James Rachels define o sujectivismo ético da seguinte maneira:
«As pessoas têm opiniões diferentes, mas no que concerne à moral não há "factos", e ninguém está "certo". As pessoas simplesmente sentem de forma diferente e é tudo.»
«Este é o pensamento de base por detrás do subjectivismo ético. O subjectivismo ético é a ideia segundo a qual as nossas opiniões morais se baseiam nos nossos sentimentos e nada mais. Nesta perspectiva, o "objectivamente" certo ou errado é coisa que não existe.»
(James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Gradiva, pags 56-57).
Rachels é, indiscutivelmente, um filósofo confuso, que nem sequer se apercebeu das múltiplas facetas do termo subjectivismo. Confusos são também os autores de manuais que o seguem quase à letra (Pedro Galvão, Luis Rodrigues, Desidério Murcho, etc). Rachels liga subjectivismo a cepticismo, fazendo com que a noção de subjectivismo desemboque no niilismo moral.
Mas por que razão não seria possível que as múltiplas subjectividades tivessem razão, em simultâneo, isto é, fossem formas de apropriação da verdade desde diversos ângulos? Porque há-de o subjectivismo conduzir inevitavelmente ao cepticismo?
É falso que não haja factos morais segundo o subjectivismo. Um exemplo de factos morais no subjectivismo é o amor: toda a gente ama alguém, é um facto sociologicamente objectivo e etica e esteticamente subjectivo. No amor, onde reina o mais absoluto subjectivismo, cada pessoa está convicta, a cada momento, de que ama a pessoa perfeita, a mais bela, ou a mais doce e sedutora ainda que seja imperfeita e com vícios evidentes. Ao contrário do que sustenta James Rachels e, com ele, as centenas de milhar de professores de filosofia que, irreflectidamente, o seguem, subjectivismo é compatível com dogma, com certeza "infalível" e pressupõe a existência de factos morais.
Nota: Em 31 de Janeiro de 2008, às 21.30 horas, na biblioteca municipal de Beja, lançamento do livro «Os acidentes em Lisboa na Astronomia-Astrologia, Accidents and Astrology in U.S.A.» da autoria de quem escreve este blog. Convidam-se os professores e amantes da filosofia e os astrólogos, do sul de Portugal e Huelva e Sevilla, a estarem presentes. É uma festa para nós, os filósofos, apoderarmo-nos das alavancas da epistemologia, das ciências (história social e política; astronomia) e inflectirmos estas, nomeadamente a história mergulhada no oceano de um certo indeterminismo.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
What is libertarianism?
Acording to the Oxford Dictionary of Philosophy, it is :
«Libertarianism (metaphysical) A view that seeks to protect the reality of human free will" by supposing that a free choice is not causally determined but not random either (see DILLEMA OF DETERMINISM) .» (Simon Blackburn, Oxford Dictionary of Philosophy, 2005, pag 210)»
The distinction between compatibilism and libertarianism is not clear in this Dicitionary and in minds of many second class philosophers as Blackburn and his epigonous, including almost all authors of portuguese manuals of philosophy for secondary schools (Pedro Galvão, Luis Rodrigues, Desidério Murcho, Pedro Madeira, Paulo Ruas, Aires Almeida, etc):
«II-Soft determinism or compatibilism. Reactions in this family assert that everything you should want from a notion of freedom is quite compatible with determinism. (...)«III-Libertarianism. This is the wiew that, while compatibilism is an evasion, there is a more substantive, real notion of freedom that can yet be preserved in the face of determinism (or of indeterminism). In Kant, while the empirical and phenomenal self is determined and not free, the noumenal or rational self is capable of rational, free action» (Simon Blackburn, Dictionary of Philosophy, pag. 141; the bold is put by us).
There is a lack of clearness! Why is compatibilism "an evasion"? Blackburn is unable to explain it rationally to us.
On presenting the moral of Kant as an example of libertarianism, as he defines it, Blackburn commits an error. Kant is a compatibilist: admits free will, base of categorical imperative, and no free will (an inferior will, slave of the desires), base of the hypothetical imperative. There is not a self preserved from deterministic influence because the self, acording, to Kant has a double nature: noumenal ( a priori) and phenomenal.
Nobody has his free will preserved from biological and social pressions - except God, perhaps- so libertarianism, as they define it, is an ilusion, a confused view.
Compatibilism is a form of libertarianism - defining this, correctly, as the theory which admits free will - and the other form of libertarianism is free will coexisting with indeterminism in biocosmical nature.
Portuguese Note: Em 31 de Janeiro de 2008, às 21.30 horas, na biblioteca municipal de Beja, lançamento do livro «Os acidentes em Lisboa na Astronomia-Astrologia, Accidents and Astrology in U.S.A.» da autoria de quem escreve este blog. Convidam-se os professores e amantes da filosofia, do sul de Portugal e Huelva e Sevilla, a estarem presentes. É uma festa para nós, os filósofos, apoderarmo-nos das alavancas da epistemologia, das ciências (história social e política; astronomia) e inflectirmos estas, nomeadamente a história mergulhada no oceano de um certo indeterminismo.
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Sem embargo de ser um manual que serve para lecionar o programa de filosofia do ensino secundário em Portugal, o livro "Razão e Diálogo" de J.Neves Vicente, contém um razoável número de erros teóricos. Vejamos alguns.
NÃO HÁ UM SÓ DOGMATISMO , MAS DOIS
Neves Vicente oferece a seguinte definição de dogmatismo:
«O dogmatismo corresponde, antes de mais, à crença espontânea do ser humano na validade do conhecimento. Pressupõe inadvertidamente que a realidade é como a vemos e que a podemos conhecer tal como ela é e a partir da intuição sensível. Do ponto de vista do senso comum, não há limires ao conhecimento humano.» (J.Neves Vicente, Razão e Diálogo, Porto Editora, pag 172)
Eis uma definição equívoca de dogmatismo, definição que abarca apenas uma das suas vertentes: o dogmatismo ingénuo. Existe, para além desse, um dogmatismo crítico, filosófico e científico, que se estruturou rebatendo a crença espontânea, através da dúvida e da reflexão profunda. As teorias de Platão, Hegel, Schopenhauer e tantas outras são dogmatismos críticos. A teoria química da tabela periódica dos elementos é um dogmatismo crítico.
MARX E FREUD NÃO DESCREDIBILIZARAM A RACIONALIDADE, PELO CONTRÁRIO
Escreveu J. Neves Vicente:
«Os filósofos da suspeita (Karl Marx, F.Nietzsche e S.Freud) contam-se entre os autores que mais contribuiram para o descrédito da racionalidade, para o abandono das filosofias da consciência e, consequentemente, para a crise da teoria do conhecimento. A consciência passa a ser vista como um fenómeno derivado, não podendo por isso ser tomada como base inquestionável e originária do conhecimento» (J.Neves Vicente, Razão e Diálogo, Porto Editora, pag. 174)
O erro de Neves Vicente consiste em interpretar racionalidade como pensamento de uma consciência individual. O termo racionalidade é muito mais amplo: há uma razão transpessoal e transhumana, uma racionalidade supra-individual, que tanto Marx como Freud captaram muito bem em determinados aspectos.
O marxismo é, até, acusado de ser um hiper-racionalismo: explica racionalmente a evolução das sociedades e o surgimento das diferentes morais, mostrando como o desenvolvimento das forças produtivas determina as relações de produção (lucros e salários, formas de propriedade, etc) e, num nível mais alto, a super-estrutura (ideologia da classe dominante e instituições como o governo, parlamento, exército, igrejas, escolas, etc). Portanto, Marx não descredibilizou a racionalidade, revelou uma nova faceta desta.
O freudismo lançou luz, de forma absolutamente racional, sobre o psiquismo humano, revelando a sua estrutura triádica - infra-ego ou id, super-ego e ego - , interpretando os sonhos como expressão de desejos recalcados, etc. Freud não descredibilizou a racionalidade, introduziu-a e desenvolveu-a no poço escuro da psicologia.
CONHECER E SABER É O MESMO
Neves Vicente estabelece uma distinção, de facto inexistente, entre conhecer e saber, num fraco exercício de análise da linguagem:
«2. Conhecer e saber
«A distinção entre saber e conhecer não é fácil de estabelecer. Com muita frequência aparecem como sinónimos: "saber científico" ou "conhecimento científico" , "conhecimento empírico" ou "saber empírico". Em certas condições frásicas assumem significados diferentes: "S sabe que Durão Barroso é o primeiro-ministro" não significa o mesmo que "S conhece o primeiro-ministro Durão Barroso" (J.Neves Vicente, Razão e Diálogo, pag. 159).
Há, neste último exemplo, uma falácia. Na verdade a frase "S sabe que Durão Barroso é o primeiro-ministro" significa o mesmo que a frase "S. conhece que o primeiro-ministro é Durão Barroso". Para provar que saber "é diferente" de conhecer, Neves Vicente omitiu o que na segunda frase. De facto, saber é igual a conhecer ou a conhecer que...
Nota: Em 31 de Janeiro de 2008, às 21.30 horas, na biblioteca municipal de Beja, lançamento do livro «Os acidentes em Lisboa na Astronomia-Astrologia, Accidents and Astrology in U.S.A.» da autoria de quem escreve este blog. Convidam-se os professores e amantes da filosofia, do sul de Portugal e Huelva e Sevilla, a estarem presentes. É uma festa para nós, os filósofos, apoderarmo-nos das alavancas da epistemologia, das ciências (história social e política; astronomia) e inflectirmos estas, nomeadamente a história mergulhada no oceano de um certo indeterminismo.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Alguns autores ligam a causalidade irrealista à fenomenologia e a causalidade realista (real em si mesma) ao realismo ontológico. É o caso de João Paulo Monteiro num longo, sinuoso e paralógico artigo publicado na revista Intelektu de Dezembro de 2007. Aí afirma o seguinte:
«Muitas ciências procuram edificar suas próprias visões do mundo, que vêm acrescentar-se àquela que temos naturalmente, umas vezes desmentindo-a e outras vezes confirmando-a e desenvolvendo-a . Para tal, elas propõem objetos teóricos, através dos quais procuram explicar o nosso mundo, mas sem nunca chegarem a tornar plausível qualquer em si que pudéssemos aceitar como verdadeiro, e muito menos como definitivo. O privilégio do em si, ou seja, do estatuto de construções que não são aparências, permanece exclusivo das relações causais, ou das causas e dos efeitos - conforme a linguagem epistêmica que preferirmos adotar.» (João Paulo Monteiro, Mundo e Causação, in Intelektu nº 12, Dezembro de 2007; o negrito é de nossa autoria).
Há claramente uma confusão de João Paulo Monteiro ao afirmar que só o "em si" , isto é, o mundo real ou ideal-real que subsiste por detrás das aparências, possui o sistema das causas e efeitos e vice-versa, isto é, só este engendra ou é imanente ao "em si".
Importa precisar que a coisa "Em si" é uma questão ontológica fulcral e a relação causa-efeito é uma questão modal, por assim dizer ontológico-periférica e não podem amalgamar-se assim. O sistema de causas e efeitos funciona perfeitamente em filosofias da aparência, do «para mim», como é o caso do realismo empírico de Kant (também designado por idealismo transcendental) que excluem o «em si» do mundo da ciência e da "realidade" sensível e o situam no terreno da metafísica incognoscível.
A própria definição de "em si" dada acima por J.P.Monteiro - "estatuto de construções que não são aparências" - é um equívoco: a realidade em si, em regra, não é uma construção (a menos que se refira ao "mundo criado ou construído por Deus", adoptando-se então o teísmo) mas um ser ou conjunto de entes por si. O termo "construção" é impróprio, em regra, para designar o em si.
OBSCURIDADE CONCEPTUAL EM TORNO DA CAUSAÇÃO
Todo o artigo padece de uma certa falta de clareza que é patente, por exemplo, no seguinte excerto:
«Sem dúvida que toda descoberta se torna possível no interior de um contexto determinado, mas no caso da causação há apenas uma dependência contextual fraca, na necessária mediação da percepção sensível antes que se torne possível o conhecimento causal, e não aquela dependência mais forte que é a dos objetos sensíveis em relação à nossa estutura como sujeitos e à influência dos estímulos quineanos (ver From Stimulus to Science) na construção de nossa imagem pré-científica do mundo em que vivemos.»
Pergunta-se: por que razão «há na causação uma dependência contextual "fraca"» e por que razão «a dependência mais forte que é a dos objectos sensíveis em relação à nossa estrutura como sujeitos» não é classificada como causação? O que significa, concretamente, "dependência contextual fraca"?
É um discurso palavroso e inconsistente, em certa medida.
A FENOMENOLOGIA NÃO GERA NECESSARIAMENTE UMA INVENÇÃO OPOSTA À CAUSALIDADE
O artigo finaliza assim:
«Temos assim dois tipos de processos de construção da realidade, o primeiro gerando uma fenomenologia que pode em sentido filosófico ser considerada uma invenção involuntária e inconsciente do sujeito percipiente e cognoscente, e o segundo gerando um conhecimento causal caracterizável como autêntica descoberta de realidades existentes em si mesmas. Mas o plano fenomenológico oferece também autêntico material de descoberta, na medida em que a similaridade entre objetos do mundo sensível, indispensável para que se constituam as classes de objetos que depois serão consideradas causas ou efeitos, ao mesmo tempo que obedece a padrões inatos que são parte de nossa herança genética, como mostra Quine em Ontological Relativity, só pode ser pensada e comentada como similaridade em si, em todos os casos em que dá origem a inferências causais corretas. Deixo para outra ocasião a discussão desta problemática, bem como a da problemática da repetição, que é condição de possibilidade de muitas daquelas inferências, embora não de todas, conforme vimos. A conjunção repetida de pares de objetos também só pode ser concebida como repetição em si mesma, embora ambos os dois tipos de objetos, aqueles que designamos como causas e aqueles que chamamos efeitos, sejam claramente, em termos filosóficos, aquilo que se convencionou chamar "aparências".
«Assim, a causação, junto com a similaridade e a repetição, constituem um domínio de objetividade que só pode ser pensado em termos contrários ao idealismo do século XIX ou ao realismo interno do século XX (1). Se esses três domínios não formassem um campo de realidade independente e irredutível, nunca se formariam os conhecimentos causais que, entre outras coisas, tornaram e continuam tornando possível nossa sobrevivência. Fica para trás qualquer tentação goodmaniana de irrealismo. Se não fosse assim não estaríamos hoje todos aqui.»
«(1) Uma outra forma de causação, segundo a teoria causal da percepção, é a produção das próprias imagens e idéias sensíveis pelos estímulos provenientes do mundo exterior. Mas esta tese, ao lado de muitos outras, supõe que a teoria que a sustenta é correta, e a discussão disto encontra-se em um campo distinto daquele onde transcorre o presente texto: o campo da filosofia da ciência. »
(João Paulo Monteiro, Mundo e Causação, in Intelektu nº 12, Dezembro de 2007; o negrito é de nossa autoria).
O equívoco que percorre o artigo de João Paulo Monteiro é de tripla ordem:
1) Não distingue explicitamente entre a causação ou causalidade determinista (o efeito é previsível e escravo da causa) e a causalidade indeterminista (o efeito é inovador e imprevisível, livre em relação à causa).
2) Vincula, equivocamente, à fenomenologia - uma ontologia indecisa, nem realista nem idealista - a noção de uma causalidade irrealista, embora de inegáveis efeitos práticos devido à similaridade. E, simetricamente, vincula ao realismo ontológico a causalidade real (o realismo da causação). Na realidade, as coisas são mais complexas do que isso. Há doutrinas fenomenológicas em que a causalidade é real, existe em si mesma, independentemente da realidade ou irrealidade do mundo material e há doutrinas realistas, como a de Karl Popper, em que a causalidade determinista não é real.
3) Situa no mesmo plano os conceitos de causação, repetição e similaridade, sem se aperceber de que a causalidade (causação) determinista se encontra contida dentro da repetição. Quando afirma que as três se opõem ao idealismo do século XIX, equivoca-se. E nem sequer define o que é o idealismo do século XIX (Hegel? McTagart? Bradley?). Em suma, um artigo retórico relativamente ôco, recheado de imprecisões.
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