Domingo, 25 de Julho de 2010
O cibercorporalismo, ilusão perigosa e troféu da tecnociência

Chamo cibercorporalismo à ideologia hoje em expansão, que  propaga ser possível usar, moldar ou reconstruir o corpo humano à medida dos nossos desejos mais peregrinos, suplantando, em certa medida, as leis «tradicionais» da natureza biofísica. Corresponde ao estado de cibercorporalidade que é, por assim dizer, a realidade virtual construída nos computadores segundo os mais avançados programas informáticos.


Esta ideologia é uma das formas do tecnocientismo, doutrina segundo a qual a tecnociência (informática, cibernética, electrónica, química molecular, engenharia genética, etc) é o mais elevado grau do conhecimento humano, destronando a filosofia, a religião, a vidência "esotérica", etc.


O cibercorporalismo manifesta-se, em especial, nas operações cirúrgicas de carácter estético, em particular as de "mudança de sexo", nos jogos de computador «hiper realistas»  que dão a sensação de ir a conduzir um automóvel, um avião, etc, a alta velocidade, na tomada de suplementos alimentares conjugada com a musculação regular em ginásios, etc.


O cibercorporalismo corresponde a um estado arquetípico idealizado e, a par de um auxílio real que presta aos seres humanos - concepção e implantação de próteses auditivas, ósseas e outras, em seres humanos atingidos por deficiências, etc - engendra erros irreparáveis. De facto, está destituído de uma filosofia naturalista-vitalista, que respeita a natureza biofísica e sabe, por exemplo, que a vitamina C do sumo de limão não tem o mesmo efeito exacto que a vitamina C de síntese laboratorial. Por isso, o cibercorporalismo acaba por desumanizar, em certa medida, os homens.


O uso constante e universalmente difundido do telemóvel e de outros aparelhos com radiações ionizantes, favorecendo a multiplicação dos cancros e de outras doenças degenerativas, está vinculado à ideologia cibercorporalista oposta à antiga higiene e medicina natural.


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Sábado, 24 de Julho de 2010
O convencionalismo ético em Epicuro, muito antes de Nietzsche

O filósofo grego antigo Epicuro tinha uma concepção pragmática da justiça, da acção justa e injusta e do prazer. Ao contrário de Max Scheller e de todos os filósofos da ética "ontológica", que sustentam que há uma esfera de valores subsistente por si, Epicuro adoptou a perspectiva antropológica dos sofistas, o lema «O homem é a medida de todas as coisas», de Protágoras. Escreveu Epicuro:


«VIII- Nenhum prazer é em si mesmo mau. Contudo, as coisas que produzem alguns prazeres trazem consigo perturbações que são muito maiores do que os prazeres.»

«XXXI- A justiça natural é o meio de reconhecer o que é útil para não infligir prejuízos uns aos outros nem sofrê-los.» (...)

«XXXIII - A justiça não é algo em si mesmo, mas tão-só um pacto surgido, outrora, agora e sempre, de relacionamento mútuo entre os grupos humanos de modo a não infligirem prejuízos uns aos outros nem sofrê-los.»


«XXXIV-  A acção injusta não é má em si mesmo mas unicamente pelo medo que resulta da suspeita de que não passará despercebida aos que estão encarregados de punir estes actos.» (...)

«XXXVI- Numa acepção geral, "justo" é o mesmo para todos, a saber, o que convém à vida dos homens no intercâmbio das suas relações. Não se segue, porém, que a mesma coisa seja justa para cada um (em particular) dependendo da região e de muitas outras condições.» (Epicuro, Cartas, Máximas e Sentenças, Edições Sílabo, pags 122-127; a letra negrita é posta por mim.) 


Epicuro defende, pois, nestas citações o convencionalismo ético: o bem e o mal não existem em si mesmos, são puras convenções, tal como a justiça. Representam apenas situações práticas, favoráveis ou desfavoráveis, ao conjunto da sociedade ou a cada indivíduo.

Mas o mais revolucionário em Epicuro e, neste ponto não é convencionalista mas ontólogo, é o afirmar que todo o prazer é bom ou, pelo menos, não é mau. Assim o prazer do pedófilo é bom tal como o do serial-killer - apenas são maus porque acarretam a condenação da sociedade e um castigo pesado, físico, psíquico e monetário para os que praticam

Quem pensa que foi Nietzschze quem no século XIX operou a "transmutação de valores" , trocando o bem pelo mal e viceversa, engana-se: Epicuro já o fizera na Antiguidade, juntamente com sofistas e cépticos.


 

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Segunda-feira, 19 de Julho de 2010
Equívocos de José Gil: a introjecção como «subjectivação» e o medo como «ordenante» da norma

José Gil, catedrático português de filosofia, exprimiu diversas teses equívocas e superficiais nos seus últimos livros. Vamos analisar duas delas.


A SUBJECTIVAÇÃO, EM FOUCAULT E EM GIL, OPÕE-SE À NOÇÃO DE SUBJECTIVAÇÃO DE KIERKGAARD E DO EXISTENCIALISMO EM GERAL


Sobre a formação da consciência social-individual de cada um - aquilo que Heidegger chama o domínio do "uno" sobre o ser-aí, isto é, cada homem- José Gil escreveu:


«Como se formam as subjectividades? Como se produzem subjectividades determinadas, adequadas a tal tipo de trabalho social e de poder político e económico?  Através de um processo de subjectivação. Aqui convém referirmo-nos a Foucault, que construiu estes conceitos. O que é uma subjectividade? Define-a a relação de si a si, como um certo poder de se afectar a si própria. A subjectividade é a força de se auto-afectar. Mas esta força é induzida no sujeito a partir de fora. O "fora"  constitui, no fundo, uma força; a subjectividade produzida pela acção desta força exterior pode ser assimilada a um certo tipo de "incorporação" de forças. Como se incorpora uma relação de forças - as que vêm do exterior e as forças do indivíduo, por exemplo, forças vitais?  Através de uma dobra. A dobragem é o processo decisivo de subjectivação.»


«Por exemplo, entre um sistema institucional de poder e de saber e as forças do homem livre estabelece-se uma relação, de onde resultará uma captura das forças do indivíduo pelas forças do sistema. O indivíduo livre será integrado no sistema graças a uma codificação ou à moldagem das forças livres pelas regras da instituição. Essa codificação implica que o sistema ou parte dele se rebata ou se dobre sobre as forças do indivíduo, criando neste um interior, um dentro, uma interioridade marcada. Este interior codificado é a subjectividade que se pretende obter e o processo da sua produção por dobragem é a subjectivação.» (José Gil, Em busca da identidade- o desnorte, Relógio d´ Água, págs 24-25; a letra negrita é colocada por mim).


Começarei por contestar a equívoca definição de subjectividade dada por Gil e, ao que parece, por Foucault, como "a força de se auto-afectar". É demasiado vaga e equívoca. O átomo possui o poder de se auto-afectar, mediante os fenómenos de cisão ou fissão, induzidos de fora, e, no entanto, não possui subjectividade. Que é a subjectividade? É uma fonte ou ente vital ou psicovital, monádica, que possui consciência e singularidade, em estado embrionário ou desenvolvido.


Gil usa o termo subjectivação no sentido de introjecção - acto de inculcar na consciência individual, de forma algo estereotipada e forçada, valores, argumentos, raciocínios, emanados do tôdo social. Mas pelo menos desde Soren Kierkegaard o termo subjectivação é, em regra, sinónimo de liberdade individual de sentimento e pensamento - o oposto do sentido que José Gil atribui a este termo.


Conviria que Gil e Foucault tivessem precisado esta ambiguidade de linguagem. Porque não haveriam de designar como objectivação ideológica ou introjecção aquilo que dizem ser a subjectivação? Pode contestar-se Gil dizendo que o preconceito ou a lei social interiorizados não são ainda a subjectividade mas uma camada exterior a esta, isto é, o invasor externo dentro da consciência.


É O MEDO QUEM DITA A NORMA, OU SÃO O ARQUÉTIPO E OS INTERESSES DA CLASSE LEGISLADORA,?


Em entrevista ao «Jornal de Letras» reproduzida num seu livro expõe assim a sua teoria do duplo medo ou medo redobrado sentido pela generalidade dos portugueses:


«J.GIL: Se pisamos o risco somos ameaçados. O que é válido até para os comportamentos sexuais. O que faz com que a norma seja ditada por um medo invisível. A nossa sociedade está normalizada, como outras. Com uma diferença, a nossa está duplamente normalizada: pela herança da norma visível que vem do salazarismo, e pela norma invisível que se manifesta no pós Muro de Berlim, no triunfo do neo-liberalismo que diz que "não há alternativa". E nós vivemos esse duplo constrangimento de uma norma que não se vê e é regrada pelo bom senso, pelo bom comportamento, pela recusa do excesso, da experimentação, da inovação do futuro. O que é que faz medo? O futuro. Toda a gente diz: porque é que não há mudança? Porque não havendo o futuro como projecto no seio do presente, somos vítimas das inércias inconscientes do passado.» (José Gil, Portugal, hoje: O medo de existir, Relógio d´Água, pág. 162; a letra negrito é colocada por mim).


Gil apresenta o medo como origem da norma. É uma visão unilateral. E não distingue entre o medo do legislador e a classe social que este representa e o medo do grande público que é o objecto dessa mesma lei. Não discerne a dualidade dos medos - como Hegel os discernia na relação senhor-escravo. Na origem da norma não está unicamente, nem essencialmente, o medo. Há pelo menos três factores na origem da norma social:


1) O arquétipo. Exemplo: a norma «Respeita a propriedade privada dos meios de produção e troca, os bens pessoais e o Estado»  baseia-se no arquétipo de sociedade capitalista criadora de múltiplas riquezas materiais acessíveis a muitos ou a todos.


2) Os interesses conjunturais ou estruturais da fracção da sociedade que faz a lei.


3) O medo da fracção legisladora aos comportamentos anómalos, medo que se traduz em sanções incluidas na norma.


O medo experimentado pela "arraia-miúda" e pela classe média não dita a norma em si mas sim a aplicação e extensão da norma reguladora. Não é, pois, o medo a principal fonte da norma mas sim o arquétipo, o ideal, que é difundido a todas as classes e camadas sociais.


Quanto à distinção norma visível/ norma invisível não é exclusiva de Portugal: existe em todas as sociedades. Não se percebe porque é que «a norma invisível se manifesta no pós muro de Berlim, no triunfo do neo-liberalismo». E antes de 9 de Novembro de 1989, não existia a norma invisível? Acaso na França ou nos EUA, democracias parlamentares muito mais sólidas que a portuguesa, não há norma visível e norma invisível? É óbvio que há. O assassinato de John Kennedy em 22 de Novembro de 1963 é uma prova de que há normas visíveis e invisíveis nos EUA - estas últimas bloquearam a investigação sobre a classe ou fracção de classe que ordenou e executou o atentado. O assassinato de Sá Carneiro e Amaro da Costa em 4 de Dezembro de 1980 e a posterior investigação bloqueada é igualmente uma prova da dualidade das normas, a visível e a invisível.


Gil parece não ter intuído que, em muitas circunstâncias, a norma invisível não duplica o peso da norma visível mas antes combate esta e lhe retira peso: é o caso de um professor, membro da direcção de uma escola, que chama a um gabinete isolado um aluno violento, autor de desacatos, e lhe desfere uns bofetões fortes (norma invisível: bater para intimidar e corrigir), fazendo-o às escondidas porque sabe que a norma visível «um professor não pode castigar com pancada um aluno sob pena de ser suspenso de funções» lhe é desfavorável.


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Segunda-feira, 12 de Julho de 2010
José Gil ou um filósofo bajulador do poder

No seu livro «Portugal hoje - o Medo de Existir»  José Gil, talvez o mais proeminente dos catedráticos de filosofia do establishment português, desenhou o  retrato do povo português e do seu actual modo de viver. O livro tem diversas teses interessantes a par de outras de duvidosa veracidade.


 


AFINAL, OS PORTUGUESES GOSTAM OU NÃO DE SI MESMOS?


 


Ao diagnosticar o individualismo típico do português, que se espelha no "chico-espertismo", tema do seu último livro «Em busca da identidade- o desnorte» José Gil escreveu:


«Resumindo, se a colectividade nacional não apresenta coesão é porque os portugueses não gostam um dos outros. E não gostam uns dos outros porque não gostam de si próprios - e reciprocamente. Daí a permanente tónica que agora se põe na necessidade de adquirir "autoestima", "confiança em si", etc. Ou seja, de deixarmos de nos queixar para andar para a frente."(José Gil, Portugal, Hoje: o Medo de Existir, pag 90; a letra negrita é posta por mim).


Dito de outro modo (Gil não usa estes termos): os portugueses são um povo "essencialista", amarrados a essências que precedem o existir - a religião católica e o sentimento inconsciente de que "sexo livre é pecado", o fado e a inevitabilidade do destino, a pátria lusa no extremo ocidental da Europa, etc - e falta-lhes trocar o sentimento reflexivo de autolimitação e miserabilismo pela acção confiante e não receosa da crítica dos outros. É difícil não concordar com José Gil nestas pinceladas que plasmam a idiossincrasia portuguesa.


O que me parece ser um paralogismo é o seguinte pensamento: «os portugueses não gostam uns dos outros. E não gostam uns dos outros porque não gostam de si próprios.»  Este laço necessário que Gil estabelece entre o gostar dos outros e o gostar de si mesmo  é muito discutível.


Os portugueses não gostam de si mesmos?  Então como se explica a expansão marítima do século XV, a constituição e manutenção do império colonial só desfeito com a revolução dos cravos de 1974-1975, a resistência como «cantinho luso» independente face à Espanha desde o século XII? Isso não é gostar de si mesmo, enquanto povo?


Que os portugueses não gostem uns dos outros, é indiscutível- essa é uma lei geral que se aplica a todos os povos. Ninguém ama ninguém individualizado, concreto, de forma estável e contínua. Há séculos Pascal, o fino psicólogo, escreveu:


«E se me amam por causa do meu bom senso, da minha memória, amam-me a mim? Não, porque eu posso perder essas qualidades sem me perder a mim mesmo. Onde está então esse eu, se não está nem no corpo nem na alma? E como amar o corpo ou a alma senão por essas qualidades que não são o que faz o eu, pois são perecíveis? Porque se amaria a substância da alma de uma pessoa abstractamente e quaisquer qualidades que aí estivessem? Isso não pode ser, e seria injusto. Nunca se ama, portanto, ninguém, mas somente qualidades.» (Blaise Pascal, Pensamentos)


Também José Gil não ama ninguém, além de si mesmo. Obviamente, ama - "amar" de forma derivada, interesseira - os familiares ou os amigos e alunos universitários, os seus leitores, porque o favorecem, lhe trazem reconhecimento, dinheiro, convívio social. E todos somos assim. Nenhum dos meus leitores me ama: quando muito,  aprecia ou ama as ideias, os raciocínios que aqui exponho, porque os considera zonas iluminadas da razão e se arma com elas para enfrentar a ignorância e os contraditores e triunfar social e profissionalmente. Mesmo a leitora deste blog que, eventualmente, eu ame, é por ter uns olhos negros sublimes, uns seios perfeitos e um corpo jovem, um espírito vivo e arguto - se ela perdesse essas qualidades eu deixaria de a amar...


Mas o amor a si mesmo é indicutível: a frase «os portugueses não gostam dos outros porque não gostam de si mesmos» é falsa. Decerto, cada pessoa detesta certos aspectos em si mesma - o homem que detesta ser baixo, ou calvo, ou assalariado, a rapariga que não gosta do seu nariz ou da tendência a corar ao ser interpelada, etc -  mas se se mantém viva, se quer ascender profissional e socialmente, competindo com os outros, superando-os ou ignorando-os, ama-se a si mesma.


Portanto, a identificação essencial do Eu com ou o Outro, operada por Gil, («Não me amo a mim, não amo o outro e viceversa») é equívoca. O Eu só engloba na sua essência o Outro como arquétipo e como percepção empírica. Em tudo o mais, na fisicalidade e na realidade social, o Outro é exterior e oposto ao Eu e o amor do Eu a si mesmo exige não amar, ser indiferente, ostracizar ou até odiar o Outro incarnado em pessoas. Isto não é dito por José Gil. Não o considero, obviamente, entre «os 25 melhores pensadores mundiais» como há anos o classificou o «Nouvel Observateur» (que sabem os jornalistas, da filosofia profunda ?). Gil escreve bastante bem, emerge à tona das águas cinzentas dos catedráticos de filosofia em Portugal, mas não me dei conta que tenha um pensamento rigorosamente original e genuíno criador de novas teses.


 


O GESTO REVOLUCIONÁRIO DE MANUEL PINHO NO PARLAMENTO EM JULHO DE 2009 E A BAJULAÇÃO DO PODER POR JOSÉ GIL


 


Numa entrevista incorporada neste livro «Portugal - o medo de existir» , escrito durante a governação de Santana Lopes em 2004, José Gil flagelou a prudência apriorística e inibidora como um traço negativo do carácter português:


 


«JOSÉ GIL - Pois não. A verdadeira prudência seria uma estratégia para medir e modular a acção, à medida que ela se desenrola. Mas nós não queremos agir. Porque a sociedade portuguesa, ao contrário de outras, é fechada, não tem canais de ar, respirações possíveis. É uma sociedade suavemente paranóica. As pessoas estão demasiado conscientes de si próprias, o que é um horror. Conscientes da imagem que possam produzir, da sua presença como imagem nos outros. Isso é paralisante.»


«PERGUNTA - Damos muita importância à nossa imagem?


«JOSÉ GIL - É uma obsessão. Estamos sempre a falar de auto-estima, esse termo horroso.» (ibid, pag. 146)


Em 2 de Julho de 2009, o ministro da Economia do governo socialista, Manuel


Pinho, durante uma discussão acesa no parlamento, desenhou com os dedos o símbolo de cornos, a rejeitar as alegações do deputado comunista Bernardino Soares. O gesto, captado pelas câmaras de televisão, foi transformado em escândalo. Mas, em si, o gesto não é mau.


Hora depois, o filósofo institucional José Gil, no telejornal de Mário Crespo na SIC, esteve uns bons 10 ou 15 minutos a lançar anátemas sobre o gesto de simbolizar cornos feitos por Manuel Pinho, mais ou menos nestes termos:


«É um gesto vergonhoso... Mostra a arrogância de um ministro, o desprezo pelo parlamento e pelos portugueses em geral. É inaceitável esta postura. »


Os comentários de José Gil assumiram um tom de bajulação do "politicamente correcto", isto é, do discurso prudente, a tal prudência que, na citação acima, ele criticava. Ao condenar Manuel Pinho, Gil foi a voz da elite dominante, estandartizada, que quer a democracia parlamentar como um tabuleiro de xadrez onde todos respeitam as regras e ninguém sai fora da norma modelo, seja no conteúdo, seja nas formas.


O gesto de Manuel Pinho foi revolucionário, sublime, na categoria do sublime terrível de que falava Kant. Na verdade o gesto de cornos de Pinho mostrou que:


A)  A luta de classes está presente no parlamento e pode e deve extravasá-lo.


B)  O parlamento não é um templo sacrossanto, do qual as "emoções vulgares"  devam estar excluídos.


C)  O PCP também merece levar uma reprimenda enérgica pitoresca, até porque é um partido burguês para operários, um partido de grandes hipócritas que, de vez em quando, defende interesses populares. Um desses hipócritas, com um carácter de inquisidor Torquemada, era, nem mais nem menos, o famoso José Saramago - só quem o conheceu de perto sabe desta faceta deste anti democrata por essência. Não significa que o PCP não seja necessário para contestar a vaga neoliberal que varre a Europa e o mundo... 


D)  A prudência de quem «está demasiado consciente de si próprio», apolínea, na linguagem de Nietzsche, deve dar lugar, periodicamente, à imprudência nas formas, à lava dionisíaca da paixão na acção. Não era aliás isso o que José Gil preconizava na citação acima?


E) O português autêntico, tradicional, puro, sabe mandar à m... e sabe fazer cornos aos que o denigrem e ofendem. Não é um robô de boas maneiras, possui um pathos que o faz indignar-se e romper o verniz.


 


Gil, o filósofo da moda em Portugal, nunca ousou criticar explicita e publicamente - ao menos que eu saiba - o mundialismo normalizador e o grupo de Bilderberg, ao qual se ligaram, aberta ou tacitamente,  o seu émulo Manuel Maria Carrilho e a nata dos comentadores políticos televisivos em Portugal (António Costa, Pacheco Pereira, Lobo Xavier, Marcelo Rebelo de Sousa, Miguel Sousa Tavares, Ricardo Costa, etc). É um filósofo - um pequeno filósofo, diga se - do sistema universitário, que, aparentemente, quer acertar o relógio de Portugal com o da Europa mais evoluída economica e tecnologicamente.


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Segunda-feira, 5 de Julho de 2010
Incoerências de Rachels sobre Doutrinas Materialistas da Mente e Fenomenismo

O livro "Problemas da Filosofia" de James Rachels (1941-2003), um dos mais prestigiados académicos da filosofia institucional no plano internacional, foi editado em 2009 pela Gradiva. O livro é um caleidoscópio de confusões teóricas, de falácias, algumas das quais me proponho desmontar aqui.


 


UMA CONFUSA DIVISÃO DAS "TEORIAS MATERIALISTAS"  DA MENTE: BEHAVIORISMO, IDENTIDADE MENTE-CÈREBRO E FUNCIONALISMO


 


Rachels divide as teorias materialistas da mente em três: behaviorismo, identidade mente-cérebro e funcionalismo.


Sobre o behaviorismo escreveu:


«A primeira teoria materialista: behaviorismo...»


«Watson e Skinner eram behavioristas metodológicos. Não negavam a existência de estados  mentais provados; disseram apenas que esses estados são irrelevantes para a ciência. Os estados mentais internos não contam para causar o comportamento e assim podem ser ignorados para efeitos científicos.» (James Rachels, Problemas da Filosofia, Gradiva, 2009, pag 118).


E referindo-se à teoria das localizações cerebrais do médico canadiano Penfield, que faz corresponder a cada ponto do cérebro uma dada imagem ou sentimento, escreveu:


«A segunda teoria materialista: identidade mente-cérebro.»


«Assim, enquanto os seus pacientes estavam plenamente conscientes Penfield usou uma sonda eléctrica para lhes estimular o cérebro. Um paciente disse que estava sentado numa estação ferroviária.Outro disse que estava a puxar um pau da boca de um cão. (...) Também foram relatados  sentimentos de medo e solidão. Em cada caso, era possível repetir a experiência, voltando a estimular o mesmo ponto do cérebro.» (James Rachels, Problemas de Filosofia, pags 122-123; a letra negrita é minha).


Aborda ainda o funcionalismo ou doutrina da interdependência e cooperação das diversas partes de um todo classificando-o como.. materialismo:


«Uma terceira teoria: funcionalismo.»


«Segundo o Funcionalismo, sentir dor é um estado idêntico à actuação de qualquer aspecto de um sistema que desempenhe essa função - que ligue esses tipos de inputs, outputs e relação com outros estados mentais. Para nós, portanto, uma espécie de dor pode ser um disparo de neurónios, enquanto que para um extraterrestre uma espécie de dor pode ser um mecanismo interno diferente. O carácter físico do mecanismo não interessa. Tudo o que interessa é que o mecanismo desempenhe a função apropriada.» (James Rachels, Problemas da Filosofia, pag. 130; a letra negrita é posta por mim).


 


Contestemos o vidro fosco das imprecisões de Rachels:


1) O behaviorismo não é, necessariamente, um materialismo. Qual é o traço essencial do materialismo?  É sustentar que o espírito ou não existe ou é o reflexo transitório da actividade material e dos processos biológicos com origem na matéria. O que o behaviorismo de Watson faz é reduzir o espírito ao instinto, a um sistema de reacções instintivas, vitais, que não são matéria mas radicam nela ou exprimem-se através dela. O behaviorismo é, ao menos numa versão, um vitalismo, corrente distinta do materialismo. É um pragmatismo: a verdade reduz-se ao que é visível, palpável, experienciável com objectividade. É um actualismo ergónico: a verdade reduz-se ao acto, ao acontecimento presente, à acção que executamos (ergon é trabalho, na língua grega). Isto parece ser materialismo mas pode ir além deste: vitalismo, energetismo. Conceitos que escapam ao estreito horizonte filosófico de Rachels que pensa mal, de forma antidialéctica, e a "preto e branco".


2) Quanto ao funcionalismo ser classificado, genericamente, como uma teoria materialista é perfeita idiotice. O funcionalismo diz respeito à articulação das partes de um sistema, neste caso da mente ou do corpo-mente, não à consistência ontológica - matéria, espírito, energia...- da mente.


O próprio Rachels reconhece que há um funcionalismo não materialista ( ele diz não fisicalista, sem perceber que fisicalismo não é o mesmo que materialismo):


«Devo acrescentar que, em rigor, o mecanismo não tem que ser físico. O Funcionalismo não fisicalista é uma possibilidade: os acontecimentos mentais podem não ser físicos desde que desempenhem o papel causal apropriado dentro de todo o sistema. No entanto, vou ignorar esta possibilidade e presumir que a versão mais razoável do funcionalismo é uma forma de materialismo.» (Rachels, Problemas de Filosofia, Pag. 130)


Se reconhece que há vários tipos de funcionalismo, por que razão insiste em incluir o funcionalismo, designação que pertence a vários géneros ( espiritualismo, materialismo, hilemorfismo, etc) no armário do materialismo?


3) A teoria das localizações cerebrais isto é, da identidade mente-cérebro,


tem uma versão materialista mas também uma versão hilemorfista, perspectiva que o pobre Rachels não encarou: as áreas do cérebro podem não ser causa mas concausa das representações mentais juntamente com as formas puras dos espíritos, das ideias, residentes fora da matéria, havendo pois sincronia entre o que está em baixo e o que está em cima.


4) Basicamente, há duas teorias materialistas da mente:


A) A da mente como emanação do corpo físico e do mundo material envolvente, que sustenta que os fenómenos mentais são meros agregados de átomos materiais, organizados de forma muito subtil, escapando às leis da matéria densa, A mente resulta da interacção  da matéria do cérebro e do sistema nervoso e o mundo material exterior, sem que haja localizações cerebrais de pensamentos e sentimentos..


B)  A da mente como resultado e cúpula reflectora das diversas partes do cérebro, por sua vez accionadas por estímulos do mundo exterior material.  Sustenta que os fenómenos mentais são agregados que nascem  do estímulo eléctrico ou electromagnético de determinadas áreas materiais do cérebro, segundo um sistema exacto e genético de correspondências.


 


INCAPACIDADE DE DISTINGUIR IDEALISMO DE FENOMENISMO E INCOERÊNCIA NA DEFINIÇÃO DESTE


Rachels não sabe distinguir o idealismo do fenomenismo e afirma, num primeiro momento, que ambos negam a materialidade do mundo exterior.


«À maior parte das pessoas de hoje o idealismo parece absurdo porque nega a existência de objectos físicos» (Rachels, Problemas da Filosofia, pág. 217)


«À primeira vista não parece que o Fenomenismo seja melhor do que o Idealismo, já que também nega a existência de objectos físicos. Porém, o Fenomenismo não nega que os objectos físicos existam; simplesmente, oferece uma análise surpreendente daquilo que são - agregados de dados dos sentidos.» (Rachels, Problemas da Filosofia, pág. 220; a letra negrita é posta por mim)


Ora isto não é rigorosamente assim. Note-se  a incoerência de Rachels, o baloiçar do seu débil pensamento em violação flagrante da lógica: afirma que «o fenomenismo nega a existência de objectos físicos» e, logo de seguida, diz o inverso.


Há um fenomenismo - doutrina que limita o conhecimento aos fenómenos, ou seja ao que aparece, aos entes visíveis e concretos - que é realista e não nega a existência de coisas físicas reais.


O fenomenismo puro é, na sua raíz, cepticismo: suspensão do juízo de facto ou de valor sobre os aspectos invisíveis e inexperienciáveis das coisas. Impossibilidade de ir com segurança para além do fenómeno que é objecto dado pelos sentidos ou conjunto de sensações figurando um objecto.


 


AS UNIVERSIDADES INSTITUCIONAIS USURPADAS PELOS FILODOXOS


O título deste livro de Rachels («Problemas da Filosofia») é o mesmo de um famoso livro de Bertrand Russell publicado décadas antes deste. E, contudo, Russell é claramente superior em inteligência a Rachels e muito mais preciso na escrita. Surpreendente é que, na contracapa do livro de Rachels publicado pela Gradiva, se classifique este de «filósofo de primeira linha». È um marketing desonesto. É vender gato por lebre, O facto de Rachels, um filósofo de terceira categoria, extremamente confuso, medíocre, ter atingido o estrelato e ver as suas obras publicadas em diversas línguas espelha bem o estado de degradação da filosofia institucional universitária e dá razão às críticas de Scopenhauer à universidade, no século XIX. Esta, em especial na área da filosofia, confere doutoramentos e mestrados a indivíduos que não têm verdadeira inteligência filosófica mas que, mercê de um trabalho sistemático de produção de textos, conferências, aulas,  recobertos do verniz da erudição, se alçam a «professores doutores». A universidade está, quase toda, na mão dos filodoxos, dos antifilósofos, dos eruditos de segunda e terceira categoria, que leram muito, deram muitas entrevistas, publicaram ou traduziram muitos livros mas não pensam com clareza luminosa.


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Sábado, 3 de Julho de 2010
Bertrand Russel: uma incompleta noção de «universal» em filosofia

Bertrand Russel possuía uma noção incompleta do que em filosofia se chama «universal» - ou pelo menos, a sua escrita exprimiu essa incompletude. A propósito dos universais, Russel escreveu:

 

«Acharemos que nos será conveniente o só falarmos de coisas existentes quando essas coisas estão no tempo, isto é, quando se pode indicar um tempo em que existem (não excluindo a possibilidade de elas existirem em todos os tempos). Assim, os pensamentos e os sentimentos, os espíritos e os objectos físicos existem. Os universais, porém, não existem nesse mesmo sentido; diremos que subsistem ou têm ser, onde «ser» se opõe a «existência» como fora do tempo ou intemporal. O mundo dos universais, por consequência, poderá ser definido como o mundo do ser. O mundo do ser é inalterável, rígido, exacto; é o deleitoso para o matemático, o lógico, o metafísico construtor de sistemas, para os que mais que o amor à vida têm o amor à perfeição. O mundo do existir é fugidio e vago, sem limites determinados, sem plano ou disposição que se veja a claro...»(Bertrand Russel, Os problemas da filosofia, Arménio Amado-editor, Coimbra, 1974, pag 1599.)

 

Russel coloca os universais como arquétipos imóveis e eternos. Mas escapa-lhe a dimensão do universal, que não é ser eterno, mas ser uma essência geral, que engloba numerosos casos particulares. Um microorganismo, digamos de modelo A, pode ter apenas dez segundos de vida e não deixa de ser um universal porque se traduz em biliões de exemplares vivos que duram dez segundos cada um. É a lei da multiplicação de cópias que faz uma coisa ou conceito ser universal e não a sua eternidade. Portanto, Russel não contempla o conceito de universal instântaneo ou efémero que deve integrar a noção de universal. Há universais intemporais e universais temporais.

 

Ademais, é preciso ver que em Platão as ideias só são universais de forma derivada: em si mesma, cada ideia é singular e distinta de tudo o resto. Mas como um iman atrai a limalha de ferro, a ideia faz com que a matéria e a substância intermédia se estruturem como cópias do modelo ideal. É o demiurgo ou Deus artesão que imprime na matéria eterna, na chorá ou espaço informe, as cópias do arquétipo de Estrela ou Planeta  ou na matéria quaternária (fogo, ar, terra, água) as cópias dos arquétipos de Árvore, Cavalo, Rio, Montanha, Vale.

 

 

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publicado por Francisco Limpo Queiroz às 16:34
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