Quinta-feira, 27 de Março de 2008
Ainda sobre a Filosofia contida dentro da História da Filosofia

Para desfazer dúvidas de que a História da Filosofia é, em grande parte, filosofia - tese que os cérebros antidialécticos, congelados no frigorífico da lógica proposicional parecem não ser capazes de assimilar - vamos exemplificar.

Tomemos a História da Filosofia , do filósofo espanhol Julian Marías, já publicado há décadas, em 1959.

HISTÓRIA DA FILOSOFIA

Eis um excerto de história da filosofia desse livro, excerto que não é filosofia mas história:

«Este cidadão ateniense (Epicuro) nasceu em Samos, donde havia emigrado o seu pai. Foi para Atenas em fins do séc. IV,  no ano 366 fundou a sua escola ou comunidade num jardim. Parece que era uma personalidade notável, tendo exercido um extraordinário ascendente entre os seus adeptos.» (Julian Marías, História da Filosofia, Edições Sousa e Almeida, pag 109).

FILOSOFIA

Eis um excerto de filosofia dentro deste livro:

«Epicuro opina que o prazer é o verdadeiro bem; e além disso disso é o prazer que nos indica o que convém e o que repugna à nossa natureza. Rectifica, pois, as ideias de hostilidade anti-natural em relação ao prazer, ideias essas que invadiam grandes zonas da filosofia grega. Parece à primeira vista que o epicurismo é o contra-pólo da Stoa; mas as semelhanças não são mais profundas do que as diferenças. Em primeiro lugar, Epicurismo exige que o prazer se revista de condições especiais: tem de ser puro, sem mistura de dor ou desagrado; tem de ser duradoiro e estável; tem de deixar, por fim, o homem dono de si, livre, imperturbável. Com isto eliminam-se, quase totalmente, os prazeres sensuais a fim de se dar lugar a outros mais subtis e espirituais, e, antes de mais nada, à amizade e aos prazeres do trato. Excluem-se, na ética epicurista, as paixões violentas porque arrebatam o homem.» (Julian Marías, História da Filosofia, Edições Sousa e Almeida, pag. 110).

Isto não é filosofia? É óbvio que é. Explana ideias filosóficas como «o prazer é o verdadeiro bem» mas «o prazer autêntico deve ser duradoiro, estável, em primeiro lugar a amizade e o convívio amável.»  Quem quer que leia isto, desde que entenda o sentido das frases, filosofa, inevitavelmente.

Poderão alguns objectar que Julian Marías não é Epicuro, está a interpretar este. Estamos de acordo. Mas o texto de Marías é filosófico. Cabe-nos compará-lo com os pensamentos originais de Epicuro para verificar se reproduziu, se restaurou a filosofia do grego antigo ou se a adulterou gerando outra filosofia.

www.filosofar.blogs.sapo.pt
 

f.limpo.queiroz@sapo.pt

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)

 



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 20:10
link do post | comentar | favorito

Quarta-feira, 19 de Março de 2008
Is Scepticism outside of Eliminativism, as Simon Blackburn thinks? (Confused Views of the Oxford Dictionary of Philosophy-V)

 

Eliminativism is the contrary of additivism (this term is created by us, supposedly).

What is eliminativism? It is the group of theories and the philosophical attitude that suppress any part of reality or any knowledge structure.

 

Simon Blackburn dissociates wrongly scepticism from eliminativism:

 

«This is in fact Hume´s characteristic position. There is no prospect of us doing any better than thinking, for example, in terms of a spatially external world of independent objects. Nature forces us to think, and it would be absurd to recommend otherwise. Yet we may have no reason whatsoever for supposing that the thoughts we then have are true: indeed we may have good reasons to suppose them false. Scepticism does not imply eliminativism, although as the example of Hume shows, the cost of holding one and not the other is a pessimistic view of the place of knowledge and reason in human life.»  (Simon Blackburn, Truth, A Guide for the Perplexed, pag. 115).

 

On truth, eliminativism is a genus and scepticism is a specie of it: this means that scepticism, on the measure that eliminates the certainties, is a form of eliminativism.

www.filosofar.blogs.sapo.pt

f.limpo.queiroz@sapo.pt

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)


 


 


 

 

 



 



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 20:13
link do post | comentar | favorito

Quinta-feira, 13 de Março de 2008
A História da Filosofia não é parte da Filosofia? (Equívocos de Manuel Maria Carrilho)

Num livro lançado há 18 anos, Manuel Maria Carrilho insistiu na ideia equívoca de que "a história da filosofia não é filosofia" :

 

«É preciso que se entenda: uma coisa é a filosofia, outra a história da filosofia; e o facto de a filosofia não possuir objectos específicos não transforma a tradição no seu território. Para a filosofia, a história da filosofia pode funcionar como esclarecimento, informação relativamente aos seus problemas actuais; para a história da filosofia, a filosofia pode ser um elemento de reactivação e de reformulação de problemas «tradicionais». Em rigor, o estudo estritamente histórico da história da filosofia não tem, a ser possível, nada a ver com a filosofia.»

«Mas se a filosofia não é a história da filosofia, ela também não é um acréscimo, um suplemento de tipo reflexivo, das várias disciplinas ou saberes

(Manuel Maria Carrilho, Verdade, suspeita e argumentação, Editorial Presença, 1990, pag.89; o bold é de nossa autoria).

 

Carrilho perfilha diversas tese paralógicas: uma, a de que "a filosofia não é um suplemento de tipo reflexivo da arte, da biologia, da física, das teorias literárias, etc" (o que não é verdade, porque, a sê-lo, eliminaria a vertente da filosofia como epistemologia e crítica da arte e da literatura); outra, a  de que "a filosofia revela senilidade, ao acantonar-se na sua história" (também não é verdade de um modo geral, na medida em que os grandes filósofos como Sartre, Heidegger, Hegel, Merleau-Ponty mergulharam na história da filosofia para dela extrair questões vivas do presente).

 

No artigo "A História da Filosofia no Ensino da Filosofia" , de 2 de Janeiro de 2007, neste blog, refutámos aquela tese anti dialéctica de Carrilho, sustentada por Desidério Murcho e outros, de que a história da filosofia não contém e não é filosofia. Escrevemos então aí:

 

«Não há contradição nenhuma entre ensinar filosofia e ensinar história da filosofia - a não ser, claro, nas mentes confusas de Desidério Murcho e do seu grupo de «iluminados». O ensino da filosofia compõe-se de duas vertentes: história da filosofia (ou história das ideias filosóficas, que é o mesmo) e heurística (arte de pensar e descobrir a verdade por si mesmo). Os professores inteligentes e competentes sabem combinar estas duas vertentes nas suas aulas (a tradição e a criação inovadora). A história da filosofia está dentro da filosofia embora não esgote a extensão desta. Não são mutuamente extrínsecas entre si.»

«Ao invés do que sugere Desidério, estudar as ideias de Platão, Guilherme de Ockam, Nicolau de Cusa, Leibniz ou Schopenhauer não impede ninguém de filosofar, de pensar pela sua própria cabeça, antes pelo contrário, estimula a verve filosófica de cada aluno. Existe o risco da memorização na avaliação? Sim, mas a memória é necessária à inteligência criativa e não é má, em si mesma. Há um risco ainda maior nos que optam por abolir a tradição filosófica: o do vacuismo anti historicista e conteudal, susceptível de produzir alunos «livres» e ignorantes, porque não solicitados aos desafios do pensamento consagrado historicamente.»


O sofisma de Desidério ( e de Carrilho) formula-se assim:

 

«A história da filosofia não é filosofia».
«Os professores do secundário ensinam, em regra, história da filosofia,

«Logo, os professores do secundário não ensinam filosofia».

 

E refuta-se deste modo:

 

«A história da filosofia é, em parte não filosofia (história) e em parte filosofia.»

«Os professores do secundário ensinam história da filosofia».

«Os professores do secundário ensinam filosofia, sobretudo aqueles que insistem na heurística adicionada à transmissão da filosofia tradicional».

 

A filosofia é sempre filosofia, não deixa de o ser pelo facto de ter sido produzida no século IV antes de Cristo ou no século XIII ou no século XX:  uma parte substancial da filosofia plasmou-se, cristalizou, em história da filosofia, em textos, livros, debates registados que,felizmente, sobraram do passado. Levando ao extremo a busca da inovação e o corte com o passado como essência da filosofia, perfilhada por Manuel Maria Carrilho, dir-se-ia que o livro de Hilary Putnan Reason, Truth and History, já pertence à história da filosofia, porque foi publicado em 1981 e, portanto, não se impõe debater as suas teses petrificadas no granito de há 27 anos...

 

Nietzchze, um filósofo inteligentíssimo - certamente muito acima de Carrrilho e da generalidade dos doutorados em filosofia de hoje- propôs uma transmutação de valores mas não veiculou a peregrina tese de que "a história da filosofia não contém filosofia"  nem advogou não estudar Platão, Epicuro, Espinoza ou Kant.

Há professores que ensinam a filosofia de Platão sem a questionar filosoficamente? Há. O defeito não se encontra nos textos de Platão mas no modo acrítico como são perspectivados.  Fornecer os textos de Platão e outros a estudantes de filosofia e aos interessados em geral continua a ser uma fonte viva da filosofia.

 

Considere-se o seguinte texto da Metafísica de Aristóteles:

 

«Tampouco é possível definir Ideia alguma, já que, como dizem, a Ideia é uma realidade individual e separada. Pois a definição consta necessariamente de nomes; ora bem, o que define não inventa nomes (pois resultariam ininteligíveis) e os (nomes) que estão à disposição são comuns a todas as coisas e, portanto, se aplicam também a outras coisas» (Aristóteles, Metafísica, Livro VII, Capítulo XV).

 

Pergunta: se o professor dá este texto aos seus alunos para estes o interpretarem e debaterem livremente, está a dar história de filosofia ou filosofia?  A confusão é, seguramente, grande entre os discípulos de Desidério e Carrilho...

Pois bem, a resposta correcta é: está a dar filosofia, principalmente, e a aflorar história da Filosofia, secundariamente...

 

Parafraseando Heraclito de Éfeso, na sua tese «O universo gera-se em função do pensamento e não em função do tempo», direi que «O universo filosófico, a filosofia, gera-se em função do pensamento e não em função do tempo». Platão é tão actual como Derrida ou Putnam. Ao invés, Carrilho e outros diriam que «O universo filosófico gera-se em função do tempo actual e não em função do pensamento de todas as épocas».

 

Ao contrário do que Manuel Maria Carrilho, Desidério Murcho e muitos outros parecem supor, a memória é uma faculdade intrinsecamente filosófica. Sem memória, seria impossível conceber pensamentos como "o Ser é, não foi nem será" (Parménides) e seria inviável distinguir a essência do acidente, o modus tollens do modus ponens, etc. Ora a história da filosofia é a memória da filosofia.

 

www.filosofar.blogs.sapo.pt

f.limpo.queiroz@sapo.pt

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)


 

 



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 12:01
link do post | comentar | favorito

Domingo, 9 de Março de 2008
Exclui o utilitarismo de Hare identificar bem-estar e prazer? (Confusões de Pedro Galvão e R.M.Hare)

No seu artigo "A eliminação do Descritivismo através da Análise Lógica", Pedro Galvão, da Universidade de Lisboa, enreda-se na dicotomia confusa utilitarismo das preferências/ utilitarismo clássico em que Richard M. Hare se afunda igualmente. Escreve Galvão:

 

«O utilitarismo de Hare é também objectivo, e não subjectivo: o acto certo certo não é aquele que, ponderados os resultados possíveis de cada curso de acção disponível e as suas respectivas probabilidades, maximiza a utilidade esperada, mas aquele que efectivamente dá origem ao maior total de bem estar. Por fim importa sublinhar que Hare não identifica o bem-estar com o prazer e a ausência da dor, nem com a fruição de uma pluralidade de bens, mas com a satisfação de desejos ou preferências.Constitui assim um exemplo de utilitarismo de preferências.» (Pedro Galvão, A eliminação do descritivismo através da análise lógica da linguagem, in "Do Círculo de Viena à Filosofia Analítica Contemporânea", coordenação de António Zilhão, , Sociedade Portuguesa de Filosofia, Lisboa, 2007, pag 343; o negrito é nosso).

 

A confusão em que está imerso Pedro Galvão lança a perplexidade: então o bem-estar, para Hare, é a satisfação de desejos e preferências mas não o prazer e a ausência de dor? Mas é possível que a satisfação de desejos exclua o prazer?

É óbvio que não.

 

Na passagem acima, voltamos a encontrar a miragem ou imagem míope que é a distinção entre utilitarismo clássico que «maximiza a utilidade esperada» e utilitarismo «das preferências». Uma confusão típica dos pequenos intelectuais da ética que não atingem o patamar da visão de conjunto.

Qual a diferença entre "maximizar a utilidade esperada", expressão ambígua, e "dar origem ao maior bem-estar total"?

 

Quanto a proclamar que "o utilitarismo de Hare é objectivo e não subjectivo" constitui um erro parcial: todo o utilitarismo é simultaneamente objectivo e subjectivo. É objectivo no princípio de criar o maior grau de satisfação possível dos sujeitos envolvidos e subjectivo na determinação do modo concreto de o fazer.

No entanto, Hare é um filósofo confuso nas suas divisões teóricas taxonómicas: insere o subjectivismo como uma modalidade do descritivismo e não considera haver um prescritivismo subjectivista.

 

«Podemos citar aún otro tipo de descriptivismo, a saber, el subjectivismo. Este término se utiliza de manera muy vaga, pero aquí lo asociaremos en sentido estricto a aquel tipo de descriptivismo naturalista según el cual el significado de "debe" y otros términos morales es describir las actitudes o sentimientos de las personas - por ejemplo, atribuir a las personas en general, o a quien pronuncia la oración, una actitud o sentimiento de aprobación o desaprobación hacia cierto tipo de acto.» (R.M.Hare, El prescriptivismo universal, in Compendio de Ética, Peter Singer (ed), Alianza Diccionarios, pag. 609; o bold é posto por nós).

 

Ora é fácil conceber que há um prescritivismo subjectivista patente, por exemplo, na frase:

«Age como entenderes, no teu próprio interesse!»

Hare é, portanto, um teórico de segunda linhagem, envolto nas névoas da confusão. Não concebe o carácter ubíquo do subjectivismo, situado ora na planície do descritivismo ora no planalto do prescritivismo.

Voltando ao tema do utilitarismo, verifica-se que o seguinte excerto de R.M.Hare insere as preferências no utilitarismo clássico, pelo menos aparentemente, como fazia Mill, e em nada confirma, antes pelo contrário, a dicotomia mantida por Pedro Galvão entre utilitarismo de Mill e utilitarismo das preferências:

 

«Un posible recurso para quien busca las necesarias limitaciones al pensamiento moral consiste en decir que a menos que se considere a la persona, en cuyo lugar me imagino estar, en pie de igualdad conmigo mismo, mostrando un igual interés por ella, en realidad no me imagino que yo sea esa persona. Esto supone considerar que sus propias preferencias tienen igual importancia que mis propias preferencias actuales, y formar así preferencias para la situación hipotética en la que yo soy ella, de igual fuerza que las que ella tiene en realidad.»

«Esto es lo que supone seguir la Regla de Oro, hacer a los demás lo que deseamos que nos hagan a nosotros, y querer a nuestro prójimo como a nosotros mismos. También está implícito en la máxima de Bentham «todo el mundo vale lo que uno, nadie más que uno» (citado in Mill, 1861, cap 5, s.f.) »  (R.M.Hare, El prescriptivismo universal, in Compendio de Ética, Peter Singer (ed), Alianza Diccionarios, pag. 617; o bold é posto por nós).

 

www.filosofar.blogs.sapo.pt

 
 

f.limpo.queiroz@sapo.pt

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 21:39
link do post | comentar | favorito

Sábado, 1 de Março de 2008
Existe o utilitarismo das preferências distinto de utilitarismo? (Confusões de Pedro Madeira)

Alguns autores distinguem, equivocamente, entre utilitarismo clássico e utilitarismo das preferências. Pedro Madeira, tradutor para português de uma obra de Stuart Mill, um dos que perfilha essa nebulosa distinção, escreveu:

 

«Ao longo do Utilitarismo, Mill fala na importância de maximizar o prazer. Durante o século XX, vários filósofos preferiram deixar de falar em maximizar o prazer, e passaram a falar em maximizar a satisfação das preferências. A este tipo de utilitarismo é comum chamar-se "utilitarismo das preferências".

«A diferença entre esta versão de utilitarismo e as versões mais tradicionais como a de Mill, pode ser ilustrada através do seguinte exemplo: suponhamos que damos a escolher a uma pessoa entre ficar medianamente feliz, como está agora, e ficar muito feliz, mas perder todas as memórias e serem-lhe dadas novas memórias, e uma nova identidade. A segunda opção maximizaria, certamente, a utilidade. Mas devemos fazê-lo? Não; se uma pessoa manifesta expressamente a sua preferência por A, em detrimento de B, então, a não ser que tenhamos razão para pensar que a pessoa está a ser irracional ou ignora factos relevantes, há uma presunção a favor da ideia de que devemos deixar que a pessoa escolha A. Ao passo que as versões mais tradicionais do utilitarismo obrigam a escolher a segunda opção, porque isso maximiza o prazer, o utilitarismo das preferências permite escolher a primeira opção, se for essa a preferência da pessoa em causa.» (Pedro Madeira, Introdução in O Utilitarismo, de John Stuart Mill, Gradiva, pags. 23-24; o negrito é nosso)

 

Como é que Pedro Madeira pode garantir que o utilitarismo clássico de Mill obriga uma pessoa a preferir perder a memória e o sua "identidade passada" para ser muito feliz, rejeitando a mediana felicidade que frui de se lembrar do seu passado mais ou menos atribulado? 

 

Como pode Pedro Madeira falar em maximização do prazer ao perder a memória quando há gente que sentiria isso como uma fonte de insegurança e de desprazer?

O exemplo apresentado é uma falácia de Madeira e dos que como ele pensam. É deformar o pensamento do filósofo inglês. Foi Stuart Mill quem assegurou que no utilitarismo não há receitas éticas a priori e cada caso é um caso e que é absurdo (como faz Madeira) fazer da quantidade a pedra de toque na preferência de um prazer ao outro:

 

«Seria absurdo que a avaliação dos prazeres dependesse apenas da quantidade, dado que  ao avaliar todas as outras coisas consideramos a qualidade a par da quantidade.»

«Se me perguntarem o que quero dizer com diferença de qualidade nos prazeres, ou o que torna um prazer mais valioso que outro, apenas enquanto prazer, exceptuando o ser em maior quantidade, há apenas uma resposta possível. De dois prazeres, se houver um ao qual todos ou quase todos os que tiveram uma experiência determinada, à margem de qualquer sentimento de obrigação moral para o preferirem, esse é o prazer mais desejável«. ( John Stuart Mill, Utilitarismo, Gradiva, Lisboa, pags. 52-53; o negrito é meu).

 

«É melhor um ser humano insatisfeito do que um porco satisfeito; um Sócrates insatisfeito do que um idiota satisfeito. E se o idiota, ou o porco, têm opinião diferente, é porque apenas conhecem o seu lado da questão» (Stuart Mill, ibid, pag. 54).

«O que há para decidir se vale a pena a prossecução de um determinado prazer à custa de uma determinada dor, excepto os sentimentos e os juízos de quem tem experiência?» (Mill, ibid, pag 56)

«As principais componentes de uma vida feliz parecem ser duas, cada uma das quais sendo com frequência considerada por si mesma suficiente para o efeito: tranquilidade e excitamento» ( Mill, ibid, pag 59).

 

Não há, portanto, diferença nenhuma entre utilitarismo de Mill e utilitarismo das preferências. O utilitarismo estabelece preferências ao escolher o modo de maximizar o prazer. Madeira e os filósofos de segunda ou terceira categoria em que bebeu essa falaciosa distinção equivocam-se.

 

Mill era, seguramente, mais inteligente do que a populaça de autores de filosofia que, arrastando-se sobre o tapete que ele desdobrou, vieram, até hoje, escrevendo sobre o tema e "aperfeiçoando" o conceito de utilitarismo com termos erróneos como utilitarismo das regras e dos actos, utilitarismo das preferências e outros.

 

www.filosofar.blogs.sapo.pt

f.limpo.queiroz@sapo.pt

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 16:02
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
pesquisar
 
Janeiro 2024
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9
10
11
12
13

14
15
16
17
18
19
20

21
22
23
24
25
26
27

28
29
30
31


posts recentes

5 de Janeiro de 2024: a i...

Área 2º-4º do signo de Es...

15 a 18 de Novembo de 202...

13 a 16 de Novembro de 20...

Lua em Peixes em 10 de Ma...

6 a 7 de OUTUBRO DE 2023 ...

Plutão em 28º de Capricór...

11 a 13 de Setembro de 20...

Islão domina Europa e Ale...

Pão branco melhor que o i...

arquivos

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Agosto 2022

Julho 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Agosto 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

tags

todas as tags

favoritos

Teste de filosofia do 11º...

Suicídios de pilotos de a...

David Icke: a sexualidade...

links
blogs SAPO
subscrever feeds