Ao classificar o comportamento sexual e a anatomia de cada pessoa usa-se, habitualmente, dois conceitos: identidade de género e identidade de sexo. É uma divisão confusa, "analítica", não dialética. O facto de praticamente ninguèm a pôr em causa mostra bem a pobreza do pensamento racional, filosófico, sociológico, reinante no mundo das universidades e dos grandes media.
Diz-se, por exemplo: um travesti gay, isto é, um homem que se veste de saias, ligas, se maquilha de modo feminino a fim de ter actos sexuais genitais com homens «é de sexo masculino e de género feminino». Mas como classificar um travesti/ crossdresser não gay, como o realizador de cinema norte-americano Edward Wood Junior (10 de Outubro de 1924- 10 de Dezembro de 1978) que vestia saias e sutiã porque isso o excitava (fetichismo, auto-erotismo) e tinha por objecto sexual exclusivo as mulheres? Segundo a classificação em voga, Edward Wood Jr seria de sexo masculino e género feminino. É uma caracterização confusa: isso em nada o distingue do travesti ou do crossdresser (termos homólogos) gay que recebem a mesma qualificação. Tem que haver uma classificação melhor que distinga o travesti Edward Wood, heterossexual, de qualquer travesti, ocasional ou não, homossexual ou bissexual.
Usando o pensamento dialético que hierarquiza géneros e espécies num duplo sentido vertical e horizontal - as universidades portuguesas, brasileiras e britânicas não possuem nenhum grande especialista em dialética, ao contrário deste imodesto blog - encontramos três patamares de "ser-essência":
A) O mais elevado é sexo anatómico, isto é, masculino, feminino e hermafrodita. É um universal supra-genérico.
B) O intermédio, logo abaixo, é género - heterossexual , homossexual, bissexual - definível com base no comportamento físico-sexual e social.
C) O inferior é espécie, uma divisão do género, que o particulariza, e temos então seis espécies: "normal" (não travesti) heterossexual e travesti heterossexual (Edward Wood Júnior por exemplo) são as espécies do género heterossexual; "normal" (não travesti) bissexual e travesti bissexual são as espécies do género bissexual; "normal" homossexual e travesti homossexual são as espécies do género homossexual.
As espécies são construídas a partir da interseção dos géneros homossexual, heterossexual e bissexual com os géneros travesti e não travesti, ou seja, vestido segundo o padrão "normal". Assim um travesti gay é de sexo masculino, género homossexual, e espécie travesti homossexual ao passo que Edward Wood Júnior é (era) de sexo masculino, género heterossexual e espécie travesti heterossexual.
É evidente que há problemas metafísico-psicanalíticos difíceis de resolver. Há quem defenda que as mulheres em geral, ao usarem calças e certo tipo de camisolas, são travestis, ao menos parcelarmente, porque as calças seriam vestuário masculino típico. Se se aceitar esta classificação, a espécie travestismo (heterossexual) aumenta em mais de um bilião de pessoas e fica, talvez, a ser a espécie mais numerosa no seio do género heterossexual.
Repito: falar de género masculino e de género feminino e não de género heterossexual, homossexual e bissexual é lançar a confusão e não discernir até onde é possível discernir, pois masculino e feminino são supra-géneros, originariamente expressos na anatomia e só secundariamente expressos no comportamento sexual (género) e no tipo de vestuário mais comportamento (espécie).
Para clarificar toda esta complexidade, cada pessoa deve ser caracterizada em 3 níveis : 1) Sexo biológico (masculino: dispõe de pénis; feminino dispõe de vagina e seios protuberantes); g
2) Género ou atração sexual por (tipo de comportamento sexual: hetero, homo ou bi).
3) Aparência ( maquilhagem ou não, uso de roupa masculina ou feminina, travestismo e androginia ou não travestismo).
A verdadeira filosofia analítica, dotada de poder de análise real, é a dialética e não essa amálgama de correntes, centrada sobretudo na análise de linguagem, baptizada de "filosofia analítica" de que Wittgenstein, Russel, Blackburn, Quine, Rawls e outros foram expoentes.
Nós, os dialéticos que cremos na predestinação absoluta inscrita no Zodíaco, somos melhores que vocês, seres impensantes que dominais as cátedras universitárias, os congressos de professores de filosofia, as editoras e os grandes media, e vos intitulais "filósofos" e "arautos da racionalidade"! Os vossos doutoramentos nada ou quase nada valem, são máscaras, títulos de nobreza comprados no seio do vosso grupo social. Sobrevalorizam injustamente, não espelham, verdadeiramente, o nível intelectual, mediano, a que conseguis elevar-vos, que é o vosso.
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