Vinda dos mares do pequeno pensamento, a filosofia analítica desembarcou nas editoras de livros, nas cátedras e nos gabinetes que modelam o ensino público da filosofia e estabeleceu a seguinte distinção no seio da ética: éticas consequencialistas e éticas não consequencialistas. Peter Singer, R.M.Hare, Michael Smith, Nigel Warburton, Simon Blackburn e os seus derivados portugueses de menor dimensão intelectual, João Branquinho, Ricardo Santos, Desidério Murcho, Pedro Galvão e a generalidade dos docentes de filosofia, estavam ou estão todos de acordo que «a ética de Stuart Mill é consequencialista, a ética de Kant é não consequencialista».
Na verdade, não há éticas não consequencialistas: todas se preocupam de uma maneira ou de outra, com as consequências de uma decisão. Kant era eticamente não consequencialista? Não. O seu imperativo categórico «Age como se quisesses que a tua acção fosse lei universal da natureza» liga as causas da acção - o modo de pensar do sujeito, baseado na racionalidade universalista - às consequências, isto é, ao transmitir uma imagem de justiça e equidade aos outros. Há os consequencialistas que se preocupam mais com o resultado da acção na perspectiva da maioria das pessoas, como por exemplo, o bem-estar físico ou os direitos políticos da maioria, e os consequencialistas que se preocupam com as consequências em termos de aperfeiçoamento do agente da acção e do público idealizado, abstracto, universal, como é o caso de Kant. Há os neo-epicuristas como Stuart Mill e os neo-estoicistas como Kant mas ambos medem as consequências das suas decisões e acções.
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