Eis um teste de filosofia sem perguntas de resposta múltipla, de modo a que os alunos revelem, em discurso escrito a sua capacidade de conceptualização e de relacionação..
Agrupamento de Escolas nº 1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA B
5 de Novembro de 2013. Professor: Francisco Queiroz
1) Considere o seguinte silogismo:
«Algumas divindades não pertencem à metafísica.»
«Vénus é uma divindade.»
«Vénus pertence à metafísica».
Indique, concretamente, duas regras da construção formalmente válida do silogismo que foram infringidas no silogismo acima.
2) Construa o quadrado lógico das oposições à proposição: «Os povos, em Hegel, fazem parte do espírito do mundo».
3) Relacione, justificando:
A) Ser em si e ser fora de si, na doutrina de Hegel, e lei dialéctica do salto qualitativo.
B) Ethos, Logos e Pathos, na retórica, e lei dialéctica da tríade.
C) Realismo Crítico, Idealismo solipsista e Fenomenologia.
4) Construa um silogismo disjuntivo ponendo-tollens e um silogismo disjuntivo tollendo-ponens, a partir da seguinte premissa: «Ou vou ver o jogo de futebol ou vou a Serpa.»
5) Disserte livremente sobre o seguinte tema:
«As falácias e os argumentos não falaciosos: falácia depois de por causa de, argumento do apelo à ignorância, argumento/falácia ad populum, falácia da composição, falácia da divisão, argumento circular, argumento ad misericordiam.»
CORRECÇÃO DO TESTE, COTADO EM 20 VALORES
1) Duas regras infringidas na construção de um silogismo formalmente válido foram: o termo médio (neste caso: divindades) tem que ser tomado universalmente ao menos uma vez; a conclusão segue sempre a parte mais fraca e, uma vez que a premissa maior é negativa, a conclusão teria de ser negativa. .(VALE DOIS VALORES)
2) Quadrado Lógico
A contrárias E
I sub-contrárias O
Proposição de tipo A (universal afirmativa):Os povos, segundo Hegel, pertencem ao espírito do mundo.
Proposição de tipo E (universal negativa).Nenhuns povos, segundo Hegel, pertencem ao espírito do mundo.
Proposição de tipo I (particular afirmativa):Alguns povos, segundo Hegel, pertencem ao espírito do mundo.
Proposição de tipo O (particular negativa): Alguns povos, segundo Hegel, não pertencem ao espírito do mundo. (VALE DOIS VALORES)
3) A) A fase do ser em si da Ideia Absoluta ou Deus é aquela em que este, sozinho, medita na criação do espaço, do tempo e do universo. É possível que a Ideia acumule lentamente conceitos, um a um, até que se dá uma mudança brusca em qualidade e a Ideia se transforma em ser fora de si, isto é, em espaço, tempo e universo material, impensante, mas regido por leis. A lei do salto qualitativo diz que a mudança lenta em quantidade conduz a uma brusca mudança de qualidade. (VALE TRÊS VALORES)
3) B) O ethos é o carácter do orador, na retórica. O pathos é o sentimento colocado na oratória ou na escrita. O logos é o conceito, o raciocínio desenvolvido. Segundo a lei da tríade, que divide um processo dialético em três fases - tese ou afirmação, antítese ou negação, síntese ou negação da negação - é possível estabelecer como tese o logos, o racional, como antítese o pathos, o irracional, e como síntese o ethos, porque possui elementos racionais e irracionais. (VALE TRÊS VALORES)
3) C) O realismo crítico aceita a realidade em si do mundo físico exterior mas diz que não o percepcionamos como é. Exemplo: as cores só existem na nossa mente e não nos objectos físicos exteriores. O idealismo solipsista sustenta que o mundo de matéria é de natureza mental, flutua no interior da única mente real: a minha. A fenomenologia sustenta que não se sabe se é o realismo se é o idealismo a ter razão: mente humana e mundo exterior são correlatos e não pode saber-se o fundo da questão. Comum a todos é a dúvida sobre a realidade de certos aspectos do mundo exterior. (VALE TRÊS VALORES)
4) Silogismo disjuntivo ponendo-tollens :
Ou vou ver o jogo de futebol ou vou a Serpa.
Vou ver o jogo de futebol.
Logo, não vou a Serpa.
Silogismo disjuntivo tollendo-ponens :
Ou vou ver o jogo de futebol ou vou a Serpa.
Não vou ver o jogo de futebol.
Logo, vou a Serpa. (VALE DOIS VALORES)
5) As falácias são uma espécie dentro do género argumento: são raciocínios incorrectos, equívocos, deliberados (sofismas) ou não (paralogismos). A falácia depois de por causa de é a que atribui uma relação necessária de causa efeito a dois fenómenos vizinhos por acaso (exemplo: «Há 10 dias vi um gato preto e caí da bicicleta, há 5 dias vi outro gato preto e perdi a carteira, logo ver gatos pretos dá-me azar). A falácia do apelo à ignorância é a que raciocina sobre um fundo desconhecido e o usa de forma tendenciosa (exemplo: Nunca ninguém viu Deus, logo Deus não existe). A falácia da divisão é a que atribui propriedades do todo a cada uma das partes (exemplo: «O povo alemão é rico, logo o mendigo alemão Hans, que dorme na rua, é rico»). A falácia da composição é a que generaliza precipitadamente atribuindo ao todo as características de uma parte (exemplo: «entre os animais, há muitos cavalos, logo todos os animais são cavalos»). O argumento ad populum é o que invoca a voz do povo ou o sentir maioritário da população (exemplo: «votamos em eleições porque a maioria do povo assim o quer, vacinamo-nos porque a população em geral o faz»). O argumento circular é aquele em que as premissas se fundam na conclusão, é um raciocínio em circuito fechado (exemplo: «Ela é bela porque é fisicamente agradável e é fisicamente agradável porque é bela»). O argumento ad misericordam é aquele que invoca o sentimento de compaixão. (VALE CINCO VALORES).
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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