Xavier Zubiri colocou Hegel e Aristóteles em pólos opostos, atribuindo ao primeiro um «extremo idealismo» e ao segundo um realismo exprimível na definição lógica.
«El racionalismo y Hegel representan dos ideas de la esencia montadas sobre el concepto que tenemos de la cosa: la esencia sería la realidad del concepto de la cosa. Esta frase equivoca puede entenderse o bien del concepto formal (Hegel) o bien del concepto objetivo (racionalismo). En Aristóteles, en cambio, la esencia es un momento de la realidad, pero de la realidad en cuanto correlato físico de su definición. Desde el extremo idealismo hegeliano, pasando por el racionalismo, recaemos con Aristóteles en la realidad misma.» (Xavier Zubiri, Sobre la Esencia, Alianza Editorial, Fundación Xavier Zubiri, pag 94; o bold é nosso).
Neste texto, começa por não se perceber bem a diferença entre Hegel e o racionalismo, uma vez que Hegel era racionalista - a razão transumana é o motor, a criadora, o englobante de toda a realidade - e ademais sustentava a multiplicidade dos conceitos objectivos ou conceitos mergulhados na realidade material (árvores, rios, casas, animais não são senão conceitos objectivos enquanto corpos materiais).
Zubiri não entendeu integralmente Hegel. Este não é, de facto, um idealista extremo: Hegel é um ideo-realista. De facto, Hegel é pelo menos tão realista quanto Aristóteles: ambos admitem que a matéria é um ente em si, exterior às mentes humanas e independente destas. Hegel é até mais realista que Aristóteles pois não considera a existência da matéria-prima universal em potência, isto é, um imenso «reservatório» que não existe mas que está pronto a passar à existência ao ser-lhe aplicada a forma. Não dissocia absolutamente a matéria-prima da forma, como faz Aristóteles.
Para Hegel, há existência fora da realidade (entendida esta como adequação entre o facto sensível e a racionalidade histórico-social): as existências inferiores e imperfeitas. Ora essas existências possuem essências, ainda que estas estejam fora de contexto, desligadas do todo, fora do conceito racional que, a cada momento, constitui a bússola de navegação da barca da história universal (exemplos das sucessivas formas desse conceito da razão absoluta directora da história: cristianismo feudal na Europa medieval, humanismo no Renascimento, iluminismo na Europa do século XVIII, industrialismo e liberalismo na Europa do século XIX). Assim, por exemplo, a escravatura de camponeses ou mulheres, em áreas muito restritas de alguns países, hoje, é um facto existencial, uma existência, e possui essência (homens e mulheres atemorizados, reclusos, sujeitos à vontade despótica de outros) na terminologia hegeliana, mas não é real porque não corresponde ao conceito da ideia absoluta (Deus) no século XXI em que todos os homens são livres e iguais em direitos e a escravatura é algo de obsoleto e ultrapassado. Esta essência da escravatura no século XXI não é, na teoria de Hegel, a «realidade do conceito da coisa» como diz Zubiri, mas sim a irrealidade de um conceito.
«La noción del todo consiste en contener partes. Pero cuando se opone el todo tal cual es según su noción, es decir, cuando se le divide en partes, deja de ser el todo. Hay sin duda cosas que corresponden a esta relación, solamente que son por esto mismo existencias inferiores y imperfectas. Hay que recordar a este propósito que cuando en una explicación filosófica se trata de lo falso, no hay que entender la cosa como si lo falso no existiese. Un mal estado o un cuerpo enfermo pueden muy bien existir, pero estos objetos son falsos en cuanto su noción y su realidad no corresponden una a otra.» (George W.F. Hegel, Lógica II y III, Edições Folio, Barcelona, pag 43; o bold é nosso)
Portanto, ao contrário do que sustenta Zubiri, no sistema hegeliano nem toda a essência existente corresponde ao conceito da ideia.
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