As lutas que os sindicatos de professores lançam possuem, em regra, objectivos justos mas carecem de uma coisa: sustentabilidade económica. Se em vez de uma grande manifestação nacional de professores o dinheiro gasto a alugar centenas de autocarros e a pagar outras despesas de logística fosse desviado para a constituição de fundos de apoio aos professores grevistas em cada escola, talvez o resultado fosse melhor.
Uma greve de professores a exames deveria durar, no mínimo, dois meses, caso o ministério da Educação não cedesse antes disso às reivindicações. Que perspectivas há para a actual greve a conselhos de turma de avaliação dos alunos e para a greve, a partir de 17 de Junho de 2013, a exames nacionais ? Mais uma semana de greve e tudo acaba? Fracas perspectivas, na visão dos professores contratados, parte dos quais poderá quebrar a greve por menor resistência económica ao não pagamento dos dias de greve.
Somos empurrados, pela circunstância, para fazer um protesto que é inevitável. A destruição da escola pública, a sua redução a proporções mínimas, está a ser levada a cabo pelo neoliberalismo do governo de Passos Coelho, Paulo Portas, Nuno Crato e Vítor Gaspar.
Os sindicatos, em particular a FENPROF, fizeram bem em marcar as greves contra a mobilidade especial e o aumento da carga horária dos professores do ensino público. Não havia outra saída digna. A natureza dos sindicatos é dúplice: se, por um lado impulsionam a luta dos professores, por outro lado, moderam-na ou atraiçoam-na, em determinados momentos, como sucedeu com o memorando que assinaram com a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, em 12 de Abril de 2008. Os sindicatos institucionais são, nos momentos de vagas revolucionárias de massas, orgãos contra-revolucionários como se demonstrou, por exemplo, com a Confederation Générale du Travail (CGT), de hegemonia comunista, durante a revolução estudantil-operária de Maio-Junho de 1968. Os comunistas, disciplinados, gradualistas, reformistas, atemorizados com a violência revolucionária dos internacionais situacionistas, dos maoístas, dos trotskistas, dos guevaristas contra a polícia de choque em Paris e em outras cidades de França, sabotaram a mobilização da classe operária em defesa dos estudantes insurrectos.
Ao não disporem de fundos para financiar os grevistas, podemos dizer que os sindicatos portugueses dão uma no Crato e outra na ferradura, sendo a ferradura da boa sorte do corpo sindical as dezenas de milhar de professores sindicalizados que pagam quotas e permitem o avanço a trote do cavalo do sistema de ensino. O aparelho sindical deveria ser proprietário de fábricas, supermercados e outras lojas que permitissem vertebrar solidamente, isto é, financiar, os movimentos de luta dos professores em defesa dos seus direitos e da escola pública. Contra o capitalismo impiedoso há que usar o apoio de estruturas do capitalismo social. Revolucionários de bolsos vazios não fazem revoluções.
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