A distinção entre essência, ente e ser é patente no seguinte comentário de «O Ente e a Essência de Tomás de Aquino, referido ao termo essência (o negrito é posto por nós):

«Já "essência" diz que, por ela e nela, o ente recebe o existir (ou, noutra tradução: o ser, ens habet esse)» (Tomás de Aquino, O Ente e a Essência, Edições Contraponto, 1995, Lisboa).

Medite-se nesta formação do ente - aqui entendido não como Deus, mas como substância individual do mundo criado, como por exemplo, esta mulher, aquele gato. Subentende-se que esta génese pessupõe  três  passos: em primeiro lugar, há o existir puro, que é Deus; em segundo lugar, Deus cria a essência (uma forma comum: a espécie mulher, a espécie gato, por exemplo ); em terceiro lugar, esta essência une-se com a matéria-prima indiferenciada e transmite-lhe o existir, gerando o ente individual (esta mulher, este gato, por exemplo), uma mistura da essência com o acidente.

Esta é uma interpretação possível. No entanto, Aristóteles afirmou, cremos que diferentemente de São Tomás, que as formas (o que é mesmo/lo que es mismo) são eternas, incriadas,  incorruptíveis e que àcerca delas não é possível errar, ou se captam ou não:

«Y lo mismo acerca de las entidades carentes de composición: no es posible, ciertamente, el error acerca de ellas; y todas ellas son en acto, no en potencia, ya que, de no ser así, se generarían y se destruirían, pero lo que es mismo ni se genera ni se destruye, pues tendría que generarse a partir de otra cosa. Así pues, respecto de las cosas que son una esencia, y que son actos, no es posible errar, sino captarlas o no. (Aristóteles, Metafísica, Libro IX, Editorial Gredos, Madrid, pag 391-392; o bold é nosso).

Há, portanto, outra interpretação da frase acima em destaque de São Tomás de Aquino, interpretação  genuinamente aristotélica: a essência-forma é eterna, não criada por Deus e transporta em si mesmo o existir, não divino, ao aplicar-se sobre a matéria prima. E neste caso, seria um único passo na génese do ente.

f.limpo.queiroz@sapo.pt

(Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)