre objectivismo interior (intra anima) e objectivismo exterior (extra anima) e nem um «inspector de circunstâncias», instrumento da lógica, o pode ajudar a discernir isso. O muito saber na lógica formal não evita a má filosofia, recheada de paralogismos, porque a filosofia é substancial, não é feita apenas de raciocínios mas de intuições inteligíveis, como uno, ser, eterno, e de conceitos empíricos, como ditadura, democracia, utilidade, individualidade, cor, substância concreta, gerar-se, corromper-se. De qualquer modo, Blackburn parece-me intelectualmente superior a Peter Singer, um académico de mediana qualidade que goza de um prestígio exagerado e imerecido a nível internacional. Singer aliás ofuscou, pela marginalização (censura discreta), as teorias dos que o fariam revelar-se um filósofo de terceira classe: no seu volumoso " A companion to Ethics" (Compêndio de Ética, 1991, 1995) Singer evitou desenvolver, por pouco que fosse, a doutrina ética de Max Scheller que reduziria a proporções teóricas diminutas o teor das éticas de Singer, James Rachels, Jonathan Dancy e outros.

 

 

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Sexta-feira, 10 de Dezembro de 2010
Sobre o raciocínio de analogia (Crítica de manuais escolares - XXXIX)

 

Os manuais de filosofia no ensino secundário em  Portugal não sabem, em regra, definir analogia e raciocínio de analogia. No Manual português «A Arte de pensar, Filosofia 11º»  lê-se o seguinte:

 

«Num argumento por analogia pretende-se concluir que algo é de certo modo porque esse algo é semelhante a outra coisa que é desse modo. Por exemplo:

 

As mulheres são como os homens.

Os homens têm o direito de votar.

Logo, as mulheres tambèm têm o direito de votar.

 

«Não se deve confundir os argumentos por analogia com as analogias propriamente ditas. Uma analogia é apenas uma semelhança entre coisas; os argumentos por analogia baseiam-se nesta semelhança mas não são, eles mesmos, analogias. Como se pode ver, nos argumentos por analogia uma das premissas é uma analogia.» ( Aires Almeida, Célia Teixeira, Desidério Murcho, Paula Mateus, Pedro Galvão, A arte de pensar, Filosofia 11º ano, Plátano Editora, pag 94).

 

Até aqui, a explanação é aceitável. Lê-se, linhas abaixo, no mesmo manual:

 

«Vejamos duas das regras necessárias, mas não suficientes, para que um argumento por analogia seja válido:

 

1. As semelhanças têm de ser relevantes e numerosas.

2. Não pode haver diferenças relevantes. »

 (Aires Almeida, Célia Teixeira, Desidério Murcho, Paula Mateus, Pedro Galvão, A arte de pensar, Filosofia 11º ano, Plátano Editora, pag 94).

 

Aqui reside um erro deste manual. O que é analogia? À letra, significa raciocínio ou discurso (logos) superior, dirigido para cima (ana). A analogia é, pois, um tipo de semelhança estabelecida no intelecto superior, ou num plano ontológico mais elevado, entre dois ou mais entes, duas ou mais qualidades bastante diferentes entre si. Na analogia entre dois ou mais entes há sempre uma ou muitas diferenças relevantes, ao contrário do que afirma «A arte de pensar.» A criança que brinca com uma lata de sardinhas de conserva como se fosse um barco intuiu uma analogia de forma entre a lata e o barco, apesar das relevantes diferenças entre estes.

A poesia baseia-se em analogias, plasmadas em metáforas. Por exemplo: «coração de oiro»  estabelece analogia entre o coração como fonte dos afectos valiosos e o ouro como sede de valor. É uma quádrupla analogia coração-bondade-oiro-validade. Apesar de serem entes muito diferentes, há uma analogia de forma entre homem e árvore: os ramos da árvore sugerem os braços do homem, o tronco da árvore sugere o tronco e pernas do homem.

 Vejamos o seguinte raciocínio de analogia:

 

1. O homem erecto é, na sua configuração, análogo a uma árvore, sendo os ramos análogos aos braços, e a cabeça à folhagem superior.

2. O homem possui um centro nervoso superior, situado no cérebro, que lhe dá conta do mundo exterior.

3. Logo, a árvore deve possuir uma espécie de "cérebro vegetal", através do qual intui a realidade circundante.

 

Quem pode garantir que está errado  este raciocínio de analogia? Decerto, é especulativo, mas não implausível de todo. Os defensores da naturopatia estabelecem uma analogia entre o homem e o gorila e raciocinam concluindo que o homem se deve alimentar, em termos biológicos como o gorila. Pierre Marchesseau e Gregóire Jauvais, eminentes naturopatas franceses, escreveram:

 

«B) Fundamentos do Método Biológico

As observações fundamentais que presidiram ao nascimento deste método são ao mesmo tempo filosóficas e científicas e, como acabamos de dizer, saídas de um raciocínio de analogia (onde o pensamento procede por comparação). » (...)

«Primeira observação: Não há animais «omnívoros». Cada animal tem um regime que lhe é próprio, ou seja, "específico". O tigre come carne; o boi, erva; a ave (galináceos), grãos; a hiena, cadáveres; o escaravelho, excrementos; a termita, madeira, etc.«(...)                     

« Terceira observação: o homem é um macaco, na série animal. Portanto, deve alimentar-se como o macaco.

a)  A dentadura, o tubo digestivo dos macacos, com a bolsa estomacal única, de paredes finas e ácidos fracos, o seu intestino de tamanho médio (situado entre o do herbívoro e o do carnívoro, o seu fígado pequeno, não muito irrigado, e os seus rins impermeáveis ao amoníaco, indicam claramente o seu destino alimentar.(...) É lógico pensar: para orgãos semelhantes, funções semelhantes. E quem diz funções digestivas semelhantes, subentende obrigatoriamente os mesmos alimentos.» (Pierre Marchesseau e Gregóire Jauvais,Curso Completo de Biologia Naturopática, Nova Editorial Natura, Lisboa, pags 227-228 e 233).

 

Neste excerto acima, está o exemplo de um perfeito raciocínio de analogia: «o homem, tal como o macaco, possui um tubo digestivo de 6 a 8 metros de comprimento, ao contrário dos carnívoros, com tubos digestivos de 2,5 metros; logo, se o gorila em liberdade se alimenta de 80% a 90% de frutos e afins (maçãs, mangas, bananas, amendoins, caules de cana do açúcar, bolbos e raízes diversas) e 10 % a 20% de subprodutos animais (ovos, pequenos mariscos, leite coalhado), esta deve ser a alimentação humana, baseada no dualismo grande frugivorismo- pequeno carnivorismo não sangrento».

 

 A antiga ciência astronómico-astrológica estabeleceu analogias entre um grupo de estrelas e um touro, designando-o de constelação do Touro, entre outro grupo de estrelas e um escorpião, designando-o de constelação do Escorpião, e entre o homem-microcosmos e o homem-Zodíaco macrocosmos: a cabeça humana estaria na constelação de Carneiro, o pescoço na de Touro, os ombros e braços na de Gémeos, o peito e estômago na de Caranguejo, o coração e as costelas na constelação de Leão, os intestino na da Virgem, etc. "Ver" na faixa do Zodíaco com doze constelações as doze partes de um homem gigantesco é obra da imaginação que compara e é mola crucial da analogia. Não se pode aqui falar de "falsa analogia". É uma analogia, nada mais.

 

O raciocínio de analogia que, em regra, superiorizou a filosofia às ciências parcelares e alargou o horizonte de cada uma destas, possui um poder multiplicador, holístico. E não é fácil classificar peremptoriamente as analogias em verdadeiras e falsas. Por exemplo, a teoria da vacinação sustenta-se numa analogia deficiente entre vírus/ toxinas e atacantes de um castelo, por um lado, e anticorpos gerados no organismo e defensores de um castelo. A deficiência reside no facto de que os anticorpos são defensores feridos já pela intrusão do inimigo no castelo (a picada da vacina) e não podem, pois, combater eficazmente o veneno instalado já dentro de portas: não é um combate de igual para igual.

 

O manual «A arte de pensar» reduz a analogia a uma semelhança óbvia, quase uma indução amplificante - ou seja, como multiplicação de cópias - não percebendo que a analogia se dá entre contrários e entidades muito díspares entre si, como o caso do homem e do gorila, do homem e das constelações do Zodíaco, etc. Por exemplo, o estalinismo é análogo ao nazismo na estrutura piramidal de submissão totalitária do indivíduo ao Estado-partido. A analogia é essencial parcial. Há diferenças substanciais: os capitalistas alemães preferiam Hitler a Estaline, os operários "avançados" preferiam o inverso. O nazismo não é, em termos substanciais, o mesmo que o comunismo estalinista, ainda que, no esqueleto formal, possuam muito em comum. A analogia subsiste entre as cores vivas da diferença.

 

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Quarta-feira, 8 de Dezembro de 2010
É o Ethos uma prova técnica na retórica? (Crítica de Manuais Escolares-XXXVIII)

 

No Manual português «Filosofia 11º» de Luís Rodrigues, lê-se o seguinte a respeito das técnicas de persuasão da retórica:

 

«Para persuadir, o orador pode recorrer a dois tipos de provas: as provas não técnicas e as provas técnicas. As provas não técnicas são as provas que já existem e que o orador se limita a usar no seu discurso, como as leis, os testemunhos, os contratos, as confissões sob tortura e os juramentos.

«As provas técnicas são aquelas que podem ser preparadas pelo orador e são de três espécies:

1. As que residem no carácter do orador (ethos).

«A persuasão é obtida quando o discurso é proferido de maneira a deixar no auditório a impressão de que o carácter (e não o aspecto físico ou a riqueza) do orador o torna digno de crédito.»  (Luís Rodrigues, Filosofia 11º, Plátano Editora, Lisboa, pag. 117; a letra negrito é quase toda colocada por mim ).

 

Luís Rodrigues equivoca-se. Por que razão os contratos e os testemunhos seriam  provas não técnicas e o ethos, que em si mesmo é um testemunho - por exemplo, o carácter devotado aos pobres de Teresa de Calcutá - seria uma prova técnica ou conteria em si provas técnicas? O ethos não constitui uma prova técnica nem possui em si provas técnicas. O ethos é um modo de ser: é não técnico. Exemplo: o falecido líder do Partido Comunista Português, Álvaro Cunhal (1913-2005), possuía um ethos -um carácter inflexível de lutador pelo socialismo marxista-leninista- que irradiava naturalmente da sua presença em público e nos discursos (retórica) que produzia. O que é técnico na retórica é o modo de transmitir esse "ethos" ao auditório, não é o ethos nem as suas componentes. Assim, o PCP ao transmitir o ethos de Álvaro Cunhal acentuava o seu comportamento de brilhante resistente às torturas da PIDE e de preso político notável sob o regime fascista de Salazar e obscurecia certos aspectos desse ethos como  o silêncio cúmplice de Cunhal com a repressão estalinista em 1930-1953, o esmagamento da revolução húngara de Outubro-Novembro de 1956 e da revolução checoslovaca de Abril-Agosto de 1968 pelas tropas da URSS, etc.

 

Luís Rodrigues não distingue entre o ethos em si, real, e o "ethos" fabricado como imagem pública, e tende a amalgamar aquele neste.

Escreve ainda:

«2.3 O ethos

Este tipo de prova técnica é a que depende do carácter do orador.» (Luís Rodrigues, Ibid, pag 120)

 

Esta frase é, aliás, confusa porque duplica o significado do termo ethos: prova técnica (exibição do "ethos" ou construção mediática de um falso "ethos")  e carácter em si ("ethos"). O autor do manual não distingue, pois, claramente, o "em si" do "para os outros", a coisa da transmissão da sua imagem. O ethos não é uma técnica de persuasão mas uma fonte de persuasão.

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Domingo, 5 de Dezembro de 2010
Empirismo genético, empirismo constitutivo y empiro-racionalismo

Hay dos definiciones distintas de empirismo (en griego, empeiria significa experiencia), hecho que no es percibido por la abrumadora mayoría de los profesores de filosofía y filósofos: en el orden generacional y en el orden constitutivo o entitativo.

 

Empirismo cuanto a la génesis de nuestros conocimientos o empirismo genético es la doctrina según la cual todo el conocimiento humano principia por la experiencia, por la sensación y percepción empírica. Se basa en la teoría de la tabla rasa. En este sentido, empirismo no excluye en absoluto al racionalismo, se compatibilizan según el principio de la (no) contradicción: se pude ser empirista cuanto a la génesis del conocimiento y racionalista cuanto a su ultimación,  puesto que los sentidos dan la «piedra» o materia prima de las sensaciones y la razón obra como «albañil» o forma transformadora del material empírico. De ahí el empiro-racionalismo como corriente intermedia en la dualidad empirismo-racionalismo.

 

Empirismo cuanto a la entidad o constitutivo es la doctrina según la cual todo el conocimiento humano es de naturaleza empírica, de tal modo que las ideas y razonamientos son copias muy aproximadas de las sensaciones y percepciones. Ejemplos: el concepto de átomo se formó a partir de la representación de una bola (el núcleo) con círculos de alambre en su alrededor (las órbitas electrónicas); el concepto de caballo y el concepto de casa son formados, a manera de copias, a partir de las percepciones empíricas de caballo y de casa. Esta modalidad de empirismo es compatible con innatismo: ejemplo, es posible que los colores amarillos, rojo y otros estén innatos en nuestra sensibilidad de manera que cuando vemos algo amarillo o rojo estamos confirmando nuestros dados innatos.

 

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Quarta-feira, 1 de Dezembro de 2010
A equívoca definição de «Existência» na doutrina de Heidegger

Em uma passagem fundamental de "O Ser e o Tempo" Heidegger caracteriza assim a essência e a existentia do "ser aí" (Dasein), isto é, cada homem na sua singularidade:

 

«Desta caracterização do "ser aí" resultam duas coisas:

 

«1. A essência de este ente está no seu "ser relativamente a". O "quê é" (essentia) de este ente, até onde se pode falar dele, tem que conceber-se partindo do seu ser (existentia). (...) este termo não tem nem pode ter a significação ontológica do termo existentia: existentia quer dizer ontológicamente "ser diante dos olhos" , uma forma de ser que, por essência não convèm ao ente do carácter do "ser aí". Evitamos a confusão usando sempre em vez do termo "existentia a expressão exegética "ser diante dos olhos" e reservando o termo de existencia como determinação do ser, para o "ser aí".

 

«A essência do "ser aí" está na sua existência. As características que se pode pôr em evidência neste ente não são, portanto, "peculiaridades"  "diante dos olhos" de um ente "diante dos olhos" de tal ou qual "aspecto", mas sim modos de ser possíveis para ele em cada caso e só isto. Todo o "ser tal" de este ente é primariamente "ser". Daí que o termo "ser aí", com que designamos este ente não expresse o seu «quê é», como mesa, casa, árvore, mas o ser.» (Martin Heidegger, El Ser y el Tiempo, pag 54, Fondo de Cultura Económica).

 

Por conseguinte, existência, em Heidegger, significa não a realidade ôntica, visível e palpável, de cada ente mas antes o "ser", na sua dupla faceta de existir universal e essência/estrutura geral que atravessa os entes (o homem, o céu, o cavalo, a casa, etc).

 

Que significa o "ser relativamente a"? É o "ser" universal que podemos imaginar como o centro do círculo e a totalidade deste, isto é, os raios que emana até à circunferência cujos pontos (desta) seriam os entes (o "ser aí" ou homem, as árvores, os rios, as casas, etc).

 

A essência de cada ente foi extraída da existentia - ou existir universal e estrutura geral do "ser" - do mesmo modo que a figura da estátua (essência, quê é) foi extraída do bloco de mármore ("ser", existência transcendente e imanente à estátua). O mármore, que uso como imagem do "ser",  transcende a estátua, é mais vasto que ela e, ao mesmo tempo, é imanente a ela. As leis da estrutura do mármore, a coesão entre as moléculas dos seus componentes ´físico-químicos, é o modo do "ser" relativamente à estátua.

 

Em vez de usar o termo existência, que confunde muitos dos seus leitores, Heidegger deveria ter usado in-sistência e dizer que «a essência do "ser aí" está na sua in-sistência», na interioridade do "ser" . A frase «a essência do homem está na sua existência» é interpretada, na filosofia de Sartre, de forma inversa à de Heidegger: como acidentalismo, construtivismo da essência, sempre incompleta, esboçada, através da acção objectiva. Para Sartre, a essência do homem não existe a priori, nasce da acção. Mas para Heidegger a essência do homem existe a priori, nasce, não da acção mas do "ser" transcendental e, obviamente, tempera-se e consolida-se na acção.

 

Por isso existencialismo, em Heidegger, é essencialismo. E em Sartre, é acidentalismo, libertismo.

 

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